CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DA MATERIA SECA EM CAPRINOS SAANEN ALIMENTADOS COM NÍVEIS CRESCENTES DE GLUCOSE INDUSTRIAL NO SUCEDÂNEO

Érica Gonçalves da Fonseca1, Pedro Augusto Dias Andrade2, Iran Borges3, Luciana Freitas Guedes4, Poliana Rodrigues do Nascimento Gonzaga5, Luana Cristyna de Jesus Silva6, Michelle Cristina Fonseca Silva7, Samuel Piassi Teles8
1 - Alunos do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí
2 - Professor Substituto EBTT do IFMG-Campus Bambuí.
3 - Professor Titular da Escola de Veterinária - UFMG, Belo Horizonte – MG
4 - Professor Titular da FEAD, Belo Horizonte – MG
5 - Alunos do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí
6 - Alunos do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí
7 - Alunos do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí
8 - Alunos do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí.

RESUMO -

O trabalho teve como objetivo avaliar o consumo e digestibilidade de dietas contendo glucose industrial (0; 1,25; 2,50; 3,75) no sucedâneo reconstituído para caprinos lactentes. Utilizaram-se 20 cabritos Saanen, não castrados, com peso médio de 14,36±2,85 kg, alojados em gaiolas metabólicas individuais, em delineamento inteiramente casualizado, totalizando 4 tratamentos e 5 repetições cada. O consumo de matéria seca e coeficientes de digestibilidade foram obtidos via mensuração de ofertado, sobras e por coleta total de fezes. A inclusão de glucose no sucedâneo reduziu linearmente o consumo de matéria seca e matéria orgânica das parcelas experimentais (P<0,05). A inclusão de glucose industrial no sucedâneo para caprinos na fase de cria afeta o consumo de nutrientes pelos animais, ao demonstrar o nível de 2,50% de inclusão o mais favorável entre consumo e digestibilidade de nutrientes.

Palavras-chave: cabrito, energia, leite, nutrição

INTAKE AND DIGESTIBILITY OF SAANEN GOATS FEEDED WITH CRESCENTE LEVELS OF GLUCOSE ON LIQUID DIET

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the intake and digestibility of diets containing industrial glucose (0, 1.25, 2.50, 3.75) in the reconstituted substitute for lactating goats. A total of 20 unsanitary Saanen goats with a mean weight of 14.36±2.85 kg were housed in individual metabolic cages, in a completely randomized design, totaling 4 treatments and 5 replicates each. The dry matter intake and digestibility coefficients were obtained through measurement of available, leftovers and total collection of feces. The inclusion of glucose in the substitute linearly reduced the dry matter and organic matter consumption of the experimental plots (P<0.05). The inclusion of industrial glucose in the substitute for goats at the calving stage affects nutrient consumption by the animals, demonstrating the most favorable inclusion level between 2.50% of intake and nutrient digestibility.
Keywords: energy, kid, milk, nutrition


Introdução

A caprinocultura leiteira tem sido considerada uma alternativa viável devido à redução do tamanho das propriedades rurais, em especial aquelas próximas aos centros urbanos, bem como da mão de obra disponível nas zonas rurais, custo da terra e dos insumos têm direcionado para a implantação de atividades agropecuárias intensivas que possam maximizar a utilização (GUIMARÃES, 2004). Uma das etapas mais onerosas e complicadas da criação de caprinos leiteiros é a fase de cria devido a dependência de alimentos de alta qualidade para a categoria. Esse fato onera o custo do sistema e ainda potencializa a mortalidade nesse momento inicial da criação. Dentre diversas opções de substitutos do leite de cabra, o leite de espécie bovina e sucedâneo comercial tem sido os mais utilizados em sistemas de produção, mesmo não suprindo totalmente as exigências dos animais. Nos últimos 20 anos, correções dos valores nutricionais foram propostas ao se trabalhar com sucedâneo para caprinos através de aditivos proteicos e energéticos. Dentre eles a glucose industrial tem se mostrado promissora como incremento ao valor energético do sucedâneo. Dessa maneira, o presente estudo buscou avaliar o consumo e digestibilidade de matéria seca em caprinos Saanen alimentados com sucedâneo com ou sem adição de glucose industrial.

Revisão Bibliográfica

Ao longo dos anos, a tentativa de reduzir a quantidade de leite oferecido para os animais na fase de cria, bem como a substituição do leite de cabra por um análogo sem provocar prejuízos ao desenvolvimento dos animais, tem sido alvo de pesquisa, uma vez que o alto valor nutritivo do leite de cabra, aliado ao seu alto valor de mercado são fatores que justificam a redução forçada de ingestão e introdução de fontes alternativas no aleitamento caprino (ANDRADE, 2015). Diversas são as opções como substituto, dentre eles o leite da espécie bovina, o colostro bovino fermentado, e o sucedâneo comercial (soro de leite em pó enriquecido). Para correção dos valores nutricionais do sucedâneo bovino para caprinos, aditivos energéticos e proteicos têm sido incorporados à dieta. Dentre os ingredientes mais comumente utilizados, a glicerina bruta e a glucose industrial visam incrementar o valor energético do sucedâneo. A glucose industrial é um sacarídeo derivado do amido podendo ser encontrada na forma aquosa ou em pó, ambas concentradas, sendo geradas a partir da hidrólise ácida e/ou enzimática (α-amilase, β-amilase e glucoamilase) de fontes ricas desse carboidrato, em especial o milho (HULL, 2010). O estudo da inclusão desta abrange a alimentação em diversas áreas, como na medicina humana, na dieta líquida de suínos, borregos e bezerros. Porém nenhum trabalho é relatado na literatura sobre seu uso na fase inicial de caprinos em lactação (ANDRADE, 2015).

Materiais e Métodos

O ensaio foi conduzido na Fazenda Capril Tri-Queda, Coronel Pacheco-MG, sob número de re­gistro CETEA 197/10. Foram utilizados 20 cabritos da raça Saanen em aleitamento, com peso de 14,36±2,85 kg. Os animais foram pesados, identificados, vermifugados, alojados em gaiolas individuas, onde foram divididos em quatro grupos de cinco cabeças, destinados a receber glucose adicionada ao sucedâneo Lacthor® (Controle, Glucose 1,25; 2,5 e 3,75%). A dieta experimental foi formulada para ganho de 200 g/dia (NRC, 2007), sendo ajustada semanalmente de acordo com o consumo dos animais para garantir 20% de sobra, e o fornecimento de sucedâneo fixo em 1 litro por animal/dia (Tabela 1). As dietas foram compostas por feno (30,00%), farelo de milho (52,50%), polpa cítrica (5,08%), farelo de soja (10,50%), sal branco (0,35%), suplemento mineral (0,70%), fosfato bicálcico (0,17%), bicarbonato de sódio (0,35%) e calcário calcítico (0,35%), para garantir uma matéria seca de 98,18%, proteína bruta de 12,93%, energia bruta de 4122,95 Kcal/g, FDN de 32,22%, FDA de 14,92%, extrato etéreo de 4,43%, cálcio de 1,56% e fósforo de 1,81%. Iniciou-se o experimento aos 45 dias após o nascimento dos animais. Estes foram então submetidos a mais 15 dias de adaptação experimental, gaiola e dietas, e posterior cinco dias de coleta. De cada animal foram feitas amostragem em porções individuas da ração e das sobras do dia anterior, processo feito antes da primeira refeição, sendo estas pesadas, homogeneizadas, e retiradas porções 10% do peso e colocadas em câmeras frias, para futuras análises laboratoriais (SILVA e LEÃO, 1979).  Para determinação da matéria seca, matéria mineral e matéria orgânica seguiu-se a metodologia proposta por AOAC (1997). Desta forma, formou-se um delineamento inteiramente ao acaso e submeteram as médias ao teste SNK a nível de 5% de probabilidade na análise de variância.

Resultados e Discussão

Na tabela 2 estão apresentados consumo e digestibilidade das matérias seca e orgânica das dietas com adição crescente de glucose ao sucedâneo por peso vivo e peso metabólico de cabritos Saanen. Observou-se decréscimo do consumo de matéria seca e matéria orgânica em função da inclusão de glucose na dieta dos animais (P<0,05). Aparentemente a redução de consumo encontrada, foi estabelecida pelo animal por saciedade química, e não por repleção do trato digestório. Pequenos ruminantes têm a capacidade de adaptação às mais diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar e manter determinado nível de consumo compatível com as exigências nutricionais (SILANIKOVE, 1992; CARDOSO et al., 2006). Além disso, se a densidade energética da ração for alta, isto é, com baixa concentração de fibra em relação às exigências do animal, o consumo será limitado pela demanda energética e o animal poderá deixar de ingerir alimentos, mesmo que o rúmen não esteja repleto. Por outro lado, se a dieta for de baixa densidade energética, o consumo será limitado pela repleção ruminal (ÍTAVO et al., 2002).

Conclusões

A inclusão de glucose industrial no sucedâneo para caprinos na fase de cria afeta o consumo de nutrientes pelos animais, ao demonstrar o nível de 2,50% de inclusão o mais favorável entre consumo e digestibilidade de nutrientes.

Gráficos e Tabelas




Referências

ANDRADE, P.A.D. Inclusão de glicerina bruta e glucose industrial na dieta de caprinos saanen em crescimento. 2015. 67f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2015. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. Official Methods of Analysis. 16ed. Gaithersburg, MD: AOAC International, 1997. CARDOSO, A.R.; CARVALHO, S.; GALVANI, D.B. et al. Comportamento ingestivo de cordeiros alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutro. Ciência Rural, v.36, n.2, p.604-609, 2006. COELHO DA SILVA, J.F.; LEÃO, M.I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. Piracicaba: Livroceres, 1979. 380p. GUIMARÃES, M.P.S.L.M.P. Custos de produção do leite de cabra - Capril Sanri, Florestal, MG. In: ENCONTRO DE CAPRINOCULTORES DO SUL DE MINAS E MÉDIA MOGIANA, 5, Espirito Santo do Pinhal, 2001. Anais... Espirito Santo do Pinhal:CREUPI, 2001. HULL, P. Glucose Syrups: Technology and Applications. Oxford, UK:Wiley-Blackwell, 2010. 368p. ÍTAVO, L.C.V.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, F.F. et al. Níveis de concentrado e proteína bruta na dieta de bovinos Nelore nas fases de recria e terminação: Consumo e digestibilidade. Rev. Bras. Zootecn., v.31, n.2, p.1033-1041, 2002. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirement of small ruminants: 1 ed. Washington: National Academy Press, 2007, 362p. SILANIKOVE, N. Effects of water scarcity and hot environment on appetite and digestion in ruminants: a review.  Livestock Production Science, v.30, p.175-194, 1992.