DEGRADABILIDADE IN SITU DA MATÉRIA SECA E FIBRA EM DETERGENTE NEUTRO DE PERESKIA ACULEATA MILLER (ORA-PRO-NÓBIS)

João Victor de Souza Martins1, Endyara Signor Kohl2, Douglas Gomes Vieira3, Luiz Carlos Pereira4, Eliseu Aparecido Messias5, Lucas Gomes da Silva6, Luís Carlos Vinhas Itavo7, Rodrigo Gonçalves Mateus8
1 - Universidade Católica Dom Bosco
2 - Universidade Católica Dom Bosco
3 - Universidade Católica Dom Bosco
4 - Universidade Católica Dom Bosco
5 - Universidade Católica Dom Bosco
6 - Universidade Católica Dom Bosco
7 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
8 - Universidade Católica Dom Bosco

RESUMO -

Busca-se com esta pesquisa aprimorar os estudos da Pereskia aculeata Miller, encontrando assim novas alternativas na alimentação de ruminantes. Dessa forma objetivou-se avaliar a degradabilidade potencial e efetiva in situ da matéria seca e da fibra em detergente neutro da parte aérea da planta Pereskia aculeata Miller, mais conhecida como Ora pro nóbis. A degradação foi estimada através da determinação de MS e FDN, indicadores internos obtidos após a incubação ruminal de tempos de 0, 12 ,24 ,48 ,72 ,120 e 144 horas em bovino fistulado no rúmen. A folha apresentou maior degradabilidade potencial (58,7%) e efetiva com 2% (50,9%) de taxa de passagem de sólidos de matéria seca. Entretanto, as frações de degradabilidade de FDN não apresentaram diferença com a separação dos componentes da parte aérea e folhas. Conclui-se a planta apresenta alto potencial dietético para utilização na nutrição de ruminantes.

Palavras-chave: Novas alternativas na alimentação, degradabilidade, nutrição de ruminantes, Pereskia aculeata Miller.

DEGRADABILITY IN SITU OF DRY MATTER AND NEUTRAL DETERGENT FIBER OF WITH PERESKIA ACULEATA MILLER (ORA-PRO-NÓBIS)

ABSTRACT - This research aims to improve the studies of Pereskia aculeata Miller, thus finding new alternatives in ruminant feed. This way, it aims to evaluate the potential and effectiveness of the degradability in situ of dry matter on neutral detergent fiber of the aerial part of the plant Pereskia aculeata Miller best known as ora-pro-nóbis. The degradation was estimated by the determination of DM and NDF internal indicators obtained after ruminal incubation at 0, 12, 24, 48, 72, 120 and 144 hours in rumen fistulated bovine. The leaf presented higher potential (58.7%) and effective degradability with 2% (50.9%) of dry matter solids passing rate. However, the degradability fractions of NDF showed no difference with no separation of aerial components and leaves. It is concluded that the plant presents high dietary potential for use in ruminant nutrition.
Keywords: New alternatives in feed, degradability, ruminant nutrition, Pereskia aculeata Miller.


Introdução

A Pereskia aculeata Miller, popularmente conhecida como Ora pro nóbis, Groselha-da-américa, Lobrobo ou Carne dos pobres, pertence à família cactaceae, possui folhas suculentas e comestíveis, podendo ser considerado um complemento nutricional no preparo de rações para bovinos. É uma planta de fácil reprodução e cultivo, por sua rusticidade e, principalmente, tolerância a déficit hídrico, o que ressalta sua utilização por pequenos e médios produtores, podendo ser cultivadas como fonte folhosa complementar nos períodos em que há carência de outros vegetais (SOUZA et al., 2009). Suas folhas possuem importantes qualidades nutritivas, como alto teor de carboidrato, lisina, cálcio, fósforo, magnésio, ferro, cobre e, principalmente, alto teor de proteínas. A determinação da degradação ruminal é fundamental, pois avalia a qualidade dos alimentos fibrosos, como as forrageiras, pois o rúmen é o principal sítio de degradação destes alimentos (BENEVIDES et al., 2007), além disto, esta técnica determina a quantidade de nutrientes disponíveis para os microrganismos do rúmen e a quantidade destes nutrientes que chegam ao intestino (MEHREZ e ORSKOV, 1977). Dentro deste contexto, objetivou-se avaliar a degradabilidade potencial e efetiva da matéria seca (MS) da fibra em detergente neutro (FDN) da parte aérea da Pereskia aculeata Miller

Revisão Bibliográfica

A espécie Pereskia aculeata Miller, é uma trepadeira arbustiva que possui um desenvolvimento vegetativo durante o ano inteiro (ALMEIDA FILHO & CAMBRAIA, 1974) e é conhecida como “planta de quintal” (SOUZA et al., 2009). Esta planta demonstra ser um forte meio de enriquecimento e incremento de boa qualidade na nutrição de animais pelo seu alto teor de nutriente e de boa adaptabilidade em diferentes tipos de solos e em diferentes climas (AGOSTINE-COSTA et al., 2012). De acordo com Duarte e Hayashi (2005), a Pereskia aculeata Miller ocorre em terras áridas ou levemente áridas. Almeida-Filho e Cambraia (1974) relatam que ela é nativa da América Tropical, além de ser largamente encontrada na Índia Oriental. Já Masaro-Júnior et al. (2011) relatam que a cactácea em questão é nativa do Brasil e distribuída em todo o Nordeste, Centro-Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. Na perspectiva de se obter um alimento de fonte barata e de fácil cultivo em áreas mais críticas, como secas e climas desfavoráveis, a Pereskia aculeata Miller tem um ponto positivo nesses vínculos avaliados por apresentar um considerável teor de proteína de baixo custo e tolerância a diversos fatores climáticos. Dessa forma pode ser uma boa alternativa para produtores que estão localizados em regiões de climas desfavoráveis, principalmente para pequenos e médios produtores que em determinada época do ano sofrem com a falta de alimentos para as suas criações e com a escassez de subprodutos para a fabricação de rações volumosas (RIBEIRO et al., 2014). Com isso, a técnica de degradailidade in situ, usando sacos de náilon incubados no rúmen de animais fistulados, é útil para determinar a degradabilidade de diferentes frações do alimento e comparar diferentes produtos, apesar de ser um método trabalhoso e requerer tempo para obtenção de resultados (PETIT et al,.1994). Todavia, quando se conhece o comportamento de desaparecimento ruminal das diversas entidades nutricionais, há maior precisão no balanceamento de rações para ruminantes. Onde também o método in situ oferece ótimas condições de temperatura, pH, tamponamento, substratos, para uma melhor degradação dos alimentos e conseqüentemente maior confiabilidade nos parâmetros obtidos

Materiais e Métodos

Os ensaios foram conduzidos na Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, em Campo Grande–MS, para avaliação do potencial de uso da Pereskia aculeata Miller na alimentação de bovinos. Após a separação do material, determinou-se a avaliação bromatológica das frações da planta. As análises de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), foram determinadas conforme AOAC (Association..., 2010). Os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram analisados conforme o método descrito por Robertson e Van Soest (1981). O ensaio de degradabilidade in situ foi conduzido utilizando-se animal fistulado no rúmen. Os tempos de incubação foram: 0, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas. A degradabilidade potencial da MS e da FDN foi calculada através da equação descrita por Mehrez e Orskov (1977) equação 1. Equação 1 - DP = a + b (1- e-ct) onde:DP = degradabilidade potencial no tempo t;a = interceptor representando a porção prontamente degradável no rúmen;b = fração insolúvel, mas potencialmente degradável;c = taxa constante de degradabilidade da fração b; t = tempo de incubação; a + b ≤ 100. A degradabilidade efetiva da matéria seca e da proteína bruta no rúmen foram calculadas por meio da equação descrita por Orskov e McDonald (1979) equação 2. Equação 2 - Degradabilidade efetiva = a + (bc)/(c + k) onde:a, b e c = mesmos parâmetros da equação 1;k = taxa estimada de passagem de sólidos no rúmen. A degradabilidade efetiva (DE) da matéria seca eFDN foram estimadas para cada amostra, conforme as taxas de passagem de sólidos de2%/h, 5%/h e 8%/h que são atribuídas,respectivamente, ao nível baixo, médio e alto de ingestão alimentar (AFRC, 1993). Os parâmetros não-lineares a, b e c foram estimados pelo processo iterativo do algoritmo Marquadt do PROC NLIN do SAS®, versão 9.2 (2009). As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Waller-Duncan, adotando-se α a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Os teores de MS e FDN apresentaram efeito (P<0,05) de degradabilidade potencial e efetiva entre os componentes botânicos Pereskia aculeata Miller incubadas (Tabela 2). Quanto aos parâmetros cinéticos da degradação potencial da matéria seca (MS), nota-se que a folha apresentou maior fração solúvel (31,6%) entre as amostras testadas. No entanto não houve diferença da degradabilidade potencial das folhas e as amostras de caule+folha (Tabela 2). Conforme esperado, o caule apresentou a maior fração insolúvel de MS (54,4%) entre os componentes botânicos avaliados. Resultando em menor degradabilidade efetiva entre os componentes analisados (Tabela 2). A taxa de passagem sólidos a nível de 2,0% de folhas de Pereskia aculeata Miller apresentou o maior valor de degradabilidade efetiva da MS (50,1%) e para a taxa de 5%/h e 8% os valores observados foram 45,1% e 41,9% respectivamente. Este resultado é devido a menor fração indigestível (41,3%) associada às frações “b” e “c” em relação as outras amostras analisadas. Os valores médios de degradabilidade potencial para a fração de FDN de folha e caule+folha foram 82,8 e 71,9%, respectivamente, diferindo da fração do caule que apresentou 51,7% (Tabela 2). Considerando-se que a composição dessas frações da Pereskia aculeata Miller, a maior degradabilidade obtida para FDN das folhas possivelmente está associada ao baixo teor de carboidratos fibrosos (Tabela 1), visto que a interação da lignina com a hemicelulose, mediante ligações estruturais dos carboidratos presente na membrana celular, implica diretamente na degradação do alimento (VAN SOEST, 1994). Da mesma forma, o menor percentual de fração prontamente solúvel de FDN do caule (32,2%) e maior percentual da fração indigestível (48,3%). Embora quando não separados os componentes botânicos, houve uma redução da fração indigestível em 41,82%, ou seja, o fornecimento da parte aérea total de Pereskia aculeata Miller aumenta a disponibilidade de energia para os animais. Possibilitando aumento na taxa da degradabilidade efetiva em 43,62%, 45,29% e 44,38% em relação a taxa de passagem de 2%, 5% e 8% respectivamente. Outro fato que pode ter colaborado para o aumento da degradabilidade efetiva do FDN da amostra de caule+folha e o maior fração mas potencialmente degradável (“b”) da MS juntamente com o aumento dos níveis da proteína (Tabela 1). Segundo Queiroz et al.(2010) descreveram as características físico químicas de diferentes fontes proteicas, que menores teores de FDN aumentam a capacidade do rumem em retenção de água, potencializando a degradação ruminal. Neste sentido o uso da Pereskia aculeata Miller na alimentação de ruminantes pode proporcionar a adequação de dietas, que otimizem o desempenho produtivo e reduzam o custo de produção, bem como as perdas energéticas associados à digestão e ao metabolismo dos nutrientes (CABRAL, 2002).

Conclusões

Entre as frações avaliadas de Pereskia aculeata Miller, a porção da folha apresentou o maior potencial efetivo da matéria seca, e a degradação potencial efetiva de FDN não apresentou diferença das folhas quando os componentes botânicos não foram separados, sendo assim, fica recomendada a parte aérea total da Pereskia aculeata Miller para utilização na nutrição de ruminantes.

Gráficos e Tabelas




Referências

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