Condenação por prenhez no abate de vacas
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RESUMO -
O trabalho foi conduzido em um frigorífico no município de Pelotas-RS, com objetivo de determinar o percentual de prenhez das vacas abatidas e o estágio de gestação das mesmas. Foram avaliadas 12.734 carcaças de vacas no período de outubro de 2013 a setembro de 2016. As fêmeas foram classificadas ao abate em vazias e prenhez de diferentes estágios de gestação. Os meses com maior incidência ao abate de vacas prenhes foram março (22,8%) e abril (20,63%). Nos meses de julho a outubro ocorreram as menores incidências de prenhez, com média de 6,15%. Os animais abatidos em terço final de gestação no período foram 74 fêmeas que corresponde a 5% em relação às prenhes (1460). Ocorreu uma diferença entre os quadrimestres e o número de prenhes no terço final da gestação, visto que os meses de junho a setembro teve maior incidência (P<0,05), com 9,58%. O percentual de vacas abatidas em estágio de gestação é alto, contribuindo para os baixos indicadores reprodutivos do rebanho.
Condemnation for pregnancy in slaughter of cows
ABSTRACT - The study was conducted on a refrigerator in Pelotas city, RS, with the aim of determining the percentage of pregnant cows and their gestation stage. Were assessed 12,734 cow carcasses from october 2013 to september 2016. The females were cassified to slaughter in empty cows and pregnants of diferent gestation stages. The months with the highest incidence of slaughter of pregnant cows were march (22.8%) and april (20.63%). On the months of july to october occurred the smallest incidence of pregnancy, with the middle of 6.15%. The slaughtered animals on the third trimester of gestation occurred on the period were 74 females corresponding to 5% of pregnancies (1460). There was a difference between the quarters and the number of pregnancies in the third trimester of gestation, since the months of june to september had a higher incidence (P <0.05), with 9.58%. The percentage of slaughtered cows on pregnancy stage is high, contributing to low reproductive indicators in the herd.Introdução
No Brasil quase a metade dos animais destinados ao abate são vacas de descarte, porém não ocorre diferenciação no preço pago pelo consumidor (REZENDE, 2012). Os produtores recebem uma remuneração menor, pois esses animais apresentam teoricamente qualidade inferior comparado com machos (VAZ et al., 2012). Este fato se deve ao abate das fêmeas estar relacionado a animais mais velhos ou que não emprenharam na estação anterior, estas que são descartadas para diminuir a lotação das propriedades. No entanto, em alguns casos as vacas de descarte podem estar prenhes (REZENDE, 2012). Além disso, um percentual destas fêmeas são encaminhadas ao abate no terço final da gestação, que segundo o RIISPOA no Art. 182 regulamenta a obrigatoriedade da destinação dessa carcaça a esterilização pelo calor, caso o frigorífico não possua esse método a carcaça é destinada a graxaria (MAPA, 2016). Este fato ocasiona dessa forma, prejuízos tanto para a indústria quanto para o produtor (BOTELHO, 2013). Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar o abate de uma planta frigorífica com inspeção estadual, no estado do Rio Grande do Sul, tendo como foco principal a incidência de abate de vacas prenhes.Revisão Bibliográfica
O abate de fêmeas no Brasil foi de 19,6 milhões de cabeças, representando 49,3% do total de abates. No Rio Grande do Sul (RS) foram 1,2 milhões de fêmeas abatidas, correspondendo 44,6% do total no ano de 2014 (ANUALPEC, 2015). Em sua grande maioria, são vacas de descarte que cumpriram suas funções reprodutivas no rebanho (REZENDE, 2012), possuem idade avançada, baixa habilidade materna (KUSS et al., 2005) ou são zootecnicamente inferiores. Além destes fatores, o descarte pode ser a partir de decisões tomadas devido ao clima, mercado ou redução do rebanho (TROXEL et al., 2002). O RS historicamente sofre com baixos indicadores reprodutivos no rebanho, com valores médios de 56% de taxa de natalidade. Independente das regiões do Estado, todas são consideradas baixas e com potencial de aumento da produção de bezerros (GONÇALVES, 2016). Porém, parte das vacas e novilhas enviadas ao abate encontram-se prenhes, geralmente durante os ciclos de baixa da produção, com preços de animais de reposição pouco atrativos (SORNAS et al., 2014). A ocorrência deste fato pode ser de forma intencional ou por erros administrativos nos sistemas de produção, com acasalamentos indesejáveis ou ainda erros nos diagnósticos de gestação (GRASSI; MÜLLER, 1991). Comumente essas vacas são emprenhadas por duas razões: engorda e facilidade de manejo. A engorda verificada durante a gestação é atribuída apenas ao fato do animal não entrar mais em cio, período este, que a vaca reduziria o consumo (AMARAL et al., 2010). Já a facilidade de manejo está relacionada com a mistura de lotes, inclusive com touros (GRASSI; MÜLLER, 1991). Por outro lado, ocorre a negligência dos produtores que muitas vezes enviam as vacas para o frigorífico sem fazer a correta palpação, ocasionando transtornos e muitas vezes ocorrência de partos no curral de espera. (SORNAS et al., 2014). O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) regulamenta no Art. 113 que deve ser evitado o abate de fêmeas no terço final de gestação (MAPA, 2016). Este fato é fundamental, pois causa perdas na cadeia produtiva em todos os elos.Materiais e Métodos
O trabalho foi conduzido em um frigorífico localizado entre as coordenadas 31° 43' 10.2'' latitude sul e 52° 17' 39.23'' longitude oeste no município de Pelotas – RS, distrito da Boa Vista, que opera sob critérios do SIE (Serviço de Inspeção Estadual). Foram utilizadas 12.734 vacas durante o período compreendido entre outubro de 2013 a setembro de 2016, sendo avaliadas fêmeas vazias e prenhes. As vacas determinadas como prenhes foram classificadas em dois estágios de gestação: prenhez inicial e prenhez de terço final de gestação. Os dados do frigorífico foram tabulados em planilhas do software Microsoft Excel® 2007 contendo as informações referentes ao ano/mês, lote de origem, local de origem, número de animais, número do abate, prenhez e condenações. Para análise, os dados brutos foram organizados em planilhas e analisados por frequências das ocorrências de vacas prenhes e não prenhes. As frequências foram obtidas mensalmente e por quadrimestre, independente da região de origem. Para a significância dos dados (P<0,05) foi utilizado o teste do Qui-Quadrado.Resultados e Discussão
A maior incidência de abate de vacas prenhes (Tabela 1) comparado aos demais foram nos meses de março (22,80%) e abril (20,63%), não diferindo entre si (P>0,05). Por outro lado, nos meses de julho a outubro houve menor incidência no abate de prenhes, sendo em média 6,15%, esse fato pode ser explicado por este período ser próximo ao parto em propriedades que utilizam a estação de monta tradicional no RS, no período entre primavera e verão. Outro fator de ocorrência de prenhez ao abate está atrelado a vacas que supostamente não emprenharam na estação anterior, mas foram propositalmente emprenhadas para um rápido ganho de peso (GRASSI; MÜLLER, 1991). Além deste fato, vacas prenhes ou castradas tendem a ter melhor acabamento de carcaça (SILVA et al., 2006), sendo este um motivador aos produtores para enviar as mesmas para o abate. Em se tratando de animais abatidos no terço final de gestação (Tabela 2), foram 74 fêmeas que chegaram ao frigorifico, correspondendo a 5% em relação às fêmeas prenhes (1460). O destino final destas carcaças é a graxaria industrial, obedecendo ao disposto na legislação vigente (MAPA, 2016). Ocorreu uma diferença (P<0,05) entre os quadrimestres e o número de prenhes no terço final da gestação, visto que o quadrimestre composto pelos meses de junho, julho, agosto e setembro teve maior incidência (9,58%), quando comparado aos demais períodos. No primeiro quadrimestre o qual compreende os meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro (7,33%), correspondem provavelmente, as vacas que ficaram prenhes na estação de monta anterior e que por erros de diagnósticos de gestação são igualmente enviadas para abate. A incidência de vacas no final da gestação com a condenação das carcaças foi maior no quadrimestre formado pelos meses de junho, julho, agosto e setembro, por coincidir com a proximidade dos partos dos sistemas produtivos que visam a produção de bezerros nascidos na primavera. Isso ocorre devido à dificuldade que o criador encontra em assimilar a gestação de vacas. Outro fator responsável pode ser a falta de recursos financeiros para realizar exames pelo médico veterinário. Além da gestação, o produtor é penalizado, visto que há diminuição do rendimento da carcaça à medida que a gestação progride, pois, o peso vivo é mais elevado em decorrência dos pesos do feto, útero e membranas fetais, podendo chegar a 80 kg no final da gestação (FERREIRA, 2010). No entanto, a carcaça é condenada no momento que o feto apresenta pêlos e cascos.Conclusões
Apesar do abate das vacas ser realizado após o descarte das mesmas por problemas produtivos, mas principalmente reprodutivos, ainda ocorrem muitas vacas sendo enviadas ao abate em condições reprodutivas adequadas. Vacas abatidas no terço final da gestação geram prejuízos para a cadeia produtiva da carne bovina, sendo importante a utilização de técnicas de gestão, as quais possam auxiliar na detecção da prenhez antes do envio das vacas para o abate.Gráficos e Tabelas

