Composição bromatológica e degradabilidade in situ dos resíduos do maracujá oriundos da indústria de sucos e polpas de frutas

Olga Cedro de Menezes1, Adriana Regina Bagaldo2, Bráulio Rocha Correia3, Évana Thaiza Nascimento Silva4, Fabiane de Lima Silva5, Laaina de Andrade Souza6, Paloma de Souza Machado7, Victoria Machado Daltro de Carvalho8
1 - Graduanda em Zootecnia, bolsista PIBITI CNPq, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
2 - Professor Adjunto, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
3 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB
4 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
5 - Victoria Machado Daltro de Carbalho
6 - Pós-doutorando em Ciência Animal, bolsista PNPD/CAPES – PPGCA/UFRB
7 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
8 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

RESUMO -

Objetivou-se determinar a composição bromatológica e a degradabilidade in situ de resíduos do maracujá. Foram analisados três resíduos do maracujá, classificados de acordo o processamento, casca e semente, resultantes da primeira etapa de despolpamento, maracujá refino 2º estágio resultante do refino da polpa em peneira. Os dados de degradabilidade foram submetidos a análise estatística descritiva. A semente de maracujá apresentou valores de fibra em detergente neutro e lignina que interferiu no valor de degradabilidade. Maracujá casca e maracujá refino apresentaram resultados semelhantes, diferenciou-se no teor de extrato etéreo, 0,50 e 4,26%, respectivamente. Os resíduos apresentaram potencial nutritivo para alimentação de ruminantes.

Palavras-chave: nutrição, ruminantes, subprodutos

Bromatological composition and in situ degradability of passion fruit residues from the juice and fruit pulp industry

ABSTRACT - The objective was to determine the bromatological composition and in situ degradability of passion fruit residues. Three residues of passion fruit were analyzed, classified according to the processing, shell and seed, resulting from the first pulp stage, passion fruit refining 2nd stage resulting from the refining of the pulp in the sieve. The degradability data were submitted to descriptive statistical analysis. The passion fruit seed presented values ​​of neutral detergent fiber and lignin that interfered in the degradability value. Passion fruit peel and passion fruit refining showed similar results, differed in ethereal extract content, 0.50 and 4.26%, respectively. The residues presented nutritional potential for feeding ruminants.
Keywords: nutrition, ruminants, byproducts


Introdução

Com uma produção de 4,5 milhões de toneladas, a fruticultura é uma das atividades que mais geram emprego, renda e promove o desenvolvimento em algumas regiões na Bahia (SEAGRI 2015). Segundo o IBGE, em 2015 a Bahia produziu 297.328 toneladas de maracujá, o que gerou 295.408 mil reais. Segundo Lousada et al., (2005) existe uma diversidade de resíduos gerados pelo processamento dessas frutas e a não utilização destes podem gerar contaminação ambiental e proliferação de vetores transmissores de doenças. A utilização na alimentação animal é um caminho para reduzir o acumulo e consequentemente o impacto ambiental causado, além de minimizar os prejuízos causados pela falta de alimento no período da seca. Ainda assim, existem poucos estudos sobre a composição bromatológica e a degradabilidade desses resíduos. Isso ocorre devido aos diferentes processos de beneficiamento, a qualidade das frutas e a sua grande diversidade. Efetuou-se esse estudo com o propósito de avaliar o potencial nutritivo dos resíduos do maracujá proveniente da indústria processadora de polpa de frutas.

Revisão Bibliográfica

O maracujá é originário da América Tropical e existem, no Brasil, mais de 150 espécies nativas de maracujá, sendo que nem todas produzem frutos comestíveis e aproveitáveis. As mais conhecidas comercialmente são o maracujá-amarelo e o maracujá-roxo (Cançado Júnior et al., 2000).  É da família Passifloraceae e gênero Passiflora. No Brasil, o cultivo do maracujá em escala comercial iniciou-se no começo da década de 1970, com a espécie .P. edulis Sims f. jlavicarpa Deg. Além desta, outras espécies também são cultivadas e difundidas no Brasil e na América Tropical, como as espécies .P. alata, .P. quadrangularis, .P. caerulea, P. laurifolia e mais esporadicamente, P. ligularis, .P macrocarpa (Cunha et al., 2002). O processamento da polpa de fruta é uma atividade agroindustrial importante, agregando-lhe mais valor, desfavorecendo os altos índices de desperdício na comercialização das frutas “in natura” (Kepler e Fair, 2008). Os resíduos da indústria processadora de frutas apresentam potencial de uso na alimentação de ruminantes, todavia são poucos os estudos.

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Laboratório de Análises Bromatológicas, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. As amostras utilizadas foram disponibilizadas pela empresa FRUTAB – Frutas da Bahia LTDA, situada em Ipiaú-BA. Foram analisados três resíduos do maracujá, classificados de acordo o processamento, casca e semente, resultantes da primeira etapa de despolpamento, maracujá refino 2º estágio resultante do refino da polpa em peneira. As amostras foram preparadas para as análises de teor de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG), conforme técnicas descritas por Detmman et al., (2012). O conteúdo de carboidratos totais (CT) e carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados segundo a equação proposta por Sniffen et al. (1992). Para a realização da degradabilidade in situ utilizou-se bovinos fistulados no rúmen e incubou as amostras em saquinhos de Tecido não Tecido, com medidas de 5cm X 5cm, segui a relação de 20mg de matéria seca/cm² e incubados nos tempos 0, 3, 6, 12, 18, 24, 48, 72, 96, 120, 144, 168, 192, 216, 240 e 312, conforme as recomendações de Valente (2010). Para interpretação dos perfis de degradação da MS e FDN, utilizou-se o modelo exponencial proposto por Orskov & McDonald (1979): DP = a + b (1 - e-ct), em que “DP” é a degradabilidade ruminal potencial, “a” é a fração solúvel, “b” é a fração insolúvel ou potencialmente degradável, “c” é a taxa de degradação da fração “b” e “t” é o tempo de incubação em horas, sendo a + b ≤ 100. A degradabilidade efetiva (DE) da MS e FDN no rúmen, foi calculada segundo o modelo matemático proposto por Orskov & McDonald (1979): DE = a + (b x c / c + k), em que “k” é a taxa estimada de passagem das partículas no rúmen, definida por 2,5 e 8%/h. Os resultados obtidos foram interpretados estaticamente por meio de analise descritiva.

Resultados e Discussão

Ao tratar-se de resíduos da indústria de suco e polpa de frutas, esperava-se um valor de MS abaixo, do que alimentos como o farelo de soja e fubá de milho, 85,09 e 86,22% de MS (Oliveira et al., 2014). Ao levar em consideração o valor de PB dos resíduos o seu fornecimento para o animal poderá ser realizado no total da dieta, pois segundo Van Soest (1994), o nível abaixo de 7% de PB na MS provoca redução de consumo e todos os resíduos apresentaram teores acima (Tabela 1). McGuffey & Schingoethe (1980), recomendam teor de até 8% de EE, devido à redução de ingestão de alimento, a semente de maracujá ultrapassa esse limite, não sendo recomendado, mas pode ser utilizado como alimento energético. A LIG, composto fenólico de baixa digestibilidade, da semente de maracujá está mais alto que os outros resíduos (Tabela 1), o que explica os valores baixos dos parâmetros e das taxas de degradabilidade (Tabela 2). Segundo Van Soest, (1994), os carboidratos não fibrosos, são prontamente fermentáveis, assim, disponibiliza maior aporte de energia para o crescimento dos microrganismos ruminais que permite maior adesão e menor tempo de colonização, e consequentemente maior degradação. O valor de CNF (Tabela 1) da semente de maracujá é muito próximo de zero, o que inviabiliza o uso desse resíduo no desenvolvimento dos microrganismos ruminais. Observa-se que os valores da fração solúvel (a) e da fração insolúvel potencialmente degradável (b) da MS (Tabela 2) aumentaram significativamente (P<0,05), isso pode ser atribuído ao tipo do refino, ao material que é resultante em cada fase e principalmente a composição bromatológica. No caso dos parâmetros “a” e “b” para a FDN percebe-se que a variação do parâmetro “b” foi maior, isso pode ser explicado devido ao nível de LIG presente na semente de maracujá e de FDN (Tabela 1) nos outros resíduos. Os valores de FDN, FDA e LIG (Tabela 1) explica os valores da fração solúvel e da taxa de degradação (c). A degradabilidade potencial da MS e da FDN (Tabela 2) foi baixo para semente de maracujá, devido a quantidade de material solúvel. Em relação a DE houve um decréscimo em todos os resíduos, porém o maracujá casca e refino 2º estágio mantiveram uma taxa de passagem maior que 58% (Tabela 2).

Conclusões

Os resíduos apresentaram potencial nutritivo para utilização na alimentação de ruminantes. A semente de maracujá apresentou valores de DP e DE mais baixos que os demais resíduos, devido ao conteúdo celular indigestível em maior quantidade, contudo os teores de proteína e extrato etéreo podem ser explorados.

Gráficos e Tabelas




Referências

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