Contagem de células somáticas em vacas Holandesas em função da produção leiteira: Relato de caso

Vitoria Dourado Fernandes1, Lucio Alex Prado Carmo2, Cristiane Isabo Giovannini Viola3, Marina Gaspar Botelho Funari4, Marilia Gaspar Botelho Funari5, Ana Aparecida Boing Robl6, Gabriela de Goes Brainer7, Ana Paula Silva Possamai8
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RESUMO -

Objetivou-se com esta pesquisa quantificar a contagem de células somáticas (CCS) em função da produção leiteira de 71 vacas Holandesas multíparas em período inicial de lactação. Para avaliação de CCS, foram realizadas coletas de leite, uma vez por mês, durante três meses consecutivos. Os animais avaliados foram classificados pelo nível de produção leiteira em três categorias: baixa (até 20 kg de leite/dia), média (de 20 a 30 kg de leite/dia) e alta produção (acima de 30 kg de leite/dia). Os resultados demonstraram que os animais com menores produção leiteiras apresentaram maiores índices médio de CCS (acima da média estabelecida pela IN nº 62), e os menores índices de CCS foram observados nos animais de média e alta produção (abaixo dos índices estabelecidos pela IN nº 62 de 400.000 CCS/ml). Os níveis de CCS podem ser associado à modificações na sanidade fisiológica dos animais, que geram influências secundárias na produtividade e, consequentemente, na concentração de células somáticas no leite.

Palavras-chave: Boas práticas de ordenha, qualidade do leite, sanidade animal

Somatic cell count in Holstein Friesian cattle as a function of dairy production: Case report

ABSTRACT - The goal of this research was to quantify somatic cell count (SCC) as a function of the milk production in 71 multiparous Holtein Friesian cows in the initial lactation period. For SCC evaluation, milk samples were collected once a month for three consecutive months. The animals evaluated were classified according to milk production in three categories: ow (up to 20 kg milk/day), medium (from 20 to 30 kg milk/day) and high production (above 30 kg milk/day). The results showed that the animals with the lowest dairy production presented higher average SCC (above the average established by the IN nº 62), and the lower SCC were observed in the medium and high production animals (below the indices established by IN No. 62 of 400,000 SCC/ml). SCC levels may be associated with changes in the physiological health of the animals, which generate secondary influences on productivity and, consequently, on somatic cell concentration in milk.
Keywords: Animal health, good milking practices, milk quality


Introdução

O leite é um item alimentar com grande quantidade de nutrientes sendo fonte de proteínas, gorduras, carboidratos e sais minerais e pode ser consumido integral ou em forma de produtos derivados, no qual seja a matéria prima, a exemplo de queijos e iogurtes (BRASIL, 2011).

A saúde das vacas produtoras de leite é considerada condição básica para uma boa produção e qualidade do leite. Portanto, quaisquer fatores que prejudiquem a higidez dos animais devem ser bem compreendidos, para que tanto os danos relacionados à saúde das vacas quanto a sua produtividade possam ser atendidos. Práticas produtivas que levam os animais aos  seus  limites  fisiológicos,  podem comprometer  além da produção  de leite,  a integridade física do animal resultando em várias enfermidades que podem levar ao aumento dos níveis de contagem de células somáticas (CCS) no leite (MULLIGAN e DOHERTY, 2008).

O objetivo desse estudo foi avaliar os níveis de células somáticas presentes nas amostras de leite de acordo com a produtividade de vacas Holandesas da Fazenda Sol Nascente em Montividiu - GO.



Revisão Bibliográfica

No ano de 2014, o Brasil ficou em 5º lugar na produção de leite no ranking mundial com 33,3 bilhões de litros, atrás apenas da União Europeia com 144,750 bilhões de litros, Índia com 141,125 bilhões de litros, Estados Unidos com 93,123 bilhões de litros e China com 38,550 bilhões de litros (MEZZADRI, 2014).

A produção de leite no Brasil está caminhando de sistemas menos produtivos para sistemas de produção com animais de maior produtividade, e obviamente envolvendo processos tecnológicos mais sofisticados (STOCK et al., 2008). Dentre as raças de produção de leite, a Holandesa é uma das que se destacam em questão de produção, porém é sensível ao clima tropical, possui suscetibilidade a ectoparasitas e os animais desta raça tem baixa rusticidade.

Segundo Müller (2002), além das infecções intramamárias, outros fatores que podem interferir na CCS são a época do ano, raça, estágio de lactação, produção de leite, número de lactações, estresse causado por deficiências no manejo, problemas nutricionais, efeito rebanho, condições climáticas e doenças intercorrentes. Com o aumento na CCS, a composição do leite, a atividade enzimática, o tempo de coagulação, a produtividade e a qualidade dos derivados lácteos, são influenciados negativamente. Células somáticas são todas as células presentes no leite, que incluem as células originárias da corrente sanguínea como leucócitos e células de descamação do epitélio glandular secretor.

Segundo Philpot e Nickerson (2002), a contagem de células somáticas e células bacterianas totais implicam na redução em até 50% da produção leiteira, o que diminuiu a vida produtiva da vaca e a qualidade do leite. A utilização dos valores de CCS como ferramenta para monitoramento de mastite e avaliação da qualidade do leite teve início no final da década de 1970 nos Estados Unidos (EUA), onde o primeiro limite legal foi de 1.500.000 CS/mL (DOHOO, 2011).

No Brasil, a Instrução Normativa nº 62 (IN), contém os regulamentos técnicos de produção, identidade e qualidade do leite de vaca, com vistas às avaliações das ações voltadas para a melhoria da qualidade do leite no Brasil, quando a partir de 01 de julho de 2016, os níveis máximos de CCS estabelecidos para controle da qualidade do leite, devem ser de até 400.000 CS/mL para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e, a partir de 01 de julho de 2017 para o restante do país (BRASIL, 2011).



Materiais e Métodos

Os dados analisados foram coletados na fazenda Sol Nascente, no município de Montividiu - GO, no período de junho a agosto de 2016. Foram utilizadas 71 vacas da raça Holandesa, multíparas, em terço inicial de lactação e de aspecto físico saudável.

As vacas eram manejadas com a mesma rotina, sendo ordenhadas três vezes ao dia. Sendo a primeira ordenha realizada às 05:00 h, a segunda às 13:00 h e a terceira às 19:00 h. Após a ordenha, os animais eram conduzidos para piquetes de chão batido, sem acesso a plantas forrageiras, e recebiam alimentação completa balanceada nos cochos.

Os animais avaliados foram classificados de acordo com o nível de produção leiteira em três categorias, baixa produção (até 20 kg de leite/dia), média produção (de 20 a 30 kg de leite/dia) e alta produção (acima de 30 kg de leite/dia).

Foram realizadas três coletas de leite nas vacas, individualmente, durante três meses consecutivos. O leite coletado era extraído com auxílio de copo coletor implantado na ordenhadeira; posteriormente às coletas, as amostras foram transferidas para um tubo de amostragem contendo bronopol e azidiol, para conservar as amostras de leite utilizadas na análise de CCS. Os tubos contendo as amostras foram etiquetados e identificados com o número de cada animal. Em seguida, as amostras eram encaminhadas no mesmo dia ao laboratório Clínica do Leite (ESALQ-USP), situado na cidade de Piracicaba-SP, para realização das análises de CCS.

Os dados obtidos com as análises das amostras, foram avaliados por meio de análise descritiva com auxílio do programa Excel.



Resultados e Discussão

A média de produção do lote de alta lactação foi de 33,23±2,52 kg de leite/dia no período de três meses de avaliação, os animais com média produção apresentaram média de 25,65±2,59 kg de leite/dia e a de baixa produção 18,25±1,53 kg de leite/dia. Segundo Ferreira e Miranda (2007), vacas da raça Holandesa confinadas ou semi-confinadas devem produzir acima de 7.000 litros por lactação de 10 meses, o que representa em média produção de 23,33 litros por dia, índice de produção que foram superados pela maior parte dos animais avaliados (alta e média produção).

 Como os animais foram classificados de acordo com os índices de produção leiteira, foram observados baixos valores de dispersão dos dados, com coeficientes de variação de 7,57; 10,09 e 8,41% para os grupos de alta, média e baixa lactação, respectivamente, o que significa que os animais foram agrupados em grupos homogêneos com relação a produção leiteira.

Para os níveis médios de CCS em função da produção leiteira dos animais, foram observados valores de 228,64±292,79; 274,46±308,58 e 596,83±398,54 CS/mL, para os animais de alta, média e baixa produção leiteira, respectivamente. Conforme os dados representados na Tabela 1, é possível observar que houve maiores índices médios de CCS nos animais classificados nos níveis de produção baixo e média produção leiteira.

Segundo Kitchen (1981), o leite obtido de quartos mamários de animais sadios contém de 50 a 200 mil células/mL. Na dependência da severidade e extensão da infecção e, do tipo de microrganismo envolvido, as contagens podem variar de 200 a 5.000 x103 células/mL de leite. Eberhart (1984) verificaram uma diminuição de 6% na produção de leite, em rebanhos com CCS no leite de tanque de 500.000/mL, 18% em contagens de 1.000.000/mL e de 29% em contagens de 1.500.000/mL.

Contagens  iguais  ou inferiores  a 200.000  células/mL foram consideradas normais, não acarretando maiores prejuízos ao produtor. Philpot e Nickerson (1991) observaram uma diminuição na produção variando de 5% a 25% com a CCS entre 140.000 a 2.280.000 células/mL/leite.

As médias de CCS para os grupos com média e alta produção leiteira, ficaram abaixo do nível exigido pela IN nº 62, de 400.000 CS/mL, o que os caracteriza como leite de boa qualidade. Já nos animais classificados no grupo de baixa produção, os índices de CCS ficaram acima dos estabelecidos na IN nº 62, o que indica que os maiores níveis de CCS podem ter afetado a produção leiteira destes animais. Müller (2002) descreve que a CCS no leite de animais individuais ou de tanque, é uma ferramenta valiosa na avaliação do nível de mastite subclínica no rebanho, podendo ser utilizada como indicativo da qualidade do leite produzido na propriedade e para estabelecer medidas de prevenção e controle da mastite.



Conclusões

Os níveis de CCS apresentam-se em maior concentração nas amostras das vacas com menor produção leiteira, podendo ser associado à modificações na sanidade fisiológica dos animais, como doenças mamárias ou podais, que geram influências secundárias na produtividade e, consequentemente, na concentração das células somáticas no  leite,  afetando  diretamente os requisitos microbiológicos descritos na IN nº 62.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRASIL. Instrução Normativa nº 62, de 29 de dezembro de 2011. Aprovar o Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Refrigerado, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Pasteurizado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União. Brasília, 30 de dezembro de 2011.   DOHOO, I.R. Setting SCC cut points for cow and herd interpretation. National Mastitis Council Annual Meeting Proceedings: National Mastitis Council, 2001. 11-14p.   EBERHART, R.J. Coliform mastitis. Veterinary Clinical North American Large Animal Practice, v.6, n.2, p.287-300, 1984.   FERREIRA, A.M.; MIRANDA, J.E.C. Medidas de eficiência da atividade leiteira: índices zootécnicos para rebanhos leiteiros. Juiz de Fora: EMBRAPA/CNPGL, 2007. 8p. (EMBRAPA CNPGL. Comunicado técnico, 54).   KITCHEN, B.J. Review of the progress of dairy science: Bovine mastitis: milk compositional changes and related diagnostic tests. Journal of Dairy Research, v.48, p.167-188, 1981.   MEZZADRI, F.P. Analise da conjuntura Agropecuária. Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. 2014   MULLER, E.E. Qualidade do leite, células somáticas e prevenção da mastite. In: Simpósio sobre sustentabilidade da pecuária leiteira na região Sul do Brasil. Maringá,  2002.   MULLIGAN, F.J.; DOHERTY, M.L. Production diseases of the transition cow. The Veterinary Journal, London, v. 176, n. 1, p. 3-9, 2008.   PHILPOT, W.N.; NICKERSON, S.C. Mastitis: Counter Attack. A strategy to combat mastitis. Illinois: Babson Brothers Co., 1991. 150p.   PHILPOT, W.N.; NICKERSON, S.C. Winning the figt hagaist. Naperville: Westfalia, 2002. 187p.   STOCK, L. A.; CARNEIRO, A. V.; CARVALHO, G. R.; ZOCCAL, R.; MARTINS, P. C.; YAMAGUCHI, L. C. T. Sistemas de produção e sua representatividade na produção de leite no Brasil. In: Reunião da Associação Latino-americana de Produção Animal, Cuzco. Anais, ALPA. p.17-18, 2008.