Composição química e digestibilidade in vitro da Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nóbis)

Douglas Gomes Vieira1, Rodrigo Gonçalves Mateus2, Luiz Carlos Pereira3, João Victor De Souza4, Endyara Signor Kohl5, Lucas Gomes Da Silva6, Eliseu Aparecido Messias7, Aline Franco Da Silva8
1 - Universidade Católica Dom Bosco
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RESUMO -

Objetivou-se com este trabalho aprimorar os estudos da Pereskia aculeata Miller, buscando assim novas alternativas na alimentação de ruminantes, avaliando a composição bromatológica e a digestibilidade da parte aérea da planta. Foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), minerais (MM), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN), onde foram também realizados ensaios de digestibilidade in vitro (DIV) dos teores de MS, MO e PB. A parte foliar apresentou 81,72% de matéria seca e 17,07% de proteína bruta, no caule obteve-se valores médios de 76,28% de matéria seca e 11,69% de proteína bruta, nas avaliações de digestibilidade da matéria seca (DIVMS) observou se que a Pereskia aculeata Miller apresentou 63,01% em sua parte foliar e 67,87% na sua matéria total, demonstrando assim níveis satisfatórios nas avaliações, portanto, recomenda-se como uma excelente alternativa para utilização na nutrição de ruminantes.

Palavras-chave: Alimentos alternativos, Bromatologia, Nutrição animal, Proteico.

Chemical composition and in vitro digestibility of Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nóbis)

ABSTRACT - The objective of this work was to improve the studies of Pereskia aculeata Miller, thus searching for new alternatives in ruminant feeding, evaluating the bromatological composition and digestibility of the aerial part of the plant. The content of dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP), minerals (MM), acid detergent fiber (FDA) and neutral detergent fiber (NDF) were determined. In vitro digestibility (IVD) of DM, OM and PB contents. The leaf area presented 81.72% of dry matter and 17.07% of crude protein, in the stem obtained average values of 76.28% of dry matter and 11.69% of crude protein, in dry matter digestibility DIVMS) found that Pereskia aculeata Miller presented 63.01% in its leaf part and 67.87% in its total matter, thus demonstrating satisfactory levels in the evaluations, therefore, it is recommended as an excellent alternative for use in ruminant nutrition .
Keywords: Alternative foods, Animal nutrition, Bromatological, Proteic


Introdução

A Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nóbis) conhecida popularmente por carne de pobre possui um alto teor de carboidrato, lisina, cálcio, fósforo, magnésio, ferro, cobre e principalmente alto teor de proteínas segundo Wang et al., (1996); Cambraia, (1980); Almeida Filho e Cambraia, (1974).

O estudo sobre a composição da cactácea Ora-pro-nóbis torna-se necessário para a geração de informações nutricionais que servirão como incentivo para a exploração deste vegetal, e consequentemente, o uso desta para alimentação de animais de produção.

Os resultados obtidos por Girão et al., (2003) revelaram que a ora-pro-nóbis apresentou alto teor de proteína com potencial de uso na alimentação humana ou animal. Também possui grande quantidade de fibras insolúveis (celulose, hemicelulose e lignina), ferro, energia bruta e baixo teor de lipídios.

Mota et al., (2011) avaliando a utilização da Pereskia aculeata Miller na suplementação alimentar de ruminantes, realizaram análises e verificaram altos teores de PB, Fe e Fibra. Acredita-se que mesmo com alto teor de fibra encontrado na planta, o leitão consiga absorver uma quantidade considerável dos demais nutrientes. Na formulação de dietas para ruminantes busca-se a redução de custo com a alimentação, com o advento dos alimentos alternativos, onde que os mesmos apresentem pouca concorrência com alimentação humana.

O objetivo desse trabalho foi avaliar a composição química e a digestibilidade in vitro da planta Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nóbis) para nutrição de ruminantes.



Revisão Bibliográfica

A ora-pro-nobis é uma planta que pertence ao reino Plantae, classe Magnoliopsida, ordem Caryophyllales, família Cactaceae e gênero Pereskia (BRASIL, 2010). É considerada uma hortaliça não convencional nativa da américa tropical, além de ser amplamente encontrada na Índia oriental, essas espécies ocorrem principalmente em regiões mésicas ou levemente áridas (ALMEIDA FILHO; CAMBRAIA, 1974). É uma planta de fácil reprodução e cultivo por apresentar tolerância a déficit hídrico, baixa incidência de doenças e baixa exigência em fertilidade de solo, o que ressalta seu valor como hortaliça folhosa complementar nos períodos em que há carência de outras folhosas (SOUZA et al., 2009). A ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Miller) é uma planta que aparece como uma alternativa para enriquecimento e incremento da qualidade da alimentação de ruminantes, pois, suas folhas possuem interessantes qualidades nutritivas como alto teor de carboidrato, lisina, cálcio, fósforo, magnésio, ferro, cobre e alto teor de proteínas (WANG et al., 1996). A ora-pro-nobis possui características agronômicas favoráveis ao seu cultivo, como o fato de ser uma planta rústica, vigorosa e de fácil propagação. Geralmente sua propagação é feita por estaquia caulinar por apresentar simplicidade e rapidez, pode ser cultivada em diferentes tipos de solo desenvolvendo-se em ambiente com incidência de sol ou meia sombra. O ideal é que seu plantio seja realizado no período das chuvas para estimular o crescimento dos ramos (MADEIRA; SILVEIRA, 2010; PAULUCIO et al., 2014).

Materiais e Métodos

As amostras de Pereskia aculeata Miller foram coletadas na fazenda escola Lagoa da Cruz, foram realizadas separação dos constituintes da parte aérea da planta: folhas, caules e a matéria total (MT) e realizados os ensaios de composição química e digestibilidade in vitro no Laboratório de Biotecnologia aplicada à Nutrição Animal da Universidade Católica Dom Bosco. Os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) foram determinados, respectivamente, de acordo com os métodos 930.15, 942.05, 976.05 e 920.39 (AOAC, 2000). Teores de minerais (MM) foram calculados como MM = 100 - MO. A determinação de fibra em detergente neutro (FDN) foi realizada de acordo com Mertens (2002). Os teores de fibra em detergente ácido (FDA) pela solubilização da celulose em ácido sulfúrico (H2SO4) utilizando o método de Robertson e Van Soest (1981). Para avaliação da digestibilidade in vitro foi adicionado substrato em sacos de TNT 5 x 5 cm, previamente tarados (em dessecador), numerados, em seguida 25 a 30 sacos foram acomodados em jarros com capacidade de 5 litros, os quais foram adicionados de 1,6 litros de saliva artificial de McDougall (com 0,1% glicose e uréia, pH=8,5); borbulhado o meio com CO2 até o pH atingir 6,9, vedando os jarros contendo válvula de Bunsen e colocados na incubadora Daisy II - ANKOM; adicionado 400 mL líquido ruminal de bovino (coado e transportado em garrafa térmica; borbulhar o meio com CO2 e incubado em 39°C por 48 horas, fazendo agitações constante; ao final foi adicionado 40mL de HCl 6N + pepsina (8 gramas), e mantendo agitação por mais 24 horas. Ao final, os sacos foram drenados, lavados e secos a 105°C, foram utilizados sacos em branco (sem amostras) para correção de impurezas.

Resultados e Discussão

Houve diferença (P<0,05) para todas as variáveis de composição centesimal dos componentes botânicos da Ora-pro-nóbis (Tabela 1). Para determinação do componente folha, nota-se superioridade para matéria mineral, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido, demonstrando a importância deste componente. O teor proteico das amostras apresentou valores de 17,07% para as folhas e 11,69% para o caule. Resultados que corroboram com os valores encontrados por Girão et al., (2003) sendo de 19,67% para as folhas e 9,56% para os caules. Além disso, Almeida Filho e Cambraia (1974) destacaram o aspecto alimentar da espécie Pereskia aculeata Miller, cujas folhas apresentaram teores de proteína que variou de 17,4% a 25,4%. Consta na Tabela 2 os teores médios de digestibilidade in vitro da ora-pro-nóbis. A determinação de digestibilidade da matéria seca (DIVMS) apresentaram valores médios de 63,01 nas folhas e 66,04 na parte aérea total (folha e caule) da Pereskia aculeata Miller, sendo a menor digestibilidade apresentada no caule, provavelmente pelos maiores valores encontrados para FDN e FDA (Tabela 1). No entanto a matéria total apresentou resultados de digestibilidade satisfatórios em relação a outras forrageiras utilizadas na nutrição de ruminantes. Sabe-se que a ora-pro-nóbis apresenta em média 20% de teor proteico e 85% de digestibilidade para seres humanos, além de elevados valores de aminoácidos essenciais, destacando-se a lisina, leucina e valina, podendo assim demonstrar aplicação farmacológica no tratamento e prevenção de patologias relacionadas a deficiências proteicas na nutrição humana (Sartor; Mazia, 2012; Rocha et al., 2008). Com os resultados do presente estudo da ora-pro-nóbis, pode-se determinar o grande potencial de sua utilização e fornecimento na nutrição de ruminantes, podendo ser uma alternativa relevante para complementos nutricionais.

Conclusões

A Pereskia aculeata Miller (ora-pro-nóbis) apresenta-se como uma boa alternativa na nutrição animal, demonstrando resultados satisfatórios na composição química e nos ensaios de digestibilidade in vitro, recomendando-se sua utilização para nutrição de ruminantes.

Gráficos e Tabelas




Referências

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