COMPORTAMENTO INGESTIVO DE BEZERROS LEITEIROS SUBMETIDOS A DOIS NÍVEIS DE ALEITAMENTO.
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RESUMO -
O comportamento ingestivo é uma ferramenta para avaliar os animais quanto ao consumo dentro de um determinado período de tempo. Objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo de 18 animais da raça Girolando, distribuídos em delineamento em blocos casualizados com dois tratamentos. Um grupo de animais receberam 20% do seu peso vivo (PV) em leite no primeiro mês de vida, onde após trinta dias reduziu gradualmente para 10% PV. Em outro tratamento, os animais receberam 10% do seu PV diário em leite durante sessenta dias. Estes animais foram avaliados quanto aos tempos despendidos em pastejo, ruminação, ócio, consumo de água, consumo de concentrado, aleitamento, início de ruminação e vocalização. A ruminação aconteceu após as três primeiras semanas de vida sem diferenças em função da quantidade de leite ofertada. O número de vocalização antes e após aleitamento no período da manhã e da tarde foram menores (P<0,05) nos animais que receberam 20% do PV em leite no primeiro mês de vida.
INGESTIVE BEHAVIOR OF DAIRY CALVES SUBMITTED TO TWO LEVELS OF BREASTFEEDING
ABSTRACT - The intake behavior is a tool that can evaluate the animals in terms of consumption between a particular time range. This work aimed to evaluate the intake behavior of eighteen “Girolando” breed animals through completely randomized blocks within two treatments. A group of animals were fed with milk relating to 20% of their live weight (PV) in the first month of life, which gradually decreased to 10% after 30 days. Another group of animals were fed with milk relating to 10% of their daily live weight for 60 days. These animals were evaluated for: grazing time spent, rumination, leisure, water consumption, feed consumption, suckle, rumination start and vocalization. The rumination occurred after three weeks of life for both groups. The vocalization number before and after the suckle period in the morning and in the afternoon were lower (<0,05) between animals fed with milk relating to 20% of live weight in the first month of life.Introdução
O bezerro leiteiro carece de acesso ao leite em quantidade suficiente para sua saúde e para obter altos níveis de crescimento e fornecer o leite de forma contínua, “ad libitum”, resulta não só em maior crescimento, mas também em padrões de refeição que se assemelham ao comportamento natural de um bezerro (MILLER-CUSHON & DEVRIES, 2015).
Na fase de cria de bezerras o período neonatal (até 28 dias) é a fase mais crítica representando cerca de 75% das perdas durante o primeiro ano de vida (SIGNORETTI, 2013). Para evitar estas perdas, colostragem, cura do umbigo e aleitamento bem efetuados é fundamental na criação de bezerros leiteiros. Com tantas variáveis que interferem no início da vida dos animais, usar o comportamento como uma estratégia para diagnosticar a necessidade de mudanças na nutrição e até mesmo no manejo é justificável.
Cognomina-se comportamento aquilo que se consegue compreender das reações de um animal ao ambiente que o cerca (CARTHY, 1969), a forma de criação, nutrição e manejo também são quesitos que complementam o ambiente formando um conjunto de fatores que geram diferentes ações observáveis nos animais. O comportamento ingestivo é uma ferramenta para avaliar os animais quanto ao consumo dentro de um determinado período de tempo.
Dessa forma, objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo de bezerros leiteiros da raça Girolando recebendo duas quantidades de leite diariamente.
Revisão Bibliográfica
O alimento natural dos bezerros leiteiros, do nascimento aos seis-oito semanas de idade, é o leite integral (CAMPOS et al. 2005), porém muitas vezes esse alimento tão nobre é oferecido de forma restrita, o aleitamento convencional de bezerros leiteiros é caracterizado pelo fornecimento da dieta líquida em quantidade constante, equivalente a 10% do peso corporal do animal, dividido em duas refeições diárias (AZEVEDO et al. 2014), por outro lado, quando o leite é oferecido ad libitum, os bezerros, geralmente, consomem o equivalente a 20% de seu peso vivo/dia. Este fornecimento de 20% do peso vivo animal, gera um custo a mais na criação de bezerros, mas permite explorar o máximo potencial de ganho de peso vivo na fase em que o animal apresenta maior concentração de enzima lactase.
Estudar o comportamento ingestivo dos animais, possibilita aos produtores avaliar a dieta oferecida, permite ajustar o manejo alimentar dos ruminantes, consequentemente obter um melhor desempenho produtivo dentro das propriedades leiteiras, o que confere à esse método tal importância (SILVA, et al,. 2006). Determinar padrões comportamentais que se referem à alimentação auxilia nas atitudes a serem tomadas quanto à nutrição e gestão (CARNEIRO, 2015).
Segundo Silveira (2007), os ruminantes apresentam comportamento ingestivo que podem ser caracterizado pela distribuição desuniforme de uma sucessão de períodos definidos e descritos de atividades comportamentais, ainda MANNING (1972) complementa que quase todos os comportamentos que é observado nos animais são adaptativos. Assim raramente é possível descrever um padrão de comportamento depois de uma só observação (CARTHY,1969). Dessa forma, nos estudos de comportamento animal devem-se efetuar mais de uma avaliação, pois existem um grande número de variáveis que podem interferir nos resultados.
Como o aleitamento em quantidades diferentes de 10% do peso vivo pode interferir no comportamento animal, entende-se que toda vez que se mexe na nutrição deve-se fazer um levantamento do comportamento animal para melhor compreensão dos resultados. Assim, objetivou-se avaliar os tempos despendidos em ruminação, ócio, alimentação, idade ao início da ruminação e vocalização de bezerros recebendo leite em 10% do PV e em 20% do PV nos primeiros 30 dias de vida.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Bovinocultura do IF Sudeste MG - Campus Rio Pomba. Foram utilizados 10 machos e 8 fêmeas, mestiços (Holandês x Zebu). A medida que os animais foram nascendo foram pesados e alocados em delineamento em blocos casualizados (DBC), tendo como blocos o sexo.
Os animais foram distribuídos em dois tratamentos: um tratamento os animais receberam 20% do seu peso vivo (PV) em leite no primeiro mês de vida, posteriormente essa quantidade foi reduzida gradualmente em 5 dias para 10% do PV. No segundo tratamento os animais receberam 10% do seu PV diário em leite. Em ambos os tratamentos o leite foi fornecido através de mamadeira, às 8h e às 16h após as ordenhas. O desmame foi gradativo, iniciando-se com 55 dias e concluindo-se aos 60 dias de vida, onde permaneceram em abrigos individuais até 67 dias de vida.
A água foi fornecida ad libitum a partir do primeiro dia de vida e forneceu-se concentrado com 18% de proteína bruta a partir do sétimo dia de vida dos animais até saírem dos abrigos. Os bezerros foram alojados em abrigos individuais tropicais com 1 m² de área útil, providas de comedouros e bebedouros, mantidas em um piquete de Cynodon sp.
A cada quinze dias foi feita uma avaliação visual, por duas pessoas, do comportamento ingestivo dos animais, sendo estas observações de 6:00 até as 18:00 horas. Avaliou-se a cada 10 minutos os tempos despendido com consumo de concentrado, ingestão de leite e água, ruminação, pastejo e ócio.
Para identificação do início da ruminação foi observado os animais diariamente, registrando-se a data de início da ruminação em planilha de controle. Também nos dias de avaliação do comportamento foram mensuradas os números de vocalizações efetuadas pelos bezerros antes e após o fornecimento de leite nos períodos da manhã e da tarde.
Os dados levantados foram avaliados através da análise de variância utilizando-se o programa SISVAR a 5% de significância (FERREIRA, 2011).
Resultados e Discussão
As diferentes quantidades de leite ofertadas aos bezerros não influenciaram o comportamento ingestivo (Tabela 1). Possivelmente o fato dos padrões comportamentais não terem diferido pode ser justificado pela redução gradativa do fornecimento de leite após os primeiros trinta dias de vida no tratamento de 20%, se igualando ao tratamento de 10% entre 30 e 60 dias de idade.
O tempo despendido com consumo de concentrado foi maior no tratamento 10% mesmo sem diferença significativa. Com o crescimento do bezerro há aumento das exigências de mantença e ganho de peso, assim o animal aumenta o consumo de alimento sólido fornecido à vontade para compensar o que não pode ser obtido pela dieta líquida (CARNEIRO, 2015).
O início da ruminação aconteceu após as três primeiras semanas de vida (Tabela 2), sem diferenças em função da quantidade de leite ofertada. A data de início da ruminação está coerente com a literatura. Carneiro (2015) trabalhou no aleitamento com bezerras F1 Holandês x Gir, e encontrou resultados semelhantes ao início de ruminação sendo observado maiores frequências a partir da sexta semana. E Tamate et al. (1962) explica que o início de ruminação é decorrente ao desenvolvimento do rúmen devido ao aumento de ingestão de dieta sólida.
O número de vocalização antes e após aleitamento no período da manhã e da tarde foram menores (P<0,05) nos animais que receberam 20%/10% do PV em leite (Tabela 2). Essa observação permite concluir que a saciedade nestes animais foram maiores. Silva et al. (2007) usou a vocalização como uma medida para avaliar estresse causado em bezerras alojadas individualmente, podendo assemelhar-se ao estresse causado pelo baixo fornecimento de leite. E Thomas et al. (2001), avaliaram 14 bezerros alimentando convencionalmente (5,0 litros/dia) e com maior quantidade de leite (8,0 litros/dia), os animais alimentados de forma convencional vocalizaram cerca de 31, 4 vezes e os animais que foram alimentados com maior quantidade vocalizaram apenas 5 vezes. Estes resultados indicaram que os bezerros alimentados com maiores quantidade de leite estão melhor saciados.
Conclusões
Os tempos despendidos com ruminação, ócio, consumo de concentrado e ingestão de leite foram semelhantes entre bezerros que receberam 10% do PV e 20%/10% do PV em leite. Também não observou-se diferença em relação a idade de início da ruminação entre as duas quantidades de aleitamento. Já o número de vocalização de bezerros recebendo leite em 10% do PV foi maior que em bezerros recebendo 20%/10% do PV em leite.
Gráficos e Tabelas
Referências
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CARNEIRO, J. C. Comportamento alimentar e social de bezerras leiteiras F1 Holandês x Gir durante a fase de aleitamento e desaleitamento. Dissertação de Mestrado, Montes Claros – 2015.
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