DESEMPENHO DE BOVINOS DE CORTE DE DIFERENTES IDADES E GRUPOS GENÉTICOS, TERMINADOS EM CONFINAMENTO
Danielle Leal Matarim1, Juliana Jorge Paschoal2
1 - Professora das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU. Doutoranda em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. danielle.matarim@fazu.br
2 - Professora das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU. Doutora em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo (FZEA/USP). juliana.paschoal@fazu.br
2 - Professora das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU. Doutora em Qualidade e Produtividade Animal pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo (FZEA/USP). juliana.paschoal@fazu.br
RESUMO -
O presente trabalho objetivou comparar características de desempenho de animais Nelore e cruzados Nelore x Angus, alimentados exclusivamente com concentrado por 120 dias. O experimento foi realizado na FAZU – Faculdades Associadas de Uberaba, onde foram confinados 19 machos Nelore, com idade média de 30 meses e 20 novilhos F1 Nelore x Angus, com idade média de 24 meses. Foram mensurados o consumo de matéria seca (CMS), ganho médio diário (GMD), conversão alimentar (CA), eficiência alimentar (EA) e consumo alimentar residual (CAR). Os animais F1 Nelore x Angus apresentaram, no mesmo período, maior GMD (P<0,05), 2,49 kg/dia contra 1,59 kg/dia dos animais Nelore, com consumo de matéria seca estatisticamente semelhantes. Portanto a EA foi estatisticamente maior e a CA significativamente menor nos animais cruzados comparados aos animais Nelore. Apesar da diferença inicial entre os grupos genéticos (peso e idade), ambos foram abatidos com pesos semelhantes (565,6 e 573,32 kg).
Palavras-chave: Angus, consumo alimentar residual, eficiência, Nelore
PERFORMANCE OF BEEF CATTLE OF DIFFERENT AGES AND GENETIC GROUPS, IN FEEDLOT
ABSTRACT - The present work aimed to compare performance characteristics of Nellore and crossed animals Nellore x Angus, fed exclusively with concentrated by 120 days. The experiment was accomplished in FAZU - Faculdades Associadas de Uberaba, where were confined 19 males Nellore, with an average age of 30 months and 20 steers Angus x Nellore F1, with an average age of 24 months. Were measured dry matter intake (DMI, kg/day), average daily gain (ADG, kg/day), feed:gain ratio (F:G), feed efficiency (FE) and residual feed intake (RFI). Angus x Nellore F1 animals presented, in the same period, greater ADG (P < 0.05), 2.49 kg/day against 1.59 kg/day of animals Nellore, with statistically similar dry matter intake. So FE was statistically greater and CA significantly lower in crossed animals compared to animals Nellore. Despite the difference between genetic groups (weight and age), both were slaughtered with similar weights (565.6 and 573.32 kg).Keywords: Angus, residual feed intake, efficiency, Nelore
Introdução
O Brasil tem se destacado na bovinocultura de corte desde a década de 1990 e atualmente possui o 2º maior rebanho bovino do mundo. Embora o número de animais seja elevado, ainda há um longo caminho até que sejam alcançados os níveis de produtividade de rebanhos mais competitivos (COSTA e SILVA, 2007). Como estratégia o confinamento é uma alternativa para produção no período seco do ano, em que a nutrição é baseada em forragens conservadas e/ou grãos, possibilitando elevado desempenho animal e produto para comercialização em momento de maior preço. Para a viabilidade deste sistema é essencial a escolha da raça. Segundo Berg e Butterfield (1976) não existe uma raça capaz de atender a composição ideal para todos os mercados, mas uma raça adequada para as condições onde a carne é produzida. Para o confinamento o cruzamento entre raças com distâncias genéticas pode resultar em ganhos de produtividade. Associa-se a rusticidade e adaptação do Nelore às condições tropicais e a precocidade e desempenho de raças britânicas, como o Angus. No confinamento os gastos com alimentação representam 85% dos custos e com isso, o aumento da eficiência desses sistemas é crucial para a rentabilidade (LEME et al. 2003). Alguns parâmetros podem ser avaliados como a eficiência e a conversão alimentar, e recentemente a classificação dos animais pelo consumo alimentar residual tem permitido a seleção equilibrada de animais capazes de consumir menos para obter o mesmo ganho de peso.Revisão Bibliográfica
Apesar de a criação de zebuínos ser predominante no Brasil, há uma diversidade expressiva dos biotipos das raças bovinas existentes. Essa variedade traz muitas possibilidades, como o cruzamento Nelore x Angus, que proporciona animais com desempenho ponderal superior aos de raças puras nas condições brasileiras, destacando o potencial do cruzamento industrial para melhorar a eficiência e produtividade dos rebanhos. As médias de desempenho superiores observadas em animais cruzados em comparação aos de raças puras são devidas, principalmente, à heterose e complementaridade entre as raças (ROSO E FRIES, 2000). A precocidade e o desempenho dos animais Angus e a transmissão desta característica ao produto do cruzamento industrial promove o abate mais precoce e explora a eficiência biológica do animal, pois agrega os efeitos da manipulação de fatores genéticos e ambientais para deposição de tecidos durante a fase de maior crescimento do animal (Silveira, 1995). Além do desempenho ponderal, simplificado pelo ganho de peso, é essencial que este seja alcançado com o menor custo. Assim além do maior ganho de peso e a velocidade de crescimento dos animais confinados, visando o abate em idades precoces, as pesquisas vêm propondo a estimativa de variáveis que permitem que estes benefícios sejam alcançados com o menor consumo de alimentos. Alguns índices consolidados como eficiência alimentar e conversão alimentar têm auxiliado na seleção, mas podem acarretar em alguns problemas como a seleção indireta de animais com maior peso adulto, uma vez que estas têm alta correlação genética (CARSTENS, 2003). Animais com maior peso adulto tendem a ser mais tardios, tanto reprodutiva como produtivamente, além de demandarem alta taxa de energia para mantença. Dessa forma o consumo alimentar residual, definido como a diferença entre o consumo de matéria seca observado e o consumo de matéria seca predito em função da taxa de ganho de peso observada e do peso metabólico do animal foi sugerido por Koch et al. (1963) e tem como vantagem a independência da taxa de crescimento e do peso vivo dos animais. De acordo com Chizzotti et al. (2011) a avaliação do CAR promove ganhos econômicos e ambientais, pois se o animal é mais eficiente na utilização do alimento menor é a emissão de poluentes, e esta deve ser acompanhada de monitoramento de atributos de qualidade de carne e correto manejo alimentar, garantindo eficiência e competividade ao produtor.Materiais e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda Escola das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU, localizada no município de Uberaba – MG. As instalações do confinamento contavam com o monitoramento do sistema Intergado®, cujas informações enviadas por software via web foram monitoradas diariamente. Foram avaliados 19 bovinos da raça Nelore, com idade média de 30 meses e 20 animais cruzados, F1 Nelore x Angus, com idade média de 24 meses. A alimentação dos animais foi exclusivamente realizada com concentrado, pelo período total de 120 dias, sendo 24 dias de adaptação e os 96 dias restantes de avaliação experimental. A dieta foi fornecida aos animais 4 vezes ao dia (7:00, 9:00, 13:00 e 16:00). O consumo de água e alimento foi ad libitum, permitindo sobras diárias entre 5 a 10%. A avaliação do consumo de matéria seca (CMS) foi realizada diariamente pelo sistema Intergado® e o GMD (kg/dia) estimado por meio da relação entre o ganho de peso no período experimental e o número de dias totais de duração do experimento. A partir dos dados de ganho em peso e quantidade de matéria seca consumida foi possível calcular a eficiência e a conversão alimentar. O cálculo do consumo alimentar residual foi estimado a partir da diferença entre o consumo de matéria seca observado e consumo de matéria seca esperado. O último estimado como o resíduo da equação de regressão do consumo de matéria seca (CMS) em função do peso metabólico (PC0,75) e o ganho médio diário (GMD), conforme modelo proposto por Koch et al. (1963).CMS= β0 + βP* PV0.75 + βG*GMD + erro;
em que β0 é o intercepto da regressão, βP e βG são coeficientes de regressão linear do peso metabólico e do ganho médio diário, respectivamente. O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado (DIC) e as análises estatísticas feitas pelo SISVAR, versão 5.1 (UFLA, 2011). Foi realizada análise de variância e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey, ao nível de 5% de significância (P<0,05).Resultados e Discussão
Os pesos iniciais distintos entre os grupos (P<0,05) - machos Nelore com média de 428,95 kg e os cruzados com 359,70 kg - foram reflexo da diferença de idade entre os animais no início do período de avaliação. No entanto os animais Nelore e F1 Nelore x Angus finalizaram o experimento com pesos estatisticamente semelhantes (P<0,05), 573,32 kg e 565,60 kg, respectivamente. Os animais cruzados conseguiram alcançar o mesmo peso de abate devido ao maior ganho médio diário registrado (P<0,05) (Tabela 1). A diferença de idade entre os grupos teve como intuito simular a condição de mercado, em que os animais cruzados são abatidos em idades mais jovens que animais Nelore quando submetidos às mesmas condições de manejo alimentar. As variáveis analisadas comportaram-se de acordo com a expectativa e os animais de ambos os grupos foram conduzidos ao abate com pesos homogêneos. Os animais Nelore x Angus conseguiram alcançar o mesmo peso final já que tiveram uma taxa de ganho de peso 1,56 vezes maior que os da raça Nelore. O consumo de matéria seca foi semelhante para ambos os grupos - 9,05 kg/dia dos animais Nelore e 8,39 kg/dia para os animais F1- e superior ao relatado por GESUALDI JR. et al. (2000), de 7,30 kg para animais cruzados consumindo elevados níveis de concentrado. Com consumo de matéria seca estatisticamente semelhantes e maior ganho de peso os cruzados apresentaram maior eficiência alimentar (0,30) e melhor conversão alimentar (3,45) que os animais Nelore (0,18 e 5,88, respectivamente). As altas taxas de ganho de peso registradas para os dois grupos deveram-se à alta concentração energética da ração fornecida, cuja composição provavelmente auxiliou ainda na eficiência do ganho. Segundo Fluhart (2009) dietas ricas em concentrado resultam em maior produção de propionato no rúmen, que acarreta em ganho de peso mais eficiente, uma vez que há menor perda de energia da ração em forma de gás carbônico e metano. Já a resposta de maior eficiência e a maior taxa de ganho de peso dos animais cruzados é creditado à heterose e ao potencial genético da raça Angus. Pela idade dos animais F1 Nelore x Angus é possível depreender ainda que o ganho em peso foi, principalmente, resultado da deposição muscular. O animal na fase de crescimento, caracterizada pelo aumento da massa muscular, é mais eficiente que na fase posterior, caracterizada principalmente pelo maior acúmulo de gordura, diminuindo a conversão alimentar. Dessa forma a entrada dos animais no confinamento em idades mais jovens é vantajosa do ponto de vista biológico e traz resultados econômicos.Conclusões
Em condições semelhantes às experimentais, ou seja, submetidos a dietas com alto teor de concentrado, animais F1 Nelore x Angus podem ser confinados com idade mais precoce e mais leves que animais Nelore. Os novilhos cruzados expressaram ganho em peso 56,6% maior que os animais Nelore, além de melhores resultados de eficiência e conversão alimentar, alcançando o mesmo peso de abate dos animais puros com 6 meses de antecedência. Os dados obtidos sinalizam um caminho para obtenção de maior ganho de peso e menor custo unitário da arroba produzida, além de maior giro de capital com o abate de animais mais precoces.Gráficos e Tabelas
