Consumo e digestibilidade de nutrientes em ovinos com a inclusão de própolis na dieta1

Letícia Menegazzo1, Indiara Patricia Martins2, Jurandy Gouveia Júnior3, Rodrigo de Nazaré Santos Torres4, Douglas dos Santos Pina5, Eduardo Henrique Bevitori Kling de Morais6, Rayane Pinho Bezerra7, Henrique Melo Silva8
1 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
2 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
3 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
4 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
5 - Universidade Federal da Bahia
6 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
7 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop
8 - Universidade Federal de Mato Grosso Câmpus Sinop

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da inclusão de própolis bruta na dieta de ovinos sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes. O experimento foi conduzido na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) campus Sinop. Foram utilizados quatro ovinos machos com peso médio de 42,3 ± 5,7Kg, distribuídos em um quadrado latino 4×4, todos estes fistulados no rúmen e mantidos em gaiola metabólica, perfazendo sua permanência por 48 dias, divididos em 4 períodos com 12 dias cada, os sete primeiros dias utilizados para adaptação dos animais a dieta e os demais cinco para coleta de amostras. Os tratamentos foram organizados em: 0, 4, 8 e 12 g/dia de própolis, em todos os tratamentos a própolis foi moída e misturada a ração. Para estimativa do consumo e coeficiente de digestibilidade dos nutrientes foi realizada coleta total de fezes e sobras. Houve apenas decréscimo linear no consumo de FDN com a inclusão de própolis. A adição de própolis bruta em até 12 g/dia em dietas de ovinos não influência o consumo e o coeficiente de digestibilidade da maioria dos nutrientes.

Palavras-chave: aditivos, metabolismo animal, ração

Intake the digestibility of nutrients in sheep adding the propolis in diets

ABSTRACT - This study aimed to evaluate the effect of inclusion of crude propolis in sheep diet on consumption is digestibility is ruminal parameters. The experiment was conducted at the Federal University of Mato Grosso (UFMT) campus Sinop. Four male sheep were used with an average weight of 42.3 ± 5.7 kg, distributed in a 4x4 Latin square, all these rumen and kept in metabolic cage, making their stay for 48 days, divided into four periods of 12 days each, the first seven days used to adapt the animal diet and the remaining five for sample collection. The treatments were arranged in: 0, 4, 8 and 12 g / day of propolis in all treatments propolis was ground and mixed with feed. To estimate consumption and nutrient digestibility were carried out total collection of feces and remains. There was only a linear decrease in the consumption of NDF with the inclusion of propolis. The inclusion of propolis in the 12g/day in diet did not influence the consumption and coefficient of digestibility of most nutrients.
Keywords: additive, animal metabolism, ration


Introdução

O mercado consumidor está cada vez mais exigente em relação aos produtos de origem animal que receberam aditivos em suas rações. Em função disso, é crescente a procura por aditivos naturais que possam substituir os antibióticos utilizados como aditivo.

Neste contexto a utilização de própolis, sendo este composto oriundo da coleta e processamento da resina vegetal pela abelha, e utilizado pelas mesmas como produtos de higienização da colmeia, devido suas ações antimicrobiana, esta tomando destaque em função da presença de alguns componentes possuírem efeitos sobre a permeabilidade da membrana citoplasmática das bactérias aos íons, causando a dissipação da membrana, caracterizando-a como substância ionófora (Mirzoeva et al. 1997), mas ainda não se sabe exatamente todos os efeitos causados pela própolis (Stradiotti et al. 2004).

 

Dessa forma, objetivou-se com este estudo avaliar o efeito da inclusão de própolis bruta sobre o consumo e digestibilidade dos nutrientes.



Revisão Bibliográfica

.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Pesquisa em Metabolismo Animal, na Universidade Federal do Mato Grosso campus Sinop, sendo as análises químico bromatologicas da própolis, da dieta, das sobras e das fezes realizadas no Laboratório de Nutrição Animal e Forragicultura, localizado na mesma instituição.

                Os animais foram alocados em gaiolas de metabolismo individual segundo o delineamento em quadrado latino (4x4). Foram usados quatro ovinos machos castrados da raça Santa Inês com peso médio 42,3 ± 5,7Kg, todos fistulados no rúmen, recebendo dieta que atenda às suas exigências conforme NRC (1985), com a proporção de volumoso e concentrado (40:60).

                O volumoso foi constituído de capim elefante (Pennisetum purpureum Schumach) triturado e o concentrado composto de milho e farelo de soja, todos os animais receberam sal mineral (Tabela 01).

 

Tabela 1: Composição bromatologica da dieta e da própolis.

 ITENS

COMPOSIÇÃO (%MS)

MS

MO

MM

PB

EE

FDN

Volumoso

21,95

20,74

1,21

6,55

3,84

68,21

Concentrado

85,93

85,30

0,63

18,86

4,17

15,00

Própolis

99,60

99,46

0,14

3,24

61,80

----

MS= Matéria seca; MO= Matéria orgânica; MM= matéria mineral; EE= extrato etéreo; FDN= Fibra insolúvel em detergente neutro; PB= Proteína bruta.

 

Todos os animais foram alimentados duas vezes ao dia às 08:00 e as 16: 00 horas. O experimento teve duração de 48 dias, sendo divido em quatro períodos constituídos de 12 dias cada, dos quais, os sete primeiros dias de cada período foram destinados à adaptação dos animais e os demais, cinco dias para coleta de fezes e sobras.

Os tratamentos foram organizados na seguinte maneira: 0, 4, 8 e 12 g/dia de própolis, sendo em todos os tratamentos a própolis moída e misturada a ração. As coletas de volumoso, concentrado e fezes foram realizadas num período de 12 horas, durante cinco dias, sendo este último coletado por meio de bolsa coletora. As sobras foram coletadas duas vezes ao dia. Os materiais coletados foram mantidos congelados (-5º C) para posterior análise.

As amostras de fezes, dieta, sobras e própolis foram realizadas as análises de matéria seca (MS); matéria mineral (MM); extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB) e fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), conforme descrito por Silva & Queiroz (2002).

                Para determinar os coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes MS, PB, EE, FDN, CNF foi utilizado a seguinte equação:

CD (%)= (MS ingerida X %Nutriente) – (MS excretada X % Nutriente)

---------------------------------------------------------------------------------X100

(MS ingerida X %Nutriente)

                Os teores de CNF nas amostras de alimento, sobra e fezes foram estimados por meio da equação proposta por Hall, (2000):

%CNF= 100 – (%PB+%FDN+%EE+%MM)

                As variáveis foram analisadas segundo o delineamento em quadrado latino (4 X 4) conforme o modelo abaixo:

Yijk = μ + PPi + Aj + Pk +  εijk

                Em que: yijk: observação referente ao efeito do nível de própolis I, no animal J no período K; μ: média geral; PPi: nível de inclusão de própolis (I = 0, 4, 8, e 12 g/dia); Aj: efeito do animal J; Pk: período experimental K e εijk: Erro aleatório associado à cada observação.

 

                O efeito dos níveis de inclusão de própolis na dieta foi avaliado através da partição da soma de quadrado de tratamentos em contrastes ortogonais para avaliar o efeito linear, quadrático e cúbico. Todas as análises estatísticas foram feitas no SAS (Sistema de Análises Estatísticas, versão 9.0) por meio do procedimento PROC GLM (SAS, 2005), considerando 0,05 de probabilidade para o erro tipo I.



Resultados e Discussão

Houve diferença significativa (P<0,05) para o consumo de FDN (Tabela 02), sendo observado efeito linear decrescente com a inclusão de própolis na dieta, os demais nutrientes não apresentaram efeito significativo para a inclusão da própolis. Numericamente é observado a redução dos valores para todos os itens da Tabela 02, com a inclusão de 12 (g/dia) de própolis.

 

Tabela 02: Consumo de nutrientes em função dos níveis de própolis.

Itens

Inclusão de Própolis (g/dia)

Média

CV (%)

CONTRASTE 1

0

4

8

12

L

Q

MS (g)

733,02

734,01

734,95

613,89

703,97

11,42

0,90

0,17

MO (g)

726,51

728,59

728,42

608,02

697,89

11,42

0,09

0,17

PB (g)

97,56

97,27

97,45

80,74

93,26

13,73

0,13

0,25

EE (g)

29,39

25,85

29,47

20,81

26,38

19,58

0,10

0,36

FDN (g)

287,44

287,63

288,32

274,21

285,08

3,86

0,04

0,08

CNF (g)

312,11

313,07

313,17

263,25

300,41

13,65

0,16

0,26

MS/(g/KgPC0,75)

46,25

46,41

46,41

38,49

44,39

12,92

0,11

0,21

FDN/(g/KgPC0,75)

18,06

18,16

18,07

15,17

17,37

9,55

0,06

0,12

MS= matéria seca; MO=matéria orgânica; EE= extrato etéreo; CNF=carboidratos não fibrosos; PB=proteína bruta. (CONTRASTE= L=linear; Q=quadrático).

 Este comportamento pode estar associado com a extrapolação de suas ações antimicrobiana não apenas sobre protozoários e bactérias gram-positivas, como bactérias gram-negativas, resultando na redução da degradação dos componentes do alimento no rúmen com consecutivo aumento da passagem dos mesmos para o intestino. Podendo ser resultado da diversidade de compostos com atividade biológica na própolis.

Aguiar et al. (2014), também observaram efeito significativo para o consumo de FDN, quando avaliaram o uso de produto à base de própolis na dieta de vacas de leite, havendo a redução do consumo com os tratamentos com maior teor de compostos fenólicos. Para o consumo de MS; MO; e PB seus resultados são condizentes ao encontrado neste trabalho.

Avaliando a inclusão de resíduo de extrato de própolis em dieta de ovinos na proporção de 5g e 10g de resíduo não observou diferença significativa para o consumo de MS; MO; PB: EE; FDN entre os tratamentos com 5 e 10g, mas ambos apresentaram médias superiores ao controle (P<0,05) (Sapaterro 2013).

Na Tabela 03, estão apresentados os valores de coeficiente de digestibilidade dos nutrientes, não sendo observado efeitos significativos para a inclusão de própolis para nenhum dos itens da tabela.

 

Tabela 03: Coeficiente de digestibilidade (g/Kg) dos nutrientes da dieta de ovinos acrescida de própolis. Digestibility Coefficient (g / Kg) of the diet plus ovine nutrients própolis

Itens

Média

Inclusão de Própolis (g/dia)

CV (%)

CONTRASTE 1

0

4

8

12

L

Q

MS

723,78

727,97

720,55

710,85

734,14

7,78

0,95

0,60

MO

724,57

729,08

723,05

711,79

734,37

7,73

0,97

0,63

PB

780,02

793,99

784,17

769,98

771,92

3,63

0,25

0,69

EE

476,1

593,13

471,42

582,11

495,51

29,09

0,62

0,83

FDN

619,31

630,79

606,12

600,42

639,92

14,43

0,92

0,50

CNF

816,08

810,87

822,72

802,53

828,19

6,34

0,79

0,80

MS= matéria seca; MO= matéria orgânica; PB= proteína bruta; EE= extrato etéreo; FDN= fibra insolúvel em detergente neutro; CNF= carboidratos não fibrosos. (CONTRASTE= L=linear; Q=quadrático).

                Silva et al. (2014), avaliando a inclusão de 0,1g/Kg de própolis bruta na dieta de cordeiros (50% de concentrado), os quais não encontraram diferença significativa para os coeficientes de digestibilidade tanto para os tratamentos com monensina, própolis bruta e o controle.

                Mesmo não havendo diferença significativa para os coeficientes de digestibilidade, com inclusão de própolis na dieta. Os valores dos coeficientes se apresentam em conformidade com uso de dietas com alto teor de grão, como relatado por Carvalho et al. (2014), os quais observaram coeficientes acima de 60% para maioria dos nutrientes.

                Em colaboração Prado et al, (2010) avaliando cepas de bactérias ruminais gram-positiva e negativas tolerante a produtos à base de própolis, observou alteração na porcentagem de bactérias tolerantes a própolis como resposta a relação volumoso: concentrado e a concentração de flavonoides, resultando em mudanças na habilidade de fermentação da celulose, celubiose e frutose.

Assim, se mostra necessário estudos que relacionem o efeito da taxa de diluição e passagem de liquido e sólido, sobre a atividade dos compostos ativos da própolis como os flavonoides e fenilpropanoides.



Conclusões

A adição de própolis bruta em até 12 g/dia em dietas de ovinos não influência o consumo e o coeficiente de digestibilidade da maioria dos nutrientes.




Referências

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