Consumo de massa seca e comportamento ingestivo diurno de bovinos Nelores confinados em pasto em dieta de alto grão com ou sem adição de silagem de milho
Leticia Jalloul Guimarães1, Tiago Caliri de Souza2, Ana Cláudia Ambiel3, Murillo Ceola Stefafno4, Marco Aurélio Factori5, Paulo Claudeir Gomes da Silva6, Amandio Oliveira da Silva Junior7
1 - Discente de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, UEL, Londrina
2 - Zootecnista
3 - Coordenadora do curso de Zootecnia da Universidade do Oeste Paulista- Unoeste, Presidente Prudente
4 - Docente do curso de Zootecnia da Universidade do Oeste Paulista - Unoeste, Presidente Prudente
5 - Docente do curso de Zootecnia da Universidade do Oeste Paulista - Unoeste, Presidente Prudente
6 - Docente do curso de Zootecnia da Universidade do Oeste Paulista - Unoeste, Presidente Prudente
7 - Responsável Técnico do Laboratório de Nutrição Animal da Universidade do Oeste Paulista
RESUMO -
Objetivou-se avaliar o efeito da adição de silagem de milho no consumo e comportamento ingestivo diurno de bovinos Nelore confinados com dieta de grão de milho inteiro. Foram utilizados 16 bovinos da raça Nelore que foram distribuídos em 16 piquetes, formados com a gramínea Coast Cross. Os animais foram distribuídos em 2 grupos experimentais com 8 animais cada, que receberam durante todo o período experimental a dieta: 85% de milho grão inteiro e 15% de Pró-milho 15%(Premix). Sendo que um dos grupos recebeu junto à dieta 1,0 Kg de silagem de milho na matéria seca, considerando uma silagem com 33,4% de MS. O comportamento dos animais foi avaliado no período diurno, na adaptação e no período de terminação dos animais. O tratamento com silagem apresentou maior consumo de massa seca, desprendendo menor tempo em ócio em comparação ao sem silagem. A adição de silagem de milho na dieta de bovinos confinados em pasto aumenta a capacidade de ingestão de massa seca, diminuindo o tempo em ócio.
Palavras-chave: Ócio, Ruminação, Tempo
Dry matter consumption and diurnal ingestive behavior of Nellore cattle in feedlot fed with grain rich diet with or without adding corn silage
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of corn silage addition on the consumption and diurnal ingestion behavior of confined Nellore cattle on a whole corn grain diet. Were used sixteen Nellore bovines. The animals were distributed in 16 pens, pen with the Coast Cross grass. The animals were weighed and distributed in two experimental groups with 8 animals each, which received this diet during the experimental period: 85% whole grain corn and 15% Pro-corn 15% ®(Premix). Just one the groups received together the diet 1.0 kg corn silage in dry matter (DM), considering a silage with 33.4% DM. The animals behavior were valued in the diurnal period, in the adaptation and the finishing. The silage treatment had an increase in the dry matter consumption and a reduce idle period than the without silage group. With the addition of corn silage in the diet of cattle in feedlot increases the capacity of dry matter consumption, reducing the idle period.
Keywords: Idle period, Ruminating, Time
Introdução
No 1º trimestre de 2015, foram abatidos 7,732 milhões de cabeças de bovinos no Brasil sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária (IBGE, 2015). O país detém o maior rebanho bovino do mundo e é o segundo maior exportador e produtor de carne bovina (Anualpec, 2015).
Com isso vemos a necessidade de meios que melhorem a produção bovina e, principalmente, que consiga diminuir os efeitos climáticos nos resultados, sendo o confinamento uma estratégia.
Dos animais que chegam aos confinamentos brasileiros, à maioria não consumiu dietas com alta quantidade de grão (energia) ou receberam apenas suplementação mineral sem a presença de ingredientes energéticos (Ronchesel, 2012).
Conhecer o comportamento ingestivo possibilita o ajuste do manejo alimentar para obtenção do melhor desempenho produtivo (Mendonça et al., 2004). O estudo do comportamento animal tem grande importância para racionalizar a exploração zootécnica, empregar técnicas de manejo, instalações e alimentação (Ítavo et al., 2008). É necessário conhecer os hábitos do animal para proporcionar ao mesmo um manejo alimentar que permita aumentar seu desempenho produtivo e ao mesmo tempo respeitar as necessidades e limitações da espécie, além de nos proporcionar analisar a eficiência da dieta adotada.
Para tanto, objetivou-se avaliar o efeito da adição de silagem de milho no consumo e comportamento ingestivo diurno de bovinos Nelore confinados com dieta de grão de milho inteiro.
Revisão Bibliográfica
O Anualpec 2015 nos mostra que, apesar do Brasil apresentar o maior rebanho bovino mundial, está em segundo lugar na produção de carne bovina. Resende Filho, Braga e Rodrigues (2001) colocam como um dos entraves para a expansão da pecuária de corte brasileira o sistema de produção em pasto, tendo em vista as características climáticas das regiões que comportam o maior contingente dos bovinos explorados economicamente.
De acordo com Burgüi (2001), o confinamento pode ser visto como estratégia para o pecuarista, este autor também apontou alguns benefícios do confinamento e entre eles está a redução da lotação das pastagens durante a seca.
Souza et al. (2007) compararam, em estudo, o comportamento ingestivo de bovinos em pasto com o comportamento ingestivo de bovinos confinados, observando que, o tempo gasto com ruminação pelos animais em pasto é muito maior que no confinamento influenciando diretamente no ganho de peso dos animais, já que os animais confinados passaram mais tempo em ócio tiveram ganho de peso médio diário de 1,25kg e os animais em pasto tiveram ganho médio diário de 0,26kg.
Comparando o comportamento ingestivo de tourinhos com dietas de diferentes níveis de concentrados Missio et al. (2010) observaram que a eficiência de ruminação da matéria seca apresentou aumento linear com o aumento do nível de concentrado na dieta associando isso ao bolo alimentar regurgitado pelo animal, que em dietas com maiores proporções de concentrado, normalmente possui maior peso e menor quantidade de fibra em detergente neutro. Tal fato permite ao animal dar menor número de mastigadas por bolo e, consequentemente, ruminar menor número de bolos por dia sendo inverso para as dietas com menor proporção de concentrado.
No mesmo estudo, também foi observado que, o tempo destinado ao consumo de alimento apresentou comportamento linear decrescente com o incremento do teor de concentrado na dieta. Missio et al (2010) atribuíram esse comportamento ao teor de matéria seca e à concentração energética da dieta, demonstrando que o aumento do nível de concentrado na dieta proporcionou aos animais consumirem mais alimento e, principalmente, mais energia em menor tempo.
Com os estudos vistos pode-se perceber a eficácia de dietas com alto nível de concentrado, mas, ao mesmo tempo a necessidade da inserção da fibra para reduzir as chances de distúrbios digestivos nos bovinos.
Materiais e Métodos
O projeto foi realizado na Fazenda Experimental da Unoeste. Foram utilizados 16 bovinos da raça Nelore, com idade média de 24 meses, não castrados, com peso médio de 500 kg, na fase de terminação. Os animais foram distribuídos em 16 piquetes, cada animal representando uma unidade experimental, de 1500m², formados com a gramínea
Coast Cross e água à vontade.
Os animais foram pesados e distribuídos em blocos casualizados, em dois grupos experimentais com 8 animais cada, que receberam durante todo o período experimental duas dietas. Dieta 1: 85% de milho grão inteiro e 15% de Pró-milho 15%
Ò(Premix). Dieta 2: 85% de milho grão inteiro, 15% Pró-milho 15%
Ò(Premix) e 1,0Kg de silagem de milho na matéria seca (MS), considerando uma silagem com 33,4% de MS.
Os animais começaram recebendo 1,4% do peso vivo da mistura de milho + pró-milho até que o consumo se estabeleceu em 2,2 % do peso vivo. O aumento da dieta ocorreu de forma gradativa e individual de acordo com o consumo de cada animal.
Após 24 horas de fornecimento de alimento, as sobras foram retiradas e pesadas individualmente. O consumo de massa seca no período (CMSP) foi feito com a somatória dos 43 dias e o consumo de massa seca diário (CMSD) foi feito com a divisão do CMSP pelos 43 dias.
O comportamento dos animais foi avaliado pelo etograma adaptado de Ítavo et al. (2008), no período diurno das 7 horas às 17 horas, com observações a cada 10 minutos, no décimo dia de experimento, correspondeu ao período de adaptação, tendo este duração de 14 dias já que Torquato, Cabral e Vieira Júnior (2012) não observaram diferença significativa entre os períodos de 14 e 21 dias quanto às principais variáveis de rendimento, e saúde do rúmen; no quadragésimo dia de experimento, que correspondeu ao período de terminação dos animais.
Os dados foram avaliados por análise de variância utilizando-se o PROC MIXED do SAS (2003), sendo o teste de Tukey utilizado para comparação entre médias. Considerou-se significativos valores de P < 0,05.
Resultados e Discussão
O CMSD e CMSP (Tabela 1) foram influenciados pela adição de silagem na dieta, sendo que houve diferença entre os tratamentos e o tratamento com silagem apresentou maior CMSD e CMSP.
Dietas contendo alto teor de fibra em detergente neutro promovem redução do consumo de massa seca (MS) total, devido à limitação provocada pela repleção do rúmen-retículo (Arrigoni et al.,2013). Por outro lado, rações contendo elevados teores de concentrado e menores níveis de fibra também podem resultar em menor consumo de MS, uma vez que as exigências energéticas dos ruminantes poderão ser atingidas com menores níveis de consumo (Gonçalves et al., 2001).
O maior consumo do tratamento com silagem pode ser explicado pela inclusão do volumoso na dieta, já que o consumo de MS pode ser aumentado com a maior inclusão de FDN na dieta, desde que este não limite fisicamente à ingestão dos animais (Arrigoni et al., 2013).
Na adaptação o tratamento com silagem apresentou maior tempo em alimentação e em pastejo, com tempo desprendido em minutos de 85,00 e 166,25, respectivamente e o tratamento sem silagem com o tempo em minutos de, para as mesmas variáveis, 51,25 e 117,50 com P igual a 0,01 e 0,05 respectivamente.
O tratamento sem silagem apresentou maior tempo em ócio que o tratamento com silagem, 386,25 e 302,50 respectivamente com P igual a 0,01. Isso pode ser explicado pela adição da silagem que proporcionou maior conteúdo para ser ingerido fazendo com que o animal desprendesse mais tempo no cocho e tivesse maior quantidade de fibra para estimular a ruminação. Souza et al. (2007), avaliaram o comportamento ingestivo de tourinhos confinados e em pastagens, observando que animais mantidos em pastagens, com maior disponibilidade de fibra, apresentaram menor tempo em ócio.
Apesar do menor tempo em alimentação e em pastejo do tratamento sem silagem, o tempo em ruminação não apresentou diferença 55,00 e 56,25 minutos (P 0,94).
Na Tabela 2 apresentam-se os resultados da avaliação de comportamento do período terminação, onde pode ser observado que houve diferença para todas as variáveis estudadas.
No período de terminação o tratamento com silagem desprendeu mais tempo ruminando, alimentando-se e pastejando sendo que o grupo sem silagem passou maior tempo em ócio.
A redução no tempo de pastejo pelo tratamento sem silagem pode ser explicado pelo consumo do concentrado como observou Moreno (2002), que, avaliando o efeito da suplementação com farelo de milho sobre o desenvolvimento de novilhas em pastagens de azevém, observou que a suplementação energética esteve normalmente associada à redução no consumo de forragem.
Comparando o período de adaptação com a terminação, a redução, no tempo em pastejo de uma observação para a outra, deve-se principalmente a redução na disponibilidade de forragem, uma vez que, a observação do comportamento ingestivo na fase de adaptação ocorreu no dia 10 do experimento e a observação na fase de terminação foi feita no dia 40 do período experimental, sendo também a causa da redução no tempo de ruminação principalmente do tratamento sem silagem por não possuir outra fonte de volumoso.
Conclusões
Com o presente estudo pode-se concluir que a adição de silagem de milho na dieta de bovinos confinados em pasto aumenta a capacidade de ingestão de massa seca, diminuindo o tempo em ócio e aumentando o tempo em alimentação, ruminação e pastejo. Sendo que o elevado tempo em ócio dos animais sem silagem explica-se pela redução do tempo desprendido nas outras atividades avaliadas.
Gráficos e Tabelas
Referências
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