Contribuição da Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz na produção de serrapilheira em área de Caatinga no cariri paraibano

Natália Viana da Silva1, Italvan Milfont Macêdo2, Géssica Solanna Calado Soares3, Divan Soares da Silva4, Albericio Pereira de Andrade5, José Ribamar Silva do Nascimento Júnior6, Janieire Dorlamis Cordeiro Bezerra7, Tafnes Bernardo Sales8
1 - Graduanda do curso de zootecnia, UFPB, Areia, PB, Brasil. E-mail: natzootec@gmail.com
2 - Doutorando em Zootecnia, PDIZ/UFPB, Areia, PB, Brasil. E-mail: italvanzootecnia@hotmail.com.
3 - Mestre em zootecnia.
4 - Professor colaborador PDIZ/UFPB, Areia, PB, Brasil.
5 - Professor titular UFRPE/UAG.
6 - Doutorando em Zootecnia, PDIZ/UFPB, Areia, PB, Brasil.
7 - Doutoranda em Zootecnia, PDIZ/UFPB, Areia, PB, Brasil.
8 - Mestranda em zootecnia, PPGZ/UFPB.

RESUMO -

A produção de serrapilheira controla diretamente a quantidade de nutrientes que retorna ao solo. Objetivou-se avaliar a produção de serrapilheira através da Poincionella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz em área de Caatinga localizada no município de São João do Cariri-PB, manejada sob diferentes taxas de lotação caprina. O experimento foi desenvolvido entre abril de 2016 a março de 2017. A área experimental consistiu em três piquetes de aproximadamente 3,2 ha cada, sendo manejados sob diferentes intensidades de pastejo (10, 5 e 0 animais por área) e as coletas foram realizadas diariamente. Estimou-se a produção média das três áreas em 2,21 Mg ha-1ano-1 e observou-se maior aporte no sentido Noroeste. A P. pyramidalis representa uma das espécies nativas de grande contribuição para o aporte de serrapilheira em áreas de Caatinga.

Palavras-chave: caprinos, catingueira, deposição, semiárido

Contribution of Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz on litterfall production in the Caatinga area of cariri Paraibano

ABSTRACT - The litter production directly controls the amount of nutrients returned to the soil. The aim of this work wasto evaluate the production of litterfall through Poincionella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz in the Caatinga area located in the municipality of São João do Cariri-PB, under different rates of goat stocking. The experiment was developed between april 2016 and march 2017. The experimental area consisted of three paddocks of approximately 3,2 ha each, being managed under different grazing intensities (10, 5 and 0 animals per area) and collected them daily. It was estimated the production of three areas in 2,21 Mg ha-1ano-1 and it was observed a greater contribution in the northwest direction. The P. pyramidalis represents one of the native species of great contribution to the litterfall country in areas of Caatinga.
Keywords: catingueira, deposition, goats, semi-arid


Introdução

A região Nordeste do Brasil é uma das regiões semiáridas mais habitadas do mundo (Drumond et al. 2008), e tem como principal formação vegetal a caatinga, considerada o único tipo de vegetação com os limites inteiramente restritos ao território nacional (Holanda et al., 2015). Atualmente, pouco se conhece sobre a dinâmica das taxas de aporte e acúmulo das espécies nativas, sobretudo em áreas de Caatinga. A manutenção da vegetação nestas áreas está intimamente relacionada a produção de serrapilheira, pois, sua produção controla diretamente a quantidade de nutrientes que retorna ao solo, sendo esta considerada o meio mais importante de transferência de elementos essenciais da vegetação para o solo (Vital et al., 2004). Vale salientar que variações na quantidade de serrapilheira depositada dentro de um mesmo tipo de vegetação podem ocorrer a depender do grau de perturbação da área. Dentre as espécies vegetais da Caatinga, a Poincionella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz (catingueira), representa uma das que mais contribuem para a composição da serrapilheira presente nestas áreas. Neste sentido, objetivou-se avaliar a produção de serrapilheira através da P. pyramidalis em área de Caatinga localizada no município de São João do Cariri-PB, manejada sob diferentes intensidades de pastejo.

Revisão Bibliográfica

A dinâmica da serrapilheira e de seus nutrientes, representada pela entrada através da deposição e saída pela decomposição/mineralização, é essencial à manutenção de florestas nativas ou plantios florestais (Ferreira et al., 2007). Este material é fundamental para a sustentabilidade de uma floresta, sendo esta a principal via de transferência no fluxo de nutrientes, pois permite que, pelo menos em parte, ocorra o retorno ao solo de uma significativa quantidade de nutrientes absorvidos pelas plantas (Ferreira et al., 2007). De acordo com Maciel et al. (2012) serrapilheira é o material depositado sobre o solo através do processo de caducifólia, e esta é composta pelas frações de folhas, ramos, galhos, material reprodutivo (flor e fruto) e miscelânea (restos vegetais não identificáveis e/ ou material de origem animal). Nas áreas de Caatinga, este material tem como principais funções: proteger os solos contra a erosão ocasionada pelo vento e gotículas da precipitação pluvial (Campos et al., 2008), participar diretamente da ciclagem de nutrientes (Vital et al., 2004), ser fonte de nutrientes essenciais para os organismos edáficos e de fibra para os ruminantes nos períodos de estiagem (Maciel et al., 2012). Recentemente alguns pesquisadores vem trabalhado a fim de compreender melhor a dinâmica da serrapilheira ao longo do ano em ecossistemas de Caatinga nas diversas partes do território nacional, sobretudo na região Nordeste, onde há maior predominância deste tipo de vegetação. Maciel et al. (2012) estudando em área de Caatinga no Semiárido de Pernambuco, estimou a produção de serrapilheira em 6,67 Mg ha–1ano–1 e Lima et al. (2015) estimou o aporte de serrapilheira em área de Caatinga no Sul do Piauí em 8,44 Mg ha–1ano–1. Fica evidente que uma das vias mais importantes no sistema solo-planta é caracterizada pela produção de serrapilheira e a devolução de nutrientes em ecossistemas florestais (Vital et al., 2004). Assim, qualquer prática de manejo que permita a retirada total desta cobertura vegetal, por parte dos animais, deve ser evitado em áreas de Caatinga (Araújo et al., 2011).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido na Estação Experimental São João do Cariri, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, localizada no município de São João do Cariri, PB, entre as coordenadas geográficas 7o23´3´´ latitude sul e 36o31´59´´ de longitude oeste, inserido na zona fisiográfica do Planalto da Borborema, na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Oriental, a 520 m de altitude. As coletas foram realizadas entre abril de 2016 a março de 2017, totalizando 12 meses. A área experimental, inserida na Caatinga, compreende 9,6 ha, e foi subdividida em três piquetes de aproximadamente 3,2 ha cada. As três áreas foram manejadas sob diferentes intensidades de pastejo, através do emprego de 10, 5 e 0 caprinos por área há dez anos, ou seja, área I com 0,33 ha/animal; área II 0,66 ha/animal e a área III sem a presença de animais. Em cada piquete foram selecionados de forma aleatória quatro indivíduos de P. pyramidalis e instalados em forma de quadrantes (seguindo a direção dos pontos cardeais), quatro coletores de 1,6 x 0,4 m sob a copa. Os coletores foram confeccionados com madeira, com fundo revestido de tela de náilon, fixados a 0,30 m a partir do tronco da árvore e aproximadamente 0,15 m de altura em relação ao nível do solo. As coletas foram realizadas diariamente e as amostras encaminhadas ao Laboratório de Nutrição Animal (LANA) da Universidade Federal da Paraíba, para serem pré-secas em estufa de ventilação forçada de ar ± 55ºC, até atingir peso constante para quantificação da biomassa. A produção de serrapilheira foi estimada segundo Lopes et al. (2002), através da equação: PAS = (Σ PS x 10.000) / Ac em que: PAS = Produção média anual de serrapilheira (Mg ha-1ano­-1); PS = Produção média mensal de serrapilheira (Mg ha-¹mês-¹); Ac = Área do coletor (m²). Os dados foram analisados por meio de análise descritiva.

Resultados e Discussão

Durante o período experimental foram coletados diariamente os dados relativos à precipitação pluvial, os quais são apresentados na Figura 1. A precipitação pluvial total para o ano de 2016 foi de 325,9 mm, porém, durante o período experimental (março/2016 a março/2017) foram registrados 181,4 mm, concentrando-se 84,45% (153,2 mm) nos primeiros 31 dias, que representaram o final do período chuvoso no referido ano. O aporte de serrapilheira via P. pyramidalis obtido durante o período de avaliação foi maior na área III (2,96 Mg ha-1ano-1) que não havia presença de animais, seguido das áreas I e II, que foram manejadas com 10 e 5 caprinos, respectivamente. Provavelmente o menor aporte (1,32 Mg ha-1ano-1) na área II, esteja relacionada ao menor porte das plantas (Figura 2). No presente estudo estimou-se a produção média das três áreas em 2,21 Mg ha-1ano-1 para a espécie P. pyramidalis, evidenciando, desta forma, a importância da espécie para a manutenção destas áreas. Uma vez que, Alves et al. (2014) encontraram 1,21 Mg ha-1 para o Croton blanchetianus Baill (marmeleiro) em área localizada no município de Várzea-PB. Para o aporte total (todas as espécies) Jaramillo et al. (2011) citam para Florestas tropicais na América Latina, variação entre 2,8 e 8,5 Mg ha-1ano-1. Em trabalhos avaliando a produção total de serrapilheira em áreas de Caatinga, Lopes et al. (2015) estimaram a produção em 3,67 Mg ha-1ano-1 no Semiárido do Rio Grande do Norte, Lima et al. (2015) estimaram o aporte de serrapilheira no Sul do Piauí em 8,44 Mg ha-1ano-1 e Henriques et al. (2016) avaliando a produção de serrapilheira em uma área de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) na Fazenda Tamanduá, situada no município de Santa Terezinha-PB, a qual não é explorada há aproximadamente 50 anos, obtiveram o aporte de 4,21 Mg ha-1. Para todas as áreas estudadas observou-se maior aporte nos coletores Norte e Oeste, ou seja, no sentido Noroeste, responsável por 60,55, 60,56 e 51,38% da produção total, respectivamente para as áreas I, II e III. Esta maior presença de material ocorreu devido a predominância do vento nesta direção. Consequentemente, o menor aporte foi obtido no sentido Sul.

Conclusões

A Poincionella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz representa uma das espécies nativas de grande contribuição para o aporte de serrapilheira em áreas de Caatinga. Na região cariri da Paraíba, o maior aporte de serrapilheira é depositado na direção Noroeste devido a predominância dos ventos.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVES, G.S et al. Contribuição do Croton blanchetianus Baill na produção de serrapilheira e ciclagem de nutrientes em área do Seridó da Paraíba. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v 9, n.3, p.50 - 57, jul-set, 2014 ARAÚJO, K.D. et al. Análise da dinâmica do carbono e sua variabilidade em função da precipitação, em são João do Cariri, semiárido paraibano. CLIMEP – Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio Claro (SP) – Vol.6 – n.1-2 – janeiro/dezembro/2011, p. 5. CAMPOS, E.H. et al. Acúmulo de serrapilheira em fragmentos de mata mesofítica e cerrado stricto senso em Uberlândia - MG. Sociedade & Natureza, v.20, n.1, p.189-203, 2008. DRUMOND, M.A. et al. Produção e distribuição de biomassa de espécies arbóreas no Semiárido Brasileiro. Revista Árvore, v.32, n.4, p.665-669, 2008. FERREIRA, R.L.C. et al. Deposição e acúmulo de matéria seca e nutrientes em serrapilheira em um bosque de sabiá (mimosa caesalpiniifolia benth.). Revista Árvore, v.31, n.1, p.7-12, 2007. HENRIQUES, I.G.N. et al. Acúmulo, deposição e decomposição de serrapilheira sob a dinâmica vegetacional da Caatinga em Unidade de Conservação. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.11, n.1, p.84-89, jan.-mar., 2016. HOLANDA, A.C. et al. Decomposição da serrapilheira foliar e respiração edáfica em um remanescente de caatinga na paraíba. Revista Árvore, v.39, n.2, p.245-254, 2015. JARAMILLO, V.J. et al. Primary productivity and biogeochemistry of seasonally dry tropical forests. In DIRZO, R., YOUNG, HS., MOONEY, HA. and CEBALLOS, G. (Eds.). Seasonally dry tropical forests: ecology and conservation. Washington: Island Press. p. 109-128, 2011. LIMA, R.P. et al. Aporte e Decomposição da Serapilheira na Caatinga no Sul do Piauí. Floresta e Ambiente, v.22, n.1, p.42-49, 2015. LOPES, M.C.A. et al. The effects of rainfall and vegetation on litterfall production in the semiarid region of northeastern Brazil. Brazilian Journal of Biology,  v.75, n.3, p.703-708, 2015. LOPES, M.I.M. et al. Ciclagem de nutrientes minerais. In: SYLVESTRE, L. S. e ROSA, M. M. T. (Org.); Manual metodológico para estudos botânicos na Mata Atlântica. Seropédica, RJ: EDUR, p.72-103, 2002. MACIEL, M.G. et al. Produção Total e das Frações de Serrapilheira em Área de Caatinga no Semiárido de Pernambuco. Revista Cientifica de Produção Animal, v.14, n.1, p.43-45, 2012. VITAL, A. R.T. et al. Produção de serrapilheira e ciclagem de nutrientes de uma floresta estacional semidecidual em zona riparia. Revista Árvore, v.28, n.6, p.793-800, 2004.