Composição química e estabilidade aeróbia de silagens de rebrota de sorgo reensiladas após diferentes tempos de exposição ao ar

Alan Figueiredo de Oliveira1, Fabiana Paiva Coelho Santos2, José Avelino Santos Rodrigues3, Diogo Gonzaga Jayme4, Lúcio Carlos Gonçalves5, Rafael Araújo de Menezes6, Luís Fernando Loiola de Oliveira7, Frederico Patrus Ananias de Assis Pires8
1 - UFMG
2 - UFMG
3 - EMBRAPA- Sete Lagoas
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8 - UFMG

RESUMO -

A produção de forragem sofre variações durante o ano em função de mudanças sazonais de clima. O sorgo se apresenta como boa opção forrageira por apresentar menor exigência hídrica quando comparado ao milho e possibilidade de utilização da rebrota. A baixa disponibilidade de área em algumas propriedades e à baixa aptidão de alguns produtores em produzir volumoso com eficiência torna a prática de reensilagem um manejo muito utilizado. A exposição da silagem ao ar causa deterioração aeróbia, desta forma, é importante determinar o tempo mais adequado para a reensilagem. As silagens de rebrota de sorgo foram reensiladas após 0, 8, 16 e 24 horas de exposição ao ar. Foram determinados os teores de proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina em detergente ácido (LDA) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS). Os teores de carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados por meio da fórmula: CNF = 100 – (%FDN + %PB + %EE + %MM). A estabilidade aeróbia foi calculada como o tempo, em horas, para que as silagens apresentassem elevação de 2°C em relação à temperatura ambiente após a abertura dos silos. Foi observado aumento nos conteúdos de EE e de MM e redução dos CNF. Observou-se efeito linear e quadrático nos conteúdos de EE e de CNF e linear de MM. Contudo, os conteúdos de EE não comprometeram a digestibilidade in vitro das silagens de sorgo. A reensilagem de silagens de sorgo até 24 horas de exposição ao ar não causou importantes alterações na composição química e na digestibilidade in vitro da silagem.

Palavras-chave: Composição química, Deterioração aeróbia, Reensilagem, Sorgo

Chemical composition and aerobic stability of regrowth sorghum silages after different exposure times to air

ABSTRACT - Forage production varies throughout the year due to the seasonal climate changes. Sorghum presents as a good forage option due to lower water requirement when compared to maize and to the possibility of regrowth. However, because of the low availability of area in some properties and low production of some farmers in efficient production, re-ensiling has become a very used management practice. Exposure of silage to air causes aerobic deterioration, thus, it is important to determinate how this deterioration influences the loss of nutritional value and to determine the most appropriate time for the re-ensilage. After 56 days of fermentation, sorghum silage was divided into four groups (exposed to air during 0, 8, 16 and 24 hours) and re-ensilaged. The levels of crude protein (CP), ethereal extract (EE), mineral matter (MM), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF) and acid detergent lignin (ADL) were calculated by the following formula: CNF = 100 - (% NDF +% CP +% EE +% MM). The aerobic stability was calculated as the time, in hours, so that the silages presented elevation of 2 ° C in comparison to the environment temperature after the opening of the silos. It was observed an increase in the contents of ethereal extract and mineral matter and reduction of non - fibrous carbohydrates. There was a linear and quadratic effect on EE and CNF and linear contents of MM. However, ethereal extract contents did not compromise the in vitro digestibility of sorghum silages. The re-ensiling of sorghum silages up to 24 hours of aeration did not cause significant in the chemical composition and did not influence the quality of fermentation and the in vitro digestibility of the silage.
Keywords: Chemical composition, Aerobic deterioration, Re-rehearsal, Sorghum


Introdução

Em virtude das condições climáticas do Brasil a disponibilidade de forragem ao longo do ano é irregular. Diante disso, a suplementação dos animais com silagem é uma das alternativas. O sorgo surge como cultura importante na agropecuária nacional, principalmente em relação ao milho, por apresentar bom valor nutritivo, uma vez que é uma gramínea bastante energética e com alta digestibilidade. Apresenta maior resistência ao déficit hídrico e sua produção de matéria seca por hectare possui rendimentos aproximados à cultura do milho quando comparado o primeiro corte, podendo apresentar produção superior por área considerando a rebrota.

Em função a erros no planejamento forrageiro e às perdas por deficiência no processo de ensilagem e pela falta de aptidão de alguns produtores, a tendência de comercialização de silagens por produtores especializados e a prática de reensilagem têm se tornado uma ferramenta importante de manejo em algumas propriedades. O processo de reensilagem consiste na transferência da silagem para a propriedade de destino. O valor nutritivo dessas forragens pode ser comprometido por perdas ocorridas por deterioração aeróbia em função à exposição ao ar das silagens por tempos variados.

Objetivou-se determinar o efeito da reensilagem sobre a composição bromatológica e a deterioração aeróbia de silagens de rebrota do sorgo reensiladas após diferentes tempos de exposição ao ar.



Revisão Bibliográfica

Dentre os diversos sistemas de produção animal, o mais econômico é a utilização de forrageiras por meio do pastejo. Contudo, em virtude das condições climáticas, principalmente na região central do Brasil, onde as estações do ano são bem definidas, a disponibilidade de forragem ao longo do ano é irregular. Neste contexto, para manter a produção constante ao longo do ano, é necessário que os animais recebam suplementação volumosa durante o período de escassez. A tendência de comercialização de silagens por produtores especializados torna a reensilagem uma ferramenta importante de manejo em algumas propriedades. Porém, o valor nutritivo dessas forragens pode ser comprometido por perdas ocorridas por deterioração aeróbia em função à exposição ao ar das silagens por tempos variados, o que pode comprometer o consumo e a produção animal. Segundo Jobim et al. (2007), a estabilidade aeróbia da silagem é conceituada como a resistência da massa de forragem a deterioração após a abertura do silo. E O´Kiely et al. (2001), definiram o aumento em 2°C na temperatura da silagem exposta ao ar como o rompimento da estabilidade aeróbia. A deterioração aeróbia se inicia, no caso da reensilagem, pela exposição por tempos variados ao ar da massa a ser reensilada. Em tais condições, pode ocorrer o crescimento de microrganismos que utilizam vários substratos da forragem ou os derivados da fermentação da silagem (Lindgren et al., 1985). A deterioração aeróbia nem sempre é acompanhada pelo aquecimento da massa ensilada, mas é invariavelmente seguida por diminuição do valor nutritivo da silagem em função do aumento nos conteúdos de FDN, de FDA e de MM e da redução na digestibilidade e no conteúdo de energia (McDonald et al., 1991; Pahlow et al., 2003). A atividade dos microrganismos que decompõem a silagem será mais intensa, quanto melhor for a qualidade da silagem, em função dos maiores teores de ácido lático e de carboidratos solúveis residuais (Jobim et al., 2007 ).

Materiais e Métodos

O sorgo BRS 655 foi plantado na Embrapa Milho e Sorgo. Após o período de fermentação de 56 dias, três partes dos silos foram abertos e após os tempos de 8, 16 e 24 horas, o material foi reensilado. Foi determinado a proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e lignina em detergente ácido (LDA). Os teores de FDN e FDA foram corrigidos quanto às cinzas e nitrogênio insolúveis em detergente neutro e ácido. Os teores de carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados pela fórmula: CNF = 100 - (%FDN + %PB + %EE + %MM). A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi realizada segundo procedimento descrito por Tilley e Terry (1963) e adaptado por Holden (1999). A estabilidade aeróbia foi realizada em baldes plásticos com 1,5 kg de amostra das silagens acondicionados em sala climatizada com temperatura de 25 ± 1°C, onde permaneceram por 8 dias. As temperaturas das silagens foram registradas em 0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 30, 36, 42, 54, 66, 1173 78, 90, 102, 114, 126, 138, 150, 162, 174, 186 e 198 horas utilizando-se um termômetro de mercúrio inserido a 10 cm de profundidade no centro da massa de silagem. A estabilidade aeróbia foi calculada como o tempo, em horas, para que as silagens apresentassem elevação de 2°C em relação à temperatura ambiente após a abertura dos silos (O´Kiely et al., 2001). Foram calculados também a temperatura (°C) máxima e o tempo necessário (horas) para atingir a temperatura máxima (McEniry et al., 2007). As variáveis foram analisadas em delineamento experimental de blocos ao acaso com 5 repetições (parcelas de campo). Foram utilizados 4 tratamentos, a silagem e os tempos de reensilagem (8,16 e 24 horas de exposição ao ar). Para a análise de variância foi utilizado o procedimento “GLM” do SAS®. Para determinar se o tempo de reensilagem resultou em efeito linear ou quadrático sobre os parâmetros medidos usou-se polinômios ortogonais.

Resultados e Discussão

Foi observado aumento nos conteúdos de EE e de MM e efeito quadrático dos CNF (p<0,05) (Tabela 1). As alterações dos conteúdos de EE e de CNF podem ser explicadas pela proporcionalidade dos nutrientes, pois a diminuição dos teores de CNF causou maior concentração relativa dos teores de EE. O teor de MM pode ser indicativo de perdas, pois, quando ocorrem fermentações secundárias, como o caso de silagem em deterioração aeróbia, ocorre redução de material orgânico, aumentando a participação relativa da MM na MS (Ashbell, 2002). Contudo, os conteúdos de EE não comprometeram a digestibilidade in vitro das silagens de rebrote de sorgo. A DIVMS está de acordo com Rodrigues et al. (2008) e Pesce et al. (2000) que avaliaram 20 genótipos de sorgo. A silagem controle apresentou maior susceptibilidade à deterioração aeróbia, uma vez que foi observado menor tempo para a perda da estabilidade aeróbia (p<0,05). Foi verificado aquecimento de 1ºC h-1 na silagem controle, enquanto na silagem exposta ao ar por 24 horas o aquecimento foi de 0,5 ºC h-1, dessa forma a silagem controle apresentou menor tempo para atingir a temperatura máxima (Tabela 2). As silagens adequadamente fermentadas e com características químicas superiores podem ser mais afetadas pela deterioração aeróbia em função das altas concentrações de ácido lático e de açúcares residuais (Gherlach et al., 2013; Weinberg; Muck, 1996). Esse fato pode explicar a maior suscetibilidade da silagem controle à deterioração aeróbia. Como afirmado por Jobim et al. (2007), após a abertura do silo, os ácidos orgânicos produzidos durante a fase fermentativa continuam exercendo efeito de preservação na silagem. No entanto, a presença do oxigênio na massa ensilada permite o crescimento de microrganismos aeróbios oportunistas que causam a deterioração aeróbia da silagem.

Conclusões

As alterações na composição química das silagens de rebrota de sorgo reensiladas até 24 horas não influenciou a qualidade de fermentação e a digestibilidade in vitro.   Agradecimentos Instituições financiadoras/parceiras: Departamento de Zootecnia - Escola de Veterinária UFMG; EMBRAPA – Milho e Sorgo; CNPq; CAPES, FAPEMIG.

Gráficos e Tabelas




Referências

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