Consumo e digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo palma cv. Orelha-de-elefante mexicana na alimentação de caprinos

Gabrielle dos Santos Silva1, Cíntia Mirely de Araujo2, Ângela Maria Vieira Batista3, Francisco Fernando de Ramos Carvalho4, Alenice Ozino Ramos5, Márcia Pereira da Silva6, Ariosvaldo Nunes de Medeiros7
1 - Universidade Federal da Paraíba
2 - Universidade Federal da Paraíba
3 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
4 - Universidade Federal Rural de Pernambuco
5 - Universidade Federal da Paraíba
6 - Universidade Federal da Paraíba
7 - Universidade Federal da Paraíba

RESUMO -

Objetivou-se avaliar dietas contendo palma cv. Orelha-de-elefante mexicana em substituição ao feno de Buffel na alimentação de caprinos. O experimento foi desenvolvido na Universidade Federal da Paraíba. Foram utilizados 5 caprinos SPRD, castrados e canulados no rúmen. O delineamento utilizado foi quadrado latino (5×5), com 5 períodos de 14 dias, sendo 7 de adaptação e 7 de coleta. Os caprinos foram alimentados com 5 dietas, sendo níveis de substituição do feno de Buffel por Opuntia stricta Haw: 0, 18, 38, 58 e 78% na MS. Foram realizadas análises de consumo e digestibilidade. O consumo de MS em %PC e g/kg PC0,75, apresentaram comportamento quadrático em relação a substituição do feno pela palma, já o consumo de fibra em detergente neutro reduziu com o aumento do nível de substituição. A palma cv. Orelha-de-elefante mexicana pode substituir o feno de Buffel, na alimentação de caprinos, até o nível de 78% de substituição.

Palavras-chave: Consumo, Digestibilidade, Palma forrageira

Intake and digestibility of diets containing spineless cactus cv. Orelha-de-elefante mexicana in feeding goats

ABSTRACT - The objective was to evaluate diets containing spineless cactus cv. Orelha-de-elefante mexicana replacing Buffel hay in goat feeding. The experiment was developed at the University Federal of Paraíba. 5 SPRD goats were used, castrated and cannulated in the rumen. The design used was Latin square (5x5), with 5 periods of 14 days, 7 of adaptation and 7 of collection. The goats were fed 5 diets, with replacement levels of Buffel hay by Opuntia stricta Haw: 0, 18, 38, 58 and 78% in DM. Intake and digestibility analyzes were performed. The DM intake in %BW and g.kg-1 BW0,75 presented a quadratic behavior in relation to the hay replacement by the spineless cactus, while the intake of neutral detergent fiber reduced with the increase of the substitution level. The spineless cactus cv. Orelha-de-elefante mexicana can replace Buffel hay in goat feeding up to a 78% replacement level.
Keywords: Digestibility, Intake, Opuntia


Introdução

A palma tem destaque no semiárido, devido a sua grande quantidade de água o que a torna uma planta extremamente adaptada à região. Por ser também rica em carboidratos não fibrosos é rapidamente fermentada no rúmen e, por conseguinte, tem um maior coeficiente de digestibilidade, que é a capacidade que o animal tem de utilizar o alimento presente na sua dieta (STINTZING & CARLE, 2005; ABIDI et al., 2009). Em detrimento dos baixos teores de fibra em detergente neutro e da elevada quantidade de cinzas, a introdução de quantidades excessiva de palma na alimentação de ruminantes está intrinsecamente ligada a efeitos laxativos, por isso deve ser associada a fontes de carboidratos fibrosos como o feno de capim Buffel (BATISTA et al., 2013; CORDOVA-TORRES et al., 2009; ANDRADE-MONTEMAYOR et al., 2011). Sendo assim, tem-se que a melhor forma de ministrar a palma é homogeneizada aos demais componentes da dieta, diminuindo a seletividade. Muitas pesquisas são feitas com pauta na dieta contendo palma, porém, as variedades mais estudadas são a gigante (Opuntia ficus indica Mill) e a miúda (Nopalea cochenillifera Salm Dick), que são mais susceptíveis a cochonilha do Carmim. A Orelha-de-elefante mexicana (Opuntia stricta Haw) por sua vez apresenta uma grande resistência a esta praga, além de baixa exigência em fertilidade do solo. Por isso objetivou-se avaliar dietas contendo palma cv. Orelha-de-elefante mexicana em substituição parcial ao feno de Buffel na alimentação de caprinos.

Revisão Bibliográfica

O valor nutritivo de um alimento é classificado em três componentes: consumo, digestibilidade e eficiência energética (VAN SOEST, 1994). O consumo de matéria seca determina a quantidade de nutrientes disponíveis para mantença e produção, além de ter importância em evitar o super ou subfornecimento de nutrientes na formulação de dietas (NRC, 2007). Diversos fatores podem influenciar o consumo, dentre eles, estado fisiológico do animal, composição da dieta, e qualidade e quantidade do alimento oferecido. A palma é uma forragem muito palatável, que, em geral, propicia altas ingestões de MS (BATISTA et al., 2013). Este ingrediente é rico em carboidratos não-fibrosos, com teores semelhantes ao de alguns concentrados, e quando o teor destes é superior a 30%, ocorre uma redução no consumo (HOOVER,1986). Porém no estudo de Lins et al. (2016), trabalhando com palma em substituição ao farelo trigo, a ingestão de MS aumentou até o nível de 80% de substituição. A digestibilidade é a capacidade dos animais em utilizar os nutrientes do alimento, expresso pelo coeficiente de digestibilidade destes nutrientes (SILVA & LEÃO, 1979). A digestibilidade está correlacionada a qualidade nutricional do alimento, por este motivo rações ricas em carboidratos não-fibrosos, rapidamente fermentáveis, tal como a palma, tendem a ter maior coeficiente de digestibilidade e, consequentemente, maior consumo (MERTENS, 1994; CARDOSO et al., 2000). As digestibilidades da matéria seca, matéria orgânica e carboidratos totais, podem ser influenciadas pelo consumo de alimentos, proporção e degradabilidade da parede celular, composição do alimento e da dieta, entre outros (McDONALD et al., 1993; VAN SOEST, 1994; ORSKOV, 1998). A melhor forma de oferecer a palma, é na forma de ração completa, assim reduz-se a seletividade dos animais, principalmente dos caprinos. As avaliações nutricionais de estudos com palma divergem em seus resultados, pela diferença de composição da palma e das dietas, de animais e de delineamentos, por isso ainda há muito que se avaliar sobre a ação nutricional da palma nos ruminantes.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal da Paraíba, em Areia-PB. Foram utilizados cinco caprinos machos, sem padrão racial definido, castrados e canulados no rúmen, com peso 40,9 ± 8,4 kg, distribuídos em delineamento quadrado latino 5x5, constituído de 5 períodos experimentais com 14 dias cada, sendo 7 dias de adaptação e 7 dias de coleta. As dietas possuíam relação concentrado:volumoso de 35:65, sendo o volumoso composto por feno de Buffel (dieta controle) e por níveis de substituição deste por palma cv. Orelha-de-elefante mexicana (Opuntia stricta Haw), sendo os tratamentos representados por 0, 18, 38, 58 e 78% de substituição, com base na matéria seca (MS). A composição química dos alimentos encontra-se na Tabela 1. Os animais foram alimentados 2 vezes ao dia, às 8 e 16 horas, sendo as dietas fornecidas na forma de ração completa e ajustadas diariamente para manutenção de 20% de sobras. Amostras de fezes, sobras e ingredientes foram coletadas, pré-secas a 55ºC por 72 horas, sendo posteriormente moídas e submetidas a análises de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e cinzas, de acordo com a AOAC (1997) e fibra em detergente neutro de acordo com Van Soest et al. (1991), sendo corrigida para cinzas e proteína. Os carboidratos não-fibrosos (CNF) e totais foram determinados pelas equações de Sniffen et al. (1992) e o teor de nutrientes digestíveis totais pela equação de Weiss (1999). O consumo foi estimado através da diferença entre a quantidade de nutrientes oferecidos e das sobras. Enquanto que a digestibilidade foi obtida através de coleta total de fezes, por meio de bolsas coletoras. A digestibilidade aparente foi realizada pela fórmula: CD do nutriente (g/kg)=[(Consumo do nutriente–Nutriente nas fezes)/Consumo do nutriente]*100. Para a análise estatística os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e regressão pelo procedimento REG do SAS (2017), e as diferenças probabilísticas menores que 5% eram consideradas significativas.

Resultados e Discussão

Não houve efeito significativo das dietas para o consumo de matéria seca (g/kg de matéria natural), nem para os consumos de proteína bruta, cinzas, matéria orgânica, carboidratos não-fibrosos, carboidratos totais e nutrientes digestíveis totais (g/kg de MS) (p>0,05). Já o consumo de MS em %PC e g/kg PC0,75, apresentaram comportamento quadrático em relação a substituição do feno pela palma cv. Orelha-de-elefante mexicana (p<0,05), com pontos de máxima de 2,94 %PC e 72,46 g/kg PC0,75, para os níveis de 37,66 e 34,92% de substituição, respectivamente (Tabela 2). A palma é uma forragem muito palatável, que em geral, propicia alta ingestão de MS, entretanto este ingrediente é rico em carboidratos não-fibrosos, que de acordo com Hoover (1986), acarretam redução do consumo por ruminantes, quando fornecidos em teores acima de 30% nas dietas, o que pode justificar o efeito quadrático encontrado para o consumo de MS, quando avaliado em %PC e em g/kg de PC0,75. O consumo de fibra em detergente neutro (FDNcp), reduziu com o aumento do nível de substituição do feno de Buffel pela palma orelha-de-elefante mexicana (p<0,05) (Tabela 2). O feno de Buffel possui elevados teores de FDN, enquanto que a palma cv. Orelha-de-elefante mexicana possui baixos teores deste nutriente, assim o aumento do nível de substituição do feno pela palma acarreta em redução do teor de FDN das dietas (Tabela 1), o que promoveu redução no consumo. Não houve efeito das dietas sobre a digestibilidade aparente dos nutrientes avaliados (g/kg MS), isto provavelmente se deu ao fato da quantidade de FDN presente nas dietas, apesar de ter afetado o consumo, não reduzir a digestibilidade, bem como o teor de CNF da dieta, que apesar de ter seu teor aumentado, não causaram efeito de aumento da digestibilidade.

Conclusões

A palma cv. Orelha-de-elefante mexicana pode substituir o feno de Buffel, na alimentação de caprinos, até o nível de 78% de substituição.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABIDI, S.; BEM SALEM,; VASTA, V. et al. Supplementation with barley or spineless cactus (Opuntia ficus indica f. inermis) cladodes on digestion, growth and intramuscular fatty acid composition in sheep and goats receiving oaten hay. Small Ruminant Research, v. 87, n. l, p. 9-16, 2009. DOI: 10.1016/j.smallrumres.2009.09.004. ANDRADE-MONTEMAYOR, H. M.; CORDOVA-TORRES, A. V.; GARCÍA-GASCA, T. et al. Alternative foods for small ruminants in semiarid zones, the case of Mesquite (Prosopis laevigata spp.) and Nopal (Opuntia spp.). Small Ruminant Research, v. 98, n. l, p. 83-92, 2011. DOI: 10.1016/j.smallrumres.2011.03.023. AOAC. CUNIFF, Pe. Official methods os analysis of AOAC  International. AOAC International, 1997. BATISTA, Â. M. V.; CARVALHO, F. F. R.; ROCHA FILHO, R. R. A palma forrageira na alimentação de ruminantes no semiárido brasileiro. In: II Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes. Itapetinga-BA, 2013. CARDOSO, R. C.; VALADARES FILHO, S. C.; SILVA, J. F. C. et al. Consumo e digestibilidades aparentes totais e parciais de rações contendo diferentes níveis de concentrado, em novilhos F1 Limousin x Nelore 1. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 5, p. 1832-1843, 2000. CORDOVA-TORRES, A. V.; MENDONZA-MENDONZA, J. C.; BERNAL-SANTOS, G. et al. Nutritional composition, in vitro degradability and gás production of Opuntia ficus indica and four other wild cacti species. Life Science Journal, v. 12, n. 2s, 2015, ISSN: 1097-8135. HOOVER, W. H. Chemical factors involved in ruminal fiber digestion. Journal of Dairy Science, v. 69, n. 10, p. 2755-2766, 1986. DOI: http://dx.doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(86)80724-X. LINS, S. E. B.; PESSOA, R. A. S.; FERREIRA, M. A. et al. Spineless cactus as a replacement for wheat bran in sugar cane-based diets for sheep: intake, digestibility, and ruminal parameters. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 45, n.1, p. 26-31, 2016. ISSN: 1806-9290. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Wiley, 1981.226p. MERTENS, D. R. Regulation of forage intake evaluantion and utilizations. Nebraska: American Soil Science of America, 1994. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirement of small ruminants. Washington: NAP, 2007. 362p. ORSKOV, E. R. Feed evaluation with emphasis on fibrous roughages and fluctuating supply os nutrients: a review. Small Ruminant Research, v. 28, n. 1. P. 1-8, 1998. DOI: S0921-4488 97 00042-4 SILVA J. F. C. LEÃO, M. I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. Piracicaba, Livroceres, 1979. 380p. SNIFFEN, C. J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J. et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science. v. 70, p 3562-3577, 1992. DOI: 10.2527/1992.70113562x. VAN SOEST, P.J. Nutricional ecology of the ruminant. 2.ed Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476p. WEISS, W. P. Energy prediction equations for ruminant feeds. In: Proceedings. 1999.





©2024 Associação Brasileira de Zootecnistas

Fazer login com suas credenciais

Esqueceu sua senha?