Desempenho e rendimento de carcaça de bovinos Nelores submetidos a diferentes estratégias nutricionais nas fases de cria e recria.
Jéssica Gonçalves Vero1, Nayara Andreo2, Ana Maria Bridi3, Louise Manha Peres4, Ana Paula Ayub Barbon5, Fernanda Gonçalves Lisboa6, Amanda Gobeti Barro7, Daniela Kaizer Terto8
1 - Universidade Estadual de Londrina
2 - Universidade Estadual de Londrina
3 - Universidade Estadual de Londrina
4 - Universidade Estadual de Londrina
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7 - Universidade Estadual de Londrina
8 - Universidade Estadual de Londrina
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RESUMO -
Objetivou-se avaliar o desempenho e rendimento de carcaça de bovinos submetidos a diferentes estratégias nutricionais durante duas fases de produção. Fase I (Cria): 80 bezerros com suas mães foram distribuídos em: suplemento mineral (CM) ou creep-feeding (CC); Fase II (Recria): os mesmos 80 bezerros redistribuídos em: pasto (RP) ou confinamento (RC). Após isso, os 80 animais foram mantidos em pastagem e terminados em confinamento. Posteriormente, foram abatidos e obtidos o peso vivo final (PVF), o ganho diário de peso (GDP), o peso de carcaça quente (PCQ) e o rendimento de carcaça (REND). Não houve interações significativas entre as fases avaliadas. Para o efeito simples, todas as variáveis foram significativas para a fase de recria. O grupo RC foi abatido 17 dias antes, com maior PVF, GDP, PCQ e REND em relação ao grupo RP. A fase II exerceu maior influência nas variáveis estudadas, tendo os bovinos recriados em confinamento apresentado maior crescimento e desenvolvimento muscular.
Palavras-chave: creep-feeding, confinamento, desmame, nutrição, pasto.
Performance and dressing percentage of Nellore bulls submitted to different nutritional strategies during cow-calf and stocker phases.
ABSTRACT - The aim was to evaluate the performance and dressing percentage of bulls submitted to different nutritional strategies during two phases of production. Phase I (Cow-calf): 80 calves with their mothers were distributed into: mineral supplement or creep-feeding; Phase II (Stocker): the same 80 calves were redistributed into: pasture or feedlot. After that, all animals were kept on pasture and then finished on feedlot system. Then, they were slaughtered and obtained the final body weight (FBW), average daily gain (ADG), hot carcass weight (HCW) and dressing percentage (DP). There were no significant interactions between both phases. For single effects, all variables were significant on stocker phase. Feedlot group was harvested 17 days earlier, with greater FBW, HCW, ADG and DP than pasture group. Phase II exerted higher influence on the studied variables, having the bulls on stocker phase presented greater growth and muscle development.Keywords: creep-feeding, feedlot, nutrition, pasture, weaning.
Introdução
Um dos principais alimentos consumidos no mundo é a carne, sendo considerado em alguns países um produto essencial com taxas de consumo elevado. A carne fornece valiosas quantidades de proteína, ácidos graxos, vitaminas, minerais e outros compostos bioativos. No entanto, a composição da carne e da carcaça é influenciada por inúmeros fatores, sendo eles intrínsecos ou extrínsecos ao animal. A nutrição do animal é um fator extrínseco que é facilmente manipulada, com efeitos significativos na composição da carcaça (GUERRERO et al., 2013). O rendimento de carcaça, por exemplo, é uma variável fortemente influenciada pela alimentação do animal, sendo diretamente ligada com a qualidade da carcaça, visto que implica em retorno financeiro direto ao frigorífico, estando inteiramente relacionado com a quantidade de carne comercializável. Essa variável expressa a relação entre o conteúdo de músculo, osso e gordura da carcaça (SAINZ; ARAUJO, 2001). Desta forma, o manejo nutricional recebido em cada fase de criação do bovino, terá influências diretas sobre a composição de sua carcaça. A literatura científica possui ainda poucos estudos que avaliam os efeitos de diferentes estratégias nutricionais ao longo de mais de uma fase de produção de bovinos e seus efeitos no desempenho e também nas variáveis de carcaça. Desta forma, objetivou-se com o estudo foi avaliar o desempenho e o rendimento de carcaça de bovinos submetidos a diferentes estratégias nutricionais nas fases de cria e recria.Revisão Bibliográfica
As exigências nutricionais do animal são determinadas de acordo com seu padrão de crescimento e, reciprocamente, através da alteração da nutrição, pode-se também alterar o padrão de crescimento animal, determinando a composição do produto de crescimento desse animal, a carcaça e a carne (MCDONALD et al., 1995). Desta forma, de acordo com Sampaio et al. (2002) fornecer boas pastagens, mineralização e suplementação alimentar são estratégias fundamentais para explorar ao máximo o potencial genético presente em cada indivíduo. No entanto, no Brasil a bovinocultura de corte tem sua produção concentrada em pasto. Sendo assim, as chuvas interferem diretamente na produção e na qualidade das pastagens, predispondo os animais a desempenhos muito variáveis (ALVES, 2003). Com isso, em qualquer época do ano, seja nas chuvas ou na seca, faz-se necessário manter o suprimento de alimento em equilíbrio com os requerimentos dos animais (EUCLIDES et al, 1998). Segundo Oliveira et al. (2014) o objetivo da suplementação é fechar as lacunas deixadas pela curva sazonal de crescimento das forrageiras. Na fase de cria, por exemplo, uma alternativa ao uso do suplemento mineral é a suplementação em creep-feeding, que consiste em fornecimento, em cocho privativo, de alimentos suplementares aos bezerros criados ao pé das matrizes. Já no pós desmame, ou seja, no início da fase de recria, um sistema estratégico que pode ser utilizado em detrimento do sistema à pasto é o confinamento. O confinamento de bovinos de corte é uma atividade crescente na pecuária brasileira. Esse crescimento tem ocorrido ao longo do tempo em função do aumento de tecnologias disponíveis, maior disponibilidade de grãos e, é claro, devido às diversas vantagens que traz ao sistema de produção de carne bovina (GOMES et al., 2015). Diante da influência da nutrição sobre o crescimento e desenvolvimento do animal e consequentemente da composição de sua carcaça, torna-se de extrema importância o estudo e conhecimento de como diferentes estratégias nutricionais em diferentes fases da vida do animal alteram seu desempenho e características de carcaça, principalmente, o rendimento de carcaça, que está diretamente relacionado à qualidade da carne comercializável, implicando em retorno financeiro direto ao frigorífico (GOMIDE; RAMOS; FONTES, 2014).Materiais e Métodos
O estudo foi conduzido na fazenda Figueira em Londrina/PR, Brasil. Foram utilizados 80 bezerros machos Nelores em duas fases de produção. Na Fase I (Cria), os bezerros e suas mães foram distribuídos em: suplemento mineral (CM) ou creep-feeding (CC). O grupo CM (n = 40) recebeu suplemento mineral (BellMais, Bellman®) ad libitum e o grupo CC (n = 40) recebeu suplemento (BellPeso, Bellman®) ad libitum em sistema de creep-feeding. Ambos os grupos foram alocados (4 piquetes de 10 ha cada) em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia, onde permaneceram até o desmame (6,7 ± 0,07 meses de idade). A Fase II (Recria) iniciou-se após o desmame, quando os bezerros tinham em média 190,20 ± 3,37 kg, tendo a duração de 136,58 ± 2,07 dias. Vinte bezerros dos grupos CM e CC foram redistribuídos em outros dois grupos: pasto (RP) ou confinamento (RC). O grupo RP (n = 40) foi alocado em pastagem recebendo apenas suplemento mineral e o grupo RC (n = 40) permaneceu em sistema de confinamento com dieta formulada para ganhos de 0,7 kg/dia. Posteriormente, todos os 80 animais foram mantidos em pastagem recebendo apenas suplemento mineral por mais 290,0 ± 0,11 dias e em seguida, terminados em sistema de confinamento por em média de 136,5 ± 2,27 dias. Os animais foram pesados no início da Fase I, Fase II, pasto e confinamento e ao abate, com isso foi calculado o ganho diário de peso (GDP) para as Fases I e II. Ao final do período de terminação, os bovinos foram abatidos segundo as normas de abate humanitário com em média 764,26 ± 3,06 dias de idade e 499,20 ± 3,33 kg de peso vivo final (PVF). Após o abate, foi mensurado o peso de carcaça quente (PCQ) e calculado o rendimento de carcaça (PCQ/PVF). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2 (duas fases e duas estratégias nutricionais). O animal foi considerado a unidade experimental. As interações entre as fases foram analisadas e as médias foram comparadas com o teste de Fisher no software estatístico R.Resultados e Discussão
Não houve interações significativas entre as fases de cria e recria para as variáveis avaliadas. Em relação ao efeito simples, também não foi observada diferença significativa para a fase de cria (P> 0,05). Por outro lado, a fase de recria influenciou (P <0,05) a idade ao abate, o peso vivo final, o ganho diário de peso, o peso de carcaça quente e o rendimento de carcaça (Tabela 1). Os bovinos alimentados em sistema de confinamento em fase de recria foram abatidos 17 dias mais cedo, com um adicional de 19,0 kg (+ 3,8%) de peso vivo final, 15,2 kg (+ 5,7%) de peso de carcaça quente, 0,04 kg (+ 6,9%) de ganho diário de peso e 0,98% de rendimento de carcaça quando comparados aos alimentados em pastagem. O maior peso vivo final alcançado em menos dias pelo grupo confinado, quando comparado ao grupo em pasto, pode ser explicado devido ao maior ganho diário de peso obtido pelo grupo em confinamento durante a Fase II (Tabela 1). Assim como afirmam Esterhuizen et al (2008), bovinos criados em sistema de confinamento crescem mais rapidamente e produzem carcaças maiores que os criados em pastagens convencionais. O maior rendimento de carcaça para os animais do confinamento (54,88%) em relação aos em pasto (53,90%) era esperado, uma vez que o rendimento de carcaça baseia-se na relação entre o peso de carcaça quente e o peso vivo final. Possivelmente, o maior rendimento de carcaça para o grupo confinado foi devido ao aumento de peso e desenvolvimento muscular deste grupo quando comparado ao grupo em pasto (Tabela 1). Isso se deve ao fato de que o rendimento de carcaça aumenta na medida em que há um aumento do peso vivo do animal. Além disso, é sabido que animais com maior peso muscular apresentram maior rendimento de carcaça do que animais com menor peso muscular (MCKIERNAN, et al., 2015; HALFMAN; SHAEFER, 2015). Uma vez que ambos os grupos foram mantidos na fase de recria pelo mesmo número de dias e período do ano, o menor peso vivo final, peso de carcaça quente, ganho diário de peso e rendimento de carcaça dos animais à pasto em relação aos em confinamento pode ser atribuído principalmente a níveis mais baixos de nutrição e maior gasto energético devido ao pastejo, levando a uma condição inferior para seu pleno desenvolvimento. Segundo Kaufmann et al. (2011), há uma correlação positiva entre o gasto energético e o tempo de comer e/ou caminhar, confirmando que o maior gasto energético de bovinos em pastagem é influenciado pelo comportamento alimentar e maior atividade física necessária para a busca de alimento.Conclusões
A fase de recria, quando comparada à fase de cria, foi a que mais exerceu influência sobre a idade ao abate, peso vivo final, ganho diário de peso, peso de carcaça quente e rendimento de carcaça. Os bovinos em confinamento na recria tiveram maior crescimento e desenvolvimento muscular em relação àqueles à pasto, mostrando que a adoção da recria confinada pode ser uma alternativa para obter animais mais pesados ao abate e com maior desenvolvimento muscular em suas carcaças.Gráficos e Tabelas
