Comportamento ingestivo de ovinos recebendo diferentes aditivos fitoquímicos
Vanessa Peripolli1, Laion Antunes Stella2, Ênio Rosa Prates3, Bruna Cristina Kuhn Gomes4, Viviane da Silva Hampel5
1 - Instituto Federal Catarinense, Campus Avançado Abelardo Luz, Abelardo Luz, SC, Brasil
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Departamento de Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia, Departamento de Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Porto Alegre, RS, Brasil
RESUMO -
Objetivou-se avaliar o uso de aditivos fitoquímicos sobre o comportamento ingestivo de ovinos confinados recebendo dieta com alto teor de concentrado. Dezesseis ovinos machos Ile de France, castrados, com cinco meses de idade foram divididos em quatro tratamentos: controle (CON), extrato de borragem (BOR, Borago officialis), extrato de cártamo (CAR, Carthamus tinctorius L.) e extrato de gergelim (GER, Sesamum indicum L.). Cada animal recebeu 1 ml/dia de extrato exceto para o CON. A avaliação do comportamento ingestivo foi realizado através da observação visual de todos os animais, a cada cinco minutos, durante 24 horas seguidas, avaliado em três dias distintos (período). Os tratamentos influenciaram o comportamento ingestivo, os tempos destinados ao ócio deitado e em pé. Os diferentes períodos influenciaram os parâmetros de alimentação, o tempo de mastigação total, o ócio em pé e o ócio deitado. O tratamento GER reduziu o tempo de mastigação total, pelo maior tempo destinado a ruminação.
Palavras-chave: alimentação, ingestão de água, ócio, ruminação
Ingestive behavior of sheep receiving different phytochemical additives
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the use of phytochemical additives on the ingestive behavior of confined sheep receiving a high concentrate diet. 16 male, Ile de France castrated male five month old sheep were divided into four treatments: control (CON), borage extract (BOR Borago officinalis), carthamus extract (CAR, Carthamus tinctorius L.) and sesame extract (SES, Sesamum indicum L.). Each animal received 1 ml of phytochemical additive per day except for the CON. The evaluation of the ingestive behavior was performed by visual observation of all animals, every five minutes, for 24 consecutive hours, assessed on three separate days (period). The treatments influenced the ingestive behavior, the times destined to standing idle and lying down idle. The different periods influenced the feeding parameters, the total chewing time, the standing idle and the lying down idle. GER treatment reduced total chewing time by the longer time spent in rumination.Keywords: feeding, idle, rumination, water intake
Introdução
Existe um crescente interesse na busca por aditivos alternativos aos antibióticos, após o seu banimento na União Europeia na década passada. Muitas pesquisas têm sido realizadas com o intuito de buscar alternativas que possam satisfazer tanto as necessidades dos produtores ao permitir incrementos na rentabilidade da atividade pecuária, bem como, dos consumidores, ao atender as novas exigências impostas pelo mercado. Alguns aditivos, como os fitoquímicos, que já foram testados em experimentos in vitro, estão sendo avaliados em experimentos com animais in vivo (Chaves et al., 2011; Khiaosa & Zebeli, 2014). Para isso avaliações de ganho de peso e consumo de nutrientes são fundamentais para a obtenção da viabilidade econômica do uso desses aditivos. As avaliações de comportamento ingestivo servem de apoio na tomada de decisão por identificar se ocorrem alterações na ingestão de alimento ao longo do dia. Deste modo, objetivou-se avaliar o uso de aditivos fitoquímicos sobre o comportamento ingestivo de ovinos confinados recebendo dieta com alto teor de concentrado.Revisão Bibliográfica
O balanceamento de dietas no confinamento de ovinos representa a diferença da rentabilidade ou não da atividade. Dietas com elevada concentração de fibra em detergente neutro, necessariamente, possuem baixa densidade energética e a repleção ruminal que limita a ingestão de matéria seca, reduzindo o desempenho animal (Mertens, 1994). Dietas com alto teor de concentrado tornaram-se economicamente viáveis nos últimos anos, em função da elevação no custo de produção de volumosos, redução no preço dos concentrados através da compra direta com o produtor e ao aumento da oferta de coprodutos da indústria (Cervieri, 2009). Entretanto a ingestão de dietas ricas em grãos pode levar a ocorrência de distúrbios no rúmen, pois favorece a rápida queda do pH ruminal, devido a altas taxas de digestão e produção de ácidos graxos voláteis. Por isso, o uso de aditivos fitoquímicos na dieta pode modular a fermentação ruminal de forma positiva ao animal. Os aditivos fitoquímicos naturais como o borragem (Borago officialis), o cártamo (Carthamus tinctorius L.) e o gergelim (Sesamum indicum L.) possuem características de interesse na nutrição de ruminantes como a antimicrobiana, a anti-inflamatória e a digestiva (Benchaar & Greathead, 2011; Patra & Yu, 2013). A sua adição na dieta permite melhorar o aproveitamento dos nutrientes aumentando a eficiência alimentar o que reflete em melhoria econômica pela redução dos custos com alimentação e ambiental pela menor produção de dejetos. Entretanto esses aditivos podem afetar as enzimas digestivas dos animais, refletindo na redução da ingestão de matéria seca e consequentemente no tempo de alimentação dos animais.Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no setor de ruminantes do Laboratório de Ensino Zootécnico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O experimento foi realizado em dois períodos experimentais de 23 dias cada, sendo que os 14 dias inicias foram para adaptação dos animais aos tratamentos. Foram usados 16 ovinos machos Ile de France, castrados, com cinco meses de idade e peso vivo médio inicial de 21,68 + 2,00 kg. Os animais foram alocados em baias individuais de madeira, suspensas do chão e dispunham de comedouros separados para o fornecimento de alimento e água. Os ovinos foram divididos em quatro tratamentos: controle (CON), extrato de borragem (BOR, Borago officialis), extrato de cártamo (CAR, Carthamus tinctorius L.) e extrato de gergelim (GER, Sesamum indicum L.). Para os animais dos tratamentos que receberam extrato foram administrados 1 ml por dia de seu correspondente extrato. Para os extratos de cártamo, borragem e gergelim, cada 1ml de extrato tinha a densidade de 1,27; 1,30 e 1,30 gramas, repectivamente. Os extratos possuíam certificado de pureza, características físico químicas e de contagem microbiana. A dieta foi fornecida em duas refeições diárias, às 08:30 h e às 17:30 h, em comedouros individuais. A dieta foi formulada de modo a promover um ganho médio diário de 200g para ovinos machos e foi composta por 58% de milho grão, 10,9% de farelo de soja, 30% de feno de alfafa, 1% de sal mineral e 0,1% de calcário. A composição química foi de 88,77% de matéria seca, 94,67% de matéria orgânica, 16,52% de proteína bruta, 30,98% de fibra em detergente neutro, 13,52% de fibra em detergente ácido, 17,46% de hemicelulose, 9,44% de celulose, 4,08% de lignina e 4110,02 Kcal/kg de energia bruta. A oferta permitiu no mínimo 5% de sobras. O sal mineral e a água foram fornecidos ad libitum. A avaliação do comportamento ingestivo foi realizado através da observação visual de todos animais, sendo observados a cada cinco minutos, durante 24 horas seguidas, para determinação do tempo despendido em ingestão, ruminação (em pé e deitado), e ócio (em pé e deitado) conforme Johnson & Combs (1991). Durante a observação noturna dos animais, o ambiente foi mantido com iluminação artificial. O comportamento ingestivo foi avaliado em três dias (períodos) distintos (comportamentos 1, 2 e 3).Resultados e Discussão
Não ocorreu interação entre o tratamento e o período para nenhum dos parâmetros do comportamento ingestivo avaliados (Tabela 1). Ocorreram diferenças significativas no comportamento ingestivo nos tempos destinados ao ócio deitado (P=0,02) e em pé (P=0,05), e nos diferentes períodos para os parâmetros de alimentação, tempo de mastigação total (TMT), ócio em pé (OP) e ócio deitado (OD) (P<0,001). Houve uma redução significativa no tempo de ruminação no tratamento GER (Figura 1), durante a primeira avaliação de comportamento. Esse menor tempo despendido na ruminação aumenta a taxa de passagem, o que pode ser prejudicial para o animal quando se usa uma dieta com alto teor de concentrado, pela menor quantidade de saliva produzida, pois a saliva é responsável por tamponar o pH ruminal, reduzindo os riscos de acidose. Van Soest et al. (1991) afirmaram que o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor de parede celular dos volumosos, desta forma por ser uma dieta com alto teor de concentrado, o tempo destinado a atividade de ruminação é reduzido. Isso é uma desvantagem em relação ao menor tamponamento do rúmen realizado pela saliva, o que pode acarretar distúrbios metabólicos, como a acidose. O tempo em porcentagem da alimentação e ócio total foi: 30% e 65%, 30% e 65%, 30% e 65% e 27% e 68%; respectivamente para os tratamentos CON, BOR, CAR e GER. A maior parte do ócio em pé foi no período diurno, já o ócio em deitado em sua totalidade foi no período noturno (entre 23h até as 6h). O tratamento GER reduziu o tempo de mastigação total, diferindo dos dados observados por Silva et al. (2017) que testaram diferentes extratos de plantas (alho, coentro, orégano e algaroba) como aditivos fitoquímicos na dietas de ovinos e não encontraram diferenças no comportamento ingestivo dos animais. O fato de não ocorrer alterações no tempo de alimentação neste estudo foi fundamental já que esses aditivos prejudicam a aceitabilidade dos animais, consequentemente deprimindo o consumo. Porém os óleos utilizados no presente estudo não apresentaram odor acentuado, e devido baixa quantidade incluída na dieta não alteraram o tempo médio de alimentação.Conclusões
O uso do aditivo gergelim reduziu o tempo de mastigação total, pelo maior tempo destinado a ruminação de ovinos recebendo dieta com alto teor de concentrado.Gráficos e Tabelas
