Desempenho de galinhas poedeiras nas fases de cria e recria submetidas a diferentes manejos de bico

Rafael Alan Baggio1, Samuel Jacinto Lunardi2, Manuela Testa3, Marcel Manente Boiago4, Aline Zampar5, Diovani Paiano6, Tiago Goulart Petrolli7, Maria Luisa Appendino Nunes Zotti8
1 - Zootecnista, mestrando do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC, bolsista FAPESC/CAPES.
2 - Aluno de graduação em zootecnia da UDESC Oeste
3 - Zootecnista, mestranda do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC
4 - Professor do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC
5 - Professora do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC
6 - Professor do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC
7 - Professor da UNOESC Xanxerê
8 - Orientadora, Professora do programa de pós-graduação em zootecnia UDESC

RESUMO -

O objetivo dos autores foi avaliar se diferentes manejos de bico afetam o desempenho de galinhas poedeiras nas fases de cria e recria criadas em piso e gaiolas. O delineamento foi em blocos ao acaso, com 3 tratamentos (DIV – Debicagem por radiação infravermelho, DLQ – Debicagem por lâmina quente, e SD – Sem debicar) e 4 repetições. Foram analisadas ganho de peso diário (GPD), consumo de ração diário (CRD), conversão alimentar (CA), peso médio inicial na recria (PMI), as 12 (PM12) e 16 semanas (PM16) e uniformidade as 12 (Uni 12) e 16 semanas (Uni 16). Os tratamentos não afetaram as variáveis na cria. Na recria, DIV implicou em maior CRD e CA, quando comparado ao SD. No entanto, ambos (SD e DIV) não diferiram em relação a DLQ. Não debicar as aves melhora a produtividade na recria, quando comparado com a debicagem por infravermelho. O método de debicagem por lâmina quente é similar em termos produtivos em relação aos outros métodos nas fases de cria e recria.

Palavras-chave: Consumo de ração, livre de gaiolas, debicagem por radiação infravermelho.

Performance of laying hens in the starter and grower phases submitted to different beak managements.

ABSTRACT - The objective of the authors was to evaluate if different beak managements affect the performance of laying hens in the starter and grower phases created in floor and cages. The experimental design was in randomized blocks with 3 treatments (DIV – infrared beak trimming, DLQ – hot-blade beak trimming, and SD - Without beak trimming) and 4 repetitions. Were analyzed daily gain (ADG), daily feed intake (DFI), feed conversion ratio (FC), an initial average weight in growing (IAW), at 12 (AW12) and 16 weeks (AW16) and uniformity 12 (Uni 12) and 16 weeks (Uni 16). The treatments did not affect the variables in the initial phase. In growth, DIV implied higher CRD and CA, when compared to SD. However, both (SD and DIV) did not differ in relation to DLQ. Do not beak trimming improves productivity in growth when compared with the infrared pecking. The hot-blade beak trimming is similar in productive terms to the other methods in the starter and grower phases.
Keywords: Cage free, feed intake, infrared beak trimming.


Introdução

A importância econômica da produção de ovos no Brasil exige o desenvolvimento de novas técnicas de criação que se adequem às exigências atuais e também aumentem a viabilidade econômica da atividade. Apesar da debicagem representar um problema para o bem-estar animal, tem sido amplamente recomendada com a justificativa de aumentar a viabilidade técnica da atividade. Para DENNIS & CHENG (2012), a debicagem é uma técnica utilizada nos sistemas de criação atuais, com o intuito de reduzir os efeitos negativos causados pelo canibalismo, arranque de penas, bicagem de ovos e mortalidade. O método convencional de debicagem com utilização de lâmina quente é o mais empregado, porém existem evidências científicas que sua realização provoca dor crônica nas aves (CARRUTHERS et al., 2012; DENNIS & CHENG, 2012). Com isso, o método de debicagem por infravermelho surgiu por ser um método menos invasivo, com efeitos positivos sobre o bem-estar das aves (ANGEVAARE et al., 2012). Através do exposto, o objetivo dos autores foi avaliar se o método de debicagem e a não debicagem afetam o desempenho de galinhas poedeiras semi-pesadas nas fases de cria e recria submetidas a sistema de criação em piso e gaiolas.

Revisão Bibliográfica

Ao mesmo tempo que viabilidade e sustentabilidade são importantes na agropecuária, o bem-estar animal também pode ser considerado um dos assuntos de maior relevância nas discussões a respeito da produção animal na atualidade. As campanhas movidas por diferentes segmentos e a pressão de um número crescente de organizações não-governamentais sensibilizaram a opinião pública em muitos países (principalmente os desenvolvidos) para esse aspecto, o que originou progressos legislativos consideráveis (ALVES et al., 2007). A debicagem é um dos aspectos relevantes nas discussões acerca do bem-estar de aves poedeiras. Entretanto, do ponto de vista produtivo, a debicagem, quando bem realizada reduz o desperdício de alimentos resultando em melhor conversão alimentar e melhora da eficiência alimentar (ARAÚJO et al., 2000). A debicagem também reduz a mortalidade, o que pode ser considerado um aspecto positivo no bem-estar das aves, uma vez que reduz a ocorrência de comportamentos agressivos, como canibalismo (JENDRAL & ROBINSON, 2004). Estudos apontaram que a taxa de postura aumenta quando as aves são debicadas, o que pode ser resultado de menor mortalidade e do menor índice de ovos bicados (LAGANÁ et al., 2011). A debicagem possui também desvantagens, principalmente relacionada ao bem-estar das aves, em função da dor e do sofrimento ocorridos durante o procedimento, e da dor aguda e crônica que pode persistir após o corte. Para minimizar os efeitos adversos, recomenda-se que o corte do bico, quando implementada, deve ser realizado precocemente, de preferência antes das 3 semanas de idade das aves, o que minimiza o dano neural e permite a maior precisão de corte (GENTLE et al., 1990; JENDRAL & ROBINSON, 2004).

Materiais e Métodos

Neste experimento foram utilizados dois delineamentos experimentais, um para fase de cria e outro para fase de recria. O delineamento experimental utilizado na fase de cria foi em blocos ao acaso, com três tratamentos: DIV – Debicagem por radiação infravermelho, DLQ – Debicagem por lâmina quente, e SD – Sem debicar; com quarto repetições cada tratamento e dois blocos, visando anular diferenças microclimáticas dentro do galpão relacionadas à radiação solar. Em cada box foram alojadas 19 pintainhas da linhagem Hy-Line Brown, totalizando 228 animais. Já para fase de recria, o delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso em esquema fatorial (2X3), com dois sistemas de criação (piso e gaiolas) e três manejos de bico (citados acima), com quarto repetições (quatro boxes/gaiolas) cada tratamento e dois blocos. Em cada box foram alojadas 10 galinhas e em cada gaiola 7 galinhas, totalizando 208 aves. A debicagem por radiação infravermelho foi realizada no primeiro dia de vida das aves, ainda no incubatório. A debicagem por lâmina quente, foi realizada no décimo segundo dia de vida e o repasse na décima segunda semana de vida das aves, ambos feitos por mão de obra especializada. As variáveis analisadas na fase de cria foram ganho de peso diário (GPD), consumo de ração diário (CRD) e conversão alimentar (CA). Na fase de recria, foram analisadas GPD, CRD, CA, peso médio inicial (PMI), peso médio as 12 (PM12) e 16 semanas de vida (PM16) e uniformidade as 12 (Uni 12) e 16 semanas de vida (Uni 16). Para todas as pesagens foi utilizada a mesma balança. Todos os dados foram verificados quanto à normalidade, pelos testes de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov. Para teste de médias foi utilizado o teste F (P<0,05) e quando necessário utilizado o Tukey (P<0,05).

Resultados e Discussão

As aves não apresentaram diferença significativa (P>0,05) quanto às variáveis estudadas na fase de cria (Tabela 1). No entanto, eram esperados resultados diferentes já que devido ao estresse da debicagem por lâmina quente relatado por Dennis & Cheng (2010) as aves possivelmente poderiam reduzir o consumo de ração e, consequentemente o ganho de peso diário, o que não ocorreu no presente estudo. Uma possível explicação para isso, é o fato da debicagem por lâmina quente ter sido feita de maneira adequada, o que não incorreu em redução do consumo. Dennis & Cheng (2010) relataram que a debicagem por lâmina quente causa dor crônica nas aves, devido a feridas abertas, fator este que predispõe à redução no consumo de ração e, consequentemente no desenvolvimento corporal.

Na fase de recria, para as variáveis ganho de peso diário (GPD), consumo de ração diário (CRD) e peso médio as 12 semanas (PM12) houve diferença significativa (P<0,05) entre os sistemas de produção (piso e gaiola). As aves do sistema de produção em piso obtiveram maiores valores de GPD e CRD, porém sem diferença na conversão alimentar (CA) (P>0,05). Da mesma forma, o PM12 foi maior no sistema em piso, em relação a gaiola (P<0,05). Os menores valores de CRD e GPD em gaiolas podem também estar relacionados ao tipo de comedouro, uma vez que nas gaiolas era do tipo calha e, nas gaiolas era do tipo tubular, o que pode ter limitado o consumo e por isso menor peso as 12 semanas.

Entre os métodos de debicagem apenas as variáveis de CRD e CA, apresentaram diferença significativa (P<0,05). O tratamento DIV implicou em maior consumo de ração diário, quando comparado com o tratamento SD. Da mesma forma, o tratamento SD diminuiu a conversão alimentar das aves em relação ao tratamento DIV. No entanto, ambos (SD e DIV) não diferiram em relação ao tratamento DLQ tanto para consumo de ração médio, como para conversão alimentar. Nossos dados contrariam informações prévias da literatura em que o método de debicagem por infravermelho implicou em maior peso corporal e maior eficiência alimentar da ave, quando comparado com a debicagem por lâmina quente (DENNIS & CHENG, 2010). Outro trabalho afirma que os dois métodos de debicagem podem ser utilizados, já que impactam de maneira semelhante nos parâmetros produtivos (MARCHANT-FORDE et al., 2008).



Conclusões

O método de debicagem das aves não afeta as variáveis produtivas na fase de cria, tendo este efeito expresso apenas na fase de recria. Não debicar as aves implica em melhor produtividade na fase de recria, quando comparado com o método de debicagem por infravermelho. O método de debicagem convencional, por lâmina quente é similar em termos de índices zootécnicos em relação aos outros métodos testados nas fases de cria e recria. Os resultados deste trabalho indicam que não há necessidade de se debicar as aves, inclusive com efeitos benéficos deste manejo detectados na fase de recria. No entanto, faz-se necessária a análise de outras variáveis no sentido de consubstanciar a recomendação neste sentido, além de abranger a fase de produção.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALVES, S. P. et al. Avaliação do bem-estar de aves poedeiras comerciais: efeitos do sistema de criação e do ambiente bioclimático sobre o desempenho das aves e a qualidade de ovos. Revista brasileira de zootecnia, v. 36, n. 5, p. 1388-1394, 2007. ANGEVAARE, M. J. et al. The effect of maternal care and infrared beak trimming on development, performance and behavior of Silver Nick hens. Applied Animal Behaviour Science, v.140, n.1, p.70-84, 2012. ARAÚJO, L. F. et al. Diferentes níveis de debicagem para frangas comerciais. Ars Veterinária, v.16, p.46-51, 2000. CARRUTHERS, C. et al. On-farm survey of beak characteristics in White Leghorns as a result of hot blade trimming or infrared beak treatment. Journal Applied Poultry Research, v.21, n. 3, p. 645-650, 2012. DENNIS, R. L.; CHENG, H. W. Effects of different infrared beak treatment protocols on chicken welfare and physiology. Poultry Science, v. 91, n.7, p. 1499–1505, 2012. DENNIS, Rachel L., and Heng W. Cheng. A comparison of infrared and hot blade beak trimming in laying hens. International Journal of Poultry Science, v. 9, n. 8, p. 716-719, 2010. GENTLE, M. J. et al. Behavioural evidence for persistent pain following partial beak amputation in chickens. Applied Animal Behaviour Science, v.27, n. 1, p. 149-157, 1990. JENDRAL, M. J.; ROBINSON, F. E. Beak trimming in chickens: historical, economical, physiological and welfare implications, and alternatives for preventing feather pecking and cannibalistic activity. Avian and Poultry Biology Reviews, v. 15, n. 1, p. 9-23, 2004. LAGANÁ, C. et al. Influência de métodos de debicagem e do tipo de bebedouro no desempenho e na qualidade dos ovos de codornas japonesas. Revista brasileira de zootecnia, v. 40, n.6, p. 1217-1221, 2011. MARCHANT-FORDE, R. M.; FAHEY, A. G.; CHENG, H. W. Comparative Effects of Infrared and One-Third Hot-Blade Trimming on Beak Topography, Behavior, and Growth. Poultry Science, v.87, p.1474-1483, 2008.