Composição bromatológica de sorgo forrageiro irrigado com diferentes lâminas de água salina

Tiago Santos Silva1, Alex Gomes Silva Matias2, Fleming Sena Campos3, Glayciane Costa Gois4, Gherman Garcia Leal de Araújo5, Fabio Nunes Lista6, André Luiz Rodrigues Magalhães7, Welson Lima Simões8
1 - UFPB/CCA
2 - UNIVASF
3 - UFRPE/UAG
4 - Embrapa Semiárido
5 - Embrapa Semiárido
6 - UNIVASF
7 - UFRPE/UAG
8 - Embrapa Semiárido

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição bromatológica do sorgo variedade Ponta Negra, irrigado com diferentes lâminas de água salina. Foi adotado o delineamento em blocos casualizados, composto por uma variedade de sorgo forrageiro (Ponta Negra), quatro lâminas de água (0; 5; 10 e 15%) para irrigação e quatro repetições. O sorgo foi colhido após 101 dias. Foram realizadas as análises bromatológicas para determinação da matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, hemicelulose, lignina, carboidratos não fibrosos (CNF) e carboidratos totais (CT). Foram observadas diferenças significativas para os teores de MS, PB, MO, FDN, FDA, MM, CNF, CEL, HEMI. A manutenção de níveis adequados dos componentes nutricionais sugere o uso potencial da forragem de sorgo, mesmo quando irrigado com água salina.

Palavras-chave: água salina, Ponta Negra, Semiárido

Bromatological composition of forage sorghum irrigated with salt water

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the bromatological composition of sorghum variety Ponta Negra, irrigated with different slides of saline water. A randomized complete block design, composed of a variety of forage sorghum (Ponta Negra), four water slides (0, 5, 10 and 15%) for irrigation and four replications. Sorghum was harvested after 101 days. The bromatological analyzes were carried out to determine dry matter (DM), mineral matter (MM), crude protein (CP), ethereal extract (EE), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber hemicellulose, lignin, non-fibrous carbohydrates (CNF) and total carbohydrates (TC). Significant differences were observed for the contents of DM, CP, OM, NDF, ADF, MM, NFC, CEL, HEMI. The maintenance of adequate levels of nutritional components suggests the potential use of sorghum forage, even when irrigated with saline water.
Keywords: Ponta Negra; Semi-arid; saline water


Introdução

O sorgo forrageiro (Sorghum bicolor (L.) Moench) é apontado como uma cultura potencial para uso em áreas salinizadas do semiárido devido ao seu alto valor energético na alimentação animal e pela sua adaptação a ambientes secos, salinos e quentes, os quais são limitantes para o cultivo de outras espécies forrageiras (Buso et al., 2011). Pesquisas são necessárias referentes à utilização de água salina na irrigação do sorgo forrageiro, tal como a absorção dos sais. Desta forma, objetivou-se avaliar a composição bromatológica do sorgo forrageiro Ponta Negra irrigado com diferentes lâminas de água salina.

Revisão Bibliográfica

Durante o período seco do ano, o uso da água salobra existente no subsolo torna-se uma fonte estratégica de produção de forragem, para manutenção do rebanho. Esse procedimento possibilita um ciclo maior de colheita e influencia em uma maior produtividade e nesse sentido contribuem para a recuperação da Caatinga, haja vista a redução da dependência desta como fonte de forragem (Hermes et al., 2014). O sorgo apresenta variedades que possuem diferenças consideráveis, tanto no que diz respeito ás características do grão e da planta quanto como fisiologicamente responde aos fatores ambientais. É eficiente também em termos de utilização de água, pois em comparação a grande maioria das gramíneas tropicais, consegue ser superior haja vista que para produção de 1 g de matéria seca necessita apenas de 250 a 400 g de água em média. Devido a presença de características fisiológicas, o sorgo, consegue reduzir suas atividades metabólicas ou paralisar seu crescimento quando em situação de estresse hídrico, garantindo dessa forma reservas metabólicas que serão necessárias para o retorno do seu crescimento diante da disponibilidade de água (Nagai, 2012). A variedade de sorgo BRS Ponta Negra é caracterizada como sendo de porte médio, com florescimento em torno de 60 a 75 dias, com grãos em ponto de maturação em torno de 110 a 120 dias, com ponto de silagem em torno de 85 a 90 dias. A altura varia de 2 a 2,50 m, panícula semi-aberta, com o grão na coloração marron clara. Apresenta tanino no grão e possui resistência ao acamamento. Em relação ao rendimento de massa verde, varia de 40 a 60 t/ha e o de massa seca de 12 a 15 t/ha. Rendimento de grãos variando de 3 a 4 t/ha em área de sequeiro e de 6 a 8 t/ha em área irrigada (Neto et al., 2016).

Materiais e Métodos

O estudo foi conduzido no Campo Experimental Caatinga, pertencente à Embrapa Semiárido, em Petrolina - PE. Para o experimento foi utilizada a variedade de sorgo Ponta Negra que foi plantado no mês de abril e colhido no mês de julho de 2016. Foi adotado o delineamento em blocos casualizados (DBC) composto pela variedade de sorgo Ponta Negra irrigado com água salina com quatro lâminas de água (frações de lixiviação: 0, 5, 10, 15%) e 4 repetições. A área experimental foi formada por 5 fileiras de 5 m de comprimento, espaçadas em 0,5m, perfazendo uma área de 12,5 m². A parcela útil foi composta pelas 3 fileiras centrais, eliminando os metros iniciais e finais de cada fileira, totalizando 4,5 m2. A irrigação foi realizada diariamente, por gotejamento superficial por tubo gotejador com emissores com vazão de 1,6L h-1, diâmetro nominal de 16 mm, espaçados 0,30 m entre si. Todo o material foi colhido a 10 cm do solo. A forragem foi picada em forrageira estacionaria PP35, regulada para cortes de 2-2,5cm. O material foi homogeneizado, colocado em sacos previamente identificados e levados ao Laboratório de Nutrição Animal (LANA) pertencente a Embrapa Semiárido onde foram realizadas as análises bromatológicas, conforme metodologias descritas na AOAC (2000) para determinação dos da matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (Van Soest et al., 1991). A concentração dos carboidratos totais (CT) foi estimada segundo Sniffen et al., (1992):  CT (% MS) = 100 – (% PB + % EE + % cinzas). Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão por meio do Statistical Analysis System – SAS (2010). A escolha das equações de regressão foi baseada no coeficiente de determinação e na significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste t.

Resultados e Discussão

De acordo com a tabela 1, foram observadas diferenças (P<0,05) entre o teor de matéria seca, os resultados observados demonstram um efeito linear negativo com ponto máximo de 30,64 %, ou seja, a medida que se aumentam as frações de lixiviação, menor será o teor de MS que variaram de 35,94 a 32,27% da MN. De acordo com Araújo et al., (2010) a diminuição da produção de massa seca está agregada ao efeito tóxico do íon como Na+ e Cl- sobre a fixação líquida de carbono e consequentemente produção de fotoassimilados. Os teores de proteína bruta apresentaram efeito linear positivo com ponto máximo de 12,76%, observando-se valores médios de 7,11% da matéria seca. Oliveira et al., (2006), citam que a concentração de proteínas solúveis no tecido foliar de sorgo forrageiro é proporcional ao teor de sal no meio de cultivo. A matéria mineral em relação as frações de lixiviação apresentou diferença significativa (P<0,05), os resultados obtidos se comportaram de maneira linear positiva com ponto de máximo de 6,14%, ou seja, a medida que se aumentavam as laminas de água, maiores foram as proporções de minerais que variaram de 5,97 a 7,08%. Este fato pode ser explicado pela maior absorção e acumulo de minerais pelas plantas de acordo com a quantidade de sais nas lâminas utilizadas. Observou-se efeito (P<0,05) nos teores de fibra em detergente neutro com ponto de máximo de 53,01%, onde as maiores porcentagens são referentes às maiores frações de lixiviação encontradas nas lâminas L10% (56,86%) e L15% (55,34%). Possivelmente isso se deve a maior alocação e absorção de nutrientes e minerais pelas plantas, visto que estes são cofatores de crescimento e diferenciação das células vegetais. Também houve diferença significativa (P<0,05) nos teores de FDA e CNF diante das frações de lixiviação. O menor valor de carboidrato não fibroso (27,87%) encontrados na lâmina de fração L10% é justificado pelo maior teor de FDA (26,69%), esse fato pode ser explicado em decorrência de maiores proporções de compostos fibrosos que podem está relacionado com o aumento do teor de matéria mineral. O aumento do teor de carboidratos não fibrosos também pode está relacionado à atividade fotossintética que é menos sensível ao estresse salino do que o crescimento, o que promove a produção de fotoassimilados que não é utilizado pela planta acumulando solutos compatíveis, que pode ocorrer a indução na quebra de macromoléculas como amido de acordo com a intensificação da atividade de amilases nas células das folhas causando a liberação dos açúcares (Bezerra et al., 2003). Houve diferença (P<0,05) no valor de celulose, obtendo-se o ponto de máximo após retirar-se a primeira derivada de valor igual a 22,85%.

Conclusões

A manutenção de níveis adequados dos componentes nutricionais sugere o uso potencial da forragem de sorgo, mesmo quando irrigado com água salina.

Gráficos e Tabelas




Referências

A.O.A.C Official Methods of Analysis. Association of Official Analytical Chemist. EUA, 2000. ARAÚJO, C.A.S. et al., 2010. Seleção varietal de Phaseolus vulgaris quanto à tolerância ao estresse salino com base em variáveis de crescimento. Revista Ceres, 57: 132-139. BEZERRA, M.A. et al., 2003. Fotossíntese de plantas de cajueiro-anão precoce submetidas ao 352 estresse salino. Proceedings Inter. Soc. Tropical Hort. 47:149-152. BUSO, W.H.D.; MORGADO, H.S.; SILVA, L.B. 2011. Utilização do sorgo forrageiro na alimentação animal. PUBVET, 5: 1 -11.   HERMES, L.C. Potencial de uso das águas salobras em sistemas produtivos visando o aumento da capacidade de suporte das comunidades difusas do semiárido com mínimo impacto ambiental. Fórum de apresentação de resultados de pesquisas: avanços e oportunidades. 2014. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/SP. NAGAI, M.A. 2012. Produtividade de biomassa de sorgo sacarino sem irrigação na zona da mata norte de Pernambuco. 55 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologias Energéticas e Nucleares) – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. NETO, O.A. et al., 2016. Produção de silagem de sorgo BRS Ponta Negra em pequenas propriedades no Norte de Minas Gerais. In.: Congresso Nacional de Milho e Sorgo, XXXI, Anais... Congresso Nacional de Milho e Sorgo, Bento Gonçalves – RS. 4p. OLIVEIRA, L.A.A. et al., 2006. Solutos orgânicos em genótipos de sorgo forrageiro sob estresse salino. Pesq. Agropec. Bras. 41:31-35. SAS Institute. Statistical analysis system: user's guide: statistics. Cary, NC, 2010. SNIFFEN, C.J. et al., 1992. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability. J.Animal Sci.70:3562-3577. VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.D.; LEWIS, B.A. 1991. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. J. Dairy Sci. 74:3583- 3597.