Composição químico-bromatológica de frutos típicos do Pantanal sul-mato-grossense que podem ser utilizados na alimentação animal

Fabianna Costa da Fonseca1, Thamires de Assis Alves2, Dalton Mendes de Oliveira3, Edneia Pereira Rosa4
1 - Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS, Brasil. e-mail: fonsecafabia@gmail.com.
2 - Discente do curso de Zootecnia – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS, Brasil. Bolsista FUNDECT, e-mail: thami.assis.alves@gmail.com.
3 - Docente do curso de Zootecnia - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Aquidauana-MS, Brasil. e-mail: dmo@uems.br.
4 - Doutoranda em Ciência Animal - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande-MS, Brasil.

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi avaliar a composição químico-bromatológica de frutos típicos do Pantanal sul-mato-grossense. Foram analisados bocaiuva, pequi, jatobá, guavira e tamarindo. Determinou-se a matéria seca (MS) através da pré-secagem em estufa a 65ºC e, posteriormente, secagem definitiva em estufa a 105ºC. A cinza foi determinada em mufla a 600ºC. A proteína bruta (PB) foi realizada através do método Kjeldahl. Os lipídeos foram extraídos em aparelho Soxhlet, com uso de éter de petróleo como solvente. Foi utilizada solução de detergente neutro para determinar a fibra em detergente neutro (FDN). O resíduo de bocaiuva apresentou maior teor de MS (91,59%). A polpa de guavira apresentou maior teor de PB com 6,47%. O maior valor de cinzas foi da casca de bocaiuva com 3,91%. O pequi apresentou maior teor de EE e FDN, respectivamente, 53,38 e 54,32%. É possível a inclusão da maioria dos frutos analisados em dietas de animais de produção, com destaque para o pequi e a polpa de guavira.

Palavras-chave: Bocaiuva, guavira, jatobá, pequi, tamarindo

Chemical-bromatological composition of typical fruits of the Pantanal sul-mato-grossense which may be used in feed for animals

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the chemical-bromatological composition of typical fruits of the Pantanal of South-Mato Grosso. The analyzed fruits were bocaiuva, pequi, jatobá, guavira, and tamarind. Dry matter (DM) was determined by pre-drying in a greenhouse at 65ºC and then drying in an oven at 105ºC. The ash was determined in muffle at 600°C. Crude protein (CP) was performed using the Kjeldahl method. The lipids were extracted in Soxhlet apparatus, using petroleum ether as solvent. Neutral detergent solution was used to determine neutral detergent fiber (NDF). The bocaiuva residue had a higher DM (91,59%). The guavira pulp had a higher CP content with 6.47%. The highest ash value was of bocaiuva bark with 3.91%. The pequi presented higher EE and NDF, respectively, 53.38 and 54.32%.It is possible to include most of the fruits analyzed in diets of production animals, especially pequi and guavira pulp.
Keywords: Bocaiuva, guavira, jatobá, pequi, tamarindo


Introdução

Conforme há uma intensificação dos sistemas de produção, há também uma maior demanda de insumos alimentícios, não só para suprir os períodos críticos do ciclo anual de produção de forragens, bem como melhor expressar o potencial genético dos animais (FAGUNDES & FAGUNDES, 2010). Além disso, para os autores, a alimentação é o custo que mais onera a produção pecuária, por isso o uso de alimentos regionais alternativos vem se destacando no cenário atual. A utilização desse tipo de alimento vem sendo estudado sob várias vertentes, abrangendo o valor nutritivo e a digestibilidade, o desempenho, os parâmetros ruminais e sanguíneos, a produção e qualidade da carne ou do leite e, principalmente a viabilidade econômica deste uso (OLIVEIRA et al., 2012). Para Matuda e Maria Netto (2005), sementes de leguminosas arbóreas, como jatobá-do-cerrado, vêm sendo estudadas, tendo em vista sua utilização na alimentação animal em algumas regiões, em épocas de alimentação escassa. Análises realizadas pelos mesmos autores demonstram altos valores no perfil de aminoácidos, como por exemplo, a lisina, com 73 mg aminoácido/g proteína. Assim, objetivou-se no presente trabalho avaliar a composição químico-bromatológica de frutos típicos do Pantanal sul-mato-grossense que podem ser utilizados na alimentação de animais de produção, além disso, fazer um comparativo entre os mesmos e analisar a possibilidade e a viabilidade de fornecer tais alimentos como alternativa na dieta, de acordo com suas composições.



Revisão Bibliográfica

Pessoa et al. (2009), mensurando a digestibilidade dos nutrientes da casca de pequi para tilápias do nilo, afirmaram com base nos resultados obtidos que houve uma boa digestibilidade dos nutrientes na ração do farelo da casca do pequi. Os autores concluem que o farelo da casca de pequi se apresenta como uma possível alternativa para a alimentação de peixes, sendo necessário testes de desempenho para avaliar se realmente é viável a inclusão da mesma na dieta. Adicionalmente, Lima et al. (2007) avaliaram a composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi, e observaram que na polpa e na amêndoa do pequi, os constituintes predominantes são os lipídeos, prevalecendo nestes, ácidos graxos oleico e palmítico. Geron et al. (2015) avaliando os parâmetros ruminais, o consumo, a produção fecal e urinária de nitrogênio e o balanço de nitrogênio em ovinos alimentados com níveis crescentes de resíduo da extração da polpa de tamarindo, concluíram que a inclusão de até 15% de resíduo da extração da polpa de tamarindo na alimentação de ovinos não altera o valor de pH e nitrogênio amoniacal do líquido ruminal, o consumo de nitrogênio, nitrogênio urinário e balanço de nitrogênio. Os autores ainda alegam que a inclusão de 15% de resíduo da extração da polpa de tamarindo atua como agente laxativo. Para o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (2004), o conhecimento da composição química dos alimentos produzidos e consumidos no Brasil é fundamental para se alcançar precisamente a disponibilidade de nutrientes, verificando assim, a melhor adequação dos mesmos a dieta.



Materiais e Métodos

O projeto foi realizado na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, unidade de Aquidauana-MS. Os frutos foram coletados no município de Aquidauana e região, sendo: bocaiuva, pequi, jatobá, guavira, tamarindo e, subprodutos, sendo: farinha e resíduo de bocaiuva. As partes analisadas dos frutos foram a polpa e a casca da bocaiuva; a polpa do pequi; o fruto inteiro e a polpa da guavira; e a polpa do tamarindo. Os frutos foram coletados entre os meses de Agosto e Dezembro de 2016. A primeira análise realizada foi a determinação de matéria seca (MS), onde os frutos foram pesados em triplicatas e pré-secos em estufa a 65ºC, durante 24 horas e, posteriormente, moídos em peneira de 1 mm. Logo em seguida, foi pesado 2 gramas (em triplicata) de cada amostra e secos em estufa a 105ºC até peso constante. Após o procedimento, foram realizados os cálculos de matéria seca para obter os resultados. Nos mesmos recipientes com as amostras devidamente já pesadas, após a estufa 105ºC, os mesmos foram colocados diretamente na mufla a 600ºC para determinação de cinzas. Após o procedimento, foi realizado o cálculo de concentração de matéria mineral para obter os resultados. A determinação da proteína bruta (PB) foi realizada através do método Kjeldahl, utilizando o fator de conversão 6,25 (N x 6,25). E, em seguida, foi realizado o cálculo de correção da amostra para umidade residual e a conversão em equivalentes proteicos. Os lipídeos foram extraídos em aparelho Soxhlet, com uso de éter de petróleo como solvente. As determinações da fibra em detergente neutro (FDN) foram realizadas conforme metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002). Os resultados para PB, cinzas, EE e FDN são apresentados com base na matéria seca. Os cálculos foram realizados em planilha Excel e discutidos de forma descritiva em percentual.



Resultados e Discussão

O resíduo de bocaiuva apresentou maior teor de MS com 91,59%, seguido da farinha de bocaiuva (87,01%) e Jatobá (73,02%) (Tabela 1). Já a polpa de guavira apresentou maior teor de PB com 6,47% e o pequi 5,86%. Os maiores valores de cinzas foram apresentados pela casca de bocaiuva e tamarindo, com 3,91 e 3,71%, respectivamente. O pequi, a farinha de bocaiuva e resíduo de bocaiuva, apresentaram maiores valores de extrato etéreo (EE), com valores de 53,38, 20,85 e 19,55%, respectivamente. Já para os valores de FDN, se destacaram o pequi, com 54,32%, a guavira inteira com 34,42%, e jatobá com 34,37%.

Tabela 1.

Lima et al. (2007) avaliaram a composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi e, detectaram que, na polpa, há um elevado teor de fibra, dados estes que podem ser facilmente comparados aos obtidos neste trabalho. Já Marchi et al. (2011), avaliando frutos de bocaiuva determinaram as características nutricionais da massa moída mediante determinação da MS (45,5%), cinza (2,2%), PB (7,5%) e EE (8,5%). Os autores o consideram um alimento concentrado energético, pois apresentou mais de 60% de nutrientes digestivos totais, menos de 18% de FDN e menos de 20% de PB. Dados estes que são diferentes dos obtidos para FDN dos produtos oriundos da bocaiuva deste trabalho. Ademais, os mesmos autores apontam que a aceitabilidade por parte dos animais foi excelente, além disso, não houve rejeição dos animais e transtornos digestivos. Para os autores, na época de abundância de frutos de bocaiuva, a substituição do milho e farelo e/ou tortas na alimentação dos animais, pode gerar uma economia total de até R$100,00 por semana, referente a compra de 50 kg de milho (± R$30,00 o saco) e três sacos de farelo e/ou tortas (± R$24,00 o saco). Porém, uma das dificuldades ainda encontradas é a sazonalidade da oferta de frutos de bocaiuva, que pode ser superada se a massa triturada for adequadamente armazenada para ser fornecida aos animais na entressafra, já que a produção do fruto se concentra no segundo semestre. Em relação a gorduras e óleos, vêm sendo cada vez mais utilizados na alimentação de ruminantes, em substituição a altos teores de grãos, visando maior densidade energética e eficiência alimentar das mesmas associado a um consumo adequado de fibras para o bom funcionamento do rúmen, os resultados obtidos apresentam boa perspectiva de uso de pequi e subprodutos da bocaiuva na alimentação de ruminantes. Pessoa et al. (2009), Ribeiro (2010), Oliveira et al. (2015) e Moreno (2014) também apontam bons resultados quanto á inclusão de pequi na dieta de animais não ruminantes.



Conclusões

O pequi apresentou maior teor de EE e FDN. Já a polpa de guavira o maior teor de PB. De forma geral, é possível a inclusão da maioria dos frutos analisados nas dietas de animais ruminantes e não ruminantes, como alimentos alternativos e de baixo custo, já que são típicos do Pantanal.



Gráficos e Tabelas




Referências

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