Descrição morfológica do coração do Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis).

Jessica de Carvalho Pantoja1, Thais Emanuely dos Santos Amaral2, Adriana Caroprezo Morini3, José Humberto Fernandes da Rocha Sobrinho4
1 - Universidade Federal do Oeste do Para
2 - Universidade Federal do Oeste do Para
3 - Universidade Federal do Oeste do Para
4 - Universidade Federal do Oeste do Para

RESUMO -

Os peixe-boi são os únicos mamíferos aquáticos herbívoros e que nos dias atuais estão em risco de extinção, devidos a vários fatores. O estudo em questão abrange informações sobre a descrição do coração do peixe-boi da Amazônia, tendo em vista a importância de compreender o funcionamento deste órgão, e fazer comparações com o de outros mamíferos. A descrição das estruturas morfológicas, contaram com 01 (um) coração de peixe-boi da Amazônia e com auxilio de materiais necessários para fazer a técnica de dissecação. Como resultados observou-se que o coração da espécie analisada difere dos demais mamíferos terrestres pelo formato achatado e o ápice arredondado, além disso a sua relevância para a regulação das taxas cardíacas que influenciam diretamente no mergulho.

Palavras-chave: anatomia, mamíferos, peixe-boi, descrição.

Morphological description of the heart of the Amazonian Manatee (Trichechus inunguis).

ABSTRACT - The manatees are aquatic herbivores and the only mammals that today are at risk of extinction, due to several factors. The study in question covers information about the description of the heart of the Amazonian manatee, in view of the importance of understanding the functioning of this body, and making comparisons with that of other mammals. The description of morphological structures, with 01 (one) heart of Amazonian Manatee and with the aid of materials needed to make the dissection technique. As a result it was found that the heart of the species analyzed differs from the other land mammals by the flat format and the apex rounded, in addition to your relevance to the regulation of the heart rates that influence directly in the dip.
Keywords: Anatomy, mammals, manatees, description.


Introdução

Os peixes-boi são os únicos mamíferos aquáticos herbívoros, e atualmente são classificados pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como vulneráveis à extinção, e isso é decorrente não somente de ações humanas, mas também por certos fenômenos naturais e por sua baixa taxa reprodutiva. O peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) pertence à ordem Sirenia e é a única espécie que ocorre na água doce e a de menor tamanho. Tem como características morfológicas corpo largo e cilíndrico cauda em forma de remo, pescoço curto e largo e pele lisa, olhos pequenos, lábios grossos com pelos e não possui orelhas. Como característica exclusiva tem ausências de unhas, cor varia do cinza-escuro ao preto e geralmente possuem manchas brancas no peito e abdômen. Estes mamíferos possuem a frequência cardíaca variável, chegando a 70 batimentos por minuto (bpm) em caso de mergulho emergencial, e a 06 bpm em condições de repouso. Porém estes batimentos vão se encontrar em torno de 30 a 40 bpm (WHITE & FRANCIS-FLOYD, 1990). O órgão muscular central do sistema circulatório é o coração com funções extremamente relevantes para o funcionamento dos demais órgãos corpóreos, como o transporte de oxigênio e de nutrientes para os tecidos. Considerando isto, o presente trabalho teve como objetivo descrever a morfologia do coração do peixe-boi da Amazônia, através da técnica de dissecação, a fim de entender melhor seu funcionamento e estabelecer comparações com os alguns mamíferos.

Revisão Bibliográfica

Numerosos estudos foram descritos sobre a anatomia dos mamíferos terrestres, porém esse número quando se trata de mamíferos aquáticos é pequeno, principalmente se relacionarmos com a quantidade de espécies existentes (PABST et al., 1999). Estudos anatômicos sobre o coração indicam que os mamíferos aquáticos apresentam adaptações cardiovasculares e fisiológicas para o mergulho, sugerindo que uma preparação pré-mergulho é requerida para que o animal possa ter uma melhor capacidade de imersão. Estes mamíferos possuem a bradicardia (redução na taxa de batimentos cardíacos) que foi bem documentada como resposta cardiovascular ao mergulho dos mamíferos aquáticos (KOOYMAN et al1985 apud GARRI 2006). Segundo (BRITO 2015) o coração dos mamíferos aquáticos possui paredes ventriculares espessas e altamente trabeculadas, cordas tendíneas bastante desenvolvidas e a aorta é bulbosa e elástica. Em algumas espécies como a do peixe-boi o coração tem um aspecto ventre-dorsal achatado e com ápice arredondado. Comparado com outros mamíferos aquáticos, o peixe-boi apresenta taxa metabólica e frequência respiratória baixa. Apresenta também tolerância para baixos níveis de O2 e altos níveis de CO2 (GALLIVAN & BEST, 1981). Normalmente, mergulha por menos de 2 minutos, apesar de possuir capacidade para submergir por aproximadamente 15 minutos, sendo estes mergulhos prolongados, geralmente seguidos por uma série de mergulhos curtos. Sua frequência cardíaca é de 30 a 40 batimentos por minuto, porém em mergulho mais amedrontado, sua frequência cardíaca pode baixar para 8 a 12 batimentos por minuto (GALLIVAN & BEST, 1981).

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido no laboratório de Morfofisiologia Animal da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Para tanto, foi utilizado 01(um) coração do peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), oriundo do Zoológico das Faculdades Integradas do Tapajós (ZOOFIT). O órgão ficou congelado, como forma de mantê-lo conservado até ser feita a técnica de dissecação, que consiste na abertura e/ou separação de um organismo, neste caso de um órgão específico, para o detalhamento morfológico das estruturas externas e internas. Após o descongelamento foi feita a dissecação e analisados as cararcterísticas morfofológicas do coração.

Resultados e Discussão

O coração do peixe-boi da Amazônia possui quatro cavidades, duas superiores e duas inferiores, sendo dois átrios (esquerdo e direito) e dois ventrículos (esquerdo e direito) respectivamente (Figura 1). Seu formato dorso ventral é achatado, com ápice arredondado formado apenas pelo ventrículo esquerdo. Figura 1: Anatomia externa do coração do peixe-boi da Amazônia; AD- átrio direito, AE- átrio esquerdo, VD- ventrículo direito, VE- ventrículo esquerdo, SI- septo interventricular, AO- aorta, AP- artéria pulmonar. Cada cavidade do coração comunica com vasos sanguíneos: o átrio direito se comunica com as veias cavas superiores e inferiores; o átrio esquerdo comunica-se com as veias pulmonares; o ventrículo direito se comunica com a artéria pulmonar e o ventrículo esquerdo comunica-se com a aorta (RAMALHETE & LOPES 2010). Envolvendo quase todo o coração, há uma lâmina de tecido conjuntivo fibroso denominada pericárdio. Na base do coração observou-se a aorta, a artéria pulmonar (Figura 1). Não foi possível identificar as veias cavas- cranial e caudal e veias pulmonares. Os ventrículos estão separados pelo septo interventricular (Figura 1) e constituem a maior parte do coração, sendo a parede esquerda mais espessa que a direita. Nas cavidades ventriculares, foram observadas numerosas trabéculas cárneas, que emitem delgadas faixas musculares, conferindo aspecto de rede à superfície interna da parede ventricular. Em ambos os ventrículos foram observados músculos papilares, aos quais se prendem as cordas tendíneas. Comunicando os átrios com os ventrículos observaram-se as válvulas atrioventriculares, a válvula do lado direito é chamada de tricúspide e a válvula do lado esquerdo é chamada de bicúspide (Figura 2). Figura 2: Anatomia interna do coração do peixe-boi; CT- cordas tendíneas, VT- válvula tricúspide, VB- válvula bicúspide, MP- musculo papilar Em comparação com outras espécies de mamíferos o coração do peixe-boi possui um formato diferenciado, sendo o aspecto ventre-dorsal achatado e seu ápice arredondado. Também em uma analise macroscópica, por ter um menor tamanho. Segundo Lechner (1942 apud GARRI 2006) a forma do coração está associada com a performance fisiológica e que difere nas características anatômicas do coração com os mamíferos terrestres, tais como os felinos que apresentam um coração estreito, enquanto nos pinípedes este é mais largo. Por outro lado, Davis (1964) e Slijper (1979) sugerem que a forma do coração está associada com a forma do tórax e não com as atividades dos animais. Mas pesquisas realizadas por Drabek (1975; 1977) e Drabek e Burns (2002) sobre a forma do coração nos focídeos (família das focas) sugerem que ela está relacionada às adaptações cardiovasculares e à profundidade que mergulham, de acordo com o ambiente em que vivem e com o seu modo de vida. Estas características indicam que estes animais apresentam um coração extremamente largo e achatado, já que estariam menos sujeitos à deformação por pressão hidrostática do que um coração mais comprido. No entanto a estrutura básica e a localização do coração são típicas em relação aos mamíferos gerais.

Conclusões

Diante os resultados expostos no trabalho, notou-se  a importância de estudos sobre a morfologia do coração de peixes-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)  devido a relevância anatômica deste órgão que é essencial para o funcionamento dos demais órgãos e sistema e especialmente nestes animais tem função importante de adaptações cardiovasculares para a regulação do mergulho. Ressalta-se ainda que o formato do coração se difere de outras espécies de mamíferos, principalmente dos terrestres, como a forma achatada e o ápice arredondado, estas características indicam que estes animais estariam menos sujeitos à deformação por pressão hidrostática do que um coração mais comprido.

Gráficos e Tabelas




Referências

RAMALHETE, P.; LOPES, S. Dissecação do Coração de um Mamífero. Escola: Escola Básica 2,3 da Venda do Pinheiro, 2010.   Jessica Siegal-WILLOTT, D.V.M., Amara Estrada, D.V.M., Dipl. A.C.V.I.M. (Cardiology), Robert Bonde B.A., Arthur Wong B.S., Daniel J. Estrada M.B.A., M.H.A, and Kendal Harr D.V.M., M.S., Dipl. A.C.V.P. Electrocardiography in two subspecies of  manatee (Trichechus Manatus latirostris and T. M. manatus) Source: Journal of Zoo and Wildlife Medicine, 37(4):447-453. Published By: American Association of Zoo Veterinarians.   G.J. GALLIVAN, J.W. KANWISHER, and R.C. BEST. Heart rates and gas exchange in the Amazonian Manatee (Trichechus inunguis) in relation to diving. Journal of Comparative Physiology B, 1985. GUIMARÃES, J. P. Análise Morfológica e Ultra-estrutural do Coração do Lobo-Marinho-do-Sul (Arctocephus australis, Zimmermann, 1783 )2009. VALDEVINO, G.C.M. Variações morfológicas e geográficas no sincrânio do peixe-boi-da- Amazônia Trichechus inunguis (Natterer, 1883) 2016. Marmontel; Jean Carlos Ramos Silva, Fabrício Bezerra Sá. Curva de crescimento Trichechus inunguis de vida livre. OLIVEIRA, O.T.B Peixe-boi: História natural de um mamífero ameaçado de extinção. 2002. Tessarioli, L. F.; Jacinto, C. H.;  Lohmann, H. A. R.; Luna, F. O. Ecologia do peixe-boi Amazônico (Trichechus inunguis) 2007.   FRANZINI, A.M. Etnoecologia do peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) na província  petrolífera de Urucu, Amazonas, Brasil 2008. PAST, D.A; ROMMEL, S.A, MCLELLAN, W.A. Functional anatomy of marine mammals. In: REYNOLDS, J.E; ROMMEL, S.A. (eds). Biology of Marine Mammals. Smithsonian Institution Press: Washinton, D.C. 1999, p.15-72.