Cinética de degradação ruminal da matéria seca do bagaço de cana-de-açúcar amonizado com ureia em diferentes dias

Leonardo Guimarães Silva1, Maxwelder Santos Soares2, Aureliano José Vieira Pires3, Joanderson de Oliveira Guimarães4, Diego Lima Dutra5, Natan Santana Araújo6, Deivson Leles Balisa7, Gabriel Dallapicola da Costa8
1 - FCAV/UNESP, Jaboticabal - SP
2 - FCAV/UNESP, Jaboticabal - SP
3 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA
4 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA
5 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA
6 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA
7 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA
8 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, Itapetinga-BA

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a degradabilidade in situ da matéria seca (MS) do bagaço de cana amonizado com ureia em diferentes dias. O experimento foi conduzido na Fazenda Bela Vista, no município de Encruzilhada, BA, usando bagaço de cana-de-açúcar proveniente de usina de aguardente da mesma fazenda. Para o processo de amonização foram usados os níveis 3 e 6% e períodos de 100 e 150 dias. Os tempos de incubação usados foram: 0, 6, 12, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas . O delineamento experimental utilizado foi o DBC com parcelas subdivididas, onde os animais representaram os blocos, o bagaço de cana amonizado com 3 e 6% de ureia em 100 e 150 dias, os tratamentos, e os nove horários de incubação as sub-parcelas. A degradabilidade efetiva da MS foi calculada utilizando o modelo: DE = a + (b x c)/(c + k). Recomenda-se a amonização do bagaço de cana com 6% de ureia com período de tratamento químico de 100 dias, pois, apresenta maior degradabilidade potencial e efetiva da matéria seca.

Palavras-chave: Amonização, degradabilidade, qualidade

Kinetics of ruminal degradation of the dry matter of sugarcane bagasse ammoniated with urea on different days

ABSTRACT - The objective was to evaluate the in situ degradability of the dry matter (DM) of cane bagasse ammoniated with urea on different days. The experiment was conducted at Fazenda Bela Vista, in the municipality of Encruzilhada, Bahia, using sugarcane bagasse from the brandy of the same farm. For the ammonization process levels 3 and 6% and periods of 100 and 150 days were used. The experimental design was the DBC with subdivided plots, where the animals represented the blocks, the ammonized sugar cane bagasse with 3 and 6% of urea in 100 and 150 days, the treatments, and the nine hours of incubation in the subplots. The effective degradability of DM was calculated using the model: DE = a + (b x c) / (c + k). It is recommended the ammonization of sugarcane bagasse with 6% urea with a chemical treatment period of 100 days, since it presents greater potential and effective degradability of the dry matter.
Keywords: Ammonization, degradability, quality


Introdução

O Brasil produziu na safra 2015/2016 o equivalente a 655,16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (CONAB, 2015), gerando em média 280 kg de bagaço para cada tonelada processada, tendo como principal característica, o elevado teor de fibra em detergente neutro com baixa digestibilidade, além de baixos teores de proteína bruta (MISSIO, 2016). No entanto, o bagaço de cana quando conservado com adição de ureia, pode ser uma alternativa para uso em dietas de ruminantes. A utilização do tratamento químico com ureia vem sendo uma alternativa para melhorar o valor nutritivo de volumosos de baixa qualidade por aumentar o teor nitrogênio e reduzir a fibra em detergente neutro, além de conservar as forragens, devido seu efeito fungicida e bacteriostático (PIRES et al., 2010). Objetivou-se avaliar a degradabilidade in situ da matéria seca do bagaço de cana amonizado com ureia em diferentes dias

Revisão Bibliográfica

O bagaço de cana representa uma alternativa para uso na alimentação de ruminantes. A ureia por ser um produto de relativamente fácil aplicação e por possuir propriedades capazes de aumentar o conteúdo de nitrogênio no material e promover alterações na parede celular, poder ser utilizada no tratamento químico do bagaço de cana para melhorar o seu aproveitamento no ambiente ruminal (CARVALHO et al., 2007). O armazenamento de alimento na forma de silagem é prática adotada para minimizar os problemas ocasionados pela estacionalidade de produção de forragem no Brasil (PIRES et al., 2010). Contudo, faz-se necessário estimar a quantidade de nutrientes digestíveis presente nesse alimento conservado, sendo fundamental avaliar a cinética de degradação ruminal, uma vez que, volumosos amonizados apresentam aumento da digestibilidade da matéria seca. Os tratamentos químicos de forragens de baixa qualidade mais comuns são:  amonização via amônia anidra ou utilização da ureia como fonte de amônia. A maioria dos trabalhos sobre amonização de volumosos de baixa qualidade tem mostrado que esse tipo de tratamento promove aumento na degradabilidade da matéria seca e dos constituintes da parede celular (PIRES et al., 2004). Carvalho et al. (2007) trabalharam com degradabilidade in situ do bagaço de cana, amonizado com níveis de ureia 0; 2,5; 5,0 e 7,5% na MS com adição de 1,2% de soja grão moída como fonte de urease, e verificaram que a degradabilidade da matéria seca e FDN aumentaram em todos os períodos de incubação, em virtude do nitrogênio não proteico, oriundo da aplicação da ureia, ser prontamente disponível aos microrganismos do rúmen e altamente solúvel em água. Dessa forma, a ureia agiu eficientemente na parede celular, incrementando a degradabilidade da FDN.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Bela Vista, no município de Encruzilhada, BA. O bagaço de cana-de-açúcar foi proveniente de usina de água ardente da mesma fazenda. O delineamento experimental utilizado foi o DBC com parcelas subdivididas, onde os animais representaram os blocos, o bagaço de cana amonizado com 3 e 6% de ureia em 100 e 150 dias, os tratamentos, e os nove horários de incubação as sub-parcelas. As amostras foram coletadas com 100 e 150 dias de amonização, pré-secas em estufa com ventilação forçada a 55ºC por 72h, processadas em moinho de facas tipo Willey com peneira com crivo de 2 mm para incubação in situ e 1 mm para determinação da composição química. Para o ensaio de degradabilidade, foram utilizados três novilhos mestiço Holandês x Zebu fistulados, peso corporal médio de 480 kg, mantidos em pasto de Brachiaria decumbens. As amostras foram acondicionadas em sacos de TNT, obedecendo a relação de 20 mg de matéria seca/cm2 de área superficial do saco (NOCEK, 1988). Os tempos foram: 0, 6, 12, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas, seguindo uma ordem reversa quanto ao tempo de incubação, de modo que todos os sacos fossem retirados do rúmen de forma simultânea. Para o tempo correspondente à zero hora, os sacos foram colocados no rúmen e retirados logo após imersão, proporcionando o contato mínimo dos microrganismos ruminais com o alimento. Após o período de incubação total os sacos foram lavados manualmente em água corrente até que se apresentasse limpa. A análise do teor de matéria seca foi realizado segundo Detmann et al., (2012). Foram calculadas as taxas de degradação da MS utilizando a equação proposta por Ørskov & McDonald (1979). A degradabilidade efetiva da MS no rúmen foi calculada por meio da utilização do modelo: DE = a + (b x c)/(c + k), em que: k corresponde à taxa estimada de passagem das partículas no rúmen de 2, 5 e 8% por hora. A análise dos dados de degradação in situ foi realizada adotando-se o procedimento “GLM” do SAS 9.0.

Resultados e Discussão

A fração “a” foi maior quando adicionado 6% de ureia com 100 e 150 dias. O maior desaparecimento desta fração é oriundo da solubilização dos açúcares e nitrogênio não proteico (NNP), que se torna prontamente disponível para os microrganismos ruminais. Com o aumento das doses de ureia, houve um aumento no teor de NNP, com isso, aumento desta fração. A fração insolúvel em água, mas potencialmente degradável “b” e a taxa de degradação (% por hora) foram semelhantes. A degradabilidade potencial foi maior apenas com 6% de ureia no bagaço de cana independente do período de amonização, mesmo comportamento foi verificado com a degradabilidade efetiva estimada considerando as taxas de passagem de 2, 5 e 8% por hora estão apresentados na (Tabela 2). A fração potencialmente degradável “b” da matéria seca foi verificado valor médio 37,1, este comportamento observado mostra que o fornecimento de nitrogênio não proteico oriundo da ureia com doses de 6% adicionada ao bagaço de cana não foi suficiente para alterar está fração. Ao examinar o comportamento da taxa de degradação de b (c) (% por hora) o maior valor verificado foi com 6% de ureia no bagaço com 150 dias, certamente o menor valor da lignina do bagaço amonizado (Tabela 2) contribuiu para a maior taxa de passagem observada, com isso é evidente o efeito da amonização no bagaço de cana com a solubilização da hemicelulose, melhorando o valor nutritivo do volumoso. A degradabilidade potencial e efetiva da matéria seca, o volumoso com 6% de ureia com 100 e 150 dias apresentaram maiores valores em comparação a 3% de ureia no bagaço de cana, fato relacionado à maior proporção de matéria seca, associado a maior dose de ureia utilizada, com isso, obtendo maior degradação. As curvas de degradação da matéria seca do bagaço de cana amonizado, ajustadas em função dos períodos de incubação, evidenciou que as doses de ureia aplicadas ao bagaço de cana observaram acréscimo na degradação da matéria seca, sendo verificada maior degradação da matéria seca com 6% de ureia no volumoso com 100 e 150 dias (Figura 1). Para a degradabilidade da matéria seca (Figura 1) os valores aumentaram com as doses de ureia em todos os períodos de incubação, pois a amônia altera a estrutura da parede celular e incrementa proteína bruta no material amonizado proporcionando maior disponibilidade de compostos solúveis. Porém, o maior desaparecimento ruminal de matéria seca ocorreu quando utilizado 6% de ureia e 150 dias, devido a aplicação de NNP, melhorando o valor nutritivo do volumoso, associado ao tempo de amonização que influência a eficiência na redução da FDN e lignina. Porém, para o tempo de incubação de 144 horas verificou-se degradação máxima 49,4; 48,7 quando utilizado 3% de ureia e 100 e 150 dias de amonização, respectivamente, já com 6% de ureia a degradação máxima foi de 50,8; 51,7 com 100 e 150 dias de amonização, respectivamente.  

Conclusões

Recomenda-se a amonização do bagaço de cana com 6% de ureia e período de tratamento químico de 100 dias, pois, apresenta uma maior degradabilidade potencial e efetiva, consequentemente maior degradação da matéria seca.

Gráficos e Tabelas




Referências

CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.P.; GARCIA, R.; SILVA, R.R. MENDES, F.B.L.; PINHEIRO, A.A.; SOUZA, D.R. Degradabilidade in situ da matéria seca e da fração fibrosa do bagaço de cana-de-açúcar tratado com ureia. Ciência Animal Brasileira, v.8, n.3, p.447-455, 2007.   DETMANN, E.; SOUZA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C.; BERCHIELLI, T.T.; SALIBA, E.O.S.; CABRAL, L.S.; PINA, D.S.; LADEIRA, M.M.; AZEVEDO, J.A.G. Métodos para Análise de Alimentos - INCT - Ciência Animal. 1. ed. Visconde do Rio Branco: Suprema, 2012. 214p.   MISSIO, R.L. Tratamento do bagaço de cana-de-açúcar para alimentação de ruminantes. Archivos de Zootecnia. 65 (250): 267-278. 2016.   NOCEK, J.E. In situ and other methods to estimate ruminal protein and energy digestibility: a review. Journal of Dairy Science, v.71, p.2051-2069, 1988.   ØRSKOV, E.R.; Mc DONALD, I. The estimation of protein degradability in the rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. Journal of Agriculture Science, v.92, n.2 p.449-503, 1979.   PIRES, A.J.V.; CARVALHO, G.G.P.; RIBEIRO, L.S.O. Chemical treatment of roughage. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, p.192-203, 2010.   PIRES, A.J.V.; GARCIA, R.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, O.G.; CECON, P.R.; SILVA, F.F.; SILVA, P.A.; ÍTAVO, L.C.V. Degradabilidade do Bagaço de Cana-de-Açúcar Tratado com Amônia Anidra e, ou, Sulfeto de Sódio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.4, p.1071-1077, 2004.   SAS- Statistical Analysis System, for Windows. Release 9.0, Cary: SAS Institute, 2005.