Consumo de ovinos confinados alimentados com dietas contendo níveis crescentes de resíduo úmido de cervejaria no concentrado

Eduardo Matheus Nascimento Reis1, Aline Paiva Coelho2, José Antonio Alves Cutrim Junior3, Vitoria de Nazaré Carvalho Rocha4, Edneide Marques da Silva5, Eduardo Del Sarto Soares6, Anderson Lopes Pereira7, Igor Cassiano Saraiva8
1 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
3 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
4 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
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6 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
7 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -
8 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão Campus São Luís -

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o consumo de ovinos em confinamento alimentados com dietas contendo diferentes níveis de inclusão de resíduo úmido de cervejaria (0, 10, 20 e 30%). Foram utilizados 20 ovinos mestiços, com peso médio de 17,5 kg ± 1,51 kg, idade em torno de oito meses, em delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições. A inclusão de resíduo úmido de cervejaria (RUC) não influenciou (P>0,05) o consumo de matéria seca expresso em kg/dia, porém afetou (P<0,05) o consumo quando expresso em porcentagem do peso vivo e em porcentagem do peso metabólicos, apresentando em ambos os casos trajetória linear decrescente tendo o nível de 30% o valor de 2,65% e 5,85%, respectivamente. A conversão alimentar (CA) e a eficiência alimentar (EA) foram influenciados significativamente (P<0,05) pela porcentagem de inclusão de RUC, apresentando comportamento quadrático. Conclui-se que RUC afeta o consumo de matéria seca, melhora a conversão e eficiência alimentar até o nível de 30%.

Palavras-chave: Ovinos, Confinamento, Resíduo úmido de cervejaria, Consumo, Carcaça

Consumption of confined sheep fed diets containing increasing levels of wet brewery residue in the concentrate

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the consumption of confined sheep fed diets containing different levels of inclusion of wet brewery residue (0, 10, 20 and 30%). Twenty crossbred sheep, with an average weight of 17.5 kg ± 1.51 kg, aged around eight months, were used in a completely randomized design with five replicates. The inclusion of wet brewery residue (RUC) did not influence the consumption of dry matter expressed in kg / day, but affected (P <0,05) the consumption when expressed as percentage of live weight and Metabolic weight percentages, presenting in both cases a linear descending trajectory having a level of 30% of 2.65% and 5.85%, respectively. Feed conversion (CA) and feed efficiency (AE) were significantly influenced (P <0.05) by the inclusion percentage of RUC, presenting quadratic behavior. It is concluded that RUC affects dry matter consumption, improves conversion and food efficiency up to the level of 30%.
Keywords: Sheep, Confinement, Wet brewery, Consumption, Carcass


Introdução

O manejo alimentar representa a parte mais onerosa da produção e torna-se comprometido devido às condições climáticas adversas, que por sua vez reduzem drasticamente a qualidade e quantidade de forragem ofertada aos animais. E é pensando nesta baixa produção de forragem na estação seca, que vem se realizando o confinamento aliado a utilização de coprodutos da agroindústria como fonte de nutrientes (a baixo custo) para a criação dos animais (ALVES, 2012). Neste contexto, surge então a necessidade de se estudar o resíduo úmido de cervejaria, produto obtido a partir da fabricação de cerveja e gerado em grande quantidade dentro do estado do Maranhão, com destaque para a ilha de São Luís. Dessa forma, o presente trabalho objetivou avaliar o desempenho de ovinos em confinamento alimentados com dietas contendo diferentes níveis de inclusão de resíduo úmido de cervejaria.

Revisão Bibliográfica

O rebanho efetivo de ovinos no Brasil gira em torno de 17,614 milhões de animais, deste total 10,126 milhões encontram-se no Nordeste (IBGE, 2014). No entanto, é importante frisar que a priori a região Sul era quem detinha o maior rebanho de ovinos do país, estes eram criados para abastecer o mercado de produção de lã, mas com a crise deste mercado no fim da década de 80, os criadores se viram obrigados a buscar alternativas que viessem a minimizar os prejuízos e assim passaram a criar animais com dupla aptidão, tendo início a produção de carne e também a migração da ovinocultura para as demais regiões do Brasil (MARTINS et al., 2006). A agroindústria é um segmento forte na economia do Brasil, pois tem grande representatividade no abastecimento interno e exportação (SPADOTTO e RIBEIRO, 2006). Contudo, em meio às contribuições trazidas por este setor ao desenvolvimento do país, existe uma grande problemática vivenciada pelo mesmo, que neste caso é a imensa geração de resíduos e seu posterior destino.  Uma das possíveis formas de reaproveitamento dos resíduos agroindustriais é a sua utilização na alimentação animal, que além de conferir uma alternativa a mais para a alimentação do rebanho e reduzir custos de produção, também evita a contaminação do meio ambiente. Entre os coprodutos utilizados para a alimentação de ruminantes merece destaque: resíduo úmido de cervejaria. A primeira recomendação para utilização do resíduo de cervejaria data de 1956 e seria utilizado para alimentar bovinos leiteiros. Inicialmente foi utilizado como fonte de proteína e em seguida como suplemento concentrado nas rações de bovino de leite e corte, ovinos, suínos e cavalos (MORRISON, 1956). Dentre os fatores ligados a resposta produtiva do animal, o consumo é o de maior importância, pois 60 a 90% da variação observada na ingestão de energia digestível entre animais e dietas está relacionada as diferenças no consumo e somente 10 a 40% a diferenças na digestibilidade (CRAMPTON et al., 1957). Forbes (1995) definiu o consumo voluntário como sendo a quantidade de matéria seca ingerida espontaneamente por um animal ou grupo de animais durante dado período de tempo com acesso livre ao alimento. A ingestão é afetada por características do animal, do alimento e da forma de alimentação. Quando um animal recebe dietas de alta qualidade, o animal tende a se alimentar até suprir sua demanda energética, e neste caso o potencial genético é o fator limitante em utilizar a energia absorvida.

Materiais e Métodos

A pesquisa foi conduzida no Setor de Ovinocaprinocultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus São Luis – Maracanã. Os tratamentos foram constituídos por níveis crescentes de resíduo úmido de cervejaria (RUC) em dietas para ovinos nas proporções de 0, 10, 20 e 30% incluídos no concentrado. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, perfazendo quatro tratamentos experimentais. Foram utilizados cinco animais para cada um dos tratamentos, totalizando vinte animais experimentais, oriundos do cruzamento entre animais da raça Santa Inês e de animais sem padrão de raça definida (SPRD) com aproximadamente 8 (oito) meses de idade, com peso corporal (PC) médio inicial de 17,5 kg ± 1,51 kg. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas e isoenergéticas (Tabela 1), calculadas de acordo com as exigências prescritas pelo NRC (2007) para ovinos de maturidade tardia, com 20 kg de peso vivo e com um ganho de peso diário de 150 g/dia. A dieta controle era composta de feno do capim-tifton 85, farelo de soja, milho e calcário. As dietas foram divididas em duas refeições iguais e oferecidas aos ovinos, às 8 h e às 17 h, buscando-se deixar uma sobra média (MS) entre 10 e 20% por dia. Água e sal mineralizado “ad libitum” durante todo o experimento. Durante o período experimental foram realizadas pesagens diárias dos alimentos fornecidos e das sobras para determinação do consumo de MS (CMS, g alimento/dia), CA ( CMS/ganho de peso diário, g) e EA ( g ganho de peso/CMS x 100). Os dados foram analisados por meio de análise de variância e teste de comparação de médias, por meio do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade e análise de regressão. Como ferramenta de auxílio às análises estatísticas, foi utilizado o procedimento GLM e procedimento REG do programa estatístico SAS (Sas Institute, 2003).

Resultados e Discussão

O consumo de matéria seca (CMS), quando expresso em kg/dia, não sofreu influência (P>0,05) da inclusão de resíduo úmido de cervejaria (RUC) e também se mostrou inferior ao prescrito pelo NRC (2007) que seria de 760 g/dia. Essa diminuição no CMS pode estar atrelada ao fator limitante da utilização de RUC na formulação de dietas que é a alta porcentagem de água e que por sua vez diminui a ingestão. Houve redução do teor de MS das dietas à medida que houve inclusão de RUC. A dieta com 0% de inclusão obteve teor de MS de 80,81%, contra 67,67% para a dieta de 30% de inclusão de RUC. De acordo com o NRC (2001), a ingestão de MS apresenta relação negativa com dietas que tem alto ter de umidade. Brochier e Carvalho (2008) ao trabalharem com cordeiros da raça Texel confinados alimentados com dietas contendo diferentes proporções RUC, observaram que o CMS foi influenciado (P<0,05) pela proporção de substituição do alimento concentrado pelo RUC, apresentando comportamento quadrático, com máximo CMS que foi de 0,654 kg/dia quando a substituição foi feita ao nível de 31,1% do alimento.  Já Cabral Filho et al. (2007) ao avaliarem a substituição do feno de Tifton pelo RUC em dietas de ovinos em mantença, embora tenham encontrado redução significativa do consumo de MS (P<0,05), só observaram essa redução quando o nível de RUC foi de 67%, correspondendo a um consumo de 0,737 kg/dia, não houve diferença significativa entre os consumos das dietas com 100% de feno e 33% de RUC, onde os consumos foram de 1,090kg/dia e 1,029kg/dia, respectivamente. O CMS baseado na porcentagem do peso vivo (%PV) apresentou trajetória linear decrescente tendo o nível de 30% o valor de 2,65% (Tabela 2). Os valores das médias estão abaixo do prescrito pelo NRC (2007) que é de 3,8. O consumo de Matéria Seca (MS) expresso em porcentagem do peso metabólico (% PV^0,75) apresentou efeito linear decrescente, apresentando rápido aumento ao nível de 20% com consumo de MS de 6,78% PV^0,75 e voltando a decair ao nível de 30%, onde o consumo de foi de 5,85% (Tabela 2). A CA e EA foram influenciados significativamente (P<0,05) pela porcentagem de inclusão de RUC, apresentando comportamento quadrático. Para a CA, o nível de 30% foi o que apresentou melhor resultado 3,43 kg/kg e o nível de 8% apresentou a pior conversão 4,31 kg/kg. Os resultados encontrados estão de acordo com os preconizados por Ribeiro (1996) quanto a CA, pois segundo este autor a CA de cordeiro pode ser de 1:1kg/kg no período inicial da amamentação, pode baixar para 10:1kg/kg no período do desmame, se eles estiverem em pastagens pobres, na terminação podem chegar a 3:1kg/kg se alimentados com ração de boa qualidade.  A EA teve maior porcentagem para o nível de 30% com 29,13% e valor mínima de 23,60% para o nível de 8% Tanto a conversão quanto a eficiência alimentar obtiveram melhores resultados ao nível de 30% devido a composição da dieta, que tinha menor proporção de volumoso em relação às demais e menor FDN.

Conclusões

A inclusão de resíduo úmido de cervejaria no concentrado afeta o consumo de matéria seca, melhora a conversão e eficiência alimentar até o nível de 30% de inclusão.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVES, F. J. L. Fontes proteicas alternativas ao farelo de soja na alimentação de ovinos. 2012. Dissertação (Mestrado em Nutrição Animal) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa da Pecuária Municipal. 2014. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/pratabl.asp?c=3939&z=p&zo=28&i=P>. Acesso em: acessado em: 10.03.2017. MARTINS, E. C.; GARAGORRY, F. L.; CHAIB FILHO, HOMERO. Evolução da ovinocultura brasileira no período de 1975 a 2003. Embrapa Caprinos – CNPC, Comunicado técnico online, 67, 2006. SPADOTTO, C.; RIBEIRO, W. Gestão de resíduos na agricultura e agroindústria. São Paulo: FEFAP, 2006. MORRISON, F.B. Feed and feeding. 22nd revised edition. Clinton (IA). The Morrison Publishing Company, 1956. CRAMPTON, E.R. Interrelations between digestible nutrient and energy content, voluntary dry matter, intake and the overall. Journal of Animal Science, v.16, n.3, p.546-552, 1957. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats, cervids, and New World camelids. Washington, D.C.: National Academic Press, 2007. 292p. SAS INSTITUTE INC. Statistical Analysis System. Release 9.1. (Software). Cary, 2003. NRC - National Research Council. Nutrients requeriments of dairy catlle. 6 ed. Washigton: National academy press, 2001. 333p BROCHIER, M. A.; CARVALHO, S. Consumo, ganho de peso e análise econômica da terminação de cordeiros em confinamento com dietas contendo diferentes proporções de resíduo úmido de cervejaria. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.60, n.5, p.1205-1212, 2008. CABRAL FILHO, S. L. S. et al. Substituição do feno de tifton pelo resíduo úmido de cervejaria em dietas de ovinos em mantença. Ciência Animal Brasileira, v.8, n.1, p.75-73. 2007. RIBEIRO, L. A. O. Sobrevivência e desempenho de cordeiros do período perinatal ao desmame. In: SENAR. Programa de Treinamento em Ovinocultura. Porto Alegre: FARSUL/SENAR, 1996. 100p.