Composição química do feno triturado de Pornunça (Manihot sp.) obtida no Leste do Rio Grande do Norte- Brazil

Roberto Cesar de Lima Pessoa1, Maria Vitória Serafim da Silva2, Karen Luanna Marinho Catunda Rodrigues3, José Jonas Leite de Andrade4, Jéssica Caroline Nascimento Rodrigues5, Emerson Moreira de Aguiar6, Maria Gessica Daniel de Oliveira7
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
6 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
7 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO -

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a composição química do feno triturado de pornunça aos 150 dias após plantio. O experimento foi realizado no município de Taipu, na região leste do Rio Grande do Norte – Brasil, e as amostras do feno foram analisadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os valores encontrados dos componentes analisados foram: 90,22% de matéria seca; 8,93% de matéria mineral; 81,29% de matéria orgânica; 15,28% de proteína bruta; 2,68% de extrato etéreo; 71,94% de carboidratos totais; 54,07% de fibra em detergente neutro; 30,43% de fibra em detergente ácido; 23,64% de hemicelulose; 18,48% de carboidratos não fibrosos; 11,31% de lignina; 19,12% de celulose; 0,11% de proteína insolúvel em detergente ácido; 0,99% de proteína insolúvel em detergente neutro; 42,59% de nutrientes digestíveis totais e 1,88 Mcal/kg de energia digestível. O feno de pornunça apresentou teores de nutrientes adequados para nutrição de ruminantes.

Palavras-chave: conservação de forragem, nutrientes, ruminantes, semiárido

Chemical composition of Pornunça (Manihot sp.) crushed hay obtained in the eastern region of Rio Grande do Norte - Brazil

ABSTRACT - This research aimed to evaluate the chemical composition of the Pornunça crushed hay at 150 days after planting. The experiment was carried out in Taipu city, in the eastern region of Rio Grande do Norte - Brazil, and hay samples were analyzed at the Animal Nutrition Laboratory of the Universidade Federal do Rio Grande do Norte. The values of the components analyzed were: 90.22% dry matter; 8.93% of mineral matter; 81.29% of organic matter; 15.28% crude protein; 2.68% ethereal extract; 71.94% total carbohydrate; 54.07% neutral detergent fiber; 30.43% acid detergent fiber; 23.64% hemicellulose; 18.48% non-fibrous carbohydrates; 11.31% lignin; 19.12% cellulose; 0.11% acid detergent insoluble protein; 0.99% neutral detergent insoluble protein; 42.59% of total digestible nutrients and 1.88 Mcal/kg of digestible energy. Pornunça hay presented appropriate nutrient contents for ruminant nutrition.
Keywords: forage conservation, nutrients, ruminants, semi-arid


Introdução

As incertezas enfrentadas pela produção pecuária no semiárido do Nordeste brasileiro decorrente da distribuição irregular das chuvas e que gera deficiências quantitativas e qualitativas de recursos forrageiros tornam relevante estudo com novas espécies forrageiras adaptadas que contribuam para o fornecimento constante de proteína animal, redução dos custos e o desenvolvimento sustentável da atividade em períodos de seca. Dessa forma, o enfoque atual dos pesquisadores nas espécies nativas está diretamente relacionado à busca de forrageiras que proporcionem uma elevada produção de biomassa e boas características químicas e nutricionais. Dentre as inúmeras plantas nativas da região Nordeste que resistem a períodos de seca, algumas apresentam características forrageiras importantes, a exemplo da pornunça (Manihot sp), planta da família das Euforbiáceas, pertencente ao gênero Manihot que possui folhas ricas em proteínas e elevados teores de carboidratos nas raízes. A composição química é um dos principais critérios utilizados para avaliar o valor nutritivo de forrageiras, esta por sua vez pode variar de acordo com as condições climáticas, idade e parte da planta, método de secagem e conservação. No Nordeste brasileiro o conhecimento da composição química da pornunça é escasso, particularmente sob a forma de feno triturado para ser utilizado na alimentação de ruminantes. Neste contexto, objetivou-se avaliar a composição química do feno triturado de pornunça aos 150 dias após plantio.

Revisão Bibliográfica

Dentre as espécies forrageiras encontradas em diversos estados do Nordeste brasileiro está a pornunça (Manihot sp.), um híbrido natural da mandioca (Manihot esculenta Crantz) e da maniçoba (Manihot glaziovii Muell). A pornunça é conhecida como pornuncia, prinunça, pornona, mandioca de sete anos, mandioca ou maniçoba de jardim. Esta planta nativa da Caatinga apresenta folhas e frutos semelhantes aos da mandioca e caule similares aos da maniçoba, sendo tolerante ao estresse hídrico e produtora de grande quantidade de folhas (ricas em proteína) que persistem durante todo o período de estiagem (FERREIRA et al., 2009). Por essas razões, a pornunça vem sendo utilizada na região semiárida do Brasil como uma alternativa estratégica de alto valor nutritivo na alimentação de rebanhos, principalmente caprinos e ovinos, sob forma de feno e silagem (VASCONCELOS et al., 2010). Contudo, as plantas do gênero Manihot apresentam em sua composição glicosídeos cianogênicos que produzem ácido cianídrico, um composto tóxico para os animais (SOARES, 1995), no entanto, este ácido se apresenta com baixos teores na pornunça (173 mg.kg-1) quando comparado a mandioca brava (737 mg.kg-1) e maniçoba (884,9 mg.kg-1)  (VOLTOLINI et al., 2010). Apesar disso, o nível de toxicidade tem sua concentração bastante reduzida por meio da volatilização do ácido, quando a planta é triturada mecanicamente e submetida à desidratação natural pela ação dos raios solares e vento, bem como pela fermentação no processo de ensilagem (SOARES & SALVIANO, 2000). Sendo assim, a utilização da pornunça na alimentação animal pode ser potencializada com a utilização de procedimentos de conservação como a fenação que ameniza os problemas da estacionalidade na produção de forragens e proporciona segurança ao produtor diante dos possíveis riscos de intoxicação.

Materiais e Métodos

A biomassa da pornunça foi proveniente de uma área de 5.000 m2 implantada no município de Taipu, situado na região Leste do estado do Rio Grande do Norte, Brasil. O corte da pornunça para produção do feno foi realizado aos 150 dias após plantio. As folhas, ramos e caules foram cortadas e trituradas em máquina forrageira, posteriormente espalhadas no secador solar e expostas até atingir o ponto de feno que foi alcançado em 72 horas. O material fenado foi encaminhado ao Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. As amostragens foram realizadas aleatoriamente em 10% do total dos sacos, tomando-se em média 500g de feno por saco, e posteriormente formando-se amostras compostas. No laboratório foram realizadas a pesagem, pré-secagem e moagem das amostras para a realização das análises químicas. De acordo com Silva e Queiroz (2002), foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE). Foram ainda determinados os teores de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina (LIG) de acordo com Van Soest et al. (1991). A celulose (CEL) e hemicelulose (HEM) foram determinadas por diferença. Os teores de proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e em detergente ácido (PIDA) foram obtidos nos resíduos da FDN e FDA, mediante o procedimento de Kjeldahl. O teor de carboidratos totais (CHOT) foi estimado pela equação: CHOT (%) = 100 – [PB (%) + EE (%) + MM (%)] e os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados pela diferença entre CHOT e FDN. Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram estimados pela equação do NRC (2001). A energia digestível (ED) foi calculada como o produto entre o NDT e o fator 4,409/100. As análises laboratoriais foram feitas em triplicata e o valor designado foi obtido pela média. Os resultados obtidos foram expressos em porcentagem com base na matéria seca.

Resultados e Discussão

O feno de pornunça apresentou para os constituintes da composição química os respectivos valores com base na matéria seca: 90,22% de matéria seca; 8,93% de matéria mineral; 81,29% de matéria orgânica; 15,28% de proteína bruta; 2,68% de extrato etéreo; 71,94% de carboidratos totais; 54,07% de fibra em detergente neutro; 30,43% de fibra em detergente ácido; 23,64% de hemicelulose; 18,48% de carboidratos não fibrosos; 11,31% de lignina; 19,12% de celulose; 0,11% de proteína insolúvel em detergente ácido; 0,99% de proteína insolúvel em detergente neutro; 42,59% de nutrientes digestíveis totais e 1,88 Mcal/kg/MS de energia digestível. Os teores de MS, PB, FDN, FDA e HEM encontrados nesse trabalho foram diferentes dos apresentados por Borburema et al. (2016) ao avaliar o feno da parte aérea da pornunça: 83,80%, 24,27%, 65,28%, 12,30% e 52,98% respectivamente. Tendo em vista que os autores utilizaram somente a parte aérea os teores de PB, FDN e HEM foram superiores ao encontrados nesse trabalho. A utilização da planta inteira para confecção do feno de pornunça nesta pesquisa resultou em maior relação caule: folha e, como a proteína da pornunça está concentrada principalmente em suas folhas promoveu redução relativa no teor de proteína do feno, determinando a baixa concentração deste constituinte em relação ao trabalho realizado por Borburema et al. (2016). Com base nessa relação de quantidade de caule no feno encontrada neste trabalho, pode se explicar o elevado teor de lignina e FDA, o que resultou na redução do teor de nutrientes digestíveis totais do feno avaliado. Lapierre (1993) ressaltou que a lignina é o componente mais negativamente correlacionado à digestibilidade, pois limita a digestão dos polissacarídeos da parede celular e reduz o valor nutricional das plantas para os ruminantes. A fibra vem sendo utilizada para caracterizar os alimentos (VAN SOEST, 1994) e para estabelecer limites de inclusão de ingredientes nas rações, assim a concentração de FDN está intimamente relacionada com o consumo voluntário de matéria seca, pois este constituinte reflete diretamente a capacidade volumosa de ocupação de espaço no rúmen. Por outro lado, a digestibilidade da matéria seca depende do teor de FDA, a qual espelha a concentração de lignina na fração parede celular (MERTENS, 1994). Em estudo avaliando a composição do feno de maniçoba, Mendonça Junior et al. (2008) encontraram valores de matéria mineral e lignina semelhantes aos apresentados neste trabalho, respectivamente 9,86% e 10,29%. No entanto, os mesmos autores relataram teores de EE (9,39%), CNF (22,79%) e CEL (24,44%) superiores aos aqui encontrados. As diferenças encontradas nos resultados dos parâmetros aqui analisados e os relatados por outros autores podem ter sido também influenciadas pela época de colheita, condições climáticas, idade do corte, das partes da planta que compõe o feno e processo de fenação. Não foram encontrados valores para comparação dos outros constituintes da composição centesimal.  

Conclusões

A composição química do feno triturado de pornunça aos 150 dias após o plantio apresentou teores de nutrientes adequados para nutrição de ruminantes, sugerindo a inclusão desta espécie como alternativa de suplementação durante a seca em regiões semiáridas.  


Referências

BORBUREMA, J. B.; SANTOS, E. M.; RAMOS, J. P. F.; PINHO, R. M. A.; OLIVEIRA, J. S.; ARAÚJO, G. P. Avaliação de silagens de capim-elefante aditivadas com feno de pornunça. Revista electrónica de Veterinaria, v.17, n.1, 2016. FERREIRA, A. L.; SILVA, A. F.; PEREIRA, L. G. R.; BRAGA, L. G.T.; DE MORAES, S. A.; DE ARAÚJO, G. G. L. Produção e valor nutritivo da parte aérea da mandioca, maniçoba e pornunça. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.10, n.1, p.129-136, 2009. LAPIERRE, C. Application of new methods for the investigation of lignin structure. In: JUNG, H. G.; BUXTON, D. R.; HATFIELD, R. D. et al. (Eds.). Forage cell wall structure and digestibility. Madison: American Society Agronomy, 1993. p.133-166. MENDONÇA JÚNIOR, A. F.; PAULA BRAGA, A.; COSTA CAMPOS, M. C.; BARBOSA DE ANDRADE, R. Avaliação da composição química, consumo voluntário e digestibilidade in vivo de dietas com diferentes níveis de feno de maniçoba (Manihot glaziovii Muell. Arg.), fornecidas a ovinos. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.8, n.1, p. 32-41, 2008. MERTENS, D. R. Regulation of forage intake. In: Fahey Junior, G. C. (Ed.). Forage quality, evaluation and utilization. Madison: Wisconsin, 1994. p.448-478. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requeriments of dairy cattle. 7.rev.ed. Washinton, D. C., 2001. 381p. SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análises de alimentos (métodos químicos e biológicos). 3.ed. Viçosa, MG: Editora UFV, 2002. 235p. SOARES, J. G. G. Cultivo da maniçoba para produção de forragem no semiárido brasileiro. Petrolina, PE: Embrapa-CPATSA (Comunicado Técnico, n.59), 1995. 4p. SOARES, J. G. G.; SALVIANO, L. M. C. Cultivo da maniçoba para produção de forragem no semiárido brasileiro. Petrolina, PE: Embrapa Semiárido (Instruções Técnicas, n.33), 2000. p.6. VAN SOEST, P. J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. London: Constock Publishing Associates, USA, 1994. 476p. VAN SOEST, P. J.; ROBERTSON, J.  B.; LEWIS, B. A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v.74, n.10, p.3583-3597, 1991. VASCONCELOS, W. A.; SANTOS, E. M.; EDVAN, R. L.; SILVA, T.; MEDEIROS, G.; FILHO, L. Morfometria, produção e composição bromatológica da Maniçoba e Pornunça, em resposta a diferentes fontes de adubação. Revista Trópica - Ciências Agrárias e Biológicas, v.4, n.2, p.36, 2010. VOLTOLINI, T. V.; NEVES, A. L. A.; FILHO, C. G. et al. Alternativas alimentares e sistemas de produção animal para o semiárido brasileiro. In: SÁ, I. B.; SILVA, P. C. G. (Eds.). Semiárido brasileiro: pesquisa, desenvolvimento e inovação. Embrapa Semiárido, Petrolina, p. 199-242, 2010.