DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE NOVILHOS DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS TERMINADOS EM CONFINAMENTO

Juliana1, Antonio2, Danielle3
1 - Jorge Paschoal
2 - Filgueiras
3 - Leal Matarim

RESUMO -

O confinamento é uma ferramenta que possibilita o abate de animais jovens e bem acabados, proporcionando, em geral, carcaças e carne de melhor qualidade. No entanto, o desempenho de bovinos na fase de terminação, o rendimento de carcaça e a qualidade da carne dependem, ainda, da combinação de fatores como raça, genética, alimentação, idade, sexo, dentre outros, que afetam ainda a precocidade no acabamento do animal. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da classe sexual sobre o desempenho e características de carcaça de novilhos precoces terminados em confinamento. O experimento foi realizado na Fazenda Canivete, localizada no município de Felixlândia – MG. Foram avaliados 180 bovinos F1 (Nelore x Angus), com idade variando entre 7 e 8 meses, sendo 60 machos inteiros, 60 machos castrados e 60 fêmeas. Foram avaliados Ganho Médio diário (GMD, kg/dia), Peso de Carcaça Quente (PCQ, kg), Rendimento de Carcaça (RC, %), Área de Olho de Lombo (AOL, cm²), Espessura de Gordura Subcutânea (EGS, mm) e Espessura de Gordura Subcutânea na Picanha (RUMP, mm). O GMD foi superior para os machos inteiros em relação aos castrados e as fêmeas, e inferior para as fêmeas em relação aos castrados. Animais inteiros apresentam maior peso final, PCQ, maior RC e maior AOL em relação a machos castrados e as fêmeas. Por outro lado, fêmeas apresentam características de acabamento de carcaça, como EGS e RUMP, superiores a machos inteiros e castrados.

Palavras-chave: cruzamento industrial, machos castrados, novilhos precoces

PERFORMANCE AND CARCASS CHARACTERISTICS OF DIFFERENT SEXUAL CLASSES OF STEERS FINISHED IN FFEDLOT

ABSTRACT - Feedlot is a tool that allows the slaughter of young and well- finished animals, providing, in general, carcasses and meat of better quality. However, the cattle performance in the finishing phase , carcass yield and meat quality depends of a combination of factors such as race, genetics, diet, age, gender that still affect the precocity in the finish animal . The aim of this study was to evaluate the effect of sex class on performance and carcass characteristics of young steers finished in feedlot. The experiment was conducted at a Canivete Farm located in Felixlândia - MG. Were evaluated 180 F1 cattle (Nellore x Angus), aged between 7 and 8 months, 60 young bulls, 60 castrated males and 60 females. Were evaluated Average Daily Gain (ADG, kg / day), carcass weight (HCW, kg) Carcass Yield (RC, %), loin eye area (AOL, cm²) Subcutaneous Fat Thickness (EGS, mm) and subcutaneous fat thickness in the rump (RUMP, mm). The ADG was higher for young bulls males compared to females and castrated, and lower for females compared to castrated. Young bulls animals had higher final weight, HCW, most RC and higher AOL in relation to castrated males and females. Moreover, females present carcass finishing features such as ECGs and RUMP, greater than bulls or castrated males.
Keywords: castrated males, industrial crossbreeding, young steers


Introdução

Muitos aspectos da produção animal estão envolvidos na tentativa de produzir carne magra de qualidade, dentre os quais, tipo de criação, alimentação, manejo, idade do animal, genética e sexo (macho, fêmea ou macho castrado). Sabe-se que bovinos inteiros ganham peso mais rápido com menores proporções de gordura, quando comparados às carcaças de bovinos castrados e fêmeas, porém, as diferenças entre classes sexuais podem ser minimizadas em sistemas de produção com abate de animais precoces, com o objetivo de aproveitar o melhor o desempenho dos mesmos. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da classe sexual sobre o desempenho e características de carcaça de novilhos precoces terminados em confinamento.



Revisão Bibliográfica

O Brasil tem se destacado na bovinocultura de corte desde meados da década de 1990. Atualmente o país apresenta o segundo maior rebanho bovino do mundo e é considerado o segundo maior produtor mundial de carne bovina, sendo reconhecido como o quarto maior exportador de carne bovina do mundo (ANUALPEC, 2015). 

O sistema de produção de bovinos no Brasil está cada vez mais ágil, o que tem refletido no significativo aumento da taxa de desfrute nos últimos dez anos. Nos últimos 20 anos o país apresentou um salto tecnológico extraordinário em consequência do esforço de modernização e da crescente habilidade comercial dos empresários brasileiros (ANUÁRIO DBO, 2010).

O rebanho bovino no Brasil possui aproximadamente 200 milhões de cabeças (ANUALPEC, 2015). Embora o número absoluto de animais seja um dos maiores do mundo, ainda há um longo caminho até que sejam alcançados os níveis de produtividade dos rebanhos mais competitivos (COSTA e SILVA, 2007).  Além disso, o país ainda apresenta baixa remuneração por tonelada vendida. Uma comparação realizada por Rosa (2009), mostrou que a carne bovina brasileira foi comercializada a US$ 2.263,00 por tonelada, enquanto a carne australiana recebeu US$ 3.865,00 por tonelada em um mesmo período. O valor comercializado por tonelada de carne australiana foi setenta por cento superior ao valor comercializado pelo Brasil. Isso se deve principalmente a melhor qualidade da carne australiana em relação à brasileira.

Segundo Costa et al. (2005), o confinamento é uma ferramenta que possibilita o abate de animais jovens e bem acabados, proporcionando, em geral, carcaças e carne de melhor qualidade. No entanto, o desempenho de bovinos na fase de terminação, o rendimento de carcaça e a qualidade da carne dependem, ainda, da combinação de fatores como raça, genética, alimentação, idade, sexo, dentre outros, que afetam ainda a precocidade no acabamento do animal.

Com relação a condição sexual, uma das técnicas para melhorar a qualidade da carcaça dos bovinos destinados à produção de carne é a castração. Apesar de ser uma prática relativamente conhecida pelos produtores, tem sido ainda objeto de estudos em pesquisas com bovinos de corte (PÁDUA et al. 2004).

Segundo Silva et al. (2007), a castração ainda gera polêmica entre o segmento frigorífico e o setor produtivo. O primeiro tem a seu favor o fato de a castração proporcionar maior cobertura de gordura subcutânea, e, portanto, conferir melhor qualidade de carne após o processamento das carcaças. Já o segmento produtivo alega que a castração inibe o crescimento, levando a um menor ganho de peso dos animais, principalmente quando a esterilização é realizada em animais com idade menos avançada.

Constata-se na literatura que animais castrados apresentam menores índices de desempenho produtivo que animais não castrados, e que, quanto mais jovem à castração, maior será a diferença relativa ao desenvolvimento ponderal entre as duas classes sexuais (RESTLE et al. 2000). Esta diferença é explicada pela supressão, após a castração, dos hormônios esteróides, os quais exercem função importante no crescimento dos animais (VITTORI, et al. 2006).

Por outro lado, segundo Morales (2004), animais castrados tornam-se mais dóceis, facilitando o manejo, têm maior desenvolvimento muscular da parte posterior onde estão localizados os cortes nobres, alcançam o ponto ideal de abate mais cedo, além de apresentarem acabamento de carcaça de qualidade superior, tendo maior valorização nos frigoríficos.

No entanto, quanto ao desempenho, em geral, os resultados indicam que animais não-castrados crescem mais rápido, utilizam alimentos mais eficientemente e produzem carcaças com maior porcentagem de carne comercializável e com menos teor de gordura (SILVA, 2000). Em contrapartida, Restle et al. (1999) afirmam que animais inteiros apresentam carcaças mais magras, carne mais escura, mais dura e de pior palatabilidade que os castrados.

 

De acordo com Kuss et al. (2009), a superioridade do acabamento dos animais jovens castrados em relação aos inteiros possivelmente se deve à menor exigência de mantença dos animais castrados, que apresentam menor peso corporal durante a terminação em confinamento.

Segundo Moletta e Bren (1999), talvez a castração só fosse recomendável em casos nos quais existisse uma maior remuneração pelo aspecto qualitativo da carcaça, caso contrário a maior produtividade dos animais inteiros torna-os economicamente mais indicados ao processo produtivo da pecuária de corte.

Levando-se em consideração o sexo, atualmente, o aproveitamento de novilhas de corte excedentes nos sistemas produtivos, a qual pode ser destinada para a produção de carne, é uma opção a mais para aumentar o montante das exportações brasileiras ou mesmo melhorar a qualidade da carne oferecida ao consumidor (VAZ, 1999).

Segundo Ítavo (2009), o sexo influencia o desempenho do ganho em peso e a composição da carcaça e, por conseguinte, a maciez da carne. Animais de sexos diferentes chegarão ao ponto de abate (mesmo grau de acabamento de carcaça) em pesos ou idades diferentes. Fêmeas atingem o ponto de abate mais cedo e mais leve que os machos castrados que, por sua vez, estarão acabados mais cedo e mais leves que machos inteiros.

De acordo com Lawrie (1970), citado por Santos (2005), os machos possuem menor quantidade de gordura intramuscular do que as fêmeas. Esta maior quantidade de gordura intramuscular nas fêmeas influencia positivamente a maciez e palatabilidade da carne.

Di Marco (1998), comparando machos e fêmeas, encontrou maiores pesos de carcaça para machos e justificou que este fato poderia estar relacionado com o maior ímpeto de crescimento causado pelos hormônios androgênicos, principalmente a testosterona. O menor peso das novilhas está relacionado ao fato destas depositarem gordura mais cedo, diminuindo assim a velocidade de crescimento. Desta forma, a diferença entre fêmeas e machos castrados é menor do que a de animais inteiros. No entanto, as informações a respeito da terminação de fêmeas ainda são escassas, principalmente em relação às características das carcaças produzidas por esses animais.

Diante dos fatores expostos, pode-se inferir que é de suma importância, estudos complementares, visando à elucidação das dúvidas mais latentes, proporcionando ao setor produtivo, a oportunidade de melhorar seus índices econômicos e produtivos, colocando-os em igualdade aos de países onde a pecuária já se encontra em estágios mais avançados (MORALES, 2004).



Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Canivete, localizada no município de Felixlândia – MG, localizada na MG-159, km 85, e nas coordenadas: latitude Sul de 18°45’, longitude Oeste do Meridiano de Greenwich de 41°54’e altitude de 685 m. O clima da região é classificado como tropical quente úmido com inverno frio e seco, com precipitação média anual de 1200 mm.

Foram avaliados 180 bovinos F1 (Nelore x Angus), com idade variando entre 7 e 8 meses, sendo 60 machos inteiros, 60 machos castrados e 60 fêmeas. O período experimental foi de 149 dias, com início em 10 de junho de 2015 e término em 7 de novembro de 2015.

Os animais foram mantidos em 3 currais de confinamento com área de 704 m2 cada, sendo divididos em três tratamentos: machos inteiros, machos castrados e fêmeas. Foram fornecidas três dietas ao longo do período experimental, sendo uma dieta inicial do 1° ao 22° dia experimental, uma dieta do 22° ao 60° dia experimental e a terceira dieta do 61° dia ao término do experimento (Tab. 1). As dietas foram fornecidas cinco vezes ao dia, com o primeiro fornecimento às cinco da manhã e o último às cinco da tarde (Tab. 1). O consumo era ad libitum, permitindo 5 % de sobras.

Os animais foram pesados em balança mecânica, a cada 30 dias, sempre pela manhã em jejum de sólidos. A castração foi realizada no primeiro dia experimental, após a pesagem inicial, pela técnica de angiotripsia, que consiste na interrupção da circulação para o testículo, com o auxílio de um “alicate” conhecido como Burdizzo, causando a degeneração do mesmo.

Foram avaliados Ganho Médio diário (GMD, kg/dia), Peso de Carcaça Quente (PCQ, kg), Rendimento de Carcaça (RC, %), Área de Olho de Lombo (AOL, cm²), Espessura de Gordura Subcutânea (EGS, mm) e Espessura de Gordura Subcutânea na Picanha (RUMP, mm).

O ganho GMD (kg/dia) foi obtido por meio da relação entre o ganho de peso no período experimental e o número de dias de duração do experimento.

PCQ (kg) foi obtido pela soma das duas meias carcaças antes do resfriamento e o RC (%) obtido pela relação entre o peso da carcaça e o peso vivo do animal.

A mensuração das características de carcaça foi realizada por meio de ultrassonografia. Primeiramente realizou-se a limpeza do local entre a 12a e 13a costela do lado esquerdo do animal, com escova raspadeira para retirada do excesso de pelos e sujeira. Em seguida colocou-se óleo vegetal no dorso do animal para perfeito acoplamento do transdutor. O transdutor do aparelho ultrassonográfico foi disposto de maneira perpendicular ao comprimento do músculo Longissimus dorsi entre a 12a e a 13a costela, realizando-se a tomada da imagem ultrassonográfica.

 Durante a leitura da imagem, circundou-se a AOL em centímetros quadrados e a EGS em milímetros no terço distal da imagem do músculo. A RUMP, em milímetros, foi avaliada na região do traseiro, sobre músculo Bíceps Femoris.

 

O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado (DIC) e para todas as análises foi utilizado o programa estatístico SISVAR, versão 5.1 (UFLA, 2011). Foi realizada análise de variância e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de significância (p<0,05).



Resultados e Discussão

De acordo com os resultados pode-se observar que houve influência da classe sexual sobre o desempenho e as características de carcaça dos animais analisados (Tab.2). Em relação ao desempenho, os machos inteiros apresentaram maior peso final (P<0,05) e maior ganho médio diário (P<0,05), quando comparados aos machos castrados e as fêmeas. Já os machos castrados apesar de apresentarem maior GMD em relação as fêmeas, não apresentaram diferença significativa para peso final (P>0,05).

O ganho de peso corporal é a mensuração comumente utilizada para avaliar o desempenho e crescimento animal. Contudo, durante o crescimento, ocorrem variações no peso, na composição do ganho de peso, no tamanho dos animais e na proporção dos tecidos depositados (BONILHA et al., 2008).

Costa et al. (2002), ao avaliarem o peso vivo final de animais inteiros e castrados, registraram maiores pesos para animais inteiros. Climaco et al. (2006), observaram que animais inteiros apresentam maiores pesos e ganhos de pesos do que os castrados, sendo abatidos em menor tempo ou idade. Fachini et al. (2012) observaram que o peso final dos machos inteiros foi superior ao das fêmeas, o que está de acordo com os resultados deste trabalho.

Ítavo et al. (2008) e Marcondes et al. (2008), mostraram que os animais inteiros crescem mais rapidamente e apresentam GMD superior aos castrados. Entretanto, Vittori et al. (2007) não observaram diferenças em relação ao GMD entre machos inteiros e castrados.

Pádua et al. (2004), registraram que em condições favoráveis de nutrição e manejo, machos inteiros apresentam GMD 10 a 20% superior aos castrados. Já Paulino et al. (2008), registraram ganhos em machos inteiros 18,7% superior à média dos machos castrados ou das fêmeas.

Fachini et al. (2012) verificaram que os machos inteiros foram superiores para GMD, com ganho de 1,579 kg contra 1,226 kg para das fêmeas, correlacionando este fato ao menor consumo de matéria seca e maior conversão alimentar observada para as fêmeas. Vaz et al. (2010) relataram que o menor peso das fêmeas se deve ao fato de que estas começam a depositar gordura mais cedo, diminuindo a velocidade de crescimento. Alves (2000), constatou maior capacidade para ganho de peso e conversão alimentar de bovinos inteiros em relação aos castrados e as fêmeas, em decorrência da ação hormonal.

Paulino et al. (2008), observaram que o GMD dos machos castrados não diferiu de fêmeas. Schio (2006) também não observou diferença para GMD e peso vivo final entre machos castrados e fêmeas, apesar de as fêmeas terem apresentado maior conversão alimentar em relação aos machos castrados. 

Os machos inteiros apresentaram maior peso de carcaça quente (PCQ) em relação aos machos castrados e fêmeas, que não diferiram entre si. Coutinho Filho et al. (2006) também observaram maior PCQ para machos inteiros em relação as fêmeas.

Quando as características da carcaça são avaliadas, os resultados têm demonstrado que as carcaças de animais inteiros são superiores em peso e conformação, apresentando maior proporção de músculos (MULLER e RESTLE, 1983).  Freitas et al. (2008) observaram maiores pesos de carcaça quente e de carcaça fria, em machos inteiros Nelore, em comparação com novilhos castrados da mesma raça. Ainda, segundo Morgan et al. (1993) foi constatado que animais castrados possuem massa de proteína muscular esquelética menor que a dos inteiros, indicando maior índice de degradação dessa proteína nos animais castrados.

Lage (2010), encontrou maior PCQ para machos castrados em relação a fêmeas, e afirma que este fato pode ter ocorrido, pois a castração tardia dos machos, acima dos 12 meses, favorece o maior incremento muscular antes da castração, pela atividade da testosterona que é um hormônio anabolizante que atua positivamente na hipertrofia muscular. Porém, este fato não foi observado no presente trabalho, o que pode ser decorrência da castração dos animais deste experimento em idade inferior a 12 meses.

Para rendimento de carcaça (RC), pode ser observado que os machos inteiros tiveram maior RC que os machos castrados e fêmeas, que não diferiram entre si. Fachini et al. (2012) também observaram maior RC para machos inteiros em relação as fêmeas. Da mesma forma, Schio (2006),  não observou diferença entre o RC de machos castrados e fêmeas.

Restle et al. (1999); Ribeiro et al. (2004); Climaco et al. (2006) compararam animais inteiros e castrados e verificaram que, apesar de apresentarem rendimentos de carcaças similares, os animais inteiros apresentaram melhor conformação do que os castrados, indicativo de maior musculosidade e resultado de maior deposição de tecido muscular devido ao efeito anabolizante dos hormônios testiculares.

Este resultado foi confirmado por Vittori et al. (2006), quando analisaram a gordura renal e pélvica (GRP) entre animais castrados e inteiros, e observaram superioridade desta variável para os animais castrados, o que provocou um aumento nos componentes não-integrantes da carcaça, reduzindo o rendimento, uma vez que a GRP pode pesar até mais de 6% do peso da carcaça.

Moletta e Perotto (1998), comparando desempenho e características de carcaça de 16 novilhos Canchim, sendo oito inteiros e oito castrados no início do confinamento, também observaram maior rendimento e melhor conformação das carcaças dos animais inteiros, enquanto que os animais castrados melhoraram o grau de acabamento, apresentando uma maior espessura de gordura de cobertura bem como melhor marmorização.

Os machos inteiros apresentaram área de olho de lombo (AOL) superior aos machos castrados e as fêmeas, que por sua vez, não diferiram entre si. Junqueira et al. (1998) também observaram maior AOL para os machos inteiros quando comparados as fêmeas.

Vittori et al. (2006) também observaram maior AOL para animais inteiros em relação aos castrados e citam que isto ocorreu provavelmente pelo fato de a AOL ser indicativo do grau de musculosidade. Estes mesmos autores também verificaram maior porcentagem de tecido muscular, maior relação músculo:osso e maior relação músculo:gordura em animais inteiros quando comparados aos castrados, o que culminou com maior participação de tecido muscular na carcaça dos animais inteiros e consequentemente maior AOL.

Segundo Lawrie (2005), os hormônios andrógenos, após o nascimento, atuam promovendo a proliferação de células satélites, e estas transferem seus núcleos às miofibrilas que compõe as fibras musculares aumentando a sua capacidade em sintetizar proteínas e com isto provocam a hipertrofia muscular.

Para espessura de gordura subcutânea (EGS) e espessura de gordura subcutânea na picanha (RUMP), as fêmeas apresentaram superioridade para estas variáveis em relação aos machos inteiros e castrados, sendo que a EGS e RUMP foram superiores nos machos castrados em relação aos machos inteiros.

Segundo Luchiari Filho (2000), machos castrados e novilhas depositam gordura com mais facilidade do que machos inteiros, sendo que animais inteiros possuem como vantagem, mais carne e maior eficiência alimentar, sendo o principal aspecto negativo a menor EGS, que provoca escurecimento da parte externa dos músculos da carcaça durante o resfriamento, prejudicando seu aspecto e, consequentemente, depreciando seu valor comercial. Paulino et al. (2008) e Vaz et al. (2010) comparando machos castrados e fêmeas, não verificaram diferenças estatísticas para EGS entre estas classes.

De acordo com Silva (2001), as principais diferenças em relação ao sexo dos animais são observadas quanto ao tecido adiposo. Considerando-se animais pertencentes a mesma raça e com peso de corpo vazio similar, fêmeas possuem maior quantidade de gordura que machos castrados, e estes, mais que animais inteiros, o que está de acordo com os resultados encontrados no presente trabalho. Ainda, segundo o mesmo autor, este comportamento se reflete nas concentrações de energia corporal e nas respectivas exigências energéticas para ganho.  Junqueira et al. (1998) também encontraram maior EGS para fêmeas em relação aos machos inteiros.

Em trabalho realizado por Freitas et al. (2008), foi observado que a castração de bovinos conferiu às carcaças maior espessura de gordura e, consequentemente, melhor acabamento.  Ao final da puberdade e início da maturidade, ocorre a desaceleração do crescimento muscular, seguido de intensa deposição de tecido adiposo. A maior intensidade de crescimento muscular antes da maturidade depende dos hormônios do crescimento juntamente com a testosterona, assim em animais castrados a desaceleração do crescimento muscular e início da deposição de gordura são adiantados pelo efeito da diminuição da concentração de testosterona nestes animais (FERNANDES et al., 2004).

Apesar da diferença, nota-se que neste trabalho, a EGS ultrapassou o mínimo exigido pela indústria frigorífica, de 3 mm, em todas as classes sexuais, o que pode ser considerado satisfatório, uma vez que a camada de tecido adiposo acima deste mínimo é ideal para reduzir a velocidade de resfriamento da carcaça, melhorando com isto a conversão do músculo em carne e evitando o encurtamento pelo frio (LUCHIARI FILHO, 2000).

 



Conclusões

A classe sexual afetou diretamente o desempenho e as características de carcaça de novilhos prococes terminados em confinamento. Animais inteiros apresentam maior peso final, peso de carcaça quente, maior rendimento de carcaça e maior área de olho de lombo em relação a machos castrados e fêmeas. Por outro lado, fêmeas apresentam melhores características de acabamento de carcaça, como espessura de gordura subcutânea e espessura de gordura na picanha, superiores a machos inteiros e castrados. 



Gráficos e Tabelas




Referências

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