Composição bromatológica de silagem de capim-colonião aditivada com resíduo de panificação em diferentes níveis de substituição

Mateus de Paula Barcelos1, Elon Candez da Silva2, Luís Felipe Ferreira Inácio Silva3, André Matos Zuccari4, Eduardo Sardinha da Silva5, Leonardo Viana da Silva6, Diego Henrique Ozório de Carvalho7, João Carlos de Carvalho Almeida8
1 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
2 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
3 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
4 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
5 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
6 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
7 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
8 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

RESUMO -

O efeito da estacionalidade sob a produção pecuária do Brasil é um fator preponderante do ponto de vista do planejamento nutricional dos rebanhos criados à pasto e, nesse cenário, a estratégia de ensilagem é uma importante e grande alternativa para amenizar tais efeitos sobre a alimentação dos animais. Em tal condição, o presente trabalho foi desenvolvido com vistas à avaliação da composição bromatológica de silagens de capim-colonião aditivadas com resíduos panificação, com parcial objetivo de cunho ambiental de reaproveitamento desses recursos e, simultaneamente, diminuição do custo de produção do alimento. As silagens foram confeccionadas de capim-colonião aditivadas em substituição com base na matéria seca de 2, 4, 6 e 8%, com cinco repetições, juntamente com cinco repetições de silagem sem aditivo (controle), completando cinco tratamentos que foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado. Como silos experimentais foram usados baldes de 20 litros, que acomodaram aproximadamente 10,6kg de matéria verde do capim picado, com densidade de compactação de 500kg/dm³. Os parâmetros avaliados foram matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, matéria mineral, FDN, FDA, celulose, hemicelulose e lignina. Foram verificados efeitos significativos na matéria seca com o aumento dos níveis de inclusão do resíduo, muito em função do seu próprio teor de matéria seca, que é elevado. Na proteína bruta e extrato etéreo foram, também, verificados efeitos significativos com o uso do aditivo, uma vez que o mesmo apresenta mediano conteúdo de proteína e elevado de gordura, assim como incremento na matéria mineral, mesmo o resíduo de panificação não apresentando valor elevado para tal característica. Para os constituintes da fibra não foi verificado efeito para hemicelulose (P<0,05), FDN e FDA, em que o controle se diferiu dos níveis de substituição, porém estes não diferiram-se entre si. Para celulose e lignina houve efeito significativo de descrescimo dos seus teores com a adição do aditivo, que pode ser explicado pelo baixo teor de fibra bruta do mesmo. O residuo de panificação se mostrou um potencial aditivo para se usar na produção de silagem, muito em função de sua composião bromatológica, porém mais pesquisas são necessárias para padronização e confiabilidade do seu uso.

Palavras-chave: aditivo, meio ambiente, resíduo industrial e valor nutricional

Bromatological composition of colony grass silage aditived with bakery residue at different levels of substitution

ABSTRACT - The effect of seasonality under Brazilian livestock production is a preponderant factor from the point of view of the nutritional planning of herds raised in the pasture and, in this scenario, the silage strategy is an important and great alternative to soften such effects on animal feeding. In this condition, the present work was developed with the purpose of evaluating the bromatological composition of colony grass silages with bakery residues, with partial objective of environmental reuse of these resources and, simultaneously, decrease of the cost of production of the food. The silages were made up of 2, 4, 6 and 8% dry matter, with five replicates, together with five replicates of silage without additive (control), completing five treatments that were distributed in a design completely randomized. Experimental silos were used buckets of 20 liters, which accommodated approximately 10.6kg of green matter of the chopped grass, with density of compaction of 500kg / dm³. The evaluated parameters were dry matter, crude protein, ethereal extract, mineral matter, NDF, FDA, cellulose, hemicellulose and lignin. Significant effects on dry matter were observed with increasing inclusion levels of the residue, much as a function of its own dry matter content, which is high. In the crude protein and ethereal extract, significant effects were also observed with the use of the additive, since it has a high protein content and a high fat content, as well as an increase in the mineral matter, even the bakery residue presenting no high value this characteristic. For the constituents of the fiber, no effect was observed for hemicellulose (P <0.05), NDF and FDA, in which the control differed from substitution levels, but these did not differ among themselves. For cellulose and lignin there was a significant effect of decreasing their contents with the addition of the additive, which can be explained by the low crude fiber content of the same. The bakery residue showed a potential additive to be used in the production of silage, much in function of its bromatological composition, but more research is necessary for the standardization and reliability of its use.
Keywords: industrial waste, environment and nutritional value


Introdução

Ao longo dos últimos anos os sistemas de produção do agronegócio brasileiro vêm se destacando pela plena capacidade de produzir alimentos para uma expressiva porção da população mundial. Fatores como extensão territorial e clima são favoráveis para esse sucesso, no entanto, ao mesmo tempo, se configuram agentes desafiadores para obtenção de um bom desempenho e eficiência na exploração da terra, principalmente em termos de sazonalidade de luminosidade, temperatura e precipitação. Nesse cenário, a exploração pecuária de ruminantes a pasto requer o uso de alternativas de suplementação volumosa no período de menor precipitação e luminosidade, como ensilagem, diferimento de pastagem ou uso de capineiras.

Durante o período de maior produção das pastagens é possível ocorrer subpastejo pelos animais, muito em função da maior oferta de forragem pelos sistemas forrageiros, em resposta às condições climáticas mais favoráveis. Uma alternativa para o aproveitamento racional desse excedente, quando não se tem animais para aumentar a pressão de pastejo, é a ensilagem do material, para posterior utilização em período de escassez. Apesar de plausível alternativa estratégica e econômica, a ensilagem de capim pode ser acompanhada da utilização de aditivos, que visam melhorar a qualidade nutricional e dinâmica de fermentação, além de diminuir as perdas da silagem produzida (Jobim e Nussio, 2013).

Sob a ótica do uso de aditivos em silagem, é amplamente registrado na literatura (ZOPOLATTO et al., 2009) um leque de opções para as mais diversas forrageiras ensiladas, seja milho, cana-de-açúcar, sorgo ou capim, em que se lança mão de aditivos microbiológicos, químicos e/ou suplementares, como fubá e polpa cítrica, a fim de se atingir qualidade de fermentação e um alimento com melhor condição nutricional. O resíduo de panificação é um aditivo alternativo que pode ser usado em silagem, quando possível, uma vez que, potencialmente, diminui o custo de produção do alimento, além de ser uma alternativa sustentável e de apelo ambiental, tendo em vista o reaproveitamento desse recurso. Somado a isso, o resíduo de panificação apresenta dois atributos positivos quanto à ensilabilidade, que são os altos teores de matéria seca e carboidratos solúveis, conforme encontrado por Santos et al. (2014), sendo estes, fundamentais para uma boa qualidade de fermentação (Jobim e Nussio, 2013). Todavia, autores alertam quanto a variação de composição que esse produto apresenta (PASSINI et al., 2001; VIEIRA et al., 2008; SANTOS et al., 2014), sendo prudente uma análise química antecipada ao seu uso na dieta dos animais.

 

Com base no que foi supracitado, essa pesquisa foi desenvolvida com intuito de avaliar os efeitos da utilização do resíduo de panificação, como aditivo alternativo, na qualidade de silagens de capim-colonião sob o ponto de vista de sua composição bromatológica.



Revisão Bibliográfica

Em muitas partes do mundo, a conservação de forragem é fator-chave para incrementar a produtividade de ruminantes, pois permite melhorar a suplementação de alimento de boa qualidade, quando a taxa de crescimento das forrageiras é baixa, além de prover os fazendeiros de meios para preservar forragens quando há excesso de produção. Dessa forma, a conservação pode prover oferta uniforme de forragens de boa qualidade ao longo do ano (MUCK & SHINNERS, 2001). A utilização de parte da pastagem para a confecção de silagem ou feno pode constituir uma das formas empregadas para ajustar ao longo do ano a taxa de lotação das pastagens. Mesmo em gramíneas que possuem alto potencial de produção de matéria seca, fatores climáticos fazem com que a distribuição desta produção seja irregular, podendo resultar em substanciais perdas por excesso de produção no período de chuvas ou déficit no período seco (VILELA & CARNEIRO, 2002). No Brasil, milho e sorgo são as culturas mais utilizada na produção de silagem, entretanto, é crescente a utilização de silagens produzidas a partir de outras gramíneas, como as dos gêneros Brachiaria e Panicum (WASCHECK et al., 2008).

As plantas do gênero Panicum são caracterizadas pelo seu grande potencial de produção de forragem (PEREIRA  et al., 2006). Dentre os diversos cultivares, o Panicum maximum cv. colonião é a espécie de nosso interesse para avaliação de algumas características da silagem de capim. O cultivar colonião foi a primeira planta da espécie Panicum maximum a chegar ao Brasil. Originária do continente africano, o capim-colonião foi trazido juntamente com os escravos e se adaptou perfeitamente às condições edafoclimáticas brasileiras, tendo sua utilização bastante difundida. Hoje está presente em quase todo o território nacional e durante muito tempo foi responsável pela engorda de bovinos no País. Embora, os novos lançamentos de cultivares da espécie (cvs. Mombaça, Tanzânia e Massai) levem à substituição do capim-colonião, em algumas regiões brasileiras ainda é possível encontrar sementes da forrageira para a venda e considerável área de pastagem no território nacional ainda é formado com esse cultivar. Capim bastante agressivo, de difícil associação com leguminosas, possui boa resistência ao pastejo e ao fogo. É uma gramínea bastante exigente em fertilidade do solo, preferindo terras profundas, friáveis e levemente arenosas. Vegeta bem em locais quentes onde a precipitação está acima de 900 mm ao ano (Alcântara & Bufarah, 1951). A produção do capim-colonia  varia muito segundo a fertilidade do solo, encontrando-se dados de 8 a 13 toneladas de matéria seca por hectare ou de 40 a 60 toneladas de matéria verde por hectare com cerca de 8,4% de proteína bruta. É muito aceito pelos animais no estado verde que constitui sua principal via de utilização, mas pode ser utilizado fenado ou ensilado, porém devido a espessura de seus colmos não produz bom feno (Alcântara & Bufarah, 1951).

Há considerável quantidade de resíduos de panificação disponíveis para utilização na alimentação animal, incluindo-se nestes as sobras de bolos, pães, biscoitos doces e salgados, produtos não comercializados ou que ultrapassaram o prazo de validade, além das perdas por quebras, excesso ou falta de cozimento durante o processamento (ADAMS, 1990; VIEIRA et al., 2008) tornando-se uma possível alternativa para a formulação de dietas para algumas espécies animais. Análises relatadas por Bath et al. (1999) classificam o resíduo de panificação como um alimento altamente energético e relativamente proteico, dado a sua alta concentração de carboidratos solúveis. Adams (1990) relata que este resíduo pode ser usado até o máximo de 20% da matéria seca do concentrado, ou 10% da matéria seca da ração total para vacas leiteiras; entretanto, sua ingestão deveria ser limitada para vacas em lactação, dada a diminuição do teor de gordura no leite, em decorrência da alta porcentagem de carboidratos solúveis encontrada neste subproduto. Poderia até mesmo ser usado em maior proporção para alimentação de novilhas e vacas secas.

Spers (1996), trabalhando com búfalos em crescimento, substituiu o milho por resíduo de panificação nas proporções de 33%, 66% e 100%, encontrando melhora no ganho de peso diário até a proporção de 33% de substituição do milho pelo resíduo de panificação na dieta (P<0,01). Entretanto, as substituições de 66% e 100% do milho causaram redução no ganho de peso diário, e o autor sugere que este fato deva ser atribuído ao aumento na densidade energética das rações. A conversão alimentar piorou com as inclusões de resíduo, em todos os níveis estudados, e foram observados os valores de 8,78, 8,70, 10,93 e 13,90, respectivamente, com relação às substituições de 0%, 33%, 66% e 100% do milho pelo resíduo de panificação na dieta. Houve melhora nos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca com o aumento dos níveis de substituição do milho pelo resíduo de panificação nas dietas (P<0,01).

Contudo, apesar de excelente recurso, tento de cunho econômico como ambiental, o uso de tal resíduo como aditivo em silagens pode estar limitado em virtude do reduzido número de avaliações e do seu valor nutricional em animais.



Materiais e Métodos

O experimento da presente pesquisa foi desenvolvido no Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica-RJ, onde foi colhido rente ao solo o capim-colonião (Panicum maximum, jacq) quando o mesmo apresentava 1,90 m de altura, para que, em seguida, fosse picado em partículas de 10 a 30 mm e posteriormente ensilado. A avaliação foi realizada em delineamento inteiramente casualizado, com níveis de inclusão de substituição, com base na matéria seca da silagem, de 2, 4, 6 e 8%, com cinco repetições cada nível. Além desses, ainda foram feitas, como controle, cinco repetições de silagem do capim sem aditivo. O resíduo de panificação foi moído em partículas de tamanho de 3,0 mm e, em seguida, pesados conforme as proporções estabelecidas. Como silos experimentais foram utilizados baldes de 20 litros, sendo acomodada em cada um, uma quantia de 10,6 kg de forragem, com densidade de compactação de 500 kg/m³. Após homogenização dos aditivos na massa de capim picado, foi feita a acomodação desse material nos silos, fechando e lacrando-os para garantir a anaerobiose, durante um perído de 56 dias.

Para determinação da composição bromatológica as amostras foram pré-secadas em estufa de ventilação forçada (55ºC, 72 h) e, em seguida, moídas em moinho de facas tipo Willey (com peneira de perfurações de 1,0 mm) para, então, serem analisadas os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, hemicelulose e lignina, segundo metodologias preconizadas por Silva e Queiroz (2002).

Os resultados obtidos para as características avaliadas foram submetidos à análise estatística no Programa SISVAR (FERREIRA, 2008). Primeiramente, os dados passaram por analise de variância e, quando significativos, foi feito o Teste de Tukey para comparação das médias (P<0,05).



Resultados e Discussão

A composição bromatológica das silagens com respectivos níveis de substituição são apresentadas na Tabela 1.  Em relação ao teor de MS, foi verificado efeito significativo (P<0,05) para o níveis de substituição. O controle (237,78g/kg) apresentou diferença estatística para os demais tratamentos, porém os níveis de 2 e 4% não diferiram entre si, mas se diferiram dos níveis 6 e 8%, que por sua vez também não apresentaram diferença entre eles. Avaliando o resíduo de panificação na alimentação animal Passini et al. (2011), Santos et al. (2014) e Vieira et al. (2008) verificaram, respectivamente, para MS do resíduo, os valores de 93,14, 85,45 e 83,29%, o que mostra o quão elevada é a MS do ingrediente. Isso provavelmente explica o aumento do teor de MS das silagens com o aumento do níveis de substituição no presente trabalho.

Foram detectadas diferenças quanto ao teor de PB entre os tratamentos (P<0,05), com controle apresentando o menor valor (51,59g/kg), seguido do nível de substituição de 8% (80,02g/kg) e com maior valor, sem diferença estatística entre eles, os níveis de 2, 4 e 6%, com valores de 92,24, 91,56 e 88,83g/kg, respetivamente. Pesquisadores utilizando resíduo de panificação na alimentação animal verificaram que o ingrediente apresentou entre 9,39 e 13,17% de PB (OLIVEIRA et al., 2011; PASSINI et al., 2001; VIEIRA et al., 2008), o que pode explicar o incremento de proteína nas silagens do presente trabalho, tendo em vista que a silagem controle apresentou baixo teor de PB. Vieira et al. (2008) avaliando a substituição do milho por resíduo de panificação na alimentação de ovinos, verificou aumento no consumo de PB da ração total de 17,39 para 22,33% quando houve substituição total e, quando a substituição foi parcial, a diferença diminuiu, indo para 19,12%. O baixo teor de PB do nível de 8% pode ser explicado pelo maior incremento de carboidratos fermentáveis disponibilizado nesse tratamento, que possivelmente, gerou mais substratos para ocorrer fermentação, elevando a temperatura do meio e predispondo à ocorrência da reação de “Maillard”, que é caracterizada pela reação do grupamento carbonila do carboidrato com o grupamento amina dos aminoácidos, diminuindo, dessa forma, o teor de proteína do alimento (NEUMANN et al., 2007).

Com vistas ao EE, os maiores teores foram encontrados para os dois maiores níveis de inclusão (6 e 8%), com 26,95 e 28,10g/kg, respectivamente. O tratamento controle e os níveis de 2 e 4% de substituição não apresentaram diferença entre si, com valores de 16,15, 20,38 e 20,58g/kg. Milton e Brandt (1993), citados por Passini et al. (2001), avaliando desempenho de novilhos de corte submetidos à substituição de 15 e 30% do milho por resíduo de panificação, verificou redução no consumo de 6,5% para o maior nível, atribuindo tal evento ao aumento do teor de gordura na dieta. Passini et al. (2001) e Oliveira et al. (2011) encontram, respectivamente, 17,11 e 17,69g/kg de EE, o que mostra o alto teor de gordura do aditivo, que se deve, entre outros fatos, a sua natureza de fabricação. Miller et al. (1994), citado por Oliveira et al. (2011), atribuem o alto valor de energia metabolizável do resíduo de panificação (3.666kcal/kg) devido ao seu elevado teor de gordura. Dessa forma, o maior teor de EE encontrados nos dois maiores níveis de substituição, é reflexo do alto teor de gordura do resíduo de panificação.

Em relação à MM, houve incremento nos níveis de substituição em relação ao controle (65,75g/kg), no entanto, não houve diferença estatística entre os diferentes níveis de substituição, que foi de 93,17, 94,86, 94,13 e 93,93g/kg, para 2, 4, 6 e 8% respectivamente. Passini et al. (2001) e Oliveira et al. (2011), avaliando o resíduo de panificação na alimentação animal, verificaram em sua composição 1,91 e 1,99% na MM, que são baixos em comparação ao presente trabalho. Os mesmos autores, avaliando a MM após a adição do resíduo de panificação, não constataram aumento desse parâmetro nas rações totais, sendo ainda que, Oliveira et al. (2011) encontraram decréscimo de 11,17% do feno sem aditivo para 7,99% para o nível de 80% de substituição do resíduo de panificação pelo milho, mostrando não ser comum o incremento de MM com adição do resíduo.

Verificando os constituintes da fibra, não foi constatada diferença entre os tratamentos para hemicelulose (P<0,05), com média entre eles de 218,21g/kg. Para FDN, FDA e celulose, houve diferença, com tendência a diminuir, do tratamento sem aditivo para os níveis de substituição, mas sem diferença entre os níveis, conforme pode ser observado na Tabela 1. A queda desses valores é provavelmente explicada pelo baixo teor de fibra bruta normalmente encontrada nos resíduos de panificação (PASSINI et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2011), o que diminui o teor de fibra da silagem total, com o aumento do resíduo na sua composição. Já a lignina apresentou comportamento mais variável, em que o controle se diferiu dos níveis de 6 e 8% de substituição e os níveis de 2 e 4% não se diferenciaram nem do controle e nem dos dois maiores níveis, como também pode ser observado na Tabela 1. Pode ser apontada como causa, conforme citado anteriormente, a queda dos valores de lignina com o aumento dos níveis de aditivo, o baixo teor de fibra bruta encontrado no resíduo de panificação, entre 0,04 (PASSINI et al., 2001) a 0,74% (OLIVEIRA et al., 2011). Santos et al. (2014) avaliando a substituição do milho pelo resíduo de panificação na ração total para ovinos, nos níveis de 0, 33, 66 e 100%, verificaram queda de 50,41% (controle) para 41,02% (100% de substituição) na FDN. Os mesmos autores registraram redução no coeficiente de digestibilidade da FDN de 52,43 (controle) para 40,97% (100% de substituição) e da FDA de 53,22 (controle) para 43,32% (100% de substituição), mostrando que o resíduo de panificação é um material de menor constituição de fibra, o que melhora a digestibilidade do alimento. É importante destacar que, a literatura carece de mais pesquisas para se estabelecer os padrões do uso desse aditivo em silagens, dentre os quais, os níveis de inclusão adequados, avaliação de N-amoniacal e digestibilidade da MS e seus constituintes.

 

Conclusões

O resíduo de panificação é um potencial aditivo a ser usado em silagens, por apresentar alto teor de matéria seca e carboidratos solúveis, o que viabiliza maior qualidade de fermentação durante a ensilagem. Somado à isso, apresenta baixo teor de fibra e alto teor de gordura, permitindo aumentar a digestibilidade e energia da silagem produzida, apesar de não terem sido avaliadas no presente trabalho. 



Gráficos e Tabelas




Referências

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