Comportamento de Equinos da raça Crioula Expostos a Diferentes Ambientes na Doma

Lavínia Aires Evangelho1, Isadora Fortes de Amorim2, Juliana Sarubbi3, Jaqueline Schneider Lemes4
1 - Universidade Federal de Santa Maria-Campus Palmeira das Missões
2 - Universidade Federal de Santa Maria-Campus Palmeira das Missões
3 - Universidade Federal de Santa Maria-Campus Palmeira das Missões
4 - Universidade Federal de Santa Maria-Campus Palmeira das Missões

RESUMO -

Objetivou-se verificar se o ambiente de alojamento influência no comportamento dos equinos em período de doma. A pesquisa foi realizada durante os meses de agosto a novembro de 2016, envolvendo um questionário com 12 perguntas objetivas, aplicados a cinco diferentes domadores. As perguntas eram voltadas ao comportamento desses animais, enfatizando a diferença do ambiente no qual os animais eram expostos e sua relação com o comportamento demonstrado. Por meio dos resultados do questionário, foi possível observar que os domadores constataram que existe diferença significativa no comportamento dos animais expostos a campo para os animais estabulados. Com as diferenças apresentadas, nas condições deste estudo, concluiu-se que o melhor local para deixar um animal no período da doma é em campo.

Palavras-chave: estábulo, campo nativo, treinamento, desempenho funcional.

Behavior of Creole Horses Exposed to Different Environments in Dressage

ABSTRACT - The objective of this study was to verify if the accommodation environment influenced the behavior of the horses during the dressage period. The research was carried out during the months of August to November of 2016, involving a questionnaire with 12 objective questions, applied to five different tamers. The questions were focused on the behavior of these animals, emphasizing the difference in the environment in which the animals were exposed and their relation to the behavior demonstrated. Through the results of the questionnaire, it was possible to observe that the tamers verified that there is a significant difference in the behavior of the animals exposed to the field for the animals stable. With the differences presented, under the conditions of this study, it was concluded that the best place to leave an animal during the dressage period is in the field.
Keywords: stable, native field, training, functional performance.


Introdução

O cavalo é um animal que tem muito contato com o ser humano ao longo da história, segundo Ana Sousa (2008), o primeiro equídeo era classificado pelo nome Hyracotherium um pequeno animal que habitava as florestas, há cerca de 55 milhões de anos atrás. Com o passar dos anos houve a domesticação desse animal, usando o mesmo para exercer várias atividades como a guerra, o transporte e até mesmo o lazer. Adquirindo experiências com os cavalos ao longo deste tempo. Sabe-se que um cavalo para ter bom desempenho nos serviços que lhe forem solicitados, necessita de alguns cuidados como alimentação, manejo e a doma. Entretanto, para que a doma ocorra de forma satisfatória, é necessário ter conhecimento do comportamento do animal no período da doma, e trabalhar para que ela seja eficaz. A doma pode ser feita de três maneiras: doma tradicional, a doma racional, e a terceira maneira, que seria a mescla dessas duas domas. Diante disso, cada domador utiliza seus princípios que confia serem mais eficientes. No dicionário doma significa domesticar, subjugar, reprimir, dominar, tornar manso. Como o cavalo é um animal gregário, ou seja, que vive em grupos, o  manejo é facilitado em manadas. Desse modo, deve-se ter alguns cuidados quando se maneja o animal individualmente, como é o caso da doma, já que o isolamento pode acarretar vários distúrbios. Juntamente com a domesticação e a exigência do ser humano em ter o cavalo mais perto de si, este passou a ser um animal mantido muitas vezes em pequenos ambientes denominados cocheiras, resultando no isolamento e no estresse. O cavalo que é mantido no campo é conhecido pela sua indisciplina, uma vez que está no seu habitat natural, sentindo-se mais confortável e feliz, e podendo exercitar-se por si próprio. E assim muitas vezes não obedece ao domador seja para uma aproximação  no campo ou em seus comandos (Cintra, 2011). Dessa maneira, o bem-estar é algo muito importante para o desempenho dos animais e atualmente é uma das grandes preocupações aos criadores. Dentre as preocupações com o bem-estar,encontra-se o local de alojamento dos equinos no período da doma, pois trata-se de um período de mudanças e adaptações do animal com o ser humano. Assim, o objetivo deste estudo é identificar qual seria o melhor local para alojar os equinos no período da doma, estabulados ou a campo.

Revisão Bibliográfica

Comportamento do Equinos Etologia é o estudo do comportamento animal. Etologia eqüina é quando falamos da vida do eqüino no seu habitat natural. Os cavalos são herbívoros, isto é comem grama, alimentam-se de capim. Como herbívoros que são, possuem todo um aparato digestivo preparado para digerir este tipo de alimento. O habitat natural dos cavalos são os campos abertos, os prados e as grandes pastagens. Os cavalos nascem em uma situação de grupo, onde o respeito por uma hierarquia existe, e uma vida baseada nos exemplos ensina os mais jovens. (Aluisio Marins) O cavalo possui muitas características naturais entre elas estão: liberdade, sociabilidade (gragários), possuem o poder de decisão, são xucros na sua natureza, tem o instinto de defesa, possuem curiosidade entre outras coisas. A preocupação com o bem-estar animal está cada vez mais em pauta no Brasil e no mundo.   Domesticação de Equinos Com os passar dos anos tornou-se necessário a domesticação desses eqüinos, na região sul do Brasil é de bastante intensidade a atividade da doma. A técnica é uma atividade artesanal em que “as pessoas são capazes de sentir plenamente e pensar profundamente o que estão fazendo quando o fazem bem.” (Sennett, 2013:30). Nesse sentido, ao conceber a domesticação dos cavalos consideramos o termo técnica como o “cultivo de um estilo específico de vida”, não sendo um procedimento maquinal, mas uma “questão cultural” (Sennett, 2013:19).   Bem-Estar Animal e Estresse O termo bem-estar refere-se ao estado do indivíduo em relação às tentativas de adaptar-se ao ambiente devendo ser avaliado independente de considerações éticas. Sua classificação pode variar de muito ruim a muito bom ou, em outra nomenclatura também utilizada, de pobre a adequado (Broom, 1986; Broom e Molento, 2004). Com a domesticação os cavalos passaram a viver em estábulos para a proximidade com seu dono ou até mesmo facilitar o manejo. Segundo Cintra (2011), quando o distúrbio comportamental do animal na baia se torna repetitivo, é chamado de vicio, esse vicio é adquirido principalmente pela mudança drástica no habitat e na maneira de vida do animal. O grande problema desses vícios de acordo com Cintra (2011) é que, quando se torna uma fixação muito grande por um estresse profundo, podem provocar uma fadiga intensa, diminuindo até o consumo de alimentos desses animais. Além da vida em liberdade, toda essa organização social permite aos cavalos exibirem comportamentos próprios da espécie. Quando estabulado, o equino não tem como exercer muitos de seus comportamentos naturais, especialmente em uma baia pequena e com limitado ou nenhum acesso ao animal vizinho. Uma das dificuldades é como preencher o tempo com os comportamentos disponíveis para serem realizados naquele ambiente (Mills e Nankervis, 2005). Avaliação do bem-estar A avaliação do bem-estar é dada pela chamada de 5 liberdades. As 5 liberdades foram ajustadas pela “Farm Animal Welfare Council” em 1979 (FAWC, 1979), sendo elas:
  1. Liberdade de fome e sede - pelo acesso à água fresca e uma dieta para manter a saúde e o vigor;
  2. Liberdade do desconforto - fornecendo um ambiente apropriado, incluindo o abrigo e área de repouso confortável;
  1. Liberdade de dor, ferimento ou doença - pela prevenção ou diagnóstico e tratamento rápidos;
  2. Liberdade para expressar o comportamento normal - fornecendo espaço suficiente, condições apropriadas e companhia de outro animal da mesma espécie;
  3. Liberdade do medo e da aflição - assegurando as circunstâncias e o tratamento que evitam o sofrimento mental.
A FAWC destaca, além das 5 liberdades, a importância de um manejo adequado com os animais, desde manipulação a cuidados básicos por parte dos tratadores.

Materiais e Métodos

O estudo foi desenvolvido no período de agosto a novembro de 2016, na localidade de Passo dos Freires, situado no interior da cidade de São Sepé-RS. Para o desenvolvimento do trabalho foi aplicado um questionário a cinco diferentes domadores, contendo doze perguntas objetivas relacionadas com o comportamento dos eqüinos no período da doma, desde seu inicio até seu resultado final, nos seus diferentes ambientes, estabulados e a campo. As perguntas possuíam em seu contexto: a raça da maioria dos animais domados, se já havia domado nos diferentes ambientes, quais horários que preferia trabalhar os animais, se existia alguma diferença nos horário relacionados com os ambientes que os cavalos estavam expostos, local de alojamento após treinamento diário, quanto tempo treina os eqüinos expostos aos seus diferentes ambientes e quantas vezes por dia, se notou alguma diferença no comportamento dos animais de campo para os animais estabulados e qual a opinião dos domadores em relação a qual seria o melhor local para deixar um cavalo no período da doma. As respostas foram tabuladas e analisadas de forma descritiva.

Resultados e Discussão

A raça que os cinco entrevistados já domaram é a Crioula, e todos entrevistados eram experientes na atividade, em torno de 10 anos trabalhando como domadores e já haviam domado animais expostos nos diferentes ambientes, campo e estabulados. Nos horários de preferência em trabalhar com os animais, 60% dos domadores preferem trabalhar na parte da manhã, das 07h00min às 07h30min e ao final da tarde, entre 18h00min e 18h30min, para que o animal não permaneça tanto tempo sem o seu treinamento. Já 40% dos entrevistados preferem trabalhar somente na parte da manhã, das 07h00minàs 08h00min e não houve diferença nos horários de trabalho, entre cavalos estabulados e a campo. Após fazer o treinamento diário com os eqüinos, 80% dos domadores lavam os animais e soltam no campo, para um descanso mental e da musculatura do mesmo, e 20% dos entrevistados trabalham os cavalos, lavam e logo após colocam novamente no estábulo. Na figura 1, foi verificado que os animais mantidos no campo são treinados 30 mim por dia e os alojados em estábulos são treinados por 1 hora, isso é devido ao fato que o cavalo de campo, não tem tanta energia quanto o de estábulo, por isso o eqüino mantido preso deve ser treinado por mais tempo, para que primeiro ele consuma essa energia que está “em excesso” e só depois inicie as atividades propostas pelo domador. Figura1. Período de Treinamento em relação ambiente onde o cavalo esta exposto. A maioria dos domadores, 60 %, prefere treinar os eqüinos duas vezes por dia, para que o mesmo que está em uma fase de aprendizado, não fique tanto tempo sem o contato com o domador e sem receber seus comandos. No período de arreiar (colocar os arreios), 80% dos domadores notaram diferença dos animais mantidos estabulados para os mantidos no campo, os animais estabulados normalmente estão mais agitados em relação aos animais de campo, já 20% dos entrevistados falaram que não notaram diferença no momento de colocar os arreios nos animais. No momento do manejo com os eqüinos, 60% dos domadores notaram uma diferença significa entre os animais mantidos no estábulo para os de campo. Os estabulados geralmente apresentam-se mais agitados e assim sendo mais voluntários e com mais vivacidade para executar os trabalhos que lhe forem propostos. Já os animais de campo, por passarem todo tempo soltos, e terem possibilidades de se exercitar são normalmente mais calmos, menos agitados na execução das atividades. Porém, 30% dos domadores não notaram diferenças sob este aspecto. Quando questionados sobre qual seria o melhor local para manter os cavalos durante a doma, 60% dos domadores prefere deixar os eqüinos no campo, com o recebimento de uma suplementação nutricional, pois o animal estando no seu habitat natural apresenta benefícios no seu desempenho funcional. No entanto, 40% dos entrevistados mantém cavalos nos estábulos para facilitar o seu manejo, por terem muitos animais em treinamento. Os cavalos mantidos em estábulos geralmente apresentam-se mais agitados e muitas vezes mais estressados e podem alguns problemas de saúde quando comparados aos animais mantidos no campo, que são na sua maioria mais calmos, então levando em consideração a saúde e o comportamento do animal no período da doma, os animais criados a campo apresentaram melhor desempenho na consolidação do processo de doma.

Conclusões

Nestas condições de estudo foi possível concluir que melhor local para manter os animais no período da doma é no campo.

Gráficos e Tabelas




Referências

CINTRA, André Galvão de Campos. O cavalo. São Paulo: Roca, 2011. 363 p. FIGUEIREDO, Edson de. De boca atada: Doma Tradicional. Disponível em: <http://debocaatada.blogspot.com.br/2009/04/doma-tradicional.html>. SOUSA, Ana. Https://www.mundodosanimais.pt/animais-de-quinta/origem-evolucao-cavalo/. Disponível em: <https://www.mundodosanimais.pt/animais-de-quinta/origem-evolucao-cavalo/>. TEZZA, Louise. Doma. Disponível em <http://www.gege.agrarias.ufpr.br/Portugues/equideo/doma.html>.





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