Composição química-bromatológica e potencial de digestão in vitro da silagem de Leucaena leucocephala (Lam). de With como alimento alternativo para ruminantes no Semiárido

Jose Fabio Ferreira de Oliveira1, Kelly Cristina dos Santos2, Ana Lúcia Teodoro3, André Luiz Rodrigues Magalhães4, Marciano Tenório Marinho5, Leandro Pereira de Oliveira6, Daniel Bezerra do Nascimento7, Cristianne dos Santos Pinto8
1 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
2 - Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - PDIZ/UFRPE
3 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
4 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG
5 - Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns - UFRPE/UAG
6 - Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba – PDIZ/UFPB
7 - Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns - UFRPE/UAG
8 - Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns-PPGCAP/UFRPE/UAG

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a composição químico-bromatológica da silagem de leucena (Leucaena leucocephala (Lam). de With), bem como avaliar o potencial de degradação, produção de gases e digestibilidade verdadeira da matéria de seca utilizando técnicas in vitro. Coletou-se a parte aérea das plantas de leucena em campo experimental pertencente a Embrapa Semiárido, Petrolina-PE e ensilou-se folhas e ramos menores que um centímetro, utilizando-se silos experimentais. A fibra em detergente neutro (FDN) e proteína bruta (PB) apresentaram valores de 461,5 e 202,8 g/kg MS, respectivamente. Observou-se digestibilidade in vitro da matéria seca e degradabilidade potencial de 604,2 e 545,4 g/kg MS, respectivamente. O volume total de gás observado e estimado que foram de 159,08 e 164,36 mL/g MS incubada, respectivamente. A silagem de leucena apresenta resultados que a configuram como um alimento de boa qualidade, podendo ser utilizados na alimentação animal.

Palavras-chave: degradação in vitro, digestibilidade in vitro verdadeira, leucena, produção animal, produção de gás

Chemical-bromatological composition and in vitro digestion potential of silage Leucaena leucocephala (Lam). de With as alternative food for ruminants in the Semiarid

ABSTRACT - The objective was to evaluate the chemical-bromatological composition of leucena (Leucaena leucocephala (Lam). de With) silage, and to evaluate the potential of degradation, gas production and true digestibility of dry matter using in vitro techniques. The aerial part of the leucena plants was collected in an experimental field belonging to Embrapa Semiárido, Petrolina-PE and silage leaves and branches smaller than one centimeter using experimental silos. Neutral detergent fiber (NDF) and crude protein (CP) presented values of 461.5 and 202.8 g/kg DM, respectively. In vitro dry matter digestibility and potential degradability of 604.2 and 545.4 g/kg DM, respectively, were observed. The total volume of gas observed and estimated were 159.08 and 164.36 mL/g MS incubated, respectively. Leucena silage presents results that configure it as a good quality food and can be used in animal feed
Keywords: degradation in vitro, gas production, leucena, livestock, true in vitro digestibility


Introdução

A leucena (Leucaena leucocephala (Lam). de With) é uma leguminosa perene, utilizada como promissora forrageira para a região semiárido, pela ótima adaptação às condições edafoclimáticas do Nordeste e pela excelente aceitação por caprinos, ovinos e bovinos (LONGO, 2002). O uso da leucena pode ser de diversas formas entre as mais comuns tem-se os bancos de proteínas para pastejo direto ou feno, silagem, adubação verde, consórcio com culturas anuais e gramíneas forrageiras e para a produção de sementes (SOUZA e ESPÍNDOLA, 2000) Colocando a leucena em posição de grande interesse pelos produtores da região Nordeste para fornecimento aos animais nas épocas de estiagens, em que esta é sempre recorrente, constituído a leucena uma excepcional alternativa para suprir principalmente a necessidade proteica, seja na forma de feno ou silagem.

Revisão Bibliográfica

A boa adaptabilidade da leucena às condições semiáridas do Nordeste brasileiro, aliada ao um bom desempenho na silvicultura, faz suas características de múltiplo uso, torna a espécie, uma excelente alternativa forrageira para a região. Destacando-se ainda a vantagem de servir como alternativa para preservação das espécies nativas e de recuperação de áreas degradadas (DRUMOND, 2001). Devido ao seu alto potencial forrageiro, recomenda-se a leucena para: formação de banco de proteína; produção de feno e de silagem; enriquecimento da pastagem nativa, enriquecimento do solo, enriquecimento da silagem de gramíneas, e uso com subprodutos da agroindústria (SOUSA, 2005), ao realizarem a suplementação de borregos com feno de leucena, durante a estação seca, Souza e Espíndola (1999), concluíram que a leucena é capaz de aumentar significativamente a taxa de crescimento e ganho de peso dos animais. A adição de 15% ou 30% de leucena é uma prática tecnicamente viável para a melhoria dos teores de proteína bruta da silagem do capim elefante, elevando as características estabelecidas para uma alimentação de alto valor nutricional (Lopes et al., 2010). Assim, objetivou-se avaliar a composição químico-bromatológica da silagem de leucena, bem como avaliar o potencial de degradação, produção de gases e digestibilidade verdadeira da matéria de seca utilizando técnicas in vitro.

Materiais e Métodos

Coletou-se a parte aérea das plantas de leucena (Leucaena leucocephala (Lam). de With) em campo experimental pertencente a Embrapa Semiárido, Petrolina-PE e ensilou-se folhas e ramos menores que um centímetro, utilizando-se silos experimentais. Após 30 dias de fermentação, quatro amostras de silos diferentes foram levadas ao Laboratório de Nutrição Animal (LANA) para processamento e análise. Assim, realizou-se as análises de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM) e proteína bruta (PB) e o extrato etéreo (EE) (Sohxlet) de acordo a com a metodologia descrita pela Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 1990). As análises de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) foram realizadas de acordo com Van Soest et al. (1991), com modificações propostas por Senger et al. (2008). Para determinação da lignina digerida em ácido (LDA) foi utilizada a metodologia proposta por Van Soest et al. (1991), e as frações de celulose (CEL) e hemicelulose (HEM) foram estimadas pelas equações: CEL = FDA – LDA e HEM = FDN – FDA. Os carboidratos totais (CHOT) foram calculados conforme Sniffen et al. (1992) e fracionados em A+B1, B2 e C. A degradabilidade in vitro foi realizada de acordo com o primeiro estágio da metodologia de Tilley e Terry (1963). Para estimar os parâmetros a, b e c e a degradabilidade efetiva para as taxas de passagem de 2; 5 e 8%/h, utilizou-se o modelo proposto por Orskov e McDonald (1979) com o auxílio do procedimento não linear do programa estatístico SAS. Quantificou-se a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) segundo Tilley e Terry (1963), com modificação proposta por Holden (1999). Para a produção de gases, foi utilizada a técnica in vitro com transdutor de pressão, proposta por Theodorou et al. (1994) e para determinação dos parâmetros, foi utilizado o modelo logístico bicompartimental (SCHOFIELD et al., 1994) com auxílio do PROC NLMIXED do SAS.

Resultados e Discussão

Observou-se que a silagem de Leucaena leucocephala possui menos de 30% de matéria seca, sendo classificada como um alimento rico em água (Tabela 1). Sabe-se que animais que ingerem alimentos com maior quantidade deste nutriente, tende a reduzir a ingestão de água de bebida, assim a silagem da leucena por possuir cerca de 75% de água pode suprir parte das exigências diárias de água pelos animais criados em regiões Semiáridas. A leguminosas de forma geral apresentam proteína bruta (PB) elevada, assim obteve-se 202,8 g/kg de PB na matéria seca (MS) (Tabela 1), no entanto, não podemos afirmar que todo nitrogênio presente nessa proteína será digestível, pois parte deste pode estar ligado a fibra e possuir digestão lenta ou não ser digestível. Os valores de FDN foram menores do que o observado por Dantas et al. (2008), em silagens com diferentes tempos de fermentação que foram 577,4 g/kg MS para FDN e 239,9 g/kg MS de PB, o que vem a reforçar que conservação da leucena na forma de silagem são excelentes alternativa para armazenamento da forragem por preservar as características nutricionais do alimento. Para as frações de carboidratos cerca de 60% destes fazem parte das frações digestíveis, sendo que aproximadamente 28% são frações de rápida e média digestão (A+B1) e 32% de lenta digestão (B2) (Tabela 1). Assim, a maior parte dos carboidratos totais estão passiveis de degradação ruminal, sendo estes fonte de energia para os animais ruminantes. No entanto, a digestibilidade e a degradabilidade foram baixas sendo resultado de maiores proporções de fibras de baixa ou lenta digestão, sendo necessário tempo maior de retenção ruminal para que essa digestão maior. Na cinética de produção de gases observou-se produção cumulativa de 159,08 mL de gás por grama de MS incubada, e a produção ajustada pelo modelo bicompartimental foi 164,36 mL/gMS (Tabela 2). A produção de gás é reflexo da degradação dos carboidratos totais presente no substrato, pois praticamente todo o gás produzido durante o processo de incubação in vitro, é oriundo da degradação destes. Como os carboidratos totais foram baixos (639,2 g/kg MS) e grande parte deste era composto por carboidratos fibrosos (461,5 g/kg MS de FDN) é natural que a produção de gases seja relativamente baixa. Quanto a produção de acordo com a degradação dos diferentes carboidratos, estimou-se produção de 69,39 mL/gMS para a fermentação dos carboidratos não fibrosos (A) e 95,00 mL para carboidratos fibrosos (D) (Tabela 2). Essa maior produção de gases oriunda dos carboidratos fibrosos é explicada pela maior proporção de fibras no substrato (461,5 g/kg MS de FDN). O lag time (C) de aproximadamente 4 horas está relacionado com essa alta proporção de fibra e outros fatores como a presença de compostos secundários que podem dificultar a aderência dos micro-organismos à superfície do substrato incubado.

Conclusões

A silagem de leucena (Leucaena leucocephala (Lam). de With) apresentou resultados que a configuram como um alimento de boa qualidade, podendo ser conservada em forma de silagem para ser utilizada na alimentação animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

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