COMPORTAMENTO DE POTROS EM LANCHONETE COM OBJETO REFLETIVO DESCONHECIDO NO CHÃO
Laura Alves Brandi1, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara2, Camila Giunco3, Livia Vieira Costa Nicolau4, Mayra Oliveira Medeiros5, Tamires Romão Nunes6, Vanessa Dionisio dos Reis7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
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RESUMO -
O objeto do presente estudo foi avaliar a reatividade de potros frente a objeto desconhecido e refletivo no chão. Para isso, 11 potros, machos e fêmeas, foram conduzidos a lanchonete, onde uma tábua envolta em papel refletor foi colocada no chão. As observações comportamentais foram realizadas por método visual contínuo. A reatividade foi avaliada pelos escores das variáveis, considerando o efeito de sexo e dia de observação. Não houve efeito (p>0,05) da transposição da tábua com papel refletor sobre a Posição de Olhos e Orelhas, porém houve efeito (p<0,05) sobre a interação sexo e Posição de Orelhas, onde 80,23% dos machos mantiveram as orelhas voltadas para frente ou para trás, enquanto apenas 45,81% das fêmeas apresentaram este comportamento, sugerindo maior reatividade proveniente dos machos. O objeto envolto em papel refletor provoca baixa reatividade nos potros sendo suficiente para alertá-los a uma situação diversa.
Palavras-chave: cavalos, manejo, reatividade
BEHAVIOR OF FOALS IN A FEEDING STALL WITH NA UNKNOWN REFLECTIVE OBJECT ON THE GROUND
ABSTRACT - The aim of the present study was to evaluate the reactivity of foals to unknown and reflective objects on the ground. For this, 11 foals, males and females, were taken to the feeding stall, where a board wrapped in reflective paper was placed on the floor. Behavioral observations were performed by continuous visual method. Reactivity was assessed by the variables' scores, considering the effect of sex and day of observation. There was no effect (p> 0.05) of the transposition of the plank with reflective paper on the Position of the Eyes and Ears, but there was an effect (p <0.05) of the interaction of sex and Position of the Ears, where 80.23% of the males kept their ears facing forward or backward, while only 45.81% of the females presented this behavior, suggesting a higher reactivity coming from the males. The object wrapped in reflective paper causes low reactivity in the foals, being sufficient to alert them to an adverse situation.
Keywords: handling, horses, reactivity
Introdução
A reatividade dos cavalos resulta da interação entre o comportamento do animal, o temperamento, as habilidades do ser humano, da experiência do animal adquirida através do contato com o humano e/ou com o ambiente desconhecido (HAUSBERGER, et al., 2008). O conhecimento da reatividade do equino pode auxiliar na investigação de como um cavalo poderá reagir a situações e ambientes novos ou estímulos aversivos (SEAMAN; DAVIDSON; WARAN, 2002).
Os cavalos são animais livres, gregários e curiosos, os quais muitas vezes são atraídos por objetos e locais novos, bem como estímulos desconhecidos. Para diminuir a reatividade e facilitar o manejo e atividades equestres, observou-se que a exposição repetida a um estímulo inicialmente desconhecido diminui a reatividade dos equinos (CALVIELLO, 2013).
Por ser um animal predado, o cavalo tem alta reatividade a alterações no solo, muito próximas às patas e especial restrição a objetos brilhantes, pela intensidade luminosa do objeto, já que o brilho gera desorientação ótico nos equídeos (MACUDA & TIMNEY, 1999).
O objeto do presente estudo foi avaliar a reatividade de potros frente a objeto desconhecido e refletivo no chão.
Revisão Bibliográfica
As diferenças de comportamento entre animais da mesma espécie são frequentemente atribuídas ao temperamento de cada indivíduo. Assim, dependendo do temperamento do cavalo, ele irá se adaptar com mais facilidade ou dificuldade aos desafios ambientais (CAVIELLO, 2013).
Em equinos, os aspectos do temperamento considerados essenciais para o sucesso da criação são a reatividade emocional, as reações aos seres humanos e a aprendizagem (CALVIELLO, 2013). A reatividade emocional é denominada como uma característica do animal que o leva a reagir com a mesma tendência para uma variedade de eventos, e pode variar de acordo com as flutuações do animal ou fatores ambientais abióticos e bióticos (SANDI AND PINELO-NAVA, 2007).
Segundo SEAMAN et al. (2002), adquirir conhecimento sobre a reatividade de um equino pode prever como um cavalo desconhecido poderá reagir frente a lugares e estímulos desconhecidos. Aqueles que possuem um alto nível de reatividade podem trazer dificuldades no manejo, risco aos próximos e prejudicar o próprio bem-estar. Por isso, é importante que os profissionais saibam que existe a possibilidade de atuar através do manejo, promovendo o treinamento dos animais por meio do processo de habituação (LEINER e FENDT, 2011).
LANSADE et al. (2012) analisaram a reatividade de animais em estado de isolamento social e em grupo frente a objetos desconhecidos, e sua capacidade de aprendizagem, observaram que sozinhos os potros eram menos temerosos, diminuindo assim, sua reatividade, e melhorando a capacidade de aprendizagem.
Materiais e Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516.
O experimento foi realizado no Setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando-se 11 potros sem raça definida, seis machos e cinco fêmeas, com idades variando entre 8 a 11 meses.
Os potros, pertencentes à mesma tropa, foram alojados em pastos e conduzidos pela manhã para serem alimentados na lanchonete (composta de 20 boxes de madeira, com dimensionamento de 1x2,5m, com chão de cimento, telhado e cocho) do referido setor.
Para a realização do teste, os animais foram avaliados por observadores treinados posicionados na frente de cada box (distância de 2m) por cinco dias consecutivos no momento da alimentação. Durante este período, uma tábua de madeira envolvida em papel refletor foi alocada no centro dos boxes, fazendo com que os potros a transpusessem no momento da alimentação. As observações comportamentais dos animais foram realizadas pelo método visual contínuo, no momento da entrada dos potros nos boxes, utilizando-se metodologia adaptada de CALVIELLO (2013) (Tabela 1).
Os dados foram analisados por teste de variância com efeito fixo de sexo, escore, dia, e interação sexo x escore, com comparação múltipla por PDIFF a 5%, analisados pelo programa estatístico SAS (2004).
Resultados e Discussão
Não houve efeito (p>0,05) da transposição da tábua com papel refletor sobre a Posição de Orelhas e na interação entre dia e Posição de Orelhas, porém houve efeito (p<0,05) sobre a interação sexo e Posição de Orelhas (Tabela 2). Observou-se que 80,23% dos machos mantiveram as orelhas voltadas para frente ou para trás, enquanto apenas 45,81% das fêmeas apresentaram este comportamento, sugerindo que os animais se mantiveram alerta a nova situação, em especial os machos. Ao analisar-se os dias para a posição de orelhas, foi observado efeito de dia, sendo que os animais apresentaram maiores escore no primeiro dia quando comparado com o ultimo, mostrando a habituação do animal a situação.
Não houve efeito (p>0,05) da transposição da tábua com papel refletor sobre a Posição de Olhos, interação sexo e escore e escore e dia, observa-se que houve predominância no escore 2, olhar atento. Para ambos os sexos, os olhos mantiveram-se atentos, reforçando o observado na Posição de Orelhas. O brilho do papel refletor apenas chamou a atenção dos animais, sem impedir que ele transpusesse o obstáculo. Não houve (p>0,05) efeito de dia sobre esta variável (Tabela 2).
Para a variável Bufar, também não houve efeito (p>0,05) da transposição da tábua com papel refletor sobre o escore, interação sexo e escore e interação sexo e dia, com predominância do escore 2, não bufou (Tabela 2). A não ocorrência da ação de bufar, reitera o resultado obtido para o comportamento de olhos e orelhas, onde o desafio chamou a atenção do animal, porém não o amedrontou.
Por mais que os animais tenham sido submetidos a quatro repetições do teste, eles se mantiveram sempre alertas, situação comum quando se utiliza objetos refletores para cavalos (MACUDA & TIMNEY, 1999).
O efeito de sexo é contraditório em diversas pesquisas. LESIMPLE et al. (2011) não observaram diferença do efeito de sexo sobre a reatividade de cavalos. No entanto, CALVIELLO (2013) cita que os machos apresentaram maiores chances de serem reativos, dados que concordam com o observado na presente pesquisa.
O conhecimento da reatividade dos animais frente a novos desafios em situações cotidianas de manejo é de suma importância para atribuir a cada cavalo o manejo ideal e evitar acidentes. Além disso, observou-se que os cavalos adequam-se rapidamente as novas situações, facilitando o manejo.
A literatura é escassa quanto a trabalhos de comportamento no manejo base dos equinos o que torna a discussão limitada.
Conclusões
O objeto envolto em papel refletor provoca baixa reatividade nos potros sendo suficiente para alertá-los a uma situação diversa.
Gráficos e Tabelas
Referências
CALVIELLO, R. F.
Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013.
HAUSBERGER, M., ROCHE, H., HENRY, S., & VISSER, E. K. (2008).
A review of the human–horse relationship. Applied Animal Behaviour Science, 109(1), 1-24.
LANSADE, L.; NEVEUX, C.; LEVY, F.
A few days of social separation affects yearling horses’ response to emotional reactivity tests and enhances learning performance. Behavioural processes, v. 91, n. 1, p. 94-102, 2012.
LEINER, L.; FENDT, M.
Behavioural fear and heart rate responses of horses after exposure to novel objects: Effects of habituation. Applied Animal Behaviour Science, v. 131, n. 3, p. 104-109, 2011.
LESIMPLE, C. et al.
Housing conditions and breed are associated with emotionality and cognitive abilities in riding school horses. Applied Animal Behaviour Science, v. 129, n. 2, p. 92-99, 2011.
MACUDA, T.; TIMNEY, B.
Luminance and chromatic discrimination in the horse (Equus caballus). Behavioural processes, v. 44, n. 3, p. 301-307, 1999.
SANDI, C.; PINELO-NAVA, M. T.
Stress and memory: behavioral effects and neurobiological mechanisms. Neural plasticity, v. 2007, 2007.
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM
– SAS. OnlineDoc. Version 9.1.3. Cary: SAS Institute, 2004.
SEAMAN, S. C.; DAVIDSON, H. P. B.; WARAN, N. K.
How reliable is temperament assessment in the domestic horse (Equus caballus)?. Applied Animal Behaviour Science, v. 78, n. 2, p. 175-191, 2002.