CASCAS DE BANANA EM DIETAS PARA COELHOS DE CORTE

Ana Carolina Kohlrausch Klinger1, Diuly Bortoluzzi Falcone2, Geni Salete Pinto de Toledo3
1 - Universidade Federal de Santa Maria
2 - Universidade Federal de Santa Maria
3 - Universidade Federal de Santa Maria

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de coelhos alimentados com dietas contendo cascas de banana em substituição ao feno de alfafa. Foram utilizados 24 coelhos da raça Nova Zelândia, divididos em três tratamentos em um arranjo inteiramente casualizado. Os animais foram desmamados com 35 dias, e submetidos às seguintes dietas: T0CB- dieta controle sem inclusão de cascas de banana, T50CB- dieta com substituição de 50% do feno de alfafa por cascas de banana e T100CB- dieta com substituição de 100% do feno de alfafa por cascas de banana. O ensaio totalizou 49 dias. As médias foram comparadas por análise variância seguida do teste de Tukey (0,05). Não houve diferenças entre os parâmetros avaliados exceto o consumo médio de ração que foi maior no T0BC que nos demais tratamentos. Conclui-se que há viabilidade do uso de cascas de banana em dietas de coelhos, no entanto, mais estudos são necessários para averiguar-se o melhor nível desse ingrediente.

Palavras-chave: Cunicultura, Ingredientes alternativos, Nutrição animal

BANANA PEELS IN DIETS FOR GROWING RABBITS

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the performance of rabbits fed diets containing banana peels to replace alfalfa hay. Twenty-four New Zealand rabbits were divided into three treatments in a completely randomized arrangement. The animals were weaned for 35 days and submitted to the following diets: T0CB- control diet without inclusion of banana peels, T50CB- diet with 50% substitution of banana peels to alfalfa hay and T100CB- diet with 100% substitution of banana peels to alfalfa hay. The biological assay totaled 49 days. The means were compared by analysis of variance and Tukey's test (0.05). There were no differences between the evaluated parameters except the average consumption of ration that was higher in T0BC than in the others. It is concluded that there is viability of the use of banana peels in rabbit diets, however, more studies are necessary to ascertain the best level of this ingredient.
Keywords: Alternative ingredients, Animal nutrition, Rabbits farming


Introdução

A banana é uma das frutas mais produzida e consumida a nível mundial, sendo o Brasil um dos maiores produtores do mundo, segundo os dados da FAO (Food and Agriculture Organization). As cascas por sua vez, são usualmente descartadas o que as tornam sem valor comercial. A fim de reduzir resíduos da cadeia da banana e ainda custos na produção animal, uma alternativa é a substituição de ingredientes de alto custo por outros de baixo ou nenhum valor comercial, como a casca de banana.

Na produção animal, custos com alimentação representam cerca de 60% do total de custo de produção, sendo um desafio para o zootecnista à obtenção de dietas de custo mínimo que atendam os requisitos dos animais (MAERTENS et al., 2002; FURLAN et al.,2003). Nesse contexto, o feno de alfafa é a fonte de fibra mais utilizada em dietas na cunicultura, porém seu preço é elevado, isso justifica a busca de alimentos alternativos, que pode compreender cerca de 40% do custo da ração (SCAPINELLO et al., 2003).

Pesquisas mostram que o aproveitamento de subprodutos e resíduos agroindustriais na nutrição animal estão sendo utilizados, porém estudos sobre inclusão de cascas de banana para coelhos são escassas o que torna necessário maiores estudos sobre o assunto. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é avaliar o efeito do uso de cascas de banana, em substituição ao feno de alfafa, sobre o desempenho de coelhos em crescimento.



Revisão Bibliográfica

Dentre as preocupações vigentes na atualidade para a população mundial está o fornecimento de fontes proteicas de boa qualidade, com baixo custo monetário e oferta regular. Destacando-se os países em desenvolvimento, onde as populações menos favorecidas carecem de proteínas para suprir suas necessidades (LOUSADA JUNIOR et al., 2006).

Neste viés, o coelho tem capacidade de aproveitar alimentos relativamente ricos em fibras, competindo em menor grau com o homem que os não ruminantes onívoros, que consomem maior quantidade de grãos nas suas respectivas dietas. Além disso, suas características biológicas (rapidez do ciclo de produção, prolificidade, poder de transformação e ótima qualidade da carne) desempenham função importante no regime alimentar da população.

Alguns vegetais, como a banana, são consumidos há milênios pelo homem. No entanto, nas últimas décadas devido a intensificação na produção, os resíduos resultantes de sua exploração vêm se tornando abundantes e problemáticos para a cadeia. Pesquisas demostram que o aproveitamento dos subprodutos e resíduos agrícolas na nutrição das diversas espécies animais, influem decisivamente para a redução de passivos ambientais causados por esses resíduos (MAERTENS et al., 2002; FERREIRA et al., 2007; MOLINA et al., 2015).

Ainda o aumento dos preços dos alimentos energéticos e proteicos para a alimentação animal elevou o custo de produção e reduziu a margem de lucro para os produtores, com isso subprodutos agroindustriais tem recebido atenção especial, uma vez que apresentam baixo custo de aquisição.

 

Também devido a sua composição as cascas de banana possuem potencial para substituírem o feno de alfafa que é o ingrediente mais oneroso nas dietas cunícolas. Neste sentido, as cascas de banana possuem potencial para além de reduzir os custos nas dietas para coelhos, ainda transformar passivos ambientais em proteína de alta qualidade como é o caso da carne de coelho.



Materiais e Métodos

Para este estudo foram utilizados 24 animais, da raça Nova Zelândia Branco, desmamados aos 35 dias e alojados em gaiolas com dimensões 50x50x40cm contidas em galpão próprio para cunicultura. Os animais foram divididos aleatoriamente em três grupos experimentais com oito repetições cada em arranjo inteiramente casualizado. Na sequência os mesmos foram submetidos aos seguintes tratamentos: T1- dieta controle (0CB) sem cascas de banana; T2 - dieta experimental (50CB) com 50% de cascas de banana em substituição ao feno de alfafa e T3 - dieta experimental (100CB) com 100% de cascas de banana em substituição ao feno de alfafa.

As cascas de banana foram secas em estufa com temperatura média de 60ºC por aproximadamente 72 horas. As mesmas foram submetidas a análise centesimal e de taninos. As dietas foram formuladas para atender as necessidades de crescimento dos animais de acordo com o AEC (1987).

Os ingredientes utilizados para confecção da ração controle (T0BA) foram: Feno de alfa (30%); Farelo de trigo (25%); Farelo de soja (17,75%); Milho (17,5%); Casca de arroz (6%); óleo de soja (2,5%); Fosfato Bicálcico (0,8%); Calcário Calcítico (0,25) e premix vitamínico e mineral (0,2). Exceto o feno de alfafa, todos os demais ingredientes se mantiveram nas mesmas proporções nas duas dietas experimentais, sendo que na T50BA o nível deste ingrediente foi de 15% e na T100BA de 0%. Em contraponto, as cascas de banana foram incluídas nos níveis de 15% na T50 BA e 30% na T100BA.

O peso dos animais bem como a quantidade consumida de ração foram registrados quinzenalmente durante o ensaio que totalizou 49 dias. Os resultados foram divididos por fases de vida dos animais afim de comparação, sendo: fase inicial (dos 35 aos 49 dias), fase intermediária (dos 49 aos 63 dias) e fase final (dos 63 aos 84 dias) e total (35 aos 84 dias). As médias obtidas foram submetidas a ANOVA (Análise de Variância das médias) seguida pelo Teste de Tukey (0,05).



Resultados e Discussão

Na fase inicial (35 aos 49 dias) não se observou diferença na conversão alimentar dos animais. Já no ganho de peso diário e consumo diário de ração o tratamento 0CB obteve melhor desempenho comparado aos tratamentos 50CB e 100CB (Tabela 1). Nesse sentido, Mourão et al., (2006) citam que é comum em coelhos a ocorrência de distúrbios digestivos na fase pós desmama, sendo este problema relacionado com a instabilidade da microflora cecal o que pode ocasionar a perda de apetite.

Na fase intermediária, constatou-se que não houve diferença na conversão alimentar e no ganho de peso, no entanto, observou-se que o consumo de ração diário do tratamento 0CB foi maior seguido dos tratamentos 50CB e 100CB. O baixo consumo pode estar relacionado à palatabilidade da ração, sendo este um dos responsáveis pelo comportamento ingestivo, uma vez que o feno de alfafa é um alimento que possui uma boa palatabilidade (Oliveira, 2013; Lounaoucy-ouyaed et al., 2008).

Já na fase final, verificou-se que o ganho de peso diário e o consumo diário de ração não apresentaram diferenças, no entanto, a conversão alimentar foi pior no T0CB que nos demais tratamentos. Isso provavelmente deve-se ao fato de os animais alimentados com dietas que continham casca de banana, com o passar dos dias desenvolveram fatores de adaptação que fizeram com que tivessem ganho compensatório.

No resultado total, observa-se que não houve diferença estatística dos 35 aos 84 dias entre o peso vivo, ganho de peso médio diário e conversão alimentar, embora os dados numéricos mostram-se favoráveis aos animais do tratamento 0CB para ganho de peso, mas não para conversão alimentar. O consumo de ração foi afetado significativamente, sendo que os animais do tratamento 0CB tiveram maior consumo se comparados aos tratamentos 50CB e 100CB; porém com conversão alimentar numérica pior que os demais.

Na análise de taninos, verificou-se que não houve nenhuma interferência sobre possíveis piora de desempenho, pelo fato dos mesmos ser considerado antinutricional, sendo que o nível obtido através da análise de determinação de taninos totais (MAKKAR 2000) resultou em um valor de 0,63% para feno de alfafa e 0,76% para casca de banana, sendo um valor inexpressivo.

Devido ao fato da casca de banana possuir um baixo nível de fibra bruta e um alto teor de extrato etéreo comparada ao feno de alfafa, podem-se explicar os resultados obtidos, pois a diminuição da percentagem de fibra bruta da ração provoca o aumento de tempo de trânsito do alimento no trato digestório enquanto que a elevação destes níveis diminui consideravelmente esse tempo e a digestibilidade do extrato etéreo é um processo mais lento em relação a outros nutrientes sendo que a menor velocidade de passagem pode contribuir para uma maior digestibilidade do mesmo (ARRUDA et al., 2002; DE BLAS & WISEMAN). 



Conclusões

Ainda são poucos os trabalhos feitos referentes ao uso de resíduos de cascas de banana na alimentação animal. Baseado nos dados obtidos no presente experimento, conclui-se que as cascas de banana alteram o desempenho dos animais e que novos níveis de inclusão devem ser avaliados, para que os resultados possam ser mais representativos.



Gráficos e Tabelas




Referências

AEC. Recomendações para nutrição. 5.ed. Antony, France: RHÔNE-POULENC, 1987. 86p.

ARRUDA, A.M.V. et al. Digestibilidade aparente dos nutrientes de rações contendo diferentes fontes de fibra e níveis de amido com coelhos em crescimento. Rev. Bras. Zootec., Viçosa, v.31, n.3, p.1166-1175, 2002.

DE BLAS, C.; WISEMAN, J. The nutrition of the rabbit. Cambridge: University Press - CAB International, 1998. 344p.

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FERREIRA, W. M., et al. 2007. Digestibilidade aparente dos nutrientes de dietas simplificadas baseadas em forragens para coelhos em crescimento. Arquivo Brasileiro de medicina Veterinária e zootecnia, v. 59, n. 2., 2007. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352007000200027

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MAERTENS, L. et al. Nutritive value of raw materials for rabbits: EGRAN Tables 2002. World Rabbit Science, [S.l], v. 10, n, 4, p. 157-166, 2003. Disponível em: <http://www.wrs.upv.es/files/journals/vol10_4_maertens.pdf >. Acesso em: 28 abr. 2015.

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OLIVEIRA, E. R. A. Subprodutos agroindustriais na dieta de coelhos em crescimento. Tese. Universidade Federal do Ceará, Areia, PB, Fev., 2013.

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