Composição bromatológica e perfil fermentativo da silagem de feijão-guandu ensilado em diferentes idades

Dawson José Guimarães Faria1, Karla Alves Oliveira2, Rafael Medeiros de Faria3, Lorena Ferreira Benfica4, Flávio Moreno Salvador5, Lorraine Graciano da Silva6, Pedro Matos Leite De Oliveira7, Maiara Pereira Batista8
1 - IFTM - Campus Uberaba
2 - UFU
3 - Zootecnista
4 - Zootecnista
6 - IFTM- Campus Uberaba
7 - IFTM- Campus Uberaba
8 - Zootecnista

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição bromatológica e perfil fermentativo de silagens de feijão-guandu, ensilado em diferentes idades. O experimento foi conduzido no IFTM – campus Uberaba utilizando silos experimentais de PVC. Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial (2×5) com 3 repetições, sendo dois tamanhos de partículas (1 cm e 3 cm) da silagem de feijão-guandu e 5 idades ao primeiro de corte (124, 138, 152, 166, 184 dias após a semeadura). Houve interação entre a idade ao primeiro corte e o tamanho de partícula para o teor de MS. Não houve diferença entre o pH para as silagens, com valores entre 5,49 e 5,96. Os maiores teores de N-NH3/%NT foram obtidos nas maiores idades de corte. O teor de PB apresentou diferença significativa para as idades de corte, decrescendo à medida que se aumentava a idade. O corte do feijão-guandu aos 152 dias proporcionou melhor qualidade da silagem, com boa produção de MS, teores intermediários de N-NH3/%NT e PB.

Palavras-chave: Cajanus cajan, conservação de forragem, fermentação, leguminosas

Bromatological composition and fermentative characteristics of pigeonpea silage ensiled in different ages

ABSTRACT - The objective was to evaluate the bromatological composition and fermentative characteristics of pigeonpea silages, ensiled in different ages. The experiment was conducted at IFTM – campus Uberaba using experimental PVC silos. A completely randomized design in a 2x5 factorial arrangement with 3 replicates was used, represented by 2 particle sizes (1 and 3 cm) of pigeonpea silage and 5 cutting ages (124, 138, 152, 166, 184 days after sowing). An interaction between age at first cutting and the particle size was observed to the DM content. There was no difference among pH results from the silages and the values were between 5.49 and 5.96. The highest N-NH3/%TN results were obtained in the highest cutting ages. The CP contents were different for the cutting ages, decreasing as the age at first cutting was increased. The pigeonpea cutting at 152 days after sowing provided better silage quality, with good DM production and intermediate contents of N-NH3/%TN and CP.
Keywords: Cajanus cajan, Forage conservation, Fermentation, Legumes


Introdução

O Brasil possui uma extensão territorial de aproximadamente 851.576.705 ha dos quais aproximadamente 168 milhões de hectares são pastagens (IBGE, 2013). O país apresenta condições muito favoráveis ao cultivo de pastagens, principal alimento para ruminantes. Porém, as nossas pastagens apresentam uma característica marcante, que é a sazonalidade na sua produção de matéria seca, principal fator responsáveis pelos baixos índices de produtividade da pecuária nacional (ROLIM, 1994). Quando não são tomadas medidas para corrigir os efeitos da sazonalidade de produção das forrageiras, a produção animal acompanha esta curva sazonal de produção. A silagem é o suplemento volumoso mais utilizado no Brasil. É possível ensilar quase todos os tipos de forrageiras; entretanto, poucas espécies atendem às exigências. Assim, surge a possibilidade da obtenção da silagem do feijão-guandu, que pode reduzir os custos de produção de sistemas de criação de ruminantes. Além disso, tem boa aceitação e consumo pelos animais. Entretanto, pouco se conhece do feijão-guandu, principalmente em termos de silagem. Assim, objetivou-se com este trabalho avaliar a composição bromatológica e o perfil fermentativo de silagens de feijão-guandu com diferentes idades ao primeiro corte após a semeadura.

Revisão Bibliográfica

O feijão-guandu (Cajanus cajan) é originário da Ásia e África e foi trazido para o Brasil como alimento humano. Contudo mediante sua alta flexibilidade quanto à fertilidade do solo, boa produção de matéria seca (10 a 15 ton.ha-1.ano) e alto teor protéico (17 a 21% de PB), a espécie ganha destaque como alternativa para a alimentação de ruminantes (GODOY; SANTOS, 2010). O feijão-guandu não tem grandes exigências climáticas e de solo, mas tem mostrado aumento da produção de matéria seca em solos mais férteis e o interesse na sua utilização na alimentação animal se deve, principalmente, ao seu elevado teor de proteína bruta. Uma forma de utilização do feijão-guandu é na forma de silagem, seja misturada a outras culturas ou pura. As silagens de milho e sorgo são consideradas como as plantas mais adaptadas ao processo de ensilagem, por sua facilidade de cultivo e alto rendimento, além de não haver necessidade de aplicação de aditivos para estimular a fermentação. Entretanto, o baixo teor de proteína nas silagens pode ser corrigido pela inclusão de leguminosas. De fato, Andrade e Ferrari Júnior (1991) verificaram aumento no teor de proteína bruta (PB) com adição de 30 a 70% de feijão-guandu na silagem de sorgo. Mello et al. (2011) trabalhando com cordeiros mestiços e avaliando quatro níveis de substituição (0%; 25%; 75% e 100%) de milho (planta integral) por feijão-guandu (também planta integral) durante processo de ensilagem, não encontraram diferença no ganho de peso diário (204,46; 147,32; 170,54 e 167,86 g, respectivamente) e no  consumo de matéria seca (940,61; 834,84; 1.021,38 e 880,23 g, respectivamente). Para a produção de silagem pura, as leguminosas embora apresentem elevado valor nutritivo, são plantas com algumas características indesejáveis para o adequado processo de fermentação da massa ensilada, como: alta umidade no momento da colheita, alto poder tampão e baixo teor de carboidratos solúveis (PEREIRA et al., 2008). Contudo, se determinado o ponto de corte ideal, o efeito negativo destas características indesejáveis podem ser minimizadas. A redução do tamanho de partícula promove maior superfície de contato entre substrato e microrganismos e disponibilizando mais conteúdo celular. Contudo, estas vantagens da redução do tamanho de partícula são conflitadas com aumento das perdas ocorridas na forma de líquido intracelular, devido ao rompimento da parede celular, no ato da picagem ou na forma de efluente no silo.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no IFTM - campus Uberaba, sendo a correção do solo realizada com aplicação do calcário em cobertura com dose de 1,5 ton.ha-1. A adubação fosfatada foi realizada no sulco de semeadura, com 110 kg.ha-1 de P2O5. O feijão-guandu foi semeado em plantio direto, com espaçamento entre linhas de 0,9 m e utilizando-se a densidade de semeadura média de 22 sementes por metro. Cada unidade experimental teve 6 linhas de 10 m de comprimento. Após 30 dias da semeadura realizou-se adubação de cobertura com 30 kg.ha-1 de nitrogênio e de potássio. Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial (2 x 5) com 3 repetições, sendo dois tamanhos de partículas (1 cm e 3 cm) da silagem de feijão-guandu e 5 idades de corte (124, 138, 152, 166, 184 dias após a semeadura). À medida que as idades de corte foram sendo atingidas, as plantas de feijão-guandu foram cortadas manualmente a 50 cm do solo e conduzidas para ensiladora. Após a picagem, a forragem foi acondicionada em silos constituídos de canos de PVC, adotando-se compactação de 550 kg.m3 de silagem. Após enchidos, os silos foram vedados com tampa (CAP de PVC para esgoto) e encapados com sacos plásticos. Os silos foram abertos e o seu conteúdo foi retirado e homogeneizado, coletando-se amostras referentes a cada unidade experimental. Amostras foram colocadas em saco de papel e levadas para a estufa de 60º C por 72h para a determinação da matéria pré-seca e armazenadas para posteriores análises bromatológicas. O restante das amostras foi colocado em sacos plásticos identificados e armazenado em “freezer” para a realização de análises de nitrogênio amoniacal. Foram determinados os valores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), pH e de N-NH3/NT. Os dados foram analisados estatisticamente pelos procedimentos de análise de variância pelo programa SISVAR e o efeito do tamanho de partícula e das idades de corte estudados por meio do teste de Tukey a 10% de significância.

Resultados e Discussão

Houve interação entre a idade ao primeiro corte e o tamanho de partícula, para o teor de matéria seca (MS), sem influência do tamanho de partícula e da idade de corte (Tabela 1). Para o tamanho de partícula de 1 cm os teores de MS decresceram a medida que se aumentava a idade ao primeiro corte de 124 dias até 166 dias, subindo novamente com 184 dias após a semeadura. Para o tamanho de partícula de 3 cm, os teores de MS aumentaram a medida que se aumentava a idade ao primeiro corte. Sabe-se que o teor de MS ideal para silagem está entre 30 a 35% (PEREIRA; REIS, 2001), ou seja, os cortes realizados a partir do 152º dia se apresentam dentro desta faixa. Não houve diferença para os valores de pH das silagens de feijão-guandu tanto para as idades quanto para o tamanho de partícula, com valores entre 5,49 e 5,96 (Tabela 2). Segundo Ferreira (2001) silagens com fermentação adequada apresentam valores de pH entre 3,8 e 4,2. Dantas et al. (2008) trabalhando com as leguminosas leucena e gliricídia encontraram valores de pH de 5,34 e 5,35, respectivamente. Observa-se diferença entre as idades de corte para os teores de nitrogênio amoniacal (N-NH3/NT) sendo de 7,47; 12,27; 11,01; 17,81 e 25,09% do nitrogênio total, respectivamente para as silagens de plantas com idades de 124, 138, 152, 166, 184 dias após a semeadura (Tabela 2). De acordo com Lavezzo e Andrade (1994) os valores considerados normais para silagens de boa qualidade estão entre 0 e 12,5% de N-NH3 em relação ao nitrogênio total. Logo, os valores de N-NH3 são aceitáveis nas silagens das idades 124, 138 e 152 dias. Observou-se diferença entre as idades de corte para os teores de proteína bruta (PB) sendo que as silagens apresentaram 14,06; 9,71; 9,51; 7,03 e 7,63%, respectivamente para as idades de 124, 138, 152, 166, 184 dias após a semeadura (Tabela 2). O feijão-guandu, por ser uma planta leguminosa, possui níveis elevados de PB, entre 14 e 22%, dependendo da quantidade de folhas, vagens e hastes existentes no momento da colheita. No entanto, os níveis de PB abaixo de 10% encontrados neste trabalho para as outras idades não são esperados. Provavelmente esses resultados podem ser explicados pelo maior teor de N-NH3 destas silagens, o que provocou maior perda de proteína, reduzindo os teores de PB. Com relação ao extrato etéreo, houve diferença entre as silagens, apresentando valores de 1,74; 1,87; 2,62; 1,55 e 1,25%, respectivamente para as idades de 124, 138, 152, 166, 184 dias (Tabela 2). O maior teor de EE foi obtido quando o corte foi efetuado 152 dias após a semeadura. Também houve diferença, para o EE, entre os tamanhos de partículas, sendo que o tamanho 1 cm apresentou valor de 1,60% e o tamanho 3 cm apresentou valor de 2,01%.

Conclusões

Conclui-se que a idade de corte de 152 dias após a semeadura seja o melhor ponto de corte da silagem de feijão-guandu, visto que apresenta boa produção de MS e teores intermediários de N-NH3 e PB, e considerando que não houve diferença entre as idades para o pH.

Gráficos e Tabelas




Referências

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