Correlação entre a capacidade de fermentação e as características químicas-bromatológicas e morfológicas do capim mombaça

Pamela Kerlyane Tomaz1, Leandro Coelho de Araujo2, Luis Aurelio Sanches 4093, Aline Tais de Carvalho de Oliveira4, Sabrina Novaes dos Santos-Araujo5, 6º Adriano de Almeida Lino6, Tamires Oliveira de Lima7, Luciana Rodrigues de Lima8
1 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
2 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
3 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
4 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
5 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
6 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
7 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
8 - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

RESUMO -

O objetivo com o presente estudo foi identificar as características químicas-bromatológicas e morfológicas que apresentam maior correlação com a capacidade de fermentação para o capim Mombaça antes da ensilagem. O experimento foi conduzido na fazenda experimental do Campus de Ilha Solteira da UNESP no ano de 2015. Foram avaliadas as alturas dossel de 70, 90, 110, 130 e 150 cm e nas estações Verão e Inverno. Para cada altura foram estimadas a capacidade de fermentação (CF), composições químico-bromatológicas e morfológicas. O teor de MS foi a variável que apresentou maior correlação com a CF. Os teores de FDN e FDA podem ser variáveis úteis na estimativa de CF quando a MS, CHO e PT estiverem ausentes.

Palavras-chave: altura de planta, silagem, capim tropical.

Correlation between fermentation capacity and, chemical-bromatological and morphological characteristics of guinea grass

ABSTRACT - The objective of the present study was to identify the chemical-bromatological and morphological characteristics that present a higher correlation with the fermentation capacity for the Mombasa grass before silage. The experiment was conducted in the experimental farm of the Campus of Ilha Solteira of UNESP in the year 2015. The canopy heights of 70, 90, 110, 130 and 150 cm were evaluated in the summer and winter seasons. For each height were estimated the fermentation capacity (CF), chemical-bromatological and morphological compositions. The DM content was the variable that presented the highest correlation with CF. The NDF and ADF levels may be useful in CF estimation when MS, CHO and PT are absent.
Keywords: plant height, silage, tropical grass.


Introdução

As plantas forrageiras têm seu crescimento e qualidade variável conforme a época do ano alternando entre maior e menor crescimento e valor nutritivo e quando se tem um número instável de animais em pastejo observam-se períodos em que há falta volumoso e períodos em que há excesso (ZAGO, 2011), não tendo equilíbrio entre demanda e oferta. Para diminuir essa problemática, diversos métodos têm sido pesquisados e utilizados para suprir o déficit alimentar nos rebanhos comerciais mantidos em regime de pasto, e o mais comum têm sido a confecção de silagem. Gramíneas de clima tropical, dentre elas o capim Mombaça (Panicum maximum Jack. cv. Mombaça), apresentam alta produtividades de massa seca (MS) ao longo do ano, no entanto, com sazonalidade de produtividade onde o crescimento é mais intenso no período chuvoso o que gera um excedente de forragem neste período, que pode ser conservado na forma de silagem para utilização na época de escassez (VASCONCELOS et al., 2009). Gramíneas tropicais apresentam baixo teor de MS, alto poder tampão (PT) e baixo teor de carboidratos solúveis (CS), colocando em risco o processo de conservação por meio da ensilagem, devido surgir fermentações secundárias (EVANGELISTA et al., 2004). O objetivo do presente estudo foi identificar as características químicas-bromatológicas e morfológicas que apresentam maior correlação com a capacidade de fermentação durante duas estações do ano, em diferentes idades de rebrotação do capim Mombaça.

Revisão Bibliográfica

Gramíneas forrageiras tropicais não apresentam teores adequados de MS, CS e PT para proporcionar um eficiente processo fermentativo. Avaliando a melhor idade de corte para ensilagem, os estudos basearam-se no número de dias de rebrotação, manejo amplamente difundido para sistemas de pastejo rotacionado antes da introdução dos conceitos de ecofisiologia de plantas forrageira. De forma geral, esses estudos apontaram que a época de corte para as principais espécies tropicais, deveria ser entre 50 e 65 dias de rebrotação (VASCONCELOS et al. 2009, AVILLA et al., 2009) no entanto, a interpretação desses resultados deve ser cautelosa, pois sua aplicação está restrita às condições onde os experimentos foram desenvolvidos, uma vez que cada experimento apresentou particularidades quanto a fertilidade do solo, adubação nitrogenada, suplemento hídrico, estação do ano e manejo, podendo ocorrer variações nos números de dias de rebrotação conforme houver variação naqueles fatores, uma vez que eles determinam o ritmo de crescimento da pastagem e consequentemente as características morfo-fisiológicas e químico-bromatológicas (DA SILVA & NASCIMENTO Jr, 2007). Para que esses resultados pudessem ser aplicados para qualquer condição de fertilidade, clima e manejo novos estudos deveriam ser realizados tendo como base os conceitos atualmente definidos e aplicados para ecofisiologia de plantas forrageira. Os estudos nessa linha de pesquisa evoluíram a ponto de não se utilizar mais os dias de rebrotação como parâmetro para o manejo do pastejo. Atualmente as tomadas de decisões para esse fim são realizadas com base na estrutura do dossel ou em variáveis altamente correlacionadas como ela como é o caso da altura do dossel, por exemplo, (DA SILVA & NASCIMENTO Jr, 2007). Nestes experimentos foi comprovado que para uma determinada altura uma mesma estrutura do dossel era observada, dependente apenas da cultivar estudada e não mais das condições de fertilidade, clima e manejo como tem sido constatado para a Mombaça, Tanzânia, Marandu e Xaraés (DA SILVA & NASCIMENTO Jr, 2007) e de forma análoga, a altura poderia ser um importante indicativo das variações na capacidade de fermentação da silagem de capins tropicais pode ser uma variável para indicar o instante de colheita para essa finalidade em substituição aos dias fixos.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda da UNESP de Ilha Solteira durante o ano de 2015 utilizando uma pastagem Panicum maximum cv. Mombaça estabelecida há 20 anos. O experimento foi delineado em blocos completos casualizados com esquema em fatorial e 4 repetições. Os fatores corresponderam a pastagem coletada nas alturas do dossel de 70, 90, 110, 130 e 150 cm em relação a superfície do solo e às estações de primavera/verão (verão) e outono/inverno (inverno). Cada parcela teve dimensões de 10 x 10 m. As coletas de verão ocorreram entre os dias 15/1 a 19/3/2015 e as de inverno de 27/3 a 18/12/2015. A altura de resíduo adotada foi de 20 cm (CARNEVALLI et al., 2006). As coletas foram realizadas de forma manual usando-se um quadrado de 1 x 1 m amostrando 4 pontos por parcela retirando-se posteriormente uma subamostra composta para separação morfológicas em folha (MSF), colmos+bainhas (MSC) e material morto (MSMM). A soma dos componentes morfológicos deu origem a produtividade de MS total (MSTOTAL). A MS foi determinada pelo método gravimétrico após a secagem em estufa de ventilação forçada a 55° C por 72 h. As amostras secas foram pesadas e moídas (<1 mm) para determinação da MS a 105 ºC, proteína bruta (PB) (AOAC, 1980), carboidratos solúveis (CS) conforme Johnson et al. (1966), concentrações de fibra em detergente neutro (FDN) e ácido (FDA) pelo método sequencial (ROBERTSON & VAN SOEST, 1981). Para a capacidade de fermentação (CF) do material foi adotada a equação proposta por Weissbach & Honig citada por Oude Elferink et al. (1999) que considera o teor de MS, CS e poder tampão (PT) conforme: CF= MS+8*(CS/PT). Para o PT uma quantia de 15 g da massa fresca foi destinada para a análise como descrito por Playne & McDonald (1966). Os dados foram submetidos à análise estatística sendo realizada uma matriz de correlação, utilizando-se o programa estatístico SAS (1999).  

Resultados e Discussão

Foram realizadas regressões lineares e não lineares simples entre todos as variáveis, sendo em seguida realizada a matriz de correlação linear simples entre as características químicos-bromatológics e de produtividade dos componentes morfológicos da forragem.Na tabela 1 consta a matriz de correlação linear simples no período de Verão. As maiores correlações foram observadas para a MS vs CF (0,999) e MS vs CS (0,721) o que é compreensível uma vez que a MS e CS são utilizadas para estimativa da CF. No entanto, fica evidente que a MS é a variável de maior contribuição para elevação da CF. Apesar do PT também compor a equação para estimativa da CF sua correlação foi inferior a 0,500. O PT é representado basicamente pelos nitrogênio e ácidos orgânicos que por sua vez são limitados em forrageiras tropicais.Pode se notar que os teores de CS são influenciados pelo teor de MS (r= 0,666) e um ponto de equilíbrio deve ser investigado em estudos futuros para maximizar a CF. Para os componentes morfológicos foram observadas correlações negativas significativas entre a CF e MSF. Para os teores de FDN e FDA as correlações com a CF foram positivas e acima de 0,500. Esses resultados indicam que a FDN e FDA podem ser utilizadas em estudos que visem a estimativa da CF, por meio de conjuntos de dados disponíveis na literatura onde não foram disponibilizadas todas as variáveis necessárias para estimativa da CF, uma vez que a determinação de CS e PT geralmente não são realizadas. Com relação as produtividades dos componentes morfológicos MSF, MSC e MSTOTAL foram observadas correlações negativas destes com a CF, porém inferior a 0,500. Esse resultado indica que esses componentes não são variáveis consistentes para estimativa da CF. Na tabela 2 consta a matriz de correlação linear simples entre as variáveis químicos- bromatológicos e de produtividade dos componentes morfológicos da forragem, no Inverno. Em uma análise geral as menores correlações foram observadas durante a estação de Inverno, quando comparada com o Verão. A alta correlação entre a CF vs MS (0,997) para o Inverno confirma que a MS é a variável de maior contribuição para variações na CF, independentemente da estação do ano e por esse motivo aditivos absorvente são comumente utilizados para ensilagem de capins tropicais (PEREIRA, 2001). Para a estação de Inverno os componentes morfológicos apresentaram correlações significativas apenas para a MSMM e MSTOTAL, porém com valores muito baixos.

Conclusões

O teor de MS é o componente de maior correlação com a CF independente da estação do ano. Para a estação de verão os teores de FDN e FDA apresentam correlação significativa e positiva, dando margens para fomentar estudos de modelagens que podem utilizar essas variáveis como input para estimativa da CF. Os componentes mofológicos não são boas variáveis para estimativa da CF, pois apresentam baixa correlação com essa variável. Processo FAPESP nº. 2014/10356-0.  

Gráficos e Tabelas




Referências

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