Composição corporal de cordeiros mestiços Texel confinados e classificados em função do consumo alimentar residual
2 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
6 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
7 - Universidade Estácio de Sá
8 - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
RESUMO -
Objetivou-se avaliar a composição corporal de cordeiros classificados pelo consumo alimentar residual (CAR). Foram confinados 47 cordeiros machos inteiros mestiços (3/4 Texel + ½ Pantaneira), para avaliação do consumo e ganho de peso. Após 70 dias, os animais foram abatidos para determinação da composição tecidual a partir da amostra entre a 9ª e a 11ª costela (seção HH). Os animais foram separados em três classes de CAR (alto, médio e baixo CAR). Observou-se diferenças significativas (P0,05) entre os pesos e proporções de músculo, gordura e osso (180,13g, 52,69%; 111,97 g, 32,21%; e 55,54 g, 15,09%, respectivamente). A utilização do CAR para identificação de cordeiros com melhor eficiência alimentar não afeta a composição corporal dos animais.
Body composition of crossbred Texel lambs in feedlot and classified according to the residual feed intake
ABSTRACT - Aimed to evaluate the body composition of lambs classified by residual feed intake (RFI). Eight 47 whole lambs, crossbred, were individually confined to evaluate dry matter intake and weight gain for 70 days. The animals were slaughtered to determine the tissue composition from the sample between the 9th and 11th rib (section HH). The animals were separated into three classes of RFI (high, medium and low RFI). Significant differences (P <0.05) were observed between the dry matter intake of the Low RFI (efficient) and High RFI (inefficient) classes, corresponding to differences of the 0.186 kg DM / day. There were no significant differences (P> 0.05) between the weights and proportions of muscle, fat and bone (180.13 g, 52.69%, 111.97 g, 32.21%, and 55.54 g, 09%, respectively). The use of RFI to identify lambs with better feed efficiency does not affect the animals' body composition.Introdução
A ovinocultura brasileira vem se destacando no cenário produtivo e atualmente é uma atividade no setor agropecuário de efetivo impacto devido ao seu rápido retorno econômico relacionado ao seu menor ciclo de produção. Esta elevação na produção de ovinos de corte está associada aos resultados crescente das pesquisas voltadas para este setor (Paula et al., 2010) visando melhorias nos sistemas de alimentação e avaliação de animais eficientes com objetivo de diminuir os investimentos em insumos e produzir carcaças de qualidade (Santos et al., 2014). Existem diversos índices para avaliar a eficiência dos animais, como a eficiência alimentar (kg ganho médio diário/ kg consumo de matéria seca) e a conversão alimentar (inverso desta relação). Nas últimas décadas tem ganho destaque o consumo alimentar residual (CAR), definido como a diferença entre o consumo de matéria seca observada (CMSo) e o consumo de matéria seca predito (CMSp) (Koch et al., 1963). Embora o CAR apresente a vantagem ser independente de medidas de crescimento em relação aos outros índices, a literatura relata mudanças na composição corporal de animais eficientes, principalmente em bovinos, como a redução na proporção de gordura da carcaça ( Nascimento et al., 2016). Isto pode trazer problemas durante o resfriamento, pois a gordura protege os músculos do encurtamento pelo frio. Assim, a caracterização da composição corporal de cordeiros eficientes pelo CAR é fundamental, pois são escassos resultados na literatura.Revisão Bibliográfica
O uso de ferramentas de manejo como confinamento para terminação de cordeiros tem o objetivo de produzir animais mais precoces, com carcaças de peso e acabamento adequados. No entanto, nestes sistemas a alimentação representa o item de maior custo e a busca por alternativas efetivas que reduzam este gasto vem sendo estudadas, como por exemplo, melhoria na eficiência alimentar dos animais. Existem diversos índices que avaliam a eficiência de aproveitamento dos alimentos, sendo os mais tradicionais a eficiência alimentar e a conversão alimentar. Outro índice utilizado é o consumo alimentar residual (CAR), definido como a diferença entre o consumo de matéria seca observada (CMSo) e o consumo de matéria seca predito (CMSp) (Koch et al., 1963). Os animais de CAR positivo apresentam CMSo maior em relação ao predito e são considerados ineficientes, enquanto que os animais de CAR negativo apresentam o CMSo menor em relação ao CMSp, assim considerados eficientes (Paula et al., 2013). A principal vantagem para uso do CAR é a ausência de correlação com medidas de crescimento como peso vivo e a taxa de ganho do animal (Schenkel et al., 2004), que a longo prazo não promove o aumento do tamanho adulto do rebanho e consequentemente das exigências nutricionais dos animais. A utilização do CAR como medida de identificação de animais eficientes pode proporcionar redução com os investimentos na alimentação, no entanto a composição da carcaça pode ser afetada. Alguns resultados de pesquisa evidenciam correlações positivas entre deposição de gordura na carcaça (Robinson & Oddy, 2004; Carstens et al., 2002), em que animais eficientes (Baixo CAR) apresentaram carcaças com menor deposição de gordura subcutânea, podendo este fato ser considerado um aspecto negativo devido as perdas que estas características podem acarretar em relação ao acabamento e qualidade final da carne (Lanna & Almeida, 2004). No entanto, os estudos são direcionados para bovinos, sendo escassas essas informações em ovinos. Objetivou-se avaliar a composição corporal de ovinos mestiços Texel confinados e classificados pelo consumo alimentar residual.Materiais e Métodos
Foram confinados individualmente 47 cordeiros inteiros mestiços com peso inicial de 29,90 ± 5,44 kg e idade de 3 ± 1 meses. A silagem da parte aérea de milho foi o volumoso e o concentrado à base de milho grão, farelo de soja e mistura mineral. A dieta (relação 60:40; 15,1% de proteína bruta e 72% de NDT) foi oferecida duas vezes ao dia e mantido 10% de sobras. Os animais foram pesados no início e a cada 14 dias para obtenção do peso corporal inicial (PCI), ganho médio diário (GMD) e peso corporal final (PCF). O peso médio metabólico (PMM) foi calculado a partir das pesagens com jejum de sólidos de 16 horas no início e final. Os animais foram abatidos aos 70 dias de confinamento e as carcaças foram resfriadas por 24 horas. Na meia carcaça esquerda, entre a 12a e 13a costelas (Longissimus dorsi) foi obtida a espessura de gordura subcutânea. Para avaliação da composição tecidual foram retiradas entre a 9ª e a 11ª costelas, a seção HH, segundo Hankins & Howe (1946). Cada seção HH foi identificada e congelada (-20ºC). Após o descongelamento, foram pesadas e dissecadas para obtenção dos pesos do músculo, gordura e ossos. A porcentagem de cada tecido também foi calculada (% na secção HH = ((g de tecido/ g seção HH)*100)).As proporções de cada tecido na carcaça dos cordeiros foram estimadas segundo Morais et al. (2016). O consumo observado foi obtido pela diferença entre o ofertado e as sobras e o GMD obtido por análise de regressão.O consumo alimentar residual (CAR) foi obtida pela diferença entre o CMSo e o CMSp (Koch et al., 1963) e a conversão alimentar como kg CMS/kg ganho. Foram estabelecidas três classes de eficiência: animais que apresentaram valor de 0,5 desvio padrão maior que a média foram classificados como Alto CAR (Ineficientes), os animais com 0,5 desvio abaixo da média, Baixo CAR (Eficientes) e os animais com médias entre estes valores Médio CAR (Intermediários). Foi realizada a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%.Resultados e Discussão
A relação entre CMSp e CMSo foi linear (y= 1,0171x - 0,1474) e apresentou um coeficiente de determinação de 0,75, ou seja, as variáveis utilizadas para predizer o consumo explicaram 75% da sua variação. A amplitude observada (máximo=0,17 kg/dia e mínimo= -0,24 kg/dia) e desvio padrão (DP= 0,085 kg/dia) dos valores de CAR indicam variabilidade fenotípica para este índice de eficiência. Não houve diferenças significativas entre as médias de PCI e PCF, PMM e GMD das classes de CAR (P<0,05; Tabela 1), cujos resultados corroboram com os descritos por Arthur et al. (2001), que não encontraram relação significativa do CAR com medidasde crescimento e ganho dos animais. Houve diferença entre as classes de CAR quanto ao CMS (P<0,05), onde animais da classe Baixo CAR apresentaram CMS 12,07% inferior a classe Alto CAR (Tabela 1). O menor consumo pode estar relacionado a menor exigência energética dos animais eficientes, seja peladiferente utilização metabólica dos nutrientes e/ou menor gasto de energia na síntese de tecidos, uma vez que apresentaram PC e GMD foram similares. Os animais Baixo CAR apresentaram menor CA em relação as demais classes (P<0,05), evidenciando menor CMS para cada kg de peso corporal ganho (Tabela 1). Comportamento semelhante foi observado por Paula et al., (2013) em trabalho com ovinos machos não castrados da raça Dorper, em que se obteve melhor valor de CA (5,94 kg de MS consumida/kg de ganho) para os animais eficientes (Baixo CAR)em relação aos animais de Alto CAR (6,92kg de MS consumida/kg de ganho). Não houve diferenças significativas (P>0,05) quanto ao peso e proporções dos tecidos entre as diferentes classes de CAR (Tabela 2). Os valores médios observados para as proporções foram: 52,69%, 32,21% e 15,09% para músculo, gordura e osso, respectivamente. Estes resultados estão próximos aos obtidos por Carvalho & Medeiros (2010) quando avaliaram as proporções de tecidos na seção HH de cordeiros (50,95% para músculo, 30,38% para gordura e 18,47% para osso). As proporções de tecido total na carcaça não diferiram entre as classes de CAR (P>0,05; Tabela 2). É possível observar semelhança entre as médias das proporções de tecidos obtidas na seção HH com os valores percentuais dos tecidos na carcaça. Como as proporções dos tecidos no presente estudo foram similares entre as classes, possivelmente outros fatores estão envolvidos nas melhorias da eficiência dos animais, além dos citados, já que o custo energético para deposição de carcaça foi semelhante.Conclusões
O CAR como ferramenta para classificação de animais eficientes torna-se interessante, pois este pode apresentar potencial para redução dos custos com a alimentação e obtenção de carcaças com características de composição satisfatória. No entanto, mais estudos são necessários para consolidar informações sobre a composição corporal de ovinos eficientes em condições brasileiras.