COMPOSIÇÃO QUÍMICO-BROMATOLÓGICA DA SILAGEM DE MILHETO ADITIVADA COM MILHO DESINTEGRADO COM PALHA E SABUGO

Vanderli Luciano da Silva1, Aldi Fernandes de Souza França2, Débora Carvalho Basto3, Luiz Henrique Xavier da Silva4, Eduardo Rodolfo da Costa5, Eder de Sousa Fernandes6, Marciana Cristina da Silva7
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar as características químico-bromatológica da silagem de milheto forrageiro submetida a níveis de inclusão de MDPS como sequestrante de umidade. O milheto foi cultivado de forma convencional em solo de cerrado e utilizou-se da planta inteira para silagem, sendo esta picada de 1-2 cm e ensilada em mini silos de PVC com densidade de 550 kg/m³. Os tratamentos constituíram de quatro níveis de inclusão (0%, 5%, 10% e 15% da matéria fresca ensilada) e quatro repetições. Os mini silos foram abertos 60 dias após a ensilagem e foram analisados MS, PB, MO, EE, MM, FDN e FDA. A inclusão de MDPS na silagem de milheto forrageiro influenciou positivamente de forma significativa em todos os parâmetros analisados.

Palavras-chave: aditivos sequestrantes de umidade, matéria seca, mini silo, proteína bruta

CHEMICAL-BROMATOLOGICAL COMPOSITION OF MILLENNIUM SILAGE ADDITIVATED WITH DISINTEGRATED CORN WITH STRAW AND SABBAGE

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the chemical-bromatological characteristics of forage millet silage submitted to inclusion levels of MDPS as a moisture scavenger. The millet was cultivated in a conventional way in cerrado soil and the whole plant was used for silage, being this sting of 1-2 cm and ensiled in mini silos of PVC with density of 550 kg / m³. (0%, 5%, 10% and 15% of the ensiled fresh matter) and four replicates. The minimum silos were opened 60 days after ensiling and MS, PB, MO, EE, MM, NDF and FDA were analyzed. The inclusion of MDPS in forage millet silage influenced positively in all parameters analyzed.
Keywords: crude protein, dry matter, mini silo, moisture sequestrants


Introdução

Diversas opções para suprir a demanda de forragem, principalmente em período de escassez alimentar, vêm sendo estudadas. A técnica mais usual é a conservação da forragem excedente ou cultivada no período do verão para ser consumida no período mais crítico que é no inverno. A forma mais utilizada de conservar essa forragem é a confecção de silagem. A obtenção de resultados satisfatórios na criação de bovinos em termos de desempenho está relacionada com a produção em quantidade e qualidade das forragens. O milheto vem surgindo como uma boa alternativa de alimentação animal nos períodos de escassez de forragem, tendo em vista que poderá ser cultivados em áreas tropicais, áridas e semiáridas, solos com baixas fertilidades e rasos, locais com altas temperaturas e baixas precipitações. Apresenta grande potencial na produção de forragem para silagem na região central do Brasil como cultura principal ou como plantio de safrinha em sucessão a cultura principal (Pereira, et al., 1993). O maior fator limitante para produção de silagem de milheto é o baixo teor de matéria seca no material a ser ensilado. Objetivou-se descrever e discutir a composição químico-bromatológica da silagem de milheto forrageiro com a inclusão de Milho Desintegrado com Palha e Sabugo (MDPS) como sequestrante de umidade.

Revisão Bibliográfica

O milheto é uma cultura que surgiu a mais ou menos 2000 anos, é uma gramínea forrageira tropical, podendo ser cultivada anualmente ou no verão. Originou-se das regiões norte da África Ocidental, sendo posteriormente difundida pelo Sudão e Índia. O gênero Pennisetum abrange cerca de 140 espécies e está espalhado por todo o mundo (Grains, 1996). A ensilagem é o processo pelo qual ocorre o armazenamento da planta forrageira com o mínimo possível de perdas nutricionais destas. Este armazenamento ocorre em recipientes em condições de anaerobiose por meio da inibição dos microrganismos indesejáveis pela acidificação do meio, seja esta decorrente da fermentação natural por microrganismos ou da adição de produtos químicos. Este processo é dividido em quatro fases: aeróbica, fermentação anaeróbica, estabilidade e descarga (Pitt & Shaver, 1990). Nas silagens de plantas forrageiras com teores de matéria seca inferiores a 21%, carboidratos solúveis inferiores a 2,2% na matéria verde e baixa relação entre carboidratos e poder tampão, são maiores os riscos de fermentações secundárias, tornando-se imprescindível o uso de recursos que, de alguma forma, modifiquem esta situação (McDonald et al., 1991). O MDPS é obtido pela moagem, quebra, desintegração das espigas de milho inteira. É considerado como uma fonte energética na dieta de ruminantes com alto teor de MS. Trata-se de um alimento muito utilizado para bovinos de corte e para vacas de baixa produção. Inclui os grãos de milho (70%), o sabugo (20%) e a palha (10%), sendo mais indicado para animais em crescimento ou vacas secas (Valadares Filho, et al., 2010a). Segundo McDonald et al., (1991), os aditivos para silagem são classificados em cinco categorias: estimulantes da fermentação; os inibidores da fermentação; os inibidores da deterioração aeróbica; os nutrientes que são adicionados às forragens ensiladas objetivando melhorar seu valor nutritivo e; os absorventes de umidade. As gramíneas forrageiras tropicais não apresentam teores adequados de matéria seca, carboidratos solúveis e poder tampão que proporcione o eficiente processo fermentativo anaeróbico havendo perdas por processos de fermentação secundária, aeróbias e efluentes. Sendo assim deve-se realizar o manejo adequado e colher as plantas com teor de umidade ideal para favorecer o processo de compactação, o que favorece uma melhor fermentação e preservação dos nutrientes (Bergamaschine et al. 2006).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido nas dependências do Departamento de Produção Animal (DPA) da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O solo utilizado foi um Latossolo, de acordo com análise não foi necessário o procedimento de calagem (Martha Júnior et al. (2007). O preparo do solo foi o convencional, a semeadura foi manual, utilizando densidade de 40 sementes puras e viáveis por metro linear da cultivar ADR500 de milheto forrageiro, em uma área de 300 m². Na adubação de semeadura foram utilizados 80 kg ha-1 de P2O5 e 50 kg ha-1 de FTE BR–16. A adubação de cobertura foi realizada aos 17 dias após a semeadura com 40 kg ha-1 de K2O e 90 kg ha-1 de nitrogênio (Martha Júnior et al., 2007). Os tratamentos constituíram-se de quatro níveis de inclusão de MDPS (0%, 5%, 10% e 15% da matéria fresca ensilada). O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, sendo 4 tratamentos e 4 repetições. O milheto foi colhido manual a 15 cm do solo, com teor de matéria seca (MS) de 25,68% aos 78 dias após a semeadura, utilizando a planta inteira picada de 1-2 cm. Utilizou-se canos de PVC com 100 mm de diâmetro por 0,40 m de comprimento, vedados hermeticamente. Após 60 dias da ensilagem, ocorreu à abertura dos mini silos. Para análise, foram utilizadas as partes centrais de cada um. Em seguida foi retirada uma amostra de 0,5 kg de cada tratamento, que foi levada a estufa de ventilação forçada a 55ºC, durante 72 h, visando à determinação da matéria pré-seca. Posteriormente foram moídas em um milímetro de diâmetro para as análises químico-bromatológicas. Foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE), de acordo com metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). Os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram determinados pelo método sequencial descrito por Van Soest adaptado por Campos.

Resultados e Discussão

Na tabela 1 estão apresentados os teores médios da composição bromatológica do milheto forrageiro e do MDPS.

A composição químico-bromatológica da silagem de milheto forrageiro foi influenciada (P<0,05) pela inclusão do MDPS em todos os parâmetros avaliados (Tabela 2).

Conforme se observa na Tabela 2, houve uma influência positiva e significativa (P<0,05) em todos os fatores analisados na silagem. Os teores de MS determinados na silagem apresentaram variações de 26,53% para o tratamento controle até 38,69% para o tratamento com maior nível de inclusão de MDPS. Observa-se um aumento linear dos teores de matéria seca das silagens em função da adição de MDPS, reafirmando, portanto, a eficiência deste aditivo na elevação do teor de matéria seca do material ensilado. Os teores de matéria seca encontrados são superiores aos relatados por Trevisoli (2014), que encontrou valores de 20,14%, quando a silagem foi aditivada com casca de soja. Em relação à PB observou-se aumento linear (P<0,05) em função da elevação dos níveis de MDPS, variando entre 9,46% e 14,92%. Pode-se afirmar que o processo fermentativo transcorreu de forma adequada, sem ocasionar perdas nos teores de PB das silagens produzidas. Os tratamentos com inclusão de MDPS, apresentaram resultados superiores aos encontrados por Pinho, et al., (2013), que variou entre 8,57 a 10,82%. Os teores de MO, apresentaram variação de 84,61% a 85,98%, sendo que apenas o tratamento com a inclusão de 15% de MDPS (P<0,05) diferiu dos demais tratamentos. Esses valores são superiores aos encontrados por Pinho (2013) quando avaliou 5 cultivares de milheto,  com valores médios  de 84%. Os teores de extrato etéreo variaram entre 3,13 a 3,95%. O conteúdo de MM variou de 5,26 a 7,55%, estando dentro da faixa normal citada na literatura (Amaral, 2005). Em relação aos componentes fibrosos, os teores da FDN e FDA apresentaram interação (P<0,05) com redução linear em função da inclusão do MDPS com variação de 66,25% até 58,66 para FDN e 38,50 até 31,25% para FDA. A redução dos componentes fibrosos FDN e FDA, possivelmente, possam ser explicadas em função da constituição do aditivo ser predominantemente constituído por grande quantidade de carboidratos. Alimentos de baixa digestibilidade podem reduzir a ingestão de matéria seca, em decorrência da baixa taxa de desaparecimento ruminal e passagem pelo trato gastrintestinal. A FDN, em virtude das baixas taxas de degradação, é considerada o constituinte dietético primário associado ao efeito do enchimento (NRC 2001). Decréscimos na quantidade de FDN do alimento proporcionam aumentos na ingestão de MS, portanto, o resultado do presente estudo é satisfatório. A diminuição nos teores de FDA é uma boa indicação de melhoria no valor nutritivo das silagens, já que existe uma correlação negativa entre os teores de FDA e a degradabilidade do alimento, ou seja, com redução nos teores de FDA ocorre aumento da digestibilidade da MS (Van Soest, 1994).

Conclusões

O MDPS pode ser utilizado como sequestrante de umidade em silagem de milheto forrageiro, pois contribui diretamente nas melhorias das condições de fermentação pela manutenção da qualidade da silagem. Houve um aumento linear da proteína bruta, Estrato Etéreo e Matéria Mineral, comprovando a eficiência do aditivo melhorando a qualidade da silagem. A inclusão de 10% de MDPS sobre a matéria original foi o suficiente para melhorar a qualidade da silagem, aumentando os teores de MS, PB e reduzindo teores de FDN e FDA, o que contribui para uma melhor degradação ruminal da silagem.

Gráficos e Tabelas




Referências

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