DEGRADABILIDADE “IN SITU” DA MATERIA SECA DE GRAMINEAS CULTIVADAS NA SAVANA DE RORAIMA

Lévison da Costa Cipriano1, Wilson Gonçalves de Faria Júnior2, Bruna Martins Mota3, Edson Alencar Conceição de Sousa4, Viviane Antunes Pimentel5, Wilma Gonçalves de Faria6, Juliana Cristina Nogueira Colodo7, Deila Cristina Vieira da Silva8
1 - Universidade Federal de Roriama- UFRR
2 - Universidade Federal de Roraima- UFRR
3 - Universidade Federal de Roraima- UFRR
4 - Universidade Federal de Roraima- UFRR
5 - Escola Agrotécnica da UFRR- EAgro
6 - Instituto Federal de Roraima- IFRR (Campus Amajari)
7 - Universidade Federal de Roraima- UFRR
8 - Escola Agrotécnica da UFRR- EAgro

RESUMO -

Foi avaliada a cinética de fermentação in situ e a degradabilidade efetiva (DE) dos capins andropogon, gordura, massai, aruana, colonião e mombaça, cultivados e colhidos com 60 dias de rebrota. O estudo foi realizado nos campus Murupu e Cauamé, da Universidade Federal de Roraima, Boa Vista – RR. Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso com parcelas subdivididas. O capim mombaça apresentou os maiores valores para fração solúvel (205,66 g/kg), taxa de degradação (0,0523/h) e DE (459,47 e 365,02 g/kg MS, para taxas de passagem de 0,02/h e 0,05/h, respectivamente). O capim massai demonstrou uma cinética de fermentação próxima ao do capim mombaça, porém com menores valores de taxa de fermentação (0,0303/h) e fração solúvel (148,52 g/kg). A cinética de fermentação e a DE obtida para as gramíneas cultivadas na savana de Roraima possuem baixas taxas de degradação ruminal comparados à literatura. Recomenda-se o uso destas gramíneas para animais de baixa à média exigência nutricional.

Palavras-chave: Panicum maximum, fermentação, forragem.

DEGRADABILITY "IN SITU" OF THE DRY MATTER OF GRAMINEAS CULTIVATED IN SAVANA DE RORAIMA

ABSTRACT - The in situ fermentation kinetics and the effective degradability (ED) of the andropogon, gordura, massai, aruana, colonião and mombaça grasses that were cultivated and harvested with 60 days of regrowth were evaluated. The study was carried out at the Murupu and Cauamé Campuses, Federal University of Roraima, Boa Vista - RR. A completely randomized design with subdivided plots was used. Mombasa grass had the highest values for soluble fraction (205.66 g/kg), degradation rate (0.0523/h) and ED (459.47 and 365.02 g/kg DM, for passage rates of 0, 02/h and 0.05/h, respectively). The massai grass showed a fermentation kinetics close to that of the mombaça grass, but with lower values of fermentation rate (0.0303/h) and soluble fraction (148.52 g/kg). The fermentation kinetics and ED obtained for grasses cultivated in the Roraima savanna have low rumen degradation rates compared to the literature. It is recommended to use these grasses for animals from low to medium nutritional requirement.
Keywords: Panicum maximum, fermentation, forage.


Introdução

Em razão das condições edafoclimáticas da savana de Roraima e a predominância no estado do sistema de produção de ruminantes ser à pasto, torna-se de grande importância estudos relacionados ao desempenho de forragens nessas condições e a avaliação do valor nutricional das mesmas. A qualidade das forragens ingeridas e as suas degradabilidades pela microbiota ruminal influenciam diretamente no desempenho animal.  Por meio da degradabilidade ruminal podemos avaliar qual o nível de aproveitamento das forrageiras e portanto a avaliação da degradabilidade de uma forrageira, tem como objetivo satisfazer dois interesses básicos: a necessidade de se comparar diferentes forrageiras considerando-se que as mais digestíveis apresentarão melhor retorno econômico/produtivo pelos animais que as consumiram; e quando da formulação de modelos mecanísticos que expressem progressiva e verdadeiramente o fenômeno dinâmico da digestão, considerando os fatores circunstanciais inerentes ao alimento oferecido. Assim, objetivou se com esse trabalho determinar a cinética de fermentação de diferentes forrageiras, cultivados sob as condições edafoclimáticas da savana de Roraima.

Revisão Bibliográfica

Balsalobre et al. (2003) avaliando a degradabilidade da matéria seca (MS) do capim tanzânia colhido em três épocas do ano (verão, outono e primavera), em Piracicaba, São Paulo,  encontraram valores de fração solúvel variando de 167 a 212 g/kg MS. A fração potencialmente degradável relatada foi de 545 a 632 g/kg MS e as taxas de degradação variaram de 0,0439 a 0,0509/h. As degradabilidades efetivas para taxas de passagem de 0,02/h foram de 583 a 919 g/kg MS. Já Garcez et al. (2016) avaliaram a cinética de degradação ruminal do capim-colonião em três idades pós rebrota (22, 34 e 46 dias), com obtenção da amostra a 30 cm do solo por pastejo simulado. Estes autores descreveram valores para a fração solúvel, fração potencialmente degradável e taxas de degradação variando de 187 a 227 g/kg MS, 361 a 621 g/kg MS e 0,048 a 0,052/h. As degradabilidades efetivas para 0,02/h e 0,05/h variaram de 475 a 538 g/kg MS e 396 a 430 g/kg MS, respectivamente. Para silagens de capim-andropogon colhido entre 56 a 112 dias e cultivados em Lagoa Santa, Minas Gerais, Ribeiro Jr et al. (2014) relataram valores de taxa de fermentação ruminal de variando de 0,027 a 0,031 /h. Estes autores não observaram variação nos conteúdos de fração solúvel com média de 11,23 g/kg MS. Os valores de fração lentamente degradável variaram de 596 a 642 g/kg MS.

Materiais e Métodos

Os capins andropogon (Andropogon gayannus), gordura (Melinis minutiflora) e os do gênero Panicum maximum, cultivares massai, aruana, colonião e mombaça foram cultivados e colhidos no campus Murupu da Universidade Federal de Roraima (UFRR) situado em Boa Vista, RR. Foram colhidos 4 amostras por capim, numa área de corte de 25x25 cm, com 60 dias de rebrota, durante março à abril de 2015 (transição secas-águas). As amostras foram colocadas em estufas com ventilação forçada, a 55 °C por 72 horas e depois moídas a 2 mm. O estudo in situ foi realizado no campus Cauamé da UFRR (Boa Vista – RR; 2°52'09.8"N 60°42'41.7"W). Foram utilizadas bolsas F57 ANKOM®, com 1 g de amostra cada. Utilizou-se uma novilha fístulada no rumém com peso de 350 Kg, a qual foi mantida a pasto e suplementada com 2 kg /dia de concentrado comercial (18% PB e 70% NDT). As amostras dos capins, dos resíduos de incubação ruminal e do tempo zero foram analisadas segundo os métodos da AOAC (2006) para matéria seca (MS). Os dados de desaparecimento da MS foram submetidos ao método interativo de Gauss Newton (PROC NLIN SAS) para ajuste ao modelo proposto por Orskov e McDonald (1979): Deg=a+b*(1- exp(ct)), onde “a” é a fração solúvel; “b” é fração lentamente degradada; “c” é a taxa fracional constante de degradação da fração “b”; “t” é o tempo de incubação no rúmen. As degradabilidades efetivas (DE) foram calculadas, seguindo o modelo de Orskov e McDonald (1979): DE=a + [(b*c) / (c+k)], onde k é a taxa fracional de passagem, sendo consideradas para este experimento as taxas de 0,02/hora, 0,03/hora e 0,05/hora, que são respectivamente os tempos de permanência in situ de 50, 33 e 20 horas. Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso com parcelas subdivididas, sendo as parcelas os capins e subparcelas os tempos de incubação. Os parâmetros dos modelos, as DE e a degradação às 96 horas foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de SNK (P<0,05), utilizando o PROC MIXED SAS.

Resultados e Discussão

A cinética de degradação da MS dos capins gordura e andropogon foram semelhantes entre si, apresentando os menores valores de degradabilidade, quando comparado com os demais capins (Figura 1). Os capins aruana e massai apresentaram uma curva de fermentação semelhante entre si, até as primeiras 48 horas e a partir daí se diferiram, com o capim massai atingindo maior degradação às 96 horas. O capim mombaça demostrou uma curva de fermentação intensa nas primeiras 12 horas, sendo que nas primeiras 48 horas atingiu seu potencial de degradação e se estabilizou. Tal comportamento é para garantir rápido aproveitamento da forrageira em animais (alta produção) de alta taxa de passagem. Com relação aos parâmetros do modelo (Tabela 1) pode-se observar que o valor encontrado para a fração solúvel (A) do capim mombaça foi superior em relação aos demais capins. Já os capins colonião, aruana e gordura foram semelhantes entre si, com média de 146,30 g/kg. Os capins massai e andropogon apresentaram os menores valores para A, com média de 107,08 g/kg. Balsalobre et al. (2003) avaliaram diferentes cultivares de capins do gênero Panicum maximum e relatam valores de fração A entre 156,0 e 167,0 g/kg, os quais são superiores aos encontrados nesse experimento. A fração lentamente degradável (B) do capim aruana foi a maior, seguido dos capins andropogon e gordura, que são iguais entre si. Os capins mombaça e massai apresentaram valores intermédios, se assemelhando tanto aos capins andropogon e gordura quanto ao capim colonião, sendo este o capim com o menor valor para a fração B. As maiores taxas de degradação (C) foram dos capins colonião e mombaça, que são semelhantes entre si e superiores aos demais capins, enquanto os capins aruana, massai, andropogon e gordura não apresentaram diferença significativa (P>0,05). Segundo Pedreira et al. (2014), capins do gênero Panicum maximum demostraram valor médio para C de 0,0317/h, sendo inferior a média 0,0452/h, encontrada neste estudo para o gênero Panicum. As (DE) para as taxas de passagem de 0,02/h e 0,05/h do capim mombaça foram a superiores, seguido do capim massai que apresentou valor intermediário e semelhante ao do capim mombaça e aos capins colonião, aruana, andropogon e gordura, capins esses que não se diferiram. A DE (0,02/h) encontrada para o capim andropogon foi inferior ao valor 457 g/kg MS, descrito por Ribeiro Júnior et al.  (2014). De modo semelhante os valores encontrados para o capim massai foram inferiores ao descrito por Pedreira et al. (2014)  de 415 g/kg para DE (0,05/h) do capim massai. Observou-se menores respostas para os parâmetros de fermentação e DE das forrageiras avaliadas em relação aos disponíveis na literatura. Isto pode ser explicado em parte pela época do ano em que foram avaliadas e em razão da maior velocidade de maturação das plantas na região, que apresenta temperatura e radiação solar elevada. Logo, seria interessante a avaliação destas forrageiras com menores dias de rebrota.

Conclusões

O capim mombaça apresentou melhor cinética de fermentação e degradabilidade efetiva, seguido do capim massai. A cinética de fermentação e a degradabilidade efetiva observada para as forrageiras cultivadas nas condições da savana de Roraima apresentam menores taxas e extensões de degradação ruminal comparados à literatura. Para as condições de realização deste estudo recomenda-se o uso destas forrageiras para animais de baixa à média exigência nutricional.

Gráficos e Tabelas




Referências

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS-AOAC. Official methods of analysis. 18.ed. 2005. Gaithersburg: AOAC International, Current Through Revision 1. 2006. 1243p. BALSALOBRE, M. A. A. et al. Cinética da degradação ruminal do capim Tanzânia irrigado sob três níveis de resíduo pós-pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia, . v.32, n.6, p.1747-1762, supl. 1, 2003. GARCEZ, B. S. et al.  Degradabilidade ruminal do capim colonião (Panicum maximum jacq. cv. colonião) em três idades pós-rebrota. Acta Veterinaria Brasilica, v.10, n.2, p.130-134, 2016. ORSKOV, E.R.; McDONALD, I. The estimation of protein degradability in rumen from incubation measurements weighted according to rate of passage. The Journal of Agricultural Science, v.92, n.2, p.499-503, 1979. PEDREIRA, C. G. S. et al. Acúmulo de forragem e degradabilidade ruminal de cultivares de Panicum maximum, Nativa,  v. 02, n. 03, p. 143-148, 2014. RIBEIRO JUNIOR, G.O. et al. Cinética de degradação in situ das silagens de capim Andropogon gayanus produzidas em três idades de corte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.66, n.6, p.1883-1890, 2014.