CONTROLE DE CARRAPATOS Boophilus microplus EM BOVINOS COM O USO DA FITOTERAPIA

Karynne Luana Chaves de Paula1, Matheus Nunes Rios Morais2, Jean Kaíque Valentim3, Rúbia Francielle Moreira Rodrigues4, Sônia de Oliveira Duque Paciulli5, Cláudio Henrique Vianna Roberto6, Florence Dalila Peres7, Guilherme Almeida Resende8
1 - UFVJM Campus Diamantina
2 - IFMG Campus Bambuí
3 - UFVJM Campus Diamantina
4 - UFVJM Campus Diamantina
5 - IFMG Campus Bambuí
6 - UFVJM Campus Diamantina
7 - UFVJM Campus Diamantina
8 - UFVJM Campus Diamantina

RESUMO -

O controle de carrapatos Boophilus microplus em bovinos com o uso da fitoterapia é uma boa alternativa, uma vez que os produtos químicos comumente utilizados para o controle tem demonstrado certa ineficiência, devido a resistência dos carrapatos ao princípio ativo dos produtos e ao uso inadequado. Foi realizada uma revisão bibliográfica relatando as causas da resistência deste parasita e formas de controle utilizando a fitoterapia. Pontos analisados: ciclo de vida do carrapato, resistência aos carrapaticidas, importância dos inseticidas botânicos no controle do carrapato, estratégia de utilização do fitoterápico e algumas plantas utilizadas no controle de carrapatos em bovinos. Assim é possível identificar as maneiras alternativas para controlar o carrapato nos bovinos de uma forma ecologicamente correta, sem toxidades para os animais e produtor e não havendo período de carência para o consumo dos produtos fornecidos pelos animais, sendo os produtos fitoterápicos eficientes e viáveis.

Palavras-chave: carrapaticidas, fitoterápico, inseticidas botânicos, produção animal

Control of Boophilus microplus in bovines with the use of phytotherapy

ABSTRACT - The tick control Boophilus microplus in cattle with the use of herbal medicine is an alternative that is being quite worked, because the chemicals used to control are not effective because the ticks adiquiriram resistance to the active principle of the product due to improper use. A literature review was conducted relating the resistance of this parasite causes and alternative forms using herbal medicine to control the tick. The points were analyzed: life cycle of the tick, resistance of ticks, importance of botanical insecticides in tick control, the use of herbal medicine strategy, and was quoted a few plants used in the control of ticks in cattle. From the analysis it is possible to identify alternative ways to control the tick in cattle using herbal medicine in an environmentally correct way, without toxicities to animals and producer and there is no grace period for consumption of the products supplied by the animals, and herbal products efficient and economically viable.
Keywords: acaricide, animal production, botanical insecticides, phytotherapy.


Revisão Bibliográfica

O homem já utilizava ervas como fonte de alimentação e para cura, repassando as gerações as plantas que serviam como alimento ou medicação, quais eram venenosas ou continham propriedades alucinógenas (REZENDE & COCCO, 2002). Nas últimas décadas, o aumento dos problemas da resistência a moléculas orgânicas ou sintéticas levou ao interesse pelos inseticidas botânicos. Devido às inúmeras dificuldades no controle e combate, a utilização de plantas medicinais é uma alternativa cada vez mais viável (OLIVEIRA, 2009). Os produtos fitoterápicos são de fácil aquisição possuem efeitos negativos reduzidos e às vezes nulas. Os efeitos sobre os insetos são variáveis podendo ser tóxico, repelente, causar esterilidade, modificar o comportamento, o desenvolvimento ou reduzir a alimentação (ROEL, 2001). A espécie de carrapatos mais comum em bovinos no Brasil é Boophilus microplus. Constitui-se na espécie de ectoparasito mais importante, causando uma série de problemas e perdas econômicas (LOPES, 2005). O objetivo é apontar as possíveis causas da resistência do carrapato Boophilus micruplus aos carrapaticidas encontrados no mercado, considerando a importância de dos benefícios e comprovações de eficácia das plantas medicinais, e identificar quais plantas com principio fitoterápico. Histórico da fitoterapia - De acordo com Lopes et al., (2005), planta me­dicinal é toda planta que exerça alguma ação terapêutica. O tratamento feito com uso de plantas medicinais é denominado de fito­terapia, e os fitoterápicos são os medicamentos. A fitoterapia é uma terapêutica de medicamentos classificados como alopatia de origem vegetal, e não possuem semelhança com a homeopatia, esta cria mecanismos de defesa no organismo e os fitoterápicos atacam diretamente o local com sues princípios ativos (GALDINO, 2006). As plantas curativas foram sendo descobertas pelo homem através de observações do comportamento animal (SANTOS et al., 2012). Chimpanzés engoliam plantas com superfícies grossas sem mastigá-las, inferindo a possibilidade do controle de endoparasitas no trato gastrointestinal (OLIVEIRA, 2009). De acordo com a ABIFISA (2013), no Brasil, o mercado de fitoterápicos movimentou cerca de US$ 1 bilhão, no ano de 2011, com estimativa de crescimento. O mercado mundial destes produtos deve atingir US$ 93,15 bi em 2017 (GLOBAL INDUSTRY ANALYSTS, 2012). Os fitoterápicos representam menos de 3% do mercado total de medicamentos no Brasil, serão realizados investimentos públicos e privados em pesquisas em saúde no país e deverá chegar a 13 bilhões entres os anos de 2014 e 2018 (ABIFISA, 2013). Carrapato (Boophilus microplus) - encontrado principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, prefere os bovinos, ocasionalmente se hospedam em outras espécies. No Brasil, o carrapato B. microplus é um problema para a bovinocultura (PIZANOTO; SILVA 2012), fato este está relacionado com as características climáticas que favorecem seu desenvolvimento (AGNOLIN, 2012). É um parasita que necessita passar uma fase da vida no corpo do animal, é economicamente importante, considerando que 75% da população mundial de bovinos é atingida por ele (BROGLIO-MICHELETTI et al., 2010). O ciclo de vida do carrapato B. microplus divide-se em fase de vida livre e fase de vida parasitária, tem início com a fixação das larvas no hospedeiro suscetível e termina quando os adultos incluindo as fêmeas fecundadas e ingurgitadas caem do hospedeiro. O tempo de vida livre do carrapato tem média de 1 mês, podendo se estender a mais de 300 dias, podendo ficar mais 6 meses sem alimentar (GOMES, 2011). A espoliação sanguínea, com reflexos negativos diretos no ganho de peso e produção de leite, que podem variar em função do grau de parasitismo. A infestação desse parasito transmite agentes infecciosos; a rikettsia – Anaplasma ssp. e a Babesia spp., (LOPES, 2005). Resistência dos carrapatos aos carrapaticidas - é um fenômeno pelo qual uma droga não consegue manter a mesma eficácia contra os parasitos, se utilizada nas mesmas condições, após um período (CONDER & CAMPBELL, 1995). A resistência ocorre naturalmente como mecanismo de defesa que tem causado grandes problemas aos produtores. De acordo com PREVIERO (2010) ocorre um aumento progressivo dos casos de resistência à grande parte dos ingredientes ativos utilizados no controle do carrapato que não é mais suscetível à grande parte dos tratamentos, as aplicações são aleatórias, de forma cara e ineficaz. Segundo Borges (2003) o uso inadequado do carrapaticida aliado ao aumento no grau de sangue taurino no rebanho leva a sérios problemas de resistência. Princípios ativos comumente utilizados (EMBRAPA, 2010): Organofosforados, Piretroides, Amidinas (diamínicos), Fipronil, Thiazolina, Naturalyte, Lactonas macrocíclicas, Fluazuron. Importância dos inseticidas botânicos no controle do carrapato - Os produtos de origem fitoterápicos se destacam já que seus princípios ativos não danificam o meio ambiente, são biodegradáveis, apresentam baixo custo, menor risco de intoxicação animal, além da atividade biológica satisfatória contra esses parasitas (EMBRAPA, 2010). As plantas desenvolveram mecanismos eficazes de defesa através da produção de constituintes micromoleculares por meio de rotas sintéticas não essenciais. Esses metabólitos são substâncias que influenciam nas relações ecológicas, conferindo vantagens adaptativas como a defesa contra patógenos (SANTOS, 2013). Extratos e óleos essenciais anulam o efeito da resistência adquirida aos produtos químicos por serem compostos de princípios ativos diferentes associados entre si (ROEL, 2001). Estratégia de utilização do fitoterápico - dos princípios ativos medicinais nem todos possuem valor medicinal. Em todas as espécies existem também substâncias inertes, estas, determinam sua eficácia acelerando ou retardando a ação dos princípios ativos (DI STASI, 1996). A utilização dos pesticidas botânicos pode ser dividida de acordo com a forma do preparo em: produto in natura, pó, extração aquosa ou alcoólica, óleos essenciais, formulações concentradas. As plantas com atividade pesticidas podem causar efeitos diversos como repelência, inibição de oviposição e da alimentação, causar distúrbios no desenvolvimento, deformações, infertilidade e mortalidade, dependendo da dosagem (ROEL, 2001). A utilização de biocarrapaticidas oriundos do metabolismo secundário das plantas apresenta inúmeras vantagens quando comparado ao emprego de produtos organossintéticos (ROEL, 2001). A utilização de produtos naturais e o controle biológico no combate aos carrapatos apresentam maior segurança, baixo custo, boa eficácia, nenhum dano ao ecossistema e à saúde humana. Diversos extratos vegetais têm sido testados para avaliar sua eficiência como um carrapaticida entre eles o Nim (SANTOS, 2013), e eucalipto (CHAGAS et al., 2002; OLIVO et al., 2013) e o fumo de corda (OLIVO et al., 2009). Conhecida como Nim ou Amargosa (Azadirachta indica) tem a azadiractina como princípio inseticida ativo, com efeito no crescimento e desenvolvimento dos insetos, não afetam animais e não se acumulam no meio ambiente. Dentre as espécies de eucalipto conhecidas, o Corymbia citriodora é uma das mais utilizadas para a produção de óleos essências (VITTI & BRITO, 2003). O uso desse óleo com ação de repelência ou inseticida é descrito por alguns autores (CHAGAS et al., 2002; CLEMENTE et al., 2010), em estudos in vitro. Segundo Chagas et al.,  (2002), concentrados emulsionáveis do óleo essencial de algumas espécies de eucaliptos cultivadas no Brasil: Eucalyptus staigeriana, E. citriodora e E. globulus, podem ser utilizados sem causar danos ao meio ambiente. O 1,8 cineol é o óleo essencial nas várias espécies de eucalipto. Chagas et al.,  (2002) utilizando Eucalyptus citriodora, E. globulus e E. staigeriana no carrapato B. microplus, buscando a produção de acaricidas menos agressivos. Os concentrados emulsionáveis de E. globulus mataram 100% dos carrapatos a uma concentração de 9,9% e o de E. staigeriana a uma concentração de 3,9%, mostrando ser eficiente. Silva et al., (2008), realizou um estudo para avaliar a eficácia de fitoterápicos e produtos químicos carrapaticidas no controle do B. microplus. O óleo de nim (Azadirachta indica) alcançou índices de eficácia superiores a 95%. O Capim ou Erva Cidreira (Cymbopogon citratus) tem nos principais constituintes o citral, geranial e neral (BUZATTI, 2011). A presença de flavonóides, alcalóides e triterpenos, que confere atividade antibacteriana, antifúngica, inseticida, diurética, anti-carcinogênica, hipotensiva e anti-inflamatória (SILVA et al., 2005). Olivo et al. (2013) o óleo pode ser usado no controle do carrapato, obtendo 89,5 % de eficiência. O capim-gordura (Melinis minutiflora) possui efeito acaricida, apresentando em suas folhas, o 1,8 cineol, que também é um eficiente composto no combate ao carrapato (Pinto, 2011). Prates et al. (1998) em estudo, salienta que o monoterpeno 1,8-cineol na concentração de 10,6%, foi capaz de matar 100% das larvas desse carrapato. No tabaco ou fumo (Nicotiana tabacum) a nicotina é uma das substâncias que apresentam efeito inseticida e ectoparasiticida, apresentando o 1,8 cineol. O eugenol encontrado em suas folhas e ácido oxálico são acaricidas (PEREIRA, 2007). Meinerz (2007) testando 5% de fumo e cal conseguiu eficácia de até 60%, enquanto Olivo et al. (2009) não encontraram resultados satisfatórios. De acordo com a pesquisa evidenciou-se que a utilização da fitoterapia no controle do carrapato Boophilus microplus possui sim o poder inseticida, porém com uma eficiência a baixo do esperado, mas interessante em alguns sistemas de produção.


Referências

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