COMPORTAMENTO INGESTIVO DE OVINOS ALIMENTADOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE GORDURA PROTEGIDA DE PALMA

Thauane Ariel Valadares de Jesus1, Gilberto de Lima Macedo Júnior2, Maria Julia Pereira de Araújo3, Marco Túlio Santos Siqueira4, Paulo Arthur Cardoso Ruela5, Adriana Lima Silva, Luciana6, Simone Pedro da Silva7, Débora Adriana de Paula Silva8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
5 - Universidade Federal de Uberlândia
6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito dos níveis de inclusão de gordura protegida de palma sobre o comportamento ingestivo de ovinos. Foram utilizadas cinco fêmeas ovinas com cinco meses de idade que receberam cinco níveis de inclusão da gordura protegida de palma no concentrado: 0%, 4%, 8%, 12% e 16%. Além do concentrado, era fornecido também silagem de milho como volumoso, compondo 30% da ração. O comportamento ingestivo foi realizado observando os animais a cada 5 minutos, por um período de 24 horas. O delineamento experimental utilizado foi o quadrado latino 5×5. Não houve efeito do nível de inclusão da gordura sobre o tempo gasto em ingestão, ruminação e ócio, o que se deve à natureza das dietas, que tinham a mesma proporção de volumoso:concentrado (30:70), visto que o principal fator que influencia o tempo de ruminação é o nível de fibra na dieta. A inclusão de gordura protegida de palma, em até 16,0%, não afeta o comportamento ingestivo de ovinos.

Palavras-chave: alimentação, energia, ruminantes

FEEDING BEHAVIOR OF SHEEP FED WITH LEVELS PROTECTED FAT PALM

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of the inclusion levels of protected palm fat on the ingestive behavior of sheep. Five five-month-old female sheep were fed five levels of inclusion of the protected palm fat in the concentrate: 0%, 4%, 8%, 12% and 16%. In addition to the concentrate, corn silage was also supplied as bulk, making up 30% of the feed. Ingestive behavior was observed by observing the animals every 5 minutes for a period of 24 hours. The experimental design used was the Latin square 5x5. There was no effect of the inclusion level of fat on the time spent ingestion, rumination and rest, which is due to the nature of the diets, which had the same proportion of bulky: concentrate (30:70), since the main factor that Influences the time of rumination is the level of fiber in the diet. The inclusion of protected palm fat, up to 16.0%, does not affect the ingestive behavior of sheep.
Keywords: energy, feeding, ruminants


Introdução

A inclusão de lipídeos na dieta de ruminantes tem como principal objetivo aumentar a densidade energética da ração. No entanto, essa inclusão pode causar efeitos negativos na fermentação ruminal, especialmente quando incluídos em dose acima de 7% da MS dieta (Palmquist e Mattos, 2006). Nesse sentido, foram lançadas nos últimos anos no mercado, as gorduras protegidas da degradação ruminal, o que possibilitaria maior inclusão de gordura na dieta sem prejudicar a fermentação ruminal, sendo necessário o desenvolvimento de estudos para conhecer o nível ótimo de inclusão desses produtos da dieta de ruminantes. A avaliação do comportamento ingestivo dos animais pode ser utilizada como instrumento na avaliação de dietas, possibilitando ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho (Mendonça et al., 2004). Nesse sentido, objetivou-se avaliar o efeito dos níveis de inclusão de gordura protegida de palma sobre o comportamento ingestivo de ovinos.

Revisão Bibliográfica

Nos últimos anos, na busca de se aumentar o nível de energia das dietas vem sendo fortemente difundida a utilização de lipídeos na alimentação de ruminantes. Entretanto, deve-se sempre observar os valores de inclusão de gordura da dieta de ruminantes, já que esta pode resultar em eventos deletérios no rúmen. O método mais indicado para se evitar os efeitos negativos que a gordura apresenta na fermentação ruminal é o fornecimento de sais de cálcio de ácidos graxos (gordura protegida) (Bona Filho; Otto; Leme, 1994). As gorduras protegidas são ácidos graxos que são combinados com cátions bivalentes como o cálcio, formando sais insolúveis no pH ruminal, que confere uma proteção a esses ácidos graxos que permitem eles passarem pelo rumen "inertes", sendo que em condições de maior acidez (abomaso), os ácidos graxos liberam cálcio e se tornam disponíveis para a absorção intestinal. O comportamento ingestivo pode ser visto como uma importante ferramenta para a avaliação e gestão do animal submetido às mais diversas práticas de manejo, ampliando a visão do profissional a situações ainda não consideradas ou mal compreendidas (Silva et al., 2004). Além disso, poderá também ser utilizado como ferramenta para avaliação de dietas, ao explicar parte das variações na ingestão do alimento, possibilitando ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho (Mendonça et al., 2004). De acordo com Van Soest (1994) os fatores que mais afetam o comportamento ingestivo dos animais são: a quantidade de fibra, matéria seca e tamanho de partícula do alimento; digestibilidade dos nutrientes (velocidade de fermentação e colonização bacteriana); e, fatores inerentes aos animais e ambiente. Para animais confinados, costuma-se a avaliar as atividades de ingestão (seja de alimento, água, sal mineral ou proteinado), ruminação e ócio.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia para avaliação do comportamento ingestivo de ovinos consumindo cinco níveis de inclusão da gordura protegida de palma (EnerFat®) no concentrado, sendo eles: 0%, 4%, 8%, 12% e 16%. Em cada ensaio, foram utilizadas cinco fêmeas ovinas com cinco meses de idade e peso vivo médio de 25,0 Kg.. Os animais foram mantidos em gaiolas de metabolismo. Todos os animais antes de iniciarem o período experimental foram pesados, identificados e vermifugados. Os tratamentos foram destinados aos diferentes animais de forma aleatória através de sorteio. As rações experimentais eram compostas de 30% de volumoso (silagem de milho) e 70% de concentrado (farelo de milho, farelo de soja, gordura protegida e sal mineral) (Tabela 1). As mesmas foram fornecidas à vontade aos animais (aproximadamente 3,0% do peso corporal), de forma que houvesse sobra de 10% do total fornecido.  As rações foram fornecidas diariamente as 8 e 16 horas. O ensaio teve duração de 75 dias, sendo 10 dias para adaptação dos animais às dietas e cinco dias para a coleta de dados em cada período (cinco períodos). Para a mensuração do comportamento ingestivo, os animais foram submetidos à observação por pessoas treinadas, posicionadas de forma a não incomodar os animais. O estudo foi realizado durante o período de 24 horas, com observações a cada 5 minutos das seguintes variáveis: ócio, ruminação, ingestão. A observação noturna dos animais foi realizada mediante o uso de iluminação artificial. Para adaptação dos animais, três dias antes de cada estudo de comportamento as luzes eram mantidas acesas no período noturno. Para determinação do tempo total de mastigação foi realizado o somatório dos tempos de ingestão de alimento e ruminação, segundo Maekawa et al. (2002). O delineamento experimental utilizado foi o quadrado latino 5x5. As respostas obtidas com os níveis de inclusão da gordura protegida foram analisadas por regressão a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não houve efeito do nível de inclusão de gordura protegida na dieta sobre as variáveis de comportamento ingestivo (Tabela 1), o que pode ser explicado pela natureza das dietas, que tinham a mesma proporção de volumoso:concentrado (30:70), visto que o principal fator que influencia o tempo de ruminação é o nível de fibra na dieta (Van Soest, 1994). De acordo com Teixeira e Teixeira (2001), ovinos gastam de oito a nove horas por dia ruminando. O menor tempo com ruminação e alimentação, obtido neste trabalho, pode ser atribuído ao fato de a dieta estar mais densa em energia, devido ao alto nível de concentrado em relação ao teor de volumoso. Um outro fator que pode ter influenciado valores menores desprendidos em alimentação e ruminação seria a idade e peso dos animais,  conforme observado por MENDES et al. (2010), que obtiveram valores para ruminação menores que os encontrados na literatura (médio de 4,91 horas/dia), quando trabalharam com cordeiros em dieta de bagaço de cana-de-açúcar in natura, utilizando alto nível de concentrado. Grandi et al. (2015) também não observaram diferença no comportamento ingestivo de cordeiros alimentados com diferentes níveis de torta de soja. Os animais recebiam ração na proporção volumoso:concentrado de 35:65. A explicação seria o alto nível energético da dieta e menor tamanho de partícula, que influencia diretamente na ingestão e ruminação. Por não apresentar diferença no comportamento ingestivo de ovinos, a inclusão da gordura protegida de palma pode ser utilizada de forma interessante em substituição a outros alimentos energéticos da dieta, possibilitando uma melhora no aproveitamento energético por parte do animal.

Conclusões

A inclusão de gordura protegida de palma, em até 16,0%, não afeta o comportamento ingestivo de ovinos.  

Gráficos e Tabelas




Referências

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