Comportamento Ingestivo e Fisiológico de Novilhas das raças Pantaneira e Girolando suplementadas com simbiótico em sistema de confinamento

Kassyo Roberto Sanches Falcão1, Marcus Vinicius Morais de Oliveira2, Vitória Soares3, Rodrigo Carvalho Ferreira4, Iago Albuquerque Dias5, Henrique Kischel6, Marcio Gregório Rojas dos Santos7
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
7 - Universidade Estadual de Maringá

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo e fisiológico de novilhas das raças Pantaneira e Girolando, confinadas na região do Alto Pantanal Sul-Mato-Grossense. Para tanto foram utilizados 28 animais, sendo 14 de cada raça. Estes foram alimentados com cana de açúcar e ração concentrada, na relação volumoso:concentrado de 50:50; mais um aditivo simbiótico, fornecido diariamente na quantidade de 10g/animal/dia. Foram realizadas três observações de 24 horas, durante o verão, totalizando 72 horas. Infere-se que houveram diferenças comportamentais entre as raças para as variáveis de tempo de ruminação em pé e deitado e na interação entre os animais. Com relação ao aditivo simbiótico, promoveu uma melhor degradação ruminal da fibra, em função da elevação do pH do rúmen, refletindo na melhora da digestibilidade da fibra, no aumento da taxa de passagem e diminuição do tempo de ruminação.

Palavras-chave: Etologia, leveduras, prebiótico, probiótico

Ingestive and Physiological Behavior of Heifers of the Pantaneira and Girolando breeds supplemented with symbiotic in confinement system

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the ingestive and physiological behavior of heifers of the Pantaneira and Girolando breeds, confined in the Upper Pantanal region of South-Mato Grosso. For this purpose, 28 animals were used, 14 of each breed. These were fed with sugar cane and concentrated ration, in the ratio voluminous: concentrate of 50:50; Plus a symbiotic additive, supplied daily in the amount of 10g / animal / day. Three observations of 24 hours were made during the summer, totaling 72 hours. It was inferred that there were behavioral differences between the breeds for the variables of time of standing and lying rumination and in the interaction between the animals. In relation to the symbiotic additive, it promoted a better rumen degradation of the fiber, as a function of the rumen pH increase, reflecting in the improvement of the fiber digestibility, increase in the passage rate and decrease in rumination time.
Keywords: Ethology, yeast, prebiotic, probiotic


Introdução

Devido à baixa produção de leite no estado de Mato Grosso do Sul é necessário investigar maneiras de desenvolver meios para a mudança do respectivo cenário. Frente a isso, surge a oportunidade de investigação acerca do uso de aditivos na dieta. Neste contexto, o simbiótico trata-se de um suplemento alimentar, composto por microrganismos vivos que podem afetar beneficamente o hospedeiro, ao melhorar o equilíbrio ruminal, pois tem como meta sequestrar o O2 presente no rúmen, gás este que é tóxico para as bactérias anaeróbicas ou evita a instalação de microrganismos patogênicos na parede intestinal, potencializando a digestão da dieta (Fonseca, 2010). Além disso, é primordial e inovador descobrir qual é o comportamento alimentar dos animais frente à dieta de alto valor nutritivo, principalmente em relação à raça Pantaneira, que não possuía acesso aos alimentos de melhor digestibilidade e aditivos potencializadores, por sua alimentação ser caracterizada, principalmente, por pastagens nativas. Objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo e fisiológico de novilhas das raças Pantaneira e Girolando frente à suplementação de simbiótico em regime de confinamento.

Revisão Bibliográfica

Na busca de maiores ganhos produtivos e visando aumentar a rentabilidade do sistema, algumas tecnologias já vêm sendo adotadas para maximizar a eficiência das dietas e disponibilizar maior aporte de nutrientes para os animais. Dentre elas, a utilização de aditivos moduladores da microbiota ruminal tornam-se aliados na busca de objetivos expressivos de eficiência alimentar e ganhos zootécnicos. Ribeiro et al. (2013) encontrou resultados interessantes ao avaliar a variável ganho de peso em animais taurinos recebendo como aditivo prebióticos e probióticos simultaneamente, assim como conclusões obtidas pelos autores (Filgueiras el al., 2011; Filgueiras et al., 2012) inferem que a utilização destes compostos em vacas em lactação pode vir a minimizar os índices de células somáticas presente no leite, tendo efeito benéfico também para a sanidade dos animais. Atualmente poucos estudos são encontrados na literatura científica abordando a raça Pantaneira e principalmente em relação ao comportamento ingestivo e fisiológicos destes animais em confinamento. De acordo com (Oliveira et al., 2015) a avaliação dos parâmetros etológicos em função do consumo de alimentos pelos animais é de fundamental importância pois está intimamente relacionado com o próprio desempenho produtivo dos animais a campo. Além disso, o conhecimento do comportamento ingestivo serve como suporte em programas de manejo alimentar, auxiliando na avaliação de dietas e na identificação qualquer distúrbio alimentar (Mendonça et al., 2004).

Materiais e Métodos

A pesquisa foi realizada no setor de Bovino de Leite da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, unidade de Aquidauana. Foram utilizados 28 animais, com idade média de 18 meses e peso corpóreo inicial médio de 250 e 280 kg, para Pantaneira e Girolando, respectivamente, sendo 14 de cada grupo genético. Foram confinadas por 114 dias, 30 dias para adaptação, e os outros 84 dias para coleta dos dados, dividido em três períodos de 28 dias, havendo ao final de cada período a avaliação ingestiva e comportamental dos animais. As novilhas de cada grupo genético foram separadas em dois lotes de sete animais, com peso corpóreo médio do lote similar, num Delineamento Fatorial 2x2 e alocadas nos tratamentos sem simbiótico (SS) e com simbiótico (CS). Foram alimentadas diariamente com cana de açúcar (Saccharum officinarum) e ração concentrada (milho, farelo de soja, ureia, calcário calcítico, e sal mineral), numa proporção volumoso:concentrado, de 50:50%; mais um aditivo simbiótico, fornecido 10g/animal/dia, composto por, Saccharomyces cerevisae (5,8x1012 UFC/g); Lactobacillus acidophilus (4,2x109 UFC/g); Mananoligossacarídeos (30,00g); Beta glucanos (50,00g). Os estudos etológicos, foram avaliados de acordo com as metodologias de Morais et al., (2006) e Carvalho et al., (2006). As observações foram feitas por equipe de acadêmicos treinados, sendo quatro de cada vez, em sistema de revezamento, posicionados estrategicamente de forma a não perturbar os animais, também foram utilizadas lâmpadas de baixa amperagem para também não interferir no comportamento dos animais. Os parâmetros avaliados para comportamento ingestivo foram: Ruminando em Pé (RP), Ruminando Deitado (RD), Ócio em Pé (OP), Ócio Deitado (OD), Dormindo em pé (DP), Dormindo deitado (DD), Comendo (ING) e Interagindo (INT). A análise estatística dos dados foram realizadas com auxílio do Software “R”. As comparações de médias foram feitas através do teste F. Sendo adotado o P<0,05 como significativo.

Resultados e Discussão

Os tratamentos (com e sem recebimento de simbiótico) no que se refere ao comportamento alimentar não houve diferença estatística (P<0,05), exceto para as variáveis de tempo de ruminação em pé e deitado, sendo que o tratamento com oferta de simbiótico apresentou maior tempo despendido para os animais ruminando em pé quando comparado ao tratamento controle (Tabela 1). Damasceno et al. (1999) verificaram que há uma preferência dos animais em ruminar deitados, ficando a ruminação em pé mais relacionada com as horas mais quentes do dia e logo após as refeições. Isso também ocorreu neste estudo, sendo a ruminação deitada observada mais frequentemente durante o período noturno (Tabela 1). O uso de simbiótico, em especial da fração probiótico (Sacharomyces cerevisae), rica em leveduras, promoveu uma melhor degradação ruminal da fibra, em função da elevação do pH do rúmen, provavelmente refletindo na melhora da digestibilidade da fibra, no aumento da taxa de passagem e diminuição do tempo de ruminação. Observou-se em relação às variáveis fisiológicas (Tabela 1) que, os animais suplementados com o simbiótico (pro-prebiótico) procuraram menos o bebedouro, fato este ligado provavelmente com a maior taxa de passagem, menor necessidade de ruminação e consequentemente menor necessidade de consumo de água para a realização das atividades ingestivas em questão. No entanto, em relação às raças, as novilhas Girolando despenderam maior tempo nas respectivas atividades de comportamento fisiológico (P<0,05); tanto para consumo de água, micção e defecação. O que leva a inferir que são animais com genética leiteira, aliado ao fato de uma maior adaptabilidade dos animais Pantaneiros ao clima desfavorável (Tabela 1).

Conclusões

O uso do simbiótico do ponto de vista do comportamento ingestivo mostrou-se como uma ferramenta interessante, mesmo não tendo diminuído o tempo de ingestão de alimento, levando em considerações os indícios das características ruminativas e consequentemente os níveis de estabilidade ruminal/pH; bem como nas características fisiológicas avaliadas. Não houve diferenças entre raças em se tratando de comportamento alimentar, exceto para a variável interagindo, onde as novilhas Pantaneiras dispenderam de um maior tempo para essa variável.

Gráficos e Tabelas




Referências

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