Consumo de nutrientes de ovinos alimentados com dietas contendo raiz e feno da parte aérea da mandioca

Daniella Cangussu Tolentino1, Aureliano José Vieira Pires2, Eder Jorge de Oliveira3, Gleidson Giordano Pinto de Carvalho4, Jéssica Maria Santana Pinto5, Natan Santana Araújo6, Marly Rosa de Jesus7, Cláudio Batista de Azevedo8
1 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
3 - Embrapa
4 - Universidade Federal da Bahia
5 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
6 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
7 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
8 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o consumo de nutrientes de ovinos alimentados com dietas contendo raiz e feno da parte aérea da mandioca. O experimento foi conduzido no setor de Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga, BA. Foram utilizados 30 ovinos mestiços, machos não castrados, com peso corporal médio inicial de 20,9 kg. Os tratamentos: T1 (feno da parte aérea da mandioca com 30% de inclusão da raiz da mandioca) e T2, T3, T4 e T5 (feno de Tifton 85 e níveis de 0, 10, 20 e 30% de inclusão da raiz da mandioca). O consumo de extrato etéreo foi maior para o tratamento com feno de Tifton 85 e 0% da raiz. O consumo de fibra em detergente neutro corrigido para cinza e proteína em kg/dia e %PC apresentaram menores consumos para a dieta controle. Efeito linear negativo para o consumo de extrato etéreo de acordo a inclusão da raiz da mandioca na dieta. A utilização do feno da parte aérea prejudica o consumo de nutrientes pelos ovinos.

Palavras-chave: alimento conservado, Manihot esculenta, níveis, ruminantes.

Nutrient intake of sheep fed diets containing root and hay of cassava shoots

ABSTRACT - The objective was to evaluate the nutrient intake of sheep fed diets containing root and hay of cassava shoots. The experiment was conducted in the Nutritional Tests of Sheep and Goats field of the State University of Southwest of Bahia, Itapetinga, BA. Thirty non-castrated mestizo sheep were used, with initial mean body weight of 20.9 kg. The treatments were: T1 (cassava shoot hay with 30% cassava root inclusion) and T2, T3, T4 and T5 (Tifton 85 hay and 0, 10, 20 and 30% root inclusion manioc). Ethereal extract consumption was higher for treatment with Tifton 85 hay and 0% root. The neutral detergent fiber intake corrected for ash and protein in kg / day and% PC showed lower intakes for the control diet. Negative linear effect for the consumption of ethereal extract according to the inclusion of cassava root in the diet. The use of aerial hay harms nutrient consumption by sheep.
Keywords: preserved food, Manihot esculenta, levels, ruminants.


Introdução

O rebanho ovino no estado da Bahia é composto por 2.812.360 cabeças, representando 30% do rebanho efetivo da região Nordeste, seguido pelos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, onde são encontrados animais sem padrão racial definido (SPRD) e das raças Santa Inês, Morada Nova e Somalis (IBGE, 2012). A criação ovina está destinada tanto à exploração econômica como à subsistência das famílias de zonas rurais, sendo a carne, o leite, a pele e a lã seus principais produtos para geração de emprego e renda (BRASIL, 2014). O atual quadro do sistema de criação ovina representa uma evolução em relação ao passado, quando a atividade era voltada apenas para o autoconsumo ou comercialização em mercados próximos, enfrentando limitações como a escassez de água, ausência de alimento para o rebanho em épocas de estiagens prolongadas e ofertas estacionais da carne. Objetivou-se avaliar o consumo de nutrientes de ovinos alimentados com dietas contendo raiz e feno da parte aérea da mandioca.

Revisão Bibliográfica

Os ovinos, assim como os demais ruminantes possuem particularidades em seu sistema digestivo tornando-os capazes de transformar resíduos agroindustriais em alimentos de alta qualidade, como leite e carne (Gonçalves et al., 2015). Porém, é fundamental conhecer as características destes alimentos, permitindo o estabelecimento de critérios para sua inclusão nas dietas dos animais. Embora os ruminantes tenham o ambiente ruminal a seu favor, que possibilita a utilização eficiente dos mais diversos tipos de alimentos, este mesmo ambiente pode ser sensivelmente afetado por alterações da dieta. A raiz de mandioca possui 87,5% de matéria seca, 3,3% de proteína bruta, 3,0% de matéria mineral, 0,7% de extrato etéreo, 19,1% de fibra em detergente neutro e 9,7% de fibra em detergente ácido de acordo Valadares Filho et al. (2006), o que destina este alimento a utilização como fonte de energia para os animais, sendo sua inclusão no concentrado ofertado. O consumo é um dos principais fatores que influenciam o desempenho animal, pois, determina 60 a 90% das variações de desempenho, enquanto apenas 10 a 40% dessas variações estão relacionadas à digestibilidade dos componentes nutritivos (Gonçalves et al., 2008). Como fonte de energia e fibra que são os componentes quantitativamente mais importantes das rações alimentícias para diferentes espécies de animais, a cultura da mandioca é a alternativa viável em um sistema de produção de carne ovina. Fornece aos animais quantidades necessárias de proteína, açúcares, vitaminas (A e C), minerais (cálcio e fósforo), acrescentado da aceitabilidade da fração fibrosa pelos animais, fato explicado, devido à palatabilidade do alimento.

Materiais e Métodos

O Experimento foi conduzido no setor de Ensaios Nutricionais de Ovinos e Caprinos e nos Laboratórios de Forragicultura e Pastagem, Fisiologia Animal e na Unidade Experimental de Caprinos e Ovinos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetinga - BA. Foram utilizados 30 ovinos mestiços, machos não castrados, com peso corporal médio inicial de 20,9 kg, distribuídos em cinco tratamentos e seis repetições. O experimento teve duração total de 77 dias, sendo os primeiros 14 dias de adaptação e três períodos de 21 dias cada para coleta de dados. Foi ofertado aos animais dietas com razão de 50% volumoso (feno da parte aérea da mandioca ou feno de Tifton 85) e 50% de concentrado (níveis de raiz da mandioca). As dietas testadas com base na matéria natural foram calculadas para conterem nutrientes suficientes para ganho de peso de 200 g/dia dos animais. O modelo de regressão foi utilizado para os níveis de inclusão da raiz da mandioca nas dietas e o teste de Dunnett para contrastar o tratamento controle com participação do feno da parte aérea da mandioca com os demais tratamentos contendo feno de Tifton 85. Para todos os procedimentos estatísticos adotou-se 0,05 como nível crítico de probabilidade. Foi registrado diariamente o consumo de cada animal (fornecido - sobras) para determinação do consumo de matéria seca, as sobras pós-consumo de cada animal foram amostrados diariamente, já alíquotas de concentrado e volumoso do fornecido foram coletados semanalmente e realizadas as análises de composição química: matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido, determinados conforme metodologia descrita no INCT (2012).

Resultados e Discussão

Na tabela 2 está apresentado o consumo voluntário de nutrientes pelos ovinos, as variáveis que não apresentaram efeito (P>0,05) com relação ao teste de Dunnett, foram: CPB kg/dia, CPB %PC, CPB g/kg0,75, CNDT kg/dia, CCT kg/dia e CCNF kg/dia. As dietas ricas em amido, advindo tanto do milho quanto da raiz e folhas da mandioca elevaram de modo próximo os teores de NDT, CT e CNF das rações, consequentemente, o consumo deste nutriente por todos os animais foi semelhante. O consumo de proteína foi semelhante por causa das dietas serem isoproteicas. O CEE apresentou diferença (P<0,05) somente da dieta controle para o tratamento com 0% de inclusão da raiz, sendo o consumo de 0,053 e 0,068 kg/dia, respectivamente. A dieta controle apresentou 5,9% de EE, já o tratamento com 0% de raiz foi de 6,5%, o que resultou em maior consumo deste nutriente. Somente as variáveis CFDNcp (kg/dia) e CFDNcp (%PC) apresentaram diferenças (P<0,05) do tratamento controle para todos os demais tratamentos com relação ao teste de Dunnett. O tratamento controle apresentou menores valores de CFNCcp 0,213 kg/dia e CFDNcp 0,90 %PC quando comparados com os demais tratamentos, sendo a variação para estes de 0,352 a 386 kg/dia CFDNcp e 1,33 a 1,38 %PC CFDNcp. O elevado consumo da fibra nos tratamentos contendo feno de Tifton 85 é justificado pela presença em altos teores dos nutrientes FDN e hemicelulose. A regressão utilizada apresentou efeito não significativo (P>0,05) para as variáveis, CPB kg/dia, CPB %PC, CPB g/kg0,75, CFDNcp kg/dia, CFDNcp %PC, CNDT kg/dia, CCT kg/dia e CCNF kg/dia. Houve uma variável com efeito linear negativo (P<0,05), o CEE. Para a cada inclusão de 1% da raiz da mandioca na dieta ocasionou um decréscimo o consumo deste nutriente em 0,0008 kg/dia, devido à redução do teor deste nutriente nas dietas com maiores inclusões de raiz.

Conclusões

A utilização do feno da parte aérea prejudica o consumo de nutrientes pelos ovinos.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/caprinos-e-ovinos/2014> Acesso em: 10 out. 2016. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2012> Acesso em: 10 out. 2016. INCT - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Ciência Animal. Métodos para análise de alimentos. Detmann, E.; Souza, M.; Valadares Filho, S.C.; Queiroz, A.; Berchielli, T.; Saliba, E. e Azevedo, J.A.G. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema, 2012. p.214. GONÇALVES, J.A.G.; ZAMBOM, M.A.; FERNANDES, T.; TININI, R.C.R.; SCHIMIDT, E.L.; CASTAGNARA, D.D.; CANABARRO, L.O.; CRUZ, E.A. Silagem de resíduo da extração de amido da mandioca em substituição ao milho moído da ração para ovinos. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.16, n.4, p.839-849, 2015. GONÇALVES, G.S.; OLIVEIRA, G.J.C.; JAEGER, S.M.P.L.; OLIVEIRA, R.L.; CAMPOS, J.O.; REZENDE, L.S. Desempenho de cordeiros alimentados com dietas contendo sal forrageiro de espécies vegetais xerófitas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.12, p.2185-2190, 2008. VALADARES FILHO, S.C.; PINA D.S. Fermentação Ruminal. In: Berchielli, T.T.; Pires, A.V. e Oliveira, S.G. Nutrição de ruminantes. 2ed. Jaboticabal: FUNEP, 2006. p.151-178.