Composição química de silagem pré-secada de aveia preta submetida a diferentes métodos de desidratação

Leslei Caroline Santos1, Mikael Neumann2, Murilo Klosovski Carneiro3, Eloize Jaqueline Askel4, Edelmir Silvio Stadler Júnior5, Cherlyson Czelusniak6, Fernando de Souza Sidor7, Luísa da Costa8
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RESUMO -

Para confecção de silagem pré-secada de aveia preta (Avena strigosa Schreb), foi utilizado dois métodos de desidratação da planta, o mecânico e o químico. O objetivo do trabalho se deu em avaliar os métodos, sob 6 diferentes tempos de desidratação, sendo 0, 3, 6, 9, 12 e 15 dias após o corte da planta ou aplicação do herbicida glifosato. Foi avaliada a composição química das silagens, com intuito de comparar os valores de FDN (fibra em detergente neutro), FDA (fibra em detergente ácido) e DMS (digestibilidade da matéria seca estimada), dos dois métodos utilizados. Os teores de FDN e FDA aumentaram com o avanço do tempo da desidratação, em ambos os métodos e, com isso obteve um menor valor de DMS, sendo que o mesmo é inversamente proporcional aos teores de fibra.

Palavras-chave: Cereal de inverno, digestibilidade, fibra em detergente ácido, fibra em detergente neutro

Chemical composition of pré-secada of black oat silage under different dehydration methods

ABSTRACT - For making silage pré-secada black oats (Avena strigosa Schreb), we used two methods of dehydration of the plant, the mechanic and chemist. The objective of this work was in evaluating the methods, under 6 different times of dehydration, being 0, 3, 6, 9, 12:15 days after cutting or applying the herbicide glyphosate. Evaluating the chemical composition of silages, in order to compare the values of NDF (neutral detergent fiber), FDA (acid detergent fibre) and DMS (estimated dry matter digestibility) of the two methods used. The levels of NDF and FDA increased with the advance of the time of dehydration in both methods with that obtained a lower value of DMS, being that it is inversely proportional to the levels of fiber.
Keywords: Acid detergent fiber, digestibility, neutral detergent fiber, winter cereal


Introdução

O sistema de produção da pecuária possui inúmeras exigências para que sua cadeia seja produtiva, resultando em um bom desempenho. O manejo nutricional é uma dessas exigências, pois tem um papel extremamente importante, visto que é necessário elaborações de dietas com alimentos de qualidade para que o potencial do animal seja expresso ao máximo (ROSÁRIO et al., 2012). Desse modo, uma alternativa interessante para a nutrição dos animais é a utilização de silagem pré-secada. A silagem pré-secada é assim denominada, devido à presença de uma fase de secagem a campo, semelhante à produção de feno. Isso é necessário, pois as gramíneas possuem altos níveis de umidade no momento ideal de corte, na fase de pré-florescimento, onde a qualidade nutricional e a digestibilidade da forragem estão em valores ótimos, associado a uma boa produção de fitomassa seca por área. Essa fase de secagem pode ocorrer de forma mecânica, exposta ao tempo para que ocorra sua desidratação ou pode ser realizada de forma química com aplicação de herbicidas a base de glifosato, promovendo a desidratação sem necessidade de um corte prévio da planta (BERTO e MÜHLBACH, 1997). Portanto, o objetivo do trabalho busca conhecer os efeitos dos métodos de desidratação, no que diz respeito à composição química da silagem pré-secada, comparando os teores de FDN (fibra em detergente neutro), FDA (fibra em detergente ácido) e DMS (digestibilidade de matéria seca estimada), entre os métodos de desidratação testados.

Revisão Bibliográfica

O uso de silagens produzidas a partir de gramíneas de clima temperado, tem se mostrado relevante principalmente para produtores que desenvolvem sua atividade em regiões onde o clima não favorece o plantio de milho safrinha (BUMBIERIS JR. et al., 2011).   Dentre as principais gramíneas que fazem parte desse grupo e possuem maior utilização para uso em silagens estão a aveia, o azevém, o triticale e a cevada (PEREIRA e REIS, 2001). Para a confecção da silagem obtida através de gramíneas de clima temperado, se faz necessário que a planta seja submetida a um processo de desidratação a campo (secagem) antes de ser ensilada, visto que no momento ideal para a ensilagem (fase de pré-florescimento) a mesma encontra-se com elevado teor de umidade, mas em contrapartida apresenta excelência em qualidade nutricional e digestibilidade, além de boa produção de fitomassa seca por área (BERTO e MÜHLBACH, 1997). Segundo PEREIRA e REIS, (2001) o processo de emurchecimento ou pré-secagem das gramíneas favorece o desenvolvimento de bactérias produtoras de ácido lático melhorando a qualidade fermentativa da massa ensilada. E por melhorar o processo fermentativo, acaba proporcionando a estocagem do material excedente que é produzido nas pastagens, ou do que foi cultivado especialmente para o corte, maximizando a utilização da forragem. A pré-secagem pode ser realizada através dos métodos mecânico e químico, onde o mecânico é realizado o corte da forragem e a mesma sofre sua desidratação no meio em que se encontra para posteriormente ser ensilada; e o químico é empregado com o uso de herbicidas à base de glifosato (BERTO e MÜHLBACH, 1997) . Na dessecação mecânica, o pecuarista necessita de um alto investimento com maquinários apropriados para tal, bem como segadeiras, espalhadores de forragem, enleiradores e enfardadeiras, para que assim se possa realizar o corte, revolvimento, enleiramento e colheita do material à campo com o devido teor de MS apropriado (BOLLER, 2012). Em relação ao glifosato, embora não se tenha muitos estudos sobre seu mecanismo de ação completo, segundo ZOBIOLE (2010) e MESCHEDE et al. (2011), este químico possui um mecanismo que pode atuar alterando o transporte de água nas células do vegetal pelo funcionamento inadequado das aquaporinas, de modo a reduzir a absorção de água pela planta, além de hipoteticamente alterar a síntese de compostos do vegetal melhorando a qualidade da forrageira.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Setor de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), nas instalações do Núcleo de Produção Animal (NUPRAN), no município de Guarapuava – PR. O experimento teve como intuito avaliar a digestibilidade da matéria seca da aveia preta EMBRAPA 139 com a utilização de dois métodos de desidratação, a partir de dois tratamentos, sendo: T1: método mecânico, com o corte da planta com foice de mão; T2: método químico com a aplicação do herbicida Roundup Transorb®. A desidratação pelo método mecânico se deu ao tempo, sob efeito das condições climáticas até a colheita e ensilagem e no método químico, as plantas foram cortadas somente no momento da colheita para ensilagem, sendo que nos dois tratamentos as plantas foram colhidas após 0, 3, 6, 9, 12, 15 dias de desidratação a campo. A cada corte das parcelas o material era pesado como um todo, em seguida ensilado em silos de PVC (Poly Vinyl choride), fechado com fita adesiva. Os silos permaneceram fechados por aproximadamente 60 dias, onde após esse período foram abertos para coleta de amostras, com intuito de realizar a análise bromatológica das silagens. Na análise bromatológica determinou-se os teores de fibra em detergente neutro (FDN), conforme Van Soest et al. (1991), fibra em detergente ácido (FDA) segundo Goering e Van Soest (1970), podendo calcular a digestibilidade da matéria seca estimada  pela equação: DMS= 88,9 – (0,779 x FDA). O delineamento experimental empregado foi de blocos ao acaso em esquema fatorial 2 x 6, composto por dois métodos de desidratação da forragem (químico e mecânico) e seis épocas de colheita (0, 3, 6, 9, 12 e 15 dias à partir do início da desidratação), com cinco repetições. Após a realização de testes de normalidade e homogeneidade, os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados utilizando o teste “Proc Reg” ao nível de 5% de significância por intermédio do programa estatístico SAS (1993).

Resultados e Discussão

Em relação ao FDN pode se observar na Figura 1 que houve um aumento no seu valor com o avanço da desidratação. O parâmetro não demonstrou diferença significativa entre os dois métodos, se apresentou com comportamento quadrático negativo (p=0,0112), onde o seu menor valor estimado se deu no dia 6, com 59,23% de FDN. Já em relação à fração de FDA, apresentou diferença significativa nos dois métodos, onde o T2 no dia 0 apresentou maior FDA em relação ao T1, já no dia 15 se apresentaram de forma contraria. As equações para esse valor demonstraram comportamento quadrático negativo para os dois tratamentos, com menor concentração, no valor de 36,78% aos 8 dias para o tratamento com método mecânico (p=0,05), e 36,48% aos 9 dias para o tratamento com método químico (p=0,0001). A DMS obteve um comportamento quadrático positivo, com valor máximo de 61,91% no dia 9. O período de desidratação nas plantas tem ação também de precipitação reduzindo o valor de alguns nutrientes como a proteína bruta, carboidratos não fibrosos e extrato etéreo e como consequência ocorrem um aumento dos componentes fibrosos da planta (Orcaray et al., 2012). Isso explica o aumento nas frações de FDA e FDN, no presente trabalho. Avaliando aveia preta, com corte no início de florescimento, Paris et al. (2015), obtiveram teores de FDN de 55,8% e FDA de 37,21%, valores menores às médias encontradas no presente trabalho. Os autores ressaltaram que houve uma diminuição na proporção de fibra, devido a menor produção de efluentes da silagem, limitando perdas de compostos solúveis. O DMS se mostra inverso ao valor de FDA, visto que à medida que as frações fibrosas aumentam, a digestibilidade do alimento diminui. Isso se dá pela incapacidade ruminal de digerir determinadas frações (VAN SOEST, 1991).

Conclusões

O uso de glifosato como método de desidratação química para confecção de silagens pré-secadas de aveia preta cultivar EMBRAPA 139, nas condições apresentadas nesse trabalho, se mostrou inviável, para as analises variáveis analisadas, apresentando valores semelhantes à desidratação mecânica, em relação às porções fibrosas e digestibilidade estimada da silagem.

Gráficos e Tabelas




Referências

BERTO, J.; MÜHLBACH, P. Silagem de aveia preta no estádio vegetativo, submetida à ação de inoculantes e ao efeito do emurchecimento. Revista Brasileira de Zootecnia. Brasília. v.26, n.4, p.651-658, 1997. BOLLER, W. Máquinas para a colheita e conservação de forragens. In: FONTANELI, R.S.; SANTOS, H.P.; FONTANELI, R.S. Forrageiras para Integração Lavoura-PecuáriaFloresta na Região Sul-Brasileira. Brasília, EMBRAPA. p.367-434, 2012 BUMBIERIS JR., V.H.; OLIVEIRA, M.R.; JOBIM, C.C.; BARBOSA, M.A.A.F.; CASTRO, L.M.; BARBERO, R.P. Perspectivas para uso de silagem de cereais de inverno no Brasil. In: Simpósio produção e utilização de forragens conservadas. Maringá, 2011. Anais. Maringá: UEM/CCA/DZO, 2011, p.64-86 GOERING, H.K.; VAN SOEST, P.J. Forage fiber analysis (Apparatus, reagents, procedures and some applications). Washington, DC: USDA, 1970. (Agricultural Handbook, 379). MESCHEDE, D.K.; VELINI, E.D.; CARBONARI, C.A.; TRINDADE, M.L.B.; GOMES, G. L.G.C. Efeitos do glyphosate nos teores de lignina, celulose e fibra em Brachiaria decumbens. Revista Brasileira de Herbicidas. Londrina, v.10, n.1, p.57-63, 2011. ORCARAY L.; ZULET A.; ZABALZA A; ROYUELA M. Impairment of carbon metabolism induced by the herbicide glyphosate. Journal of plant physiology. v.169, n.1, p.27-33, 2012. PARIS, W.; ZAMARCHI, G.; PAVINATO, P.S.; MARTIN, T.N. Qualidade da silagem de aveia preta sob efeito de estádios fenológicos, tamanhos de partícula e pré-murchamento. Revista Brasileira Saúde e Produção Animal. Salvador, v.16, n.3, p.486-498, 2015. PEREIRA, J.R.A.; REIS, R.A. Produção de silagem, pré-secada com forrageiras temperadas e tropicais. In: Simpósio sobre produção e utilização de forragens conservadas, 2001, Maringá. Anais. Maringá: UEM/CCA/DZO, p.64-86, 2001. ROSÁRIO, J.G; NEUMANN, M.; UENO, R.K.; MARCONDES, M.M.; MENDES, M.C. Produção e utilização de silagem de trigo. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências Agrárias. Guarapuava, v.5, n.1, p.207-218, 2012. SAS INSTITUTE. SAS/STAT user’s guide: statistics. 4ª.ed. Version 6. Cary, North Caroline, v.2, p.943, 1993. VAN SOEST, P.J.; ROBERTTSON, J.B.; LEWIS, B.A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition, Journal of dairy Science. Champaign, v.74, n.10, p.3583-3597, 1991. ZOBIOLE L.H.S. Water use efficiency and photosynthesis of glyphosate-resistant soybean as affected by glyphosate. Pesticide biochemistry and physiology. v.97, p.182-193, 2010.