DESEMPENHO DE ALEVINOS DE JUNDIÁ Rhamdia quelen ALIMENTADOS COM DIETAS CONTAMINADAS COM DIFERENTES NÍVEIS DE ZEARALENONA
Flávia Luiza Lavach1, Roberta Portella Figueiró2, Jeferson Luis Alencar Borges3, Lais Tamara Becker da Silva4, Nathalia Datore Fortunato5, Alexsandro Kauffman da Rocha6, Paulo Rodinei Soares Lopes7, Gladis Ferreira Corrêa8
1 - Universidade Federal do Pampa
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RESUMO -
O experimento foi realizado no laboratório de Piscicultura e Aquicultura da Universidade Federal do Pampa, Campus Dom Pedrito, para avaliar o efeito da toxina zearalenona no desempenho de alevinos de jundiá (Rhamdia quelen) alimentados com rações contaminadas artificialmente com níveis crescentes de zearalenona. O experimento teve duração de 40 dias. Utilizou-se 240 alevinos com peso inicial de 5,88±0,55 g, criados em sistema de recirculação da água, termoregulado, e alimentados duas vezes ao dia, na proporção de 5% da biomassa total, com rações contendo um dos quatro níveis de zearalenona (0, 50, 100 ou 150 μgZEAkg-1). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em sistema fatorial, com 4 níveis de toxina, com 2 repetições. Dentre os parâmetros avaliados estão características zootécnicas. O efeito negativo da toxina reduziu significativamente o crescimento e ganho de peso dos alevinos, proporcionalmente aos níveis crescentes de toxina na dieta, apresentando mortalidade.
Palavras-chave: Alevinos, Caracteristícas Zootécnicas, Crescimento, Piscicultura, Toxina
PERFORMANCE OF JUNDIÁ Rhamdia quelen FED WITH CONTAMINATED DIETS WITH DIFFERENT LEVELS OF ZEARALENONE
ABSTRACT - The experiment was carried out at the Fish and Aquaculture Laboratory of the Federal University of Pampa, Campus Dom Pedrito, to evaluate the effect of the zearalenone toxin on the performance of jundiá (Rhamdia quelen) fingerlings fed artificially contaminated rations with increasing levels of zearalenone. The experiment lasted 40 days. A total of 240 fingerlings with initial weight of 5.88 ± 0.55 g, reared in a thermoregulated water recirculation system and fed twice daily at a ratio of 5% of the total biomass were fed with diets containing one of the four Levels of zearalenone (0, 50, 100 or 150 μgZEAkg-1). The experimental design was completely randomized, in a factorial system, with 4 levels of toxin, with 2 replicates. Among the evaluated parameters are zootechnical characteristics. The negative effect of the toxin significantly reduced the growth and weight gain of the fingerlings, proportionally to the increasing levels of toxin in the diet, presenting mortality.
Keywords: Fingerlings, Zootechnical Characteristics, Growth, Pisciculture, Toxin
Introdução
As micotoxinas são substâncias produzidas por fungos contaminantes de grãos, sendo distribuídas mundialmente. Entre as micotoxinas estudadas em cereais destacam-se as aflatoxinas, a zearalenona, a ocratoxina e os tricotecenos, a lesão mais acentuada à produção animal transcorre do efeito de baixas concentrações de micotoxinas nas rações, que são insuficientes para desencadear quadro perceptível, mas capazes de modificar o comportamento animal, prejudicando a cadeia produtiva. A zearalenona (ZEA) é um sólido cristalino, descrita como uma lactona e pode ser produzida por várias espécies de
Fusarium, sendo que
Fusarium graminearum e Fusarium culmorum são os principais produtores (ZINEDINE et al., 2007). A alteração térmica é essencial para produção de micotoxinas por fungos Fusarium. A temperatura perfeita para o cultivo de zearalenona está entre 12-14°C, além disso, as alterações térmicas que acontecem entre o dia e a noite também se tornam importantes à produção da zearalenona (BOEIRA, 2012). Os efeitos negativos das micotoxinas, em especial a zearalenona, na produção piscícola são irreparáveis, podendo levar à total perda da produção. Diante disto devemos ter alguns cuidados e precauções quando se trata da possível presença de micotoxinas nos alimentos na tentativa de minimizar ao máximo as contaminações. Objetivou-se, neste trabalho, analisar os efeitos da micotoxina zearalenona no desempenho produtivo dos jundiás alimentados com rações contaminadas artificialmente.
Revisão Bibliográfica
O jundiá, (
Rhamdia quelen), é um peixe neotropical, que pode ser encontrado desde o centro da Argentina até o sul do México, e seu cultivo está aumentando consideravelmente no sul do Brasil. Tolerando bem o frio, apresenta assim um bom crescimento durante os meses de inverno, quando que em outras espécies, o crescimento reduz ou até mesmo cessa por total. (FRACALOSSI et al., 2002). Mostra uma grande potencialidade para a criação intensiva, devido à sua facilidade de adaptação a diversos ambientes, possui rápido crescimento e excelente rusticidade, possui carne de boa palatabilidade, além de ser uma espécie bastante próspera que vem despertando grande interesse entre os piscicultores (LOPES et al., 2009). O termo “micotoxina” é usado para designar um grupo de compostos produzidos por algumas espécies fúngicas que podem causar doenças ou morte quando ingeridas pelo homem ou animais (BENNETT et al., 2003). São metabólitos produzidos durante o metabolismo secundário de fungos em crescimento, que podem contaminar os grãos e permanecer no alimento mesmo após a destruição dos fungos que as produziram. Os gêneros dos fungos mais comumente associados com toxinas que ocorrem, naturalmente, são
Aspergillus,
Penicillium e
Fusarium. A zearalenona, metabólito secundário, com características estrogênicas produzidas por fungos do gênero
Fusarium, é uma beta-lactona do ácido fenólico resorcílico, classificada de acordo com sua origem biossintética (MALLMANN, 2007). O International agency on research in câncer (IARC, 1993) avaliou a carcinogenicidade da zea e encontrou ser um possível carcinógeno humano. A sintomatologia da intoxicação por zearalenona é de maneira geral em um mesmo padrão, variando apenas em função da dose e da idade dos animais (MALLMANN et al., 2007). Um sintoma descrito por Mallmann et al. (2007), é a recusa ou diminuição da ingestão de alimentos, e esta pode estar relacionada à intoxicação por zea, pois, há ocorrência de sabor desagradável que o desenvolvimento e a contaminação fúngica intensa conferem ao alimento e também pelo dano hepático que esta toxina causa. De acordo com Mallmann et al. (2006), o melhor processo para controlar a contaminação por toxinas dos alimentos é a prevenção, porém quando o produto já está contaminado e vai ser usado como alimento, é necessário eliminar ou diminuir esta contaminação.
Materiais e Métodos
O experimento foi realizado no Laboratório de Piscicultura e Aquicultura da UNIPAMPA, Campus Dom Pedrito, com duração de 40 dias, no período de fevereiro a março de 2016. Utilizaram-se 24 caixas de polipropileno com capacidade de 50 litros, num sistema de circulação fechado termoregulado, acoplado a um biofiltro de fibra. Foram utilizados 240 alevinos de jundiá
Rhandia quelen com peso médio de 5,81±0,09g
, distribuídos em 24 unidades experimentais, cada uma com 10 animais, divididas em 12 tratamentos e 2 repetições. A alimentação foi ministrada 2 vezes ao dia, na proporção de 5% da biomassa total. Diariamente foi efetuada a limpeza das caixas e a contagem da eventual mortalidade. Na dieta dos peixes foram incluídos diferentes níveis de zearalenona, de acordo com os tratamentos: T0-controle (sem toxina); T1-50 μgZEAkg-1; T2-100 μgZEAkg-1; T3-150 μgZEAkg-1. Estas dietas foram preparadas no Laboratório de Piscicultura e Aquicultura, sendo isoprotéicas e isocalóricas, contendo 32,7% proteína bruta e 2960,24kcal Kg-1 de energia digestível. Realizaram-se três biometrias (inicial, aos vinte dias, e aos quarenta dias), onde todos os animais foram pesados e medidos. Diariamente foi realizado o controle dos parâmetros físicos e químicos da água, temperatura, oxigênio dissolvido, amônia total e nitrito com o kit colorimétrico (Alfakit ®). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial, com quatro níveis de toxina e duas repetições. Durante a execução do experimento foram analisados os seguintes parâmetros de desempenho produtivo: Ganho de peso; Ganho médio diário; Sobrevivência; Comprimento total (CT); Comprimento padrão (CP); Fator de Condição Corporal (FCC); Ganho de biomassa. Ao final do experimento, todos os animais foram abatidos, utilizando anestésico, óleo de cravo (Eugenol 750 mgL
-1), em dose letal. Este procedimento segue as recomendações do Comitê de Ética e Bem Estar Animal.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos para a qualidade química e física da água foram: temperatura: 24,99±2,09ºC; oxigênio dissolvido: 4,68±0,31mgL
-1; amônia total: 0,142±0,09mgL
-1 e nitrito: 0,012±0,005mgL
-1. Todos os esses valores também estão de acordo com os observados Piedras et al. (2004) para espécie
Rhamdia quelen. Os peixes que consumiram as dietas contendo zearalenona em níveis altos 50, 100 ou 150 μgZEAkg
-1, apresentaram diferença significativa (P<0,05) para peso final em relação ao tratamento controle, causando redução acentuada do ganho de peso em torno de 14,18% no com menor nível de inclusão de zearalenona (50 μgZEAkg
-1), não ocorrendo diferença entre os demais tratamentos com toxinas (Tabela 1). Para o comprimento padrão e total não houve diferença significativa (P>0,05) quando alimentados com dietas contaminadas artificialmente com a micotoxina. (Tabela 1). Outros autores demonstram a susceptibilidade do jundiá a doses menores de micotoxinas como as aflatoxinas na dieta (5 μg) em relação ao crescimento corporal e ganho de peso (Conroy, 2000). No entanto, Manning et al. (2005) ao alimentarem alevinos de channel catfish (
Ictalurus punctatus) com 20 μgAFkg
-1 na dieta, analisaram que não houve diminuição no ganho de peso, consumo alimentar e demonstrando ser uma espécie resistente a toxina. Os peixes que consumiram as dietas contaminadas com zearalenona em níveis de 50 (μgZEAkg
-1), apresentaram diferença significativa (P<0,05) para GMD em relação ao tratamento controle, com acentuada queda de desempenho em torno de 36,36%, não ocorrendo diferença entre os demais tratamentos com toxinas. Para FCC não houve diferença significativa (P>0,05) com a inclusão de toxina na dieta, em nenhuma das concentrações. (Tabela 2). Lopes et al. (2009) verificou uma queda no FCC quando incluídos níveis de aflatoxinas. Podendo justificar esta queda de FCC devido ao consumo em doses moderadas a baixas, podem causar aflatoxicose crônica, desencadeando graves problemas imunossupressivos, perda de ganho de peso e taxa de crescimento (DILKIN et al., 2002). Para a variável Biomassa houve diferença significativa (P>0,05) em relação aos tratamentos com adição de toxina e o controle, havendo queda de desempenho em torno de 34,58% (Tabela 2). Corroboram com este estudo, trabalhos desenvolvidos por Chavez-Sanchez et al. (1994), onde constataram que a inclusão de aflatoxinas até 20 mgAFkg
-1 na dieta de alevinos de tilápias após 25 dias experimentais causaram elevada mortalidade. Assim como neste experimento, que teve uma alta taxa de mortalidade de 32,9%. Em outras situações podem não ocorrer mortalidade, entretanto, podem aparecer sinais clínicos, sintomas e um quadro patológico específico, dependendo da micotoxina ingerida, da susceptibilidade das espécies, das condições individuais do organismo e interações ou não com outros fatores. (LOPES et al., 2005).
Conclusões
De acordo com este trabalho pode-se afirmar que os níveis crescentes de zearalenona prejudicaram o desempenho zootécnico dos animais, ocasionando queda de peso e a diminuição do comprimento total e padrão, GMD, biomassa e FCC, causando grandes prejuízos econômicos para o cultivo na cadeia produtiva.
Gráficos e Tabelas
Referências
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