Comportamento ingestivo em cabras Anglo Nubiana em lactação alimentadas com diferentes fontes de volumosos

Joyce Pereira Alves1, João Paulo de Farias Ramos2, Wendel Pires Carneiro3, Wandrick Hauss de Sousa4, Alberto Jefferson da Silva Macêdo5, Nelquides Braz Viana6, Edson Mauro Santos7, Juliana Silva de Oliveira8
1 - Universidade Federal da Paraíba
2 - Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba
3 - Universidade Federal da Paraíba
4 - Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba
5 - Universidade Federal de Campina Grande
6 - Universidade Federal da Paraíba
7 - Universidade Federal da Paraíba
8 - Universidade Federal da Paraíba

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a utilização da silagem de sorgo, feno de capim-búffel e palma forrageira na dieta de cabras leiteiras, por meio de ensaios de comportamento ingestivo. Foram utilizadas oito cabras do genótipo Anglo Nubiana, distribuídas em dois quadrados latinos (4×4). Os tratamentos foram representados pelas dietas com as diferentes de fonte de volumoso: SSPF: (silagem de sorgo + palma forrageira+suplemento), FBPF: (feno de capim-búffel+palma forrageira+suplemento), SS: (silagem de sorgo+suplemento) e FB: (feno de capim-búffel+suplemento). Os tempos despendidos não diferiram, resultando em valores médios para cada variável (6,06; 6,43; 12,49; 11,50 h/dia) respectivamente. Houve efeito significativo quanto à eficiência em alimentação (kgMS/h e kgFDN/h) e eficiência em ruminação (kgMS/h e kgFDN/h). As fontes de volumosos utilizadas alteraram o comportamento ingestivo e a dieta com feno de capim-buffel e palma forrageira apresentou a melhor eficiência de alimentação e ruminação.

Palavras-chave: caprinocultura, estratégia alimentar, pequenos ruminantes, semiárido

Ingestive behavior in lactating Anglo Nubian goats fed different forage sources

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the use of sorghum silage, buffel grass hay and cactus palm in the diet of dairy goats by ingestive behavior assay. Eight Anglo Nubian goats were distribute in two Latin Squares (4x4). The treatments represented by the diets with the different forage sources: sorghum silage + cactus palm + supplement; buffel grass hay + cactus palm + supplement; sorghum silage + supplement; and buffel grass hay + supplement. The times did not differ resulting in mean values for each variable 6.06, 6.43, 12.49, 11.50 h/day, respectively. There was significant effect on feed efficiency (kg DM/h and kg/NDF/h) and efficacy in rumination (kg DM/h and kg/NDF/h). Forage sources altered the ingestive behavior and diets with buffel grass hay and cactus palm presented the best feeding and rumination efficiency.
Keywords: goat breeding, food strategy, small ruminants, semiarid


Introdução

A produção de pequenos ruminantes vem se destacando como uma importante atividade nos aspectos cultural, social e econômico no semiárido brasileiro, porém, a sua exploração econômica nesta região é ainda “amadora”, motivada pela escassez de animais especializados para a produção de leite e/ou carne e também pelos fatores ambientais, nutricionais e de manejo que, normalmente, não colaboram para a otimização do processo produtivo (ROBERTO; SOUZA, 2011). Devido, especialmente, à facilidade de cultivo, adaptabilidade e elevado valor nutricional, as culturas do sorgo (Sorghum bicolor L.), para silagem, capim-búffel (Cenchrus ciliaris) para feno e palma forrageira (Nopalea cochenillifera), destacam-se por seus potencias produtivos para a pecuária de pequenos ruminantes. Os ruminantes são capazes de adaptar-se às várias condições de alimentação, manejo e ambiente, alterando seus parâmetros de comportamento ingestivo com a finalidade de alcançar determinado nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais (CAVALCANTI et al., 2008). O entendimento do comportamento ingestivo faz-se um instrumento essencial na avaliação das dietas, pois possibilita compreender os fatores que regulam a ingestão de alimentos e, ou água e estabelecer adaptações que otimizem a produção (BARRETO et al., 2011). Portanto, objetivou-se avaliar a utilização da silagem de sorgo, feno de capim-búffel e palma forrageira, na dieta de cabras leiteiras, por meio de ensaios de comportamento ingestivo.

Revisão Bibliográfica

Silva et al. (2010) afirmaram que a exploração de pequenos ruminantes pode-se dar em diversos sistemas de produção com variadas formas de alimentação, podendo ser encontrados animais confinados em um sistema intensivo, ou animais criados extensivamente, algumas vezes, quase em estado selvagem e, no contexto da região Nordeste, têm sido buscadas distintas alternativas alimentares objetivando o aumento da produtividade e a disponibilidade de animais destinados ao abate, particularmente nos períodos de estiagens e em decorrência à sazonalidade do período chuvoso, que, por sua vez, impõem severas restrições ao suprimento de forragens e, consequentemente, à oferta de nutrientes na produção animal. A suplementação estratégica deve ser empregada com o intuito de melhorar o aproveitamento dos recursos alimentares fibrosos disponíveis na região. A espécie forrageira e suas características morfológicas de crescimento, estrutura da planta, valor nutricional, fatores antinutritivos e aceitabilidade pelo animal, quantidade de material morto podem influenciar nas decisões a serem tomadas no consumo pelo animal. Os caprinos, ao longo da sua evolução, desenvolveram adaptações anatômicas e fisiológicas para se nutrirem de uma grande diversidade de alimentos. Todavia, a estratégia de alimentação desses ruminantes é estabelecida, de forma elementar, na qualidade nutritiva do alimento, comprovando-se diminuição na ingestão de matéria seca, geralmente, em condições de altas taxas de lotações e em períodos baixa precipitação pluviométrica, motivada pela redução na qualidade nutritiva dos recursos forrageiros e pela seleção e consumo de partes mais digestíveis (CARVALHO et al., 2011). Atualmente os pesquisadores têm observado a necessidade de estudar o comportamento alimentar animal, para buscar alternativas que diminuam os gastos energéticos e possam aperfeiçoar a alimentação dos animais. Neto et al. (2007) ressaltaram que o comportamento ingestivo de ruminantes é um componente essencial para a compreensão dos processos de digestão dos alimentos, e de sua eficiência de utilização e absorção e da manutenção das condições ruminais, sendo que cada um desses processos são oriundos da combinação do metabolismo do animal com as propriedades físicas e químicas da dieta.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no período de 20 de novembro de 2014 à 20 de janeiro de 2015 na Estação Experimental Pendência, da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA), município de Soledade. Foram utilizadas oito cabras Anglo Nubianas, multíparas, pesando em torno de 40,13 ± 2,76 kg de peso vivo, em média, com 30 dias de lactação. Os animais foram alojados em baias individuais de 3m2, com piso de cimento, providas de comedouro, bebedouro, para fornecimento da dieta e água ad libitum. Os tratamentos experimentais consistiram de uma ração completa isoproteica, formulada segundo o NRC (2007) para atendimento das exigências de cabras em lactação com produção de 2 kg leite/cabra/dia e 3,5% de gordura no leite. Foram representados pelas dietas com as diferentes fontes de volumoso: SSPF: (silagem de sorgo + palma forrageira+suplemento), FBPF: (feno de capim-búffel+palma forrageira+suplemento), SS: (silagem de sorgo+suplemento) e FB: (feno de capim-búffel+suplemento). O suplemento era composto por farelo de milho, farelo de soja, ureia e núcleo mineral. A composição química dos ingredientes está apresentada na Tabela 1. O delineamento experimental utilizado consistiu de dois quadrados latinos simultâneos (4x4) quatro períodos e quatro dietas. Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o programa PROC GLM do Statistical Analysis System (SAS, 2002), as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância. As análises laboratoriais foram efetuadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, seguindo metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002). As observações referentes ao comportamento ingestivo dos animais foram realizadas das 06:00 horas do décimo dia de cada período (total de cinco períodos) às 06:00 horas do dia seguinte (décimo primeiro dia), de forma visual, pelo método de varredura instantânea, proposta por Martin & Bateson (1986).

Resultados e Discussão

Estão apresentados na Tabela 2, os tempos despendidos com alimentação (TAL), ruminação (TRU), tempo em mastigação total (TMT) e ócio (TO), e a eficiência alimentar (EAL) e de ruminação (ERU), em função das dietas. Os tempos não diferiram (P>0,05), resultando em valores médios para cada variável (6,06; 6,43; 12,49; 11,50 h/dia) respectivamente. Esse resultado foi superior aos encontrados por Argôlo et al. (2013) que trabalhou com o genótipo Anglo Nubiana alimentadas com farelo de vargem algaroba, expressando valores médios de 4,29 e 5,87 h/dia para TAL e TRU. Acrescenta-se que, o fato de haver necessidade de se usar concentrados nas dietas para cabras em lactação tem aumentado significativamente a produtividade e, considerando os caprinos selecionadores dos alimentos, ou seja, por selecionar naturalmente na planta, as parte em que há maior concentração de nutrientes, em detrimento de outras partes mais fibrosas explique a semelhança para estas variáveis. Houve efeito significativo (P<0,05) referente à EAL (kg MS/h e kg FDN/h), ERU (kg MS/h e Kg FDN/h). Para EAL (kg FDN/h) a dieta SSPF foi menos eficiente 54% em relação as demais dietas. Possivelmente essa menor eficiência do FDN seja devido ao baixo consumo de MS pelos os animais e da FDN (338 g/dia). Por outro lado, as dietas FBPF, SS e FB para a EAL (kg FDN/h) não houve diferença (P>0,05), resultado já esperado devido o consumo da FND ter sido semelhantes para estas dietas. A eficiência em ruminação em função do consumo de matéria seca foi maior para a dieta FBPF e FB, provavelmente elevando-se a quantidade de CNF na dieta advindo da palma e do concentrado tenha aumentado a eficiência de ruminação. Além disso, para dietas SSPF, observou-se o menor valor de eficiência para ruminação (0,05). Logo, com a inclusão de palma forrageira e menor relação de volumoso concentrado na dieta há diminuição na fibra em detergente neutro da dieta, levando o animal a ser mais eficiente no uso da fibra por unidade de tempo (BISPO et al., 2010).

Conclusões

As fontes de volumosos utilizadas alteraram o comportamento ingestivo, e a dieta com feno de capim-buffel e palma forrageira apresenta a melhor eficiência de alimentação e ruminação para cabras em lactação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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