Consumo diário, eficiencia alimentar e digestibilidade de vacas Pantaneiras lactantes suplementadas com diferentes niveis de Farinha de Bocaiúva (Acromia aculeata)

Níkolas Cáceres de Oliveira Brochado1, Pedro Gustavo Loesia Lima2, Mariane da Silva Chiodi3, Rodrigo Carvalho Ferreira4, Vitória Soares5, João Pedro Brochado Souza6, Marcus Vinicius Morais de Oliveira7
1 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
2 - Universidade Estadual de Maringá
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
6 - Universidade da Grande Dourados
7 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

RESUMO -

Objetivando avaliar o consumo diário, eficiencia alimentar e digestibilidade da Farinha de Bocaiúva (Acromia aculeata) em vacas Pantaneiras lactantes suplementadas com diferentes níveis de farinha de bocaiúva. Foram avaliadas vacas Pantaneira (n=6), submetidas aos seguintes tratamentos: Controle (sem bocaiúva), BC200 – 0,2 kg de Bocaiúva, BC600 – 0,6 kg de Bocaiúva, BC1000 – 1,0 kg de Bocaiúva, BC1400 – 1,4 kg de Bocaiúva e BC1800 – 1,8 kg de Bocaiúva. Após o término de cada período de coleta, as amostras de pasto, fezes, ração e farinha de Bocaiúva homogeneizadas e determinado os teores bromatológicos. Verificou-se que o aumento da proporção de farinha de bocaiúva na dieta influenciou positivamente nos consumos médios de MS, porcentagem de peso corpóreo e grama por unidade de tamanho metabólico. A farinha de bocaiúva auxiliou no ganho de peso dos animais, alem disso foi observado um efeito linear no consume de materia seca e digestibilidade.

Palavras-chave: Alimentos Alternativos, Bromatologia, Leite, Racas Nativas

Daily consumption, feed efficiency and digestibility of lactating dairy cows supplemented with different levels of Bocaiúva flour (Acromia aculeata)

ABSTRACT - Aiming to evaluate the daily consumption, feed efficiency and digestibility of Bocaiúva flour (Acromia aculeata) in lactating cows supplemented with different levels of bocaiúva flour. The following treatments were evaluated: Control (without bocaiúva), BC200 - 0.2 kg of Bocaiúva, BC600 - 0,6 kg of Bocaiúva, BC1000 - 1.0 kg of Bocaiúva, BC1400 - 1.4 kg of Bocaiúva and BC1800 - 1.8 kg of Bocaiúva. After the end of each collection period, the samples of homogenized Bocaiúva grass, faeces, ration and flour were determined and the bromatological contents were determined. It was verified that the increase of the proportion of bocaiúva flour in the diet influenced positively in the average consumption of DM, percentage of body weight and gram per unit of metabolic size. The bocaiúva flour assisted in the weight gain of the animals, in addition a linear effect was observed in the consumption of dry matter and digestibility.
Keywords: Alternative Foods, Breed Native, Bromatology, Milk


Introdução

É notório que as oscilações nos preços dos concentrados estimulam a necessidade de se avaliar alimentos alternativos (Pimentel et al., 2012). Diante disso a Farinha de Bocaiúva (Acrocomia aculeata), torna-se uma opção interessante na região do Pantanal, haja vista que esta palmeira é nativa e seus frutos são abundantes. A farinha de bocaiuva (FB) é um produto regional, obtida artesanalmente através da secagem da polpa in natura seguida pelo processo de moagem e peneiramento para assim ser colocada a disposição dos consumidores (Kooper et al. 2009), sendo avidamente consumidos pelos animais. Objetivou-se avaliar o consumo diário, eficiência alimentar e digestibilidade da Farinha de Bocaiúva (Acromia aculeata) em vacas Pantaneiras lactantes, mantidas em regime de pastoreio rotacionado em capim Mombaça (Panicum maximum) e suplementadas com diferentes níveis de farinha de bocaiúva (Acrocomia aculeata).

Revisão Bibliográfica

Segundo Azevedo et al. (2013), a farinha de bocaiúva, torna-se um alimento especial para a dieta dos ruminantes, devido ao seu alto teor de energia, podendo ser uma alternativa viável para a substituição do milho. Aliando-se ao fato de busca por alimentos alternativos na região Sul Mato- Grossense, o estudo de animais em extinção, como é o caso dos bovinos Pantaneiros, faz-se relevante. Logo, a investigação da raça torna-se de interesse em se conhecer o seu potencial zootécnico e, consequentemente, evitar a perda deste recurso genético altamente adaptado à região do Pantanal.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros de Aquidauana (NUBOPAN) pertencente à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul / Unidade Universitária de Aquidauana (UEMS/UUA), localizada no Município de Aquidauana/MS, região do Alto Pantanal Sul-Mato-Grossense. As matrizes, com cerca de 415,1±3kg de peso corpóreo, receberam individualmente 3kg/dia de ração concentrada (Tabela 1) e mais diferentes níveis da farinha de bocaiúva (Acromia aculeata). Resultando os seguintes tratamentos: Controle (sem bocaiúva), BC200 – 200 gramas de Bocaiúva, BC600 - 600 gramas de Bocaiúva, BC1000 - 1.000 g de Bocaiúva, BC1400 - 1.400 g de Bocaiúva e BC1800 - 1.800 g de Bocaiúva. As matrizes também receberam diariamente 3 kg de ração concentrada, dividida em duas partes, logo após as ordenhas. No final de cada período experimental as vacas foram pesadas, para acompanhamento do peso corpóreo. O consumo de forragem pelos animais foi determinado indiretamente através da Fibra em Detergente Ácida Insolúvel (FDAi) como marcador interno, para a determinação da digestibilidade, segundo o método descrito por Craig et al. (1984). A produção fecal dos animais foi determinada realizando-se a coleta total de fezes num período de 24 horas. A digestibilidade aparente das dietas (pasto, ração e suplemento) foi determinada coletando-se 50 gramas de fezes na ampola retal, Nos últimos dias de cada período experimental. Nestes dias amostras de capim, de ração concentrada e da farinha de Bocaiúva foram coletadas, e juntamente com as amostras de fezes, e armazenadas a -20ºC. As amostras de capim foram coletadas utilizando-se a técnica do pastejo simulado. Após o término de cada período de coleta, as amostras de pasto, fezes, ração e farinha de Bocaiúva foram pré-secas em estufa de ventilação forçada a 65ºC por 72 horas. Em seguida as amostras foram moídas em moinho tipo Willey através de peneiras com crivo de 1 mm, homogeneizadas para confecção de amostras compostas por animal para cada período; e posteriormente determinado os teores de MS, MO, PB, FDN, FDA, CHOT, CNF, EE, MM e NDT. Após análises preliminares, foram realizados estudos de regressões, onde foram testados os modelos linear, quadrático e cúbico. Utilizando o programa estatístico R versão 3.2.1 (2015).

Resultados e Discussão

Segundo nossas investigações literárias esse foi um dos primeiros estudos que buscaram avaliar o perfil lipidico do leite de vacas com o consumo da farinha de bocaiúva como alimento alternativo. Verificou-se que o aumento da proporção de farinha de bocaiúva na dieta influenciou positivamente nos consumos médios de MS, expressos em kg/dia, porcentagem de peso corpóreo e grama por unidade de tamanho metabólico (Tabela 1). Todavia, não foi observado influência da farinha de bocaiúva nos consumos de PB, FDN e FDA. Neste ensaio, o consumo diário de FDN foi de 5,6 kg por animal, superior aos encontrados por Lopes et al. (2004), de 3%, todavia compreendidos pelo alto teor de FDN da farinha de bocaiúva. A eficiência alimentar diminuiu com o aumento da quantidade de farinha de bocaiúva (Tabela 6) indicando que a maior quantidade de alimentos ingeridos diminuiu a eficácia de conversão dos nutrientes em leite, provavelmente devido à baixa aptidão genética de produção de leite das vacas Pantaneiras. Vale ressaltar, que os animais utilizaram este alimento para continuarem crescendo e engordando. Assim, a elevação no consumo de matéria seca promoveu um maior ganho de peso, melhorando escore corporal das vacas. Desta forma os animais passaram de 404,65 kg de peso corpóreo inicial para 434,38 kg no final do ensaio, ou seja, um ganho médio diário de 354 gramas. Esse resultado se torna relevante, uma vez que, a avaliação do escore de condição corporal permite a análise das práticas de manejo adotadas e pode fornecer subsídios aos produtores na melhoria e na eficiência dos programas de manejo reprodutivo e nutricional (Santos et al, 2009). A digestibilidade da matéria seca (DMS), carboidratos totais, extrato etéreo, bem como dos nutrientes digestíveis totais e energia digestível apresentaram efeito linear crescente com a elevação dos níveis de farinha de bocaiúva (Tabela 2). Segundo Ramos et al. (2008) a farinha de bocaiúva possui carboidratos de rápida fermentação, combinado com o pequeno tamanho de partículas do alimento, pode melhorar a digestibilidade da dieta. Sendo assim,  melhora da digestibilidade de alguns nutrientes, pode ser atribuída ao aumento da farinha de bocaiúva na dieta. Ao avaliar níveis de suplementação para vacas leiteiras sob pastejo, Pimentel et al. (2011), verificaram aumento na digestibilidade dos nutrientes conforme houve elevação do concentrado ofertado.

Conclusões

Concluiu-se que houve uma melhora no consumo médio diário com aumento da proporção de farinha de bocaiúva na dieta. Houve também um efeito linear crescente na digestibilidade da matéria seca (DMS), carboidratos totais, extrato etéreo, bem como dos nutrientes digestíveis totais e energia digestível.

Gráficos e Tabelas




Referências

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