Componentes morfológicos da forragem de azevém anual fertilizado com ureia e Nutrekit®

Otoniel Geter Lauz Ferreira1, Pâmela Peres Farias2, Otavio Luis Mendes Levien3, Olmar Antônio Denardin Costa4, Joice Rodal Gruppelli5, Luiza Padilha Nunes6, Rodrigo Chesini7, Tierri Nunes Pozada8
1 - DZ/FAEM/UFPEL
2 - PPGZ/FAEM/UFPEL
3 - Spraytec Fertlizantes
4 - PPGZ/FAEM/UFPEL
5 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
6 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
7 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
8 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi avaliar a produtividade dos componentes morfológicos de azevém anual submetido a aplicação de ureia e do complexo mineral Nutrekit®. O experimento foi conduzido em casa de vegetação utilizando-se a cultivar de azevém anual (Lolium multiflorum) BRS Ponteio, na qual foram aplicados os tratamentos: UREIA- aplicação equivalente a 90Kg/ha de N (200Kg/ha de ureia) em dose única, NK1- uma aplicação de Nutrekit® (Nutrekit + Imantic) na dosagem equivalente a recomendada pelo fabricante e NK2- uma aplicação de Nutrekit® quando as plantas estavam em estádio vegetativo e uma aplicação no início do estádio reprodutivo. A aplicação de Nutrekit® durante o estádio vegetativo proporcionou produtividade dos componentes morfológicos da forragem equivalente àquela proveniente da aplicação de 200 kg/ha de ureia. A aplicação de uma segunda dose de Nutrekit®, após o alongamento dos entrenós, não se mostrou vantajosa sob o ponto de vista dos componentes morfológicos da forragem.

Palavras-chave: adubação nitrogenada, fertilizante foliar, Lolium multiflorum

Morphological components of annual ryegrass forage fertilized with urea and Nutrekit®

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the productivity of the morphological components of annual ryegrass submitted to urea and Nutrekit® mineral complex. The experiment was conducted in a greenhouse using the annual ryegrass cultivar (Lolium multiflorum) BRS Ponteio, in which the following treatments were applied: UREA- application equivalent to 90 kg/ha of N (200 kg/ha of urea) in a single dose, NK1- an application of Nutrekit® (Nutrekit+Imantic) at the equivalent dosage recommended by the manufacturer, and NK2- an application of Nutrekit® when the plants were in the vegetative stage and an application at the beginning of the reproductive stage. The application of Nutrekit® during the vegetative stage provided a productivity of the morphological components of the forage equivalent to that obtained from the application of 200 kg/ha of urea. Application of a second dose of Nutrekit® after internode elongation did not prove advantageous from morphological forage components.
Keywords: leaf fertilizer, Lolium multiflorum, nitrogen fertilization


Introdução

Por seu potencial produtivo nas condições ambientais do Rio Grande do Sul, o azevém anual (Lolium multiflorum) é a principal forrageira hibernal cultivada no Estado. Vários fatores contribuem para isso, desde a adaptabilidade a diferentes sistemas de produção e tipos de solos, até a elevada produção de forragem para o período. Todavia, para que uma determinada planta forrageira possa expressar seu potencial produtivo e seja utilizada com maior eficiência, é necessário conhecer sua resposta as diferentes fertilizações. Neste sentido, o nitrogênio é considerado o nutriente que mais limita a produção de massa seca de gramíneas forrageiras de clima temperado (MEDEIROS E NABINGER, 2001). A adubação nitrogenada no perfilhamento dos pastos anuais de inverno pode reduzir o vazio forrageiro e antecipar o início do pastejo, pois este elemento é fundamental ao crescimento de plantas, especialmente das Poaceas (LUPATINI et al.,1998). Tradicionalmente os produtores utilizam ureia como fonte de nitrogênio, todavia outras formas de fertilização têm surgido, algumas das quais objetivam não só o aumento da produtividade da pastagem como, simultaneamente, a mineralização do rebanho, podendo-se citar dentre essas o complexo mineral Nutrekit®. Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar a produtividade dos componentes morfológicos de azevém anual submetido à aplicação de ureia e do complexo mineral Nutrekit®.

Revisão Bibliográfica

O azevém é a planta forrageira de inverno mais utilizada no sul do país, assim como na maior parte das regiões temperadas e subtropicais do globo (BRESSOLIN, 2007). Esta espécie, apresenta grande potencial de produção de forragem de elevado valor nutritivo, além de tolerar o pisoteio e apresentar boa capacidade de rebrote (MÜLLER et al., 2009). Além disso, possui facilidade de ressemeadura natural, resistência às doenças, bom potencial de produção de sementes e versatilidade de uso em associação com outras espécies (SANTOS et al., 2002). De maneira geral se considera que o nitrogênio é o nutriente que mais limita a produção de biomassa das gramíneas forrageiras de clima temperado, sendo que sua falta está entre os principais fatores que levam à degradação do sistema (MEDEIROS E NABINGER, 2001). A produção de forragem tende a aumentar com o uso da adubação nitrogenada, aumentando, consequentemente, a capacidade de suporte da pastagem (CASSOL et al., 2011). A adubação nitrogenada também modifica a estrutura da pastagem através da proporção de seus componentes folhas, colmos, inflorescência e material senescente. Conforme Oliveira et al. (2015), uma pastagem com alta proporção de folhas apresenta melhor valor nutritivo e maior facilidade de apreensão pelo animal em pastejo. Também representa forragem de elevado teor de proteína, digestibilidade e consumo, capaz de melhor atender às exigências nutricionais, garantido assim melhor desempenho animal (WILSON e MINSON, 1980; WILSON, 1982). Devido aos altos custos de implantação das pastagens, é necessário que os recursos sejam usados da maneira mais eficiente e racional possível. Assim, o manejo, o uso da dose recomendada e a fonte de nitrogênio escolhida têm grande importância no sucesso do investimento da adubação nitrogenada (RESTLE et. al., 2000). Os fertilizantes nitrogenados disponíveis no Brasil são ureia, sulfato de amônio, nitrato de amônio e nitrato de cálcio. Mais recentemente, surgiu no mercado o complexo mineral Nutrekit® (Nutrekit + Imantic). Este é um fertilizante foliar que possui em sua formulação macro e micro nutrientes, promovendo maior produtividade e qualidade da pastagem, além de proporcionar mineralização do rebanho através do pasto (NUTREKIT, 2017).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao DZ/FAEM/UFPEL, Capão do Leão, Rio Grande do Sul (31º45’48”S e 52º29’02”W), de julho a outubro de 2016. O solo utilizado foi coletado na camada de 0 a 20 cm de profundidade, sendo classificado como Argissolo Vermelho Amarelo eutrófico tipico (Unidade Camaquã). O mesmo foi acondicionado em vasos com capacidade de 2500g, adubado na base com o equivalente a 120 kg/ha de MAP e mantido em capacidade de campo.  Utilizou-se a cultivar de azevém anual (Lolium multiflorum) BRS Ponteio na densidade de 20 sementes/vaso. Ao aparecimento da primeira folha completamente expandida, foi realizado o raleio das plantas, permanecendo dez por vaso. Quando as plantas se encontravam em estádio vegetativo foram aplicados os tratamentos: UREIA- aplicação equivalente a 90Kg/ha de N (200Kg/ha de ureia) em dose única, NK1- uma aplicação do complexo mineral Nutrekit® (Nutrekit + Imantic) na dosagem equivalente a recomendada pelo fabricante e NK2-  duas aplicações de Nutrekit®. Uma quando as plantas estavam em estádio vegetativo e outra no início do estádio reprodutivo (mais de 50% das plantas alongadas). A ureia foi aplicada no solo diluída em água destilada, enquanto o Nutrekit® foi aplicado através de pulverização manual seguindo a diluição recomendada (100 litros de calda/ha). Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado com sete repetições. Foram realizados dois cortes (7cm de resíduo), ambos 15 dias após a aplicação dos tratamentos. Após o corte, houve a mensuração da área foliar através de imagens digitalizadas, utilizando-se o software DDA (Ferreira et al. 2012), e a separação das frações folhas e colmos + inflorescências, sendo estas secas a 55°C em estufa de circulação forçada de ar por 72 horas. Os resultados foram submetidos à análise de variância e ao teste de comparação de médias de Duncan (P<0,05).

Resultados e Discussão

No primeiro corte não foram verificadas diferenças significativas (P>0,05) em nenhuma das variáveis analisadas, ao serem comparadas a aplicação equivalente a 90 kg/ha de N, considerado tratamento testemunha, e uma e duas aplicações do complexo mineral Nutrekit® (Tabela 1). Ou seja, a aplicação de Nutrekit® promoveu produtividade dos componentes morfológicos semelhante àquela proporcionada pela adubação nitrogenada sob a forma de ureia. Neste corte, a ausência de diferenças entre os tratamentos de uma e duas aplicações de Nutrekit® (NK1 e NK2) se deve ao fato de que, neste momento, estes dois tratamentos só haviam recebido uma aplicação do complexo mineral. No segundo corte, verificou-se diferenças significativas (P<0,05) apenas para massa de folhas, sendo observado maior valor quando foi utilizada ureia (Tabela 2). Esse efeito refletiu também na área foliar que, embora sem diferenças estatísticas, apresentou valor elevado no tratamento UREIA. A diferença observada na massa de folhas leva a diferentes relações folha:colmo entre os tratamentos, o que reflete diretamente na qualidade da pastagem. Diante do exposto, é mais interessante a aplicação de Nutrekit® no estádio vegetativo das plantas forrageiras, conforme preconizado pelo fabricante do produto, proporcionando perfilhamento e produção de forragem semelhante à obtida pela utilização de ureia. Analisando-se os resultados médios do primeiro e segundo corte (Tabelas 1 e 2), se observa que, mesmo sem diferenças significativas entre os tratamentos, houve inversão na participação dos componentes folhas e colmos entre esses cortes. No primeiro corte, houve maior participação de folhas em relação aos colmos, caracterizando o estádio vegetativo das plantas, no qual há intenso perfilhamento e surgimento de folhas. No segundo corte, realizado já com as plantas alongadas, houve predomínio de colmos em relação a folhas. Houve também grande número de perfilhos acumulados, provavelmente resultado do estimulo ao perfilhamento proporcionado por ambos os tratamentos de fertilizantes.

Conclusões

A aplicação de Nutrekit® durante o estádio vegetativo proporcionou produtividade dos componentes morfológicos da forragem de azevém anual equivalente àquela proveniente da aplicação de 200 kg/ha de ureia. A aplicação de uma segunda dose de Nutrekit®, após o alongamento dos entrenós, não se mostrou vantajosa sob o ponto de vista dos componentes morfológicos da forragem.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRESSOLIN, A. P. S. 2007. Avaliação de populações de azevém quanto à tolerância ao alumínio tóxico e estimativa de tamanho de amostra para estudos de diversidade genética com marcadores AFLP. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Pelotas.   CASSOL, L.C.; PIVA, J.T.; SOARES, A.B.; ASSMANN, A.L. 2011. Produtividade e composição estrutural de aveia e azevém submetidos a épocas de corte e adubação nitrogenada. Revista Ceres, 58:438-443.   LUPATINI, G.C.; RESTLE, J.; CERETTA, M.; MOOJEN, E.L.; BARTZ, H.R. 1998. Avaliação da mistura de aveia preta e azevém sob pastejo submetida a níveis de nitrogênio. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 33:1939-1943.   MEDEIROS, R.B.; NABINGER, C. 2001. Rendimento de sementes e forragem de azevém-anual em resposta a doses de nitrogênio e regimes de corte. Revista Brasileira de Sementes, 23:245-254.   MÜLLER, L.; MANFRON, P.A.; MEDEIROS, S.L.P.; STRE­CK, N.A.; MITTELMMAN, A.; DOURADO, D.N.; BANDEIRA, A.H.; MORAIS, K.P. 2009. Temperatura base inferior e estacionalidade de produção de genótipos diplóides e tetraplóides de azevém. Ciência Rural, 22:1343-1348.   NUTREKIT. 2017. O que é Nutrekit. Disponível em: < http://www.nutrekit.com.br/ >. Acessado em: 27.03.2017.   FERREIRA, O.G.L.; ROSSI, F.D.; COELHO, R.A.T. ; FUCILINI, V.F. ; BENEDETTI, M. 2012. Measurement of the rib-eye area by the digital images method. Revista Brasileira de Zootecnia, 41:811-814.   OLIVEIRA, L.V.; FERREIRA, O.G.L.; PEDROSO, C.E.S.; COSTA, O.A.D.; ALONZO, L.A.G. 2015. Características estruturais de cultivares diplóides e tetraplóides de azevém. Bioscience Journal, 31: 883-889.   RESTLE, J.; ROSO, C.; SOARES, A.B.; LUPATINI, G.C.; ALVES FILHO, D.C.; BRONDANI, I.L. 2000. Produtividade animal e retorno econômico em pastagem de aveia preta mais azevém adubada com fontes de nitrogênio em cobertura. Revista Brasileira de Zootecnia, 29:357-364.   SANTOS, H.P.; FONTANELI, R.S.; BAIER, A.C.; TOMM, G.O. 2002. Principais forrageiras para integração lavoura-pecuária, sob plantio direto, nas regiões Planalto e Missões do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: EMBRAPA Trigo. 142p.   WILSON, J.R.; MINSON, D.J. 1980. Prospects for improving the digestibility and intake of tropical grasses. Tropical Grasslands, 14:253-259.   WILSON, J.R. 1982. Environmental and nutritional factors affecting herbage quality. In: HACKER, B. (Ed.) Nutritional limits to animal production from pastures. Farnham Royal: CAB, p.111-113.