Desempenho de ovinos de corte alimentados com fontes proteicas alternativas
JOEDERSON LUIZ SANTOS DANTAS1, MARCONE GERALDO COSTA2, GELSON DOS SANTOS DIFANTE3, JOÃO VIRGÍNIO EMERENCIANO NETO4, ANTÔNIO LEANDRO CHAVES GURGEL5, ROLDÃO TEIXEIRA CARVALHO NETTO6, MARIA TEREZA DE GUSMÃO PEREIRA7, MAXSUELL MEDEIROS DINIZ8
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
4 - UNiversidade Federal do Vale do São Francisco
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
6 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
7 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
8 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO -
Objetivou-se com este estudo avaliar o consumo e desempenho de ovinos alimentados com fontes proteicas alternativas associadas a palma forrageira. Foram utilizados 32 ovinos SRPD (sem padrão racial definido) com peso médio inicial de 22,34 ± 2,05 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro tratamentos e oito repetições. Os animais foram alojados em baias para acompanhamento de ganho de peso, medição de consumo alimentar, e predição do consumo de matéria seca. As dietas foram compostas por quatro tratamentos (Farelo de soja, Torta de babaçu, Torta de coco, Torta de algodão). Foi observado efeito do tratamento sobre os consumos de matéria seca (CMS) em Kg/dia, CMS como porcentagem de peso vivo e CMS em função do peso metabólico ganho médio diário (GMD), com menor média para o tratamento do coco. Não foi observada influência dos tratamentos sobre o peso final (35,42 kg), ganho de peso total (13,20 kg), conversão alimentar (6,57) e eficiência alimentar (15,81%).
Palavras-chave: biodiesel, confinamento, consumo, cordeiros, subprodutos.
Performance of lambs fed with alternative protein sources
ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the consumption and performance of sheep fed with alternative protein sources associated with forage palm. 32 SRPD sheep (with no defined racial pattern) were used, with a mean initial weight of 22.34 ± 2.05 kg, distributed in a completely randomized design with four treatments and eight replicates. The animals were housed in stalls for monitoring weight gain, food consumption measurement, and prediction of dry matter intake. The diets were composed of four treatments (Soybean meal, Babassu pie, Coconut pie, Cotton pie). The treatment effect on dry matter intake (CMS) in kg / day, CMS as percentage of live weight and CMS as a function of metabolic weight, average daily gain (ADG), with lower average for coconut treatment, was observed. No influence of treatments on the final weight (35.42 kg), total weight gain (13.20 kg), feed conversion (6.57) and feed efficiency (15.81%) were observed.
Keywords: biodiesel, by-products, feedlot, intake, lambs.
Introdução
O aumento pela procura de carne ovina tem forçado os produtores a buscar um sistema de produção que otimize o manejo alimentar dos animais disponibilizando nutrientes em quantidades e qualidade, aumentando ganho de peso, diminuindo a idade ao abate, obtendo uma carne de melhor qualidade atendendo desta forma as exigências do mercado. O confinamento é uma estratégia utilizada quando se pretende produção contínua de carne bem distribuída durante o ano. Além disso, faz-se necessário adoção de adequadas práticas de produção e planejamento estratégico de volumosos.
Por outro lado, na região Nordeste, além da influência negativa de fatores climáticos, como a precipitação irregular de chuvas ao longo do ano e da longa distância geográfica de regiões produtoras de grãos, observa-se também o predomínio de sistemas pouco tecnificados, acarretando em baixos índices produtivos.
Diante desse cenário, a utilização de forrageiras adaptadas à região semiárida, como a palma forrageira e de fontes proteicas alternativas provenientes da produção de biodiesel, que em geral apresentam menor custo, podem ser alternativas para uma produção racional e economicamente viável de ovinos de corte. No entanto, poucas informações estão disponíveis sobre o real potencial dessas fontes na alimentação de animais, principalmente quando associadas à palma forrageira. Assim, objetivou-se avaliar o consumo e desempenho de ovinos alimentados com fontes proteicas alternativas associadas a palma forrageira.
Revisão Bibliográfica
A ovinocultura no Brasil tem despertado grande interesse dos produtores, evidenciado pelo aumento do rebanho, principalmente para produção de carne. Uma estratégia adotada para a melhoria do desempenho dos rebanhos nordestinos de pequenos ruminantes é a utilização de manejo alimentar adequado (ARAÚJO FILHO et al., 2010), com base em sistemas intensivos de produção (confinamento) durante as épocas de escassez alimentar, visando manter a regularidade na oferta de produtos no mercado (CUNHA et al., 2008).
De modo geral, o desempenho da pecuária da região Nordeste do Brasil tem sido limitada pela baixa disponibilidade de forragens, principalmente nos períodos prolongados de estiagem, manejo inadequado dos animais, má utilização dos recursos forrageiros existentes na região, seja na forma de feno ou silagem na época das águas, e altos custos com alimentação concentrada. Dessa forma, fica evidenciado a importância de um alimento que, adaptado as condições edafoclimáticas da região e que aliados a fontes proteicas, venham suprir as necessidades nutricionais dos rebanhos. O farelo de soja é o concentrado proteico mais utilizado nos sistemas de produção animal, porém seu alto custo inviabiliza o seu uso em algumas regiões, principalmente daquelas distantes das regiões produtoras de grãos.
Dentre os resíduos da indústria do biodiesel disponíveis e com potencial para ser utilizado na alimentação animal, está a torta de caroço de algodão e a de babaçu (ABDALLA, et al., 2008). Além delas, a torta de coco, resíduo do beneficiamento da agroindústria do coco, também apresenta potencial de utilização na alimentação animal.
Nesse sentido, conhecer o potencial de fontes nitrogenadas facilmente obtidas na região Nordeste poderia reduzir a dependência dos proprietários de animais pela compra de grãos ou co-produtos oriundos de outras regiões, e consequentemente, reduzir o custo de produção.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido na área do Grupo de Estudos em Forragicultura, da UFRN, Campus de Macaíba. Foram utilizados 32 ovinos SPRD (sem padrão racial definido), com peso vivo médio inicial de 22,34 ± 2,05 kg e idade média de 4 meses, confinados, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com 4 tratamentos e 8 repetições. Os tratamentos experimentais consistiram na associação da Palma forrageira (
Opuntia ficus-
indica) e feno de capim Massai a quatro fontes proteícas, sendo elas: Farelo de Soja (testemunha), Torta de Babaçú, Torta de Coco, Torta de Algodão. As dietas foram ajustadas para serem isonitrogenadas (média de 14% PB) utilizando-se a uréia para ajuste do teor de proteína, e formuladas para atender as exigências nutricionais para ganho médio diário de 150g, segundo recomendações contidas no NRC (2007).
A dieta era fornecida duas vezes ao dia na forma de mistura completa, com monitoramento diário do consumo alimentar e ajuste para manter as sobras em torno de 10% do total ofertado. Diariamente, eram coletadas as sobras da dieta do dia anterior, as quais eram pesadas, acondicionadas em saco plástico e congeladas para posterior analises. Para o acompanhamento do ganho de peso, os animais eram pesados semanalmente pela manhã e em jejum, procedendo-se desta forma durante todo o período experimental. No final do experimento, amostras dos alimentos e das sobras de cada animal foram encaminhadas para o Laboratório de Nutrição Animal (UFRN) onde foi determinada o teor de matéria seca (MS) dos alimentos fornecidos e das sobras de cada um dos animais. O cálculo de consumo de matéria seca (CMS) expresso em kg/animal por dia ou como porcentagem do peso vivo do animal ou em gramas MS consumida por quilo de peso metabólico. Com os dados de ganho de peso e CMS foi calculado também a conversão alimentar e a eficiência alimentar. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de significância.
Resultados e Discussão
Não houve efeito (P>0,05) do uso de fontes proteicas sobre o peso final (35,42 kg), ganho total (13,20 kg), conversão alimentar (6,57 kg) e eficiência alimentar (15,81 %) entre os tratamentos (Tabela 1).
De acordo com as variáveis acima citadas, os desempenhos foram similares, comprovando que existem fontes proteicas alternativas que podem substituir o farelo de soja na dieta de ovinos em confinamento associados com a palma forrageira. O ganho de peso total médio foi de 13,20 kg, porém houve diferenças significativas para os dias em confinamento onde o tratamento do coco teve uma média de 110,25 dias em confinamento. Segundo Lima et. al (2014), a maior permanência no confinamento aumenta a idade ao abate, diminui a rotatividade de animais no confinamento, desfavorece a qualidade da carcaça, devido à maior deposição de gordura na carcaça, elevando os custos de produção.
Foram observados diferenças significativas (P<0,05) para o GMD (g/dia), com maiores medias para os tratamentos que utilizaram o farelo de soja e torta algodão em relação a torta de coco na dieta. Ressalta-se que este menor valor de ganho não fica muito abaixo do objetivo em GMD em torno de 150 g/dia, preconizado na formulação das dietas. O feno de capim massai utilizado neste estudo estava em estágio reprodutivo, o que diminui muita sua qualidade. Mesmo assim, quando associado à palma forrageira e às diferentes fontes proteicas, proporcionou ganhos satisfatórios, evidenciando que pode ser uma boa alternativa utilizada na alimentação de ovinos.
Para o CMS expressos em kg/dia, %PV e g/PV
0,75 houve diferenças significativas (P<0,05) entre os tratamentos que receberam o farelo de soja, torta de babaçu e torta de algodão em relação a torta de coco, com valores médios de CMS (kg/dia) de 1,32; 1,14; 1,31; 0,79, respectivamente, o que pode ser justificado pela maior aceitabilidade das dietas que continham farelo de soja, torta de babaçu e torta de algodão em relação a torta de coco, mesmo com a homogeneização das dietas disponibilizadas.
Não houve diferenças entre os tratamentos para a conversão alimentar, com valor médio observado de 6,57. Pelas condições dietéticas, esperava-se um valor mais baixo, porém não aconteceu possivelmente devido ao estágio fenológico em que se apresentava o capim massai para a confecção do feno e a falta de homogeneidade da palma forrageira que foram utilizados na dieta dos animais.
Segundo Van Soest, (1994) entre as variáveis responsáveis em predizer o desempenho animal, a eficiência alimentar assume grande importância na obtenção de resultados favoráveis. Para esta variável foi encontrada média de 15,81%, com valores similares aos de aos de Cação et al. (2014) que obtiveram valor médio de 16%. Provavelmente a associação da palma como fonte energética com as fontes proteicas, proveram condições favoráveis para a síntese de proteína microbiana, contribuindo para o desempenho animal.
Conclusões
As fontes torta de algodão e torta de babaçu podem ser utilizadas como alternativas ao farelo de soja associados a palma forrageira em dietas para ovinos em confinamento.
Embora a torta de coco tenha resultado em menor desempenho que as outras fontes em termos de ganho de peso diário, seu uso também pode ser considerado, principalmente por levar em consideração o seu valor econômico e sua disponibilidade. Desse modo, é interessante que se haja mais estudos com avaliação da torta de coco, devido ao seu potencial como fonte alimentar de ruminantes para a região.
Gráficos e Tabelas
Referências
ABDALLA, A.L.; SILVA FILHO, J.C. da; GODOI, A.R. et al. Utilização de subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.260‑258, 2008.
ARAUJO FILHO, J.T.; COSTA, R.G.; FRAGA, A.B. et al. Desempenho e composição da carcaça de cordeiros deslanados terminados em confinamento com diferentes dietas.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.2, p.363-371, 2010.
CAÇÃO, M. M. F.; SANTOS, G. B.; CAVALETTI, M., et al. Resíduo de limpeza de soja em substituição ao farelo de soja na dieta de cordeiro em terminação.
B. Indústr. Anim., Nova Odessa. v.71, n.2, p.106-113, 2014.
CUNHA, M.G.G.; CARVALHO, F.F.R.; VÉRAS, S.C. et al. Desempenho e digestibilidade aparente em ovinos confinados alimentados com dietas contendo níveis crescentes de caroço de algodão integral.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.6, p.1103-1111, 2008.
LIMA, C. A. C.; LIMA, G. F. C.; COSTA, R. G. Efeito de níveis de melão em substituição ao milho moído sobre o desempenho, o consumo e a digestibilidade dos nutrientes em ovinos Morada Nova. Revista Brasileira de Zootecnia. v.41, n.1, p.164-171, 2012.
VAN SOEST, P.J.
Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed.Ithaca: Cornell University Press, p.476, 1994.