COMPORTAMENTO DE LEITÕES RECÉM NASCIDOS

JANINE FRANÇA1, LARISSA APARECIDA DA SILVA2, NATASCHA ALMEIDA MARQUES DA SILVA3, ANA LUÍSA NEVES ALVARENGA DIAS4, ELENICE MARIA CASARTELLI5
1 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
3 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
5 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

RESUMO -

O conhecimento sobre o comportamento dos animais nos permite analisar a reação com o meio em que eles estão. Animais criados em confinamento podem desencadear comportamentos agonísticos e estereotipados. Os suínos possuem grande capacidade de manifestar, com maior nitidez, a insatisfação com o meio e expô-la de maneira comportamental. O presente trabalho teve como objetivo principal a avaliação de comportamento de leitões recém-nascidos em relação à influência da ordem de parto da matriz e do sexo. O experimento foi realizado em uma granja próxima de Araguari-MG, utilizando 8 leitegadas de matrizes de mesma linhagem, totalizando 72 leitões avaliados. As categorias de comportamentos analisadas foram: atividade geral e postura; interações sociais e atividades de manutenção. A análise de comportamento foi realizada através da elaboração de um etograma. Em relação a influência do sexo, houve diferença significativa (P<0,05), sendo que as fêmeas recém-nascidas apresentaram maior frequência do comportamento “deitar” em relação aos machos. A ordem de parto das matrizes apresentou influência significativa (P<0,05) nos comportamentos: “deitado”, “em pé”, “vocalização” e “agonístico”, sendo esses maiores para leitegadas oriundas de matrizes com menos de três partos. Para as atividades independentes da ordem de parto e do sexo, os principais comportamentos observados foram leitões dormindo, contato focinho e sugando. Conclui-se que o sexo interfere apenas no comportamento “deitado” enquanto, a ordem de parto das matrizes interfere principalmente nas categorias de interações sociais de comportamentos “agonísticos” e das atividades de postura de leitões recém-nascidos de ambos os sexos.

Palavras-chave: suínos, etologia, ordem de parto, sexo

BEHAVIOR OF NEWBORN PIGLETS

ABSTRACT - Information about the behavior of animals allows us to analyze dissatisfaction with the environment in which they are. Production animal in confinement can exhibit agonistic and stereotyped behaviors. Pigs have great ability to manifest with greater clarity, dissatisfaction with the environment and expose it to behavioral. This study had as main objective the evaluation of newborn piglets behavior, especially in relation to the influence of parity order sow and sex. The experiment was conducted in pig farming in the Araguari-MG, Brazil. Were used eight litter pig, totaling 72 observed piglets. The categories of behaviors analyzed were general activity and posture; social interactions and maintenance activities. The behavioral analysis was performed by preparing an ethogram. Regarding the influence of sex, there was a significant difference (P <0.05), newborn piglet female had higher lying behavior with compared to males. The parturition order of sow showed significantly influence (P <0.05) in the lying behavior and standing and vocalization and agonistic, and these higher for litters derived sow with less than three births. On the independent categories of parturition order and sex were the main behaviors displayed piglets sleeping, nose contact and sucking. It is concluded that sex affects only the behavior a lying while parity order of sows interferes mainly in the categories of social interactions of agonistic behavior and posture activities.
Keywords: swine, ethology, parity order, sex


Introdução

A intensificação da produção animal durante os últimos 50 anos levou a enorme mudanças na criação de suínos. Isso resultou em confinamento intensivo de animais em ambientes que podem ser inadequados para satisfazer as suas necessidades comportamentais (COSTA, 2008). Alternativas práticas e comercialmente viáveis ​​para o confinamento intensivo devem ser oferecidas para responder a preocupações sobre os efeitos dos sistemas modernos de criação que visam o bem-estar animal. Sendo assim, o tamanho médio das leitegadas tem aumentado continuamente nas últimas décadas na indústria de suinocultura. Grandes leitegadas são associadas a um aumento de leitões nascidos com menor peso ao nascer e menor viabilidade global dos leitões. O tamanho da leitegada pode ser fator de interesse na área de comportamento e bem estar animal, assim como o sexo exerce influência sobre os fatores comportamentais de interação, pois leitões de sexo diferentes apresentam grande quantidade de comportamentos distintos devido à sua variedade de componentes fisiológicos (BAXTER et. al., 2012), dessa forma o tamanho da leitegada pode interferir nas categorias comportamentais de suínos recém-nascidos. O tamanho de leitegada por sua vez está relacionado à ordem de parto das matrizes, segundo PINHEIRO MACHADO (2000), a ordem de parição, ou número de partos da matriz, influi diretamente na média de leitões nascidos totais. Vale ressaltar que o conhecimento das interações comportamentais ou sociais é extremamente importante, tanto entre leitões como entre um leitão e a matriz, facilitando e adequando o manejo nessa fase de criação de maior demanda de cuidados e atenção dentro da criação. A aplicação do princípio das cinco liberdades possibilita mensurar o bem-estar desde o nascimento até o abate dos animais, uma vez que estes levam em consideração aspectos do ambiente e do próprio animal. Criações em confinamento podem desencadear comportamentos anômalos e estereotipados. Estereotipias podem ser definidas como comportamentos repetitivos sem função aparente como tentativas de adaptar-se ao ambiente (BROOM, 1991). Portanto, a compreensão do comportamento natural dos suínos poderá ajudar a identificar e resolver uma série de problemas de bem-estar em criações intensivas (HÖTZEL & MACHADO FILHO, 2004). Os suínos possuem alto grau de curiosidade e um vasto repertório comportamental. Como parte do perfil exploratório, os suínos desenvolvem ações de olhar, cheirar, lamber, fuçar e mastigar objetos (SABINO et. al., 2011). Na prática da etologia, o bem-estar é avaliado através de indicadores fisiológicos e comportamentais. Os indicadores comportamentais são direcionados para a ocorrência de comportamentos anormais, e de comportamentos que se afastam do comportamento no ambiente natural (SANTOS, 2004), tais como: agressividade, excessivo ato de fuçar, mastigar, mamar e/ou morder a cauda dos companheiros de baias. Além disso, segundo Cho & Kim (2011), os suínos têm características comportamentais específicas e são capazes de alterar seu comportamento para se adaptarem ao ambiente em que vivem. Para Hötzel & Machado Filho (2004), um método eficaz de mensurar o estresse e bem-estar animal é a incidência de comportamentos anômalos. Assim, a avaliação do comportamento animal é utilizada para avaliar o grau de adaptação do animal em ambientes confinados. Assim o conhecimento sobre o comportamento animal pode ser a ponte entre os aspectos moleculares e fisiológicos da biologia e da etologia. Por ser uma técnica não invasiva, em comparação com a coleta de sangue ou tecido para aferimentos, o comportamento proporciona estudar as condições de estresse sem interferência nos parâmetros estimados, diminuindo o erro. Além disso, em relação ao bem-estar animal, o estudo do comportamento é considerado eticamente correto (SNOWDON, 1999). O comportamento animal foi definido, há algum tempo, como sendo, apenas, os movimentos realizados por um organismo vivo. Porém, uma cadeia de manifestações, que podem ser consideradas como sinais, por exemplo, sons e ruídos, mudanças de cor, odores e produção, foram incorporadas na definição de comportamento (COSTA, 2003). Devido ao complexo repertório comportamental dos suínos, torna-se fácil, comparada com outras avaliações, estudar suas atitudes e relacioná-los com o bem-estar animal. Por isso, eles são capazes de manifestar, com maior nitidez, a insatisfação com o meio e expô-la de maneira comportamental. A análise de comportamento pode ser uma ferramenta de extrema importância dentro da maternidade na criação de suínos, já que os cuidados iniciais com os leitões poderão refletir o desempenho futuro dentro da criação, portanto, a garantia de bem-estar animal nessa etapa da criação e a elucidação de comportamentos de suínos recém-nascidos e suas interações são de grande valia dentro da pesquisa científica. Nesse sentido, é de suma importância à realização de estudos que visam à avaliação do comportamento de leitões recém nascidos na maternidade.

Revisão Bibliográfica

O comportamento animal está relacionado às interações entre o sujeito e o ambiente, e as ações desse sujeito (suas respostas) em relação ao ambiente e seus estímulos (VIANA, 2013). Suínos são animais onívoros e sob condições naturais passam grande parte do seu tempo explorando o ambiente à procura de alimento (VELONI et. al., 2013). Mesmo em condições intensivas, a maior parte dos comportamentos ainda pode ser observada. A compreensão do comportamento natural dos suínos nos ajuda a identificar e resolver uma série de problemas de bem-estar em criações intensivas (HÖTZEL & MACHADO FILHO, 2004). Para Sabino et. al. (2011), os suínos possuem alto grau de curiosidade e um vasto repertório comportamental. Como parte do perfil exploratório, os suínos desenvolvem ações de olhar, cheirar, lamber, fuçar e mastigar objetos (BROOM, 1991). Problemas comportamentais surgem quando há a incompatibilidade entre o instinto suíno e o meio em que este habita. Sistemas intensivos de produção, em condições de confinamento, geralmente inviabilizam a expressão deste repertório comportamental, uma vez que o ambiente é praticamente estéril e sem estímulos. Quando impossibilitados de exercer seu comportamento natural, os suínos direcionam seu comportamento investigatório para explorar o ambiente de confinamento e/ou outros animais presentes na baia (MACHADO FILHO & HÖTZEL, 2000). Segundo Paiano et. al. (2007), em suínos podem ser observados comportamentos como comendo, explorando, em pé, deitado, dormindo, excretando, mordendo, entre outros. De acordo com Cox & Coopert (2001), os principais comportamentos observados são relacionados às categorias comportamentais de: (a) atividade geral e postura: dormindo, deitado, em pé, sentado e movimentando-se; (b) interações sociais: agonístico, contato do focinho, focinho na barriga e mordendo a cauda; (c) atividade de manutenção: sugando, massageando, alimentação e bebendo água; (d) interações ambientais: manipulação oral e revolver o piso (chão) com o focinho em busca de alimento. De acordo com Baptista, Bertani & Barbosa (2011), entre as formas comportamentais anormais estão incluídos os vícios que ocorrem, com frequência, entre animais criados intensivamente, enquanto que praticamente, não são observados entre animais selvagens. Podem ser citados como vícios: ato ou hábito de morder a cauda, orelhas ou flanco, ato de sugar o umbigo ou a vulva dos leitões, canibalismo, morder ou lamber partes das instalações, entre outros. As interações sociais, tanto entre leitões como entre um leitão e a matriz, são extremamente importantes. Segundo Heim (2010), durante os primeiros dias após o parto, as porcas iniciam a maior parte das mamadas por vocalização (grunhidos) e exposição do aparelho mamário. Os leitões que emitem um grunhido, também são capazes de estimular a porca a expor o aparelho mamário. A intensidade da vocalização da porca é considerada um sinal para os leitões, onde uma baixa intensidade indica que o leite não está ainda disponível, e, assim, resulta na massagem do teto por parte dos leitões, enquanto que um aumento súbito da intensidade da vocalização indica que a ejeção de leite irá ocorrer dentro de alguns segundos. Este aumento da intensidade da vocalização poderá servir como um sinal para orientar os leitões e parar a massagem, encontrar o teto e iniciar a mamada (HEIM, 2010). Estes estímulos gerados pela progenitora, essencialmente vocalizações, têm grande importância, com dois efeitos principais: os animais alimentarem-se em períodos constantes e, ao mesmo tempo, há um planejamento para que os animais se alimentem em grupo (NUNES, 2014). A alimentação em grupo, principalmente nos primeiros dias de vida, é o principal fator que influencia na presença de comportamentos agonísticos na maternidade, relacionados às brigas e disputas de tetos com tentativa de mordida. Algumas granjas não realizam o manejo de desgaste dos dentes dos recém nascidos, e por estes serem proeminentes e projetados para o exterior da cavidade oral, os leitões durante a amamentação comumente se utilizam destes dentes para disputar os tetos de maior produção de leite (ARAÚJO, 2010). Estas disputas geralmente são a principal causa de lesões nos leitões e até na glândula mamária da matriz (RICCI; DALLA COSTA; LIMA, 2012). O estabelecimento da hierarquia social dos leitões, principalmente sobre a preferência de tetos após o nascimento, é um dos fatores responsáveis ​​pelas disputas agressivas entre os leitões. Este comportamento resulta em lesões na face dos leitões e no mamilo de porcas (RICCI, 2013). Essas disputas geralmente causam escoriações cutâneas e até cortes profundos nos lábios, na face e orelhas dos leitões, assim como nos tetos das matrizes, predispondo-as à ocorrência de mastites além da relutância em aleitar sua leitegada (MORÉS et. al., 1998). Dentro do comportamento de suínos, a comunicação vocal constitui uma parte importante do comportamento. Os animais reagem às situações estressantes como, por exemplo, o desmame, a fome, e a dor, mostrando vocalizações de alta frequência. É por este motivo que a vocalização dos animais se tornou uma ferramenta cada vez mais importante para avaliar o bem-estar animal (SILVA, 2008). De acordo com Prazeres (2015), a qualidade da leitegada está associada não somente ao peso do leitão, como também à sua uniformidade. O nascimento de um grande número de leitões em uma mesma leitegada, com alta variação entre seus pesos, pode resultar em uma série de problemas e, consequentemente, gerar prejuízo ao suinocultor. Vários fatores podem influenciar no tamanho da leitegada, segundo Bianchi et. al. (2010), fêmeas de segundo parto tiveram leitegadas maiores em relação às fêmeas de primeiro parto, e ainda fêmeas de ordem de parto 2 a 5 são mais prolíferas que aquelas de primeiro parto. O sexo exerce influência sobre os fatores comportamentais de interação, pois leitões de sexo diferentes apresentam grande quantidade de comportamentos distintos devido à sua variedade de componentes fisiológicos (BAXTER et. al., 2012).

Materiais e Métodos

O presente estudo foi realizado em uma granja comercial de ciclo completo, situada no município de Araguari-MG. Foram utilizadas 8 leitegadas, de fêmeas de mesma origem, porém de idades diferentes, e com número variado de leitões por leitegada, totalizando 72 leitões (machos e fêmeas) avaliados (Tabela1). A granja contava com instalações para matrizes em reprodução e recria, para maternidade, para creche e para crescimento e terminação. A sala de maternidade apresentava gaiolas individuais padrão com abrigo para os leitões e estes permaneciam com a matriz durante todo o período de avaliação. As matrizes suínas foram divididas em dois grupos para avaliação da influência da ordem de parto no comportamento de leitões recém nascidos, resultando em um grupo com quatro matrizes com ordem de parto menor que três e outro grupo com quatro matrizes de ordem de parto maior que três (Tabela 1). Assim como categorizados os leitões recém nascidos em quanto ao sexo em machos e fêmeas dentro de cada leitegada e sua respectiva matriz. Essa marcação foi necessária para avaliar a possível influência do sexo no comportamento dos leitões recém nascidos. As avaliações de comportamento foram realizadas nos períodos da manhã e da tarde (08:30h às 16:30h), sendo que cada matriz foi avaliada durante quatro horas totais, sendo estas, divididas nos dois períodos do dia, manhã e tarde. Os leitões foram identificados individualmente no início do experimento através de bastão marcador vermelho com algarismos arábicos, e foram anotadas informações como sexo do animal e ordem de parto da matriz. Para as anotações foram confeccionadas planilhas com as devidas identificações dos animais, dia, hora da coleta de dados, e tipo de comportamento apresentado conforme etograma apresentado na tabela 2. Todos os animais foram observados por um único observador em posição estratégica para que não influenciasse no comportamento dos animais, em sessões de dez minutos com intervalos de cinco. As observações foram realizadas de maneira escalonada de forma a observar cada matriz pelo mesmo observador e mesmo número total de horas, conforme período do dia (manhã e tarde). Todas as leitegadas foram observadas de acordo com os comportamentos apresentados no etograma, com os leitões apresentando de 24 horas de nascidos até 72 horas de vida, contabilizando sempre 4 horas totais de observação por leitegada/matriz. Para as análises estatísticas, as variáveis medidas foram primeiramente avaliadas quanto aos pressupostos da análise de variância, através de testes de normalidade e homogeneidade. As variáveis comportamentais dentro da ordem de parição e sexo foram analisadas pelo programa estatístico SAEG (2007), através do teste não paramétrico Mann-Whitney, com significância de 5%. Os dados das categorias de comportamento independente do sexo dos leitões e ordem de parição das matrizes foram tabulados e os resultados expressos em gráficos por categoria comportamental, obtidos através do programa Microsoft® Excel® (2010).

Resultados e Discussão

Os resultados foram obtidos através da divisão em dois fatores: ordem de parição e sexo. Em cada fator foram divididas e avaliadas três categorias comportamentais: atividade geral e postura, interações sociais e atividade de manutenção (Tabela 3). Em relação ao fator de ordem de parição, foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) quando as categorias comportamentais analisadas foram os leitões deitados, leitões em pé, aqueles que apresentaram vocalização e comportamento agonístico, uma vez que animais nascidos de matrizes com ordem de parição menor que três partos apresentaram mais estes comportamentos durante o período de avaliação do que aqueles que nasceram de matrizes com mais de três partos. Este fato pode estar relacionado ao número de leitões na leitegada destas matrizes, como foi observado por Panzardi et. al. (2009), que o tamanho da leitegada tem forte influência na heterogeneidade da mesma, e esta desuniformidade no nascimento e, consequentemente, no crescimento (PRAZERES, 2015), influencia na atividade dos animais. No presente estudo as matrizes com ordem de parição menor que três foram as que apresentaram maiores leitegadas. Leitões nascidos em leitegadas maiores apresentaram em atividade geral e postura, menores valores de comportamento dormindo, e maiores valores em interações sociais como, focinho na barriga e mordendo a cauda, apesar de não ter encontradas diferenças estatísticas (P>0,05). Estes valores também se explicam pelo tamanho da leitegada, onde leitegadas maiores apresentaram mais comportamentos ativos, principalmente como agonísticos que em quase todas às vezes, eram acompanhados por vocalização, principalmente com tentativa de morder, na disputa de tetos. Assim como dados obtidos por Silva (2008), que constatou em seu trabalho com leitões na maternidade, uma maior incidência de vocalização em momentos de disputa de tetos. Como foi relatado por Ricci, Dalla Costa & Lima (2012), nos primeiros dias de vida, leitões provenientes de leitegadas numerosas apresentam disputas pelos tetos de maior produção de leite. Este comportamento causa ferimentos na face dos leitões, lesões nos tetos e nas glândulas mamárias da porca devido aos dentes pontiagudos, que na granja não eram desgastados. A presença maior de comportamentos relacionados à vocalização na disputa de tetos explica o fato de leitões, provenientes de leitegadas com ordem de parto menor que três, terem apresentado menores valores de atividade de manutenção como sugando e massageando, apesar destes não apresentarem diferença significativa. Com relação ao fator de sexo, houve diferença significativa (P<0,05) apenas em relação aos leitões que deitaram mais vezes durante a avaliação de comportamento. As fêmeas deitaram mais vezes do que os machos, e em contrapartida, os machos se apresentaram dormindo mais vezes, apesar deste último não ter apresentado diferença estatística. Este caso pode ser explicado visto que fêmeas são mais ativas do que os machos, o que foi encontrado por Reimert et. al. (2013) que verificou que fêmeas eram mais rápidas em apresentar respostas nos diferentes testes realizados como o teste de contenção, o teste de curiosidade e o teste de exploração. Autores como Baxter et al. (2012) e Massari et al. (2015) que analisaram a diferença entre os sexos nas características comportamentais e fisiológicas encontraram diferenças significantes nestas características. As outras variáveis analisadas nas categorias comportamentais não apresentaram diferença significativa (P<0,05) em relação ao sexo e ordem de parição das matrizes. Os gráficos a seguir representam a porcentagem de animais que apresentaram determinadas atitudes em relação às categorias comportamentais analisadas. Na categoria de atividade geral e de postura, o principal comportamento exibido foi o de leitões que permaneciam dormindo (Gráfico 1). Este dado também foi encontrado por Paiano et. al. (2007), estudando o comportamento de leitões em crescimento, verificaram maior incidência de leitões dormindo. Cox & Coopert (2001), analisaram a diferença de comportamento entre leitões que eram criados em ambientes confinados e ao ar livre. Os autores encontraram que os animais que foram criados em ambientes confinados apresentaram comportamentos mais calmos, como o dormindo. Em relação à categoria comportamental de interação social, a maior porcentagem de comportamentos encontrados foi principalmente de animais que apresentaram contato de focinho, animais que emitiram maior frequência de vocalização e seguindo, animais que apresentaram mais comportamentos agonísticos (Gráfico 2). Os resultados que apresentaram maior incidência de contato com o focinho, diferiram dos dados encontrados por Cox & Coopert (2011), que observaram menores presenças de contato, porém verificaram maiores ocorrências de comportamentos agonísticos. Isto pode ser explicado porque o método de avaliação destes autores considerava também animais de maior idade que são mais propensos à relações anômalas. Porém, o a metodologia deste trabalho considera apenas leitões recém-nascidos, que segundo Leite (2012), tem maior contato com a matriz para fins de reconhecimento do recém-nascido. A vocalização na maioria das vezes foi acompanhada de comportamentos estereotipados com tentativa de morder, devido à disputa de tetos. Em seu estudo, Devillers, Giraud & Farmer (2016), verificaram que os suínos apresentaram a capacidade de diferenciar os tetos que produzem mais leite e consequentemente realizar disputas, durante o estabelecimento da preferência de tetos, para obter acesso a eles. Com relação à categoria de atividades de manutenção, o comportamento que estava mais presente foi o de animais sugando (Gráfico 3). Os resultados obtidos estão de acordo com o que foi verificado por Souza et. al. (2014), que suínos recém-nascidos apresentam grande disposição para procurar tetos e consequentemente sugar. O comportamento de massagem foi observado em aproximadamente 21% dos animais. Esta atividade é extremamente importante, pois, faz parte do processo de estimulação da produção de leite pelas matrizes (DEVILLERS; GIRAUD & FARMER, 2016).

Conclusões

Conclui-se que o sexo interfere apenas no comportamento de postura “deitado”, enquanto que a ordem de parição das matrizes interfere principalmente nas categorias de interações sociais como comportamentos “agonísticos” e das atividades de postura de leitões recém-nascidos. De modo geral leitões machos e fêmeas recém-nascidos apresentam maior incidência dos comportamentos de “dormir”, “contato focinho” e “sugar” nos primeiros dias de vida.

Gráficos e Tabelas




Referências

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