DETERMINAÇÃO DE UMIDADE EM MÉIS DE Scaptotrigona sp. DA REGIÃO DE SANTARÉM, PA

Sullyvan Silva Oliveira1, João Vitor Silva Sousa2, Felipe Takis Cunha3, Hugo Jose Amorim de Macedo4, Graciene Conceição dos Santos5, Yasmin dos Santos Picanço6, Samuel Maia Reis7, Mateus Levi Avelino de Moura8
1 - Universidade Federal do Oeste do Pará
2 - Universidade Federal do Oeste do Pará
3 - Universidade Federal do Oeste do Pará
4 - Universidade Federal do Oeste do Pará
5 - Universidade Federal do Oeste do Pará
6 - Universidade Federal do Oeste do Pará
7 - Universidade Federal do Oeste do Pará
8 - Universidade Federal do Oeste do Pará

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi determinar a umidade do mel de Scaptotrigona sp da Região de Santarém, PA. Foram obtidas amostras de méis em quatro enxames da espécie Scaptotrigona sp (abelha canudo), provenientes da comunidade Anã e Carão localizadas na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, e da cidade de Belterra. Para determinação de umidade, utilizou-se o método da A.O.A.C.. Os teores de umidade diferiram entre si, sendo que a amostra da região de Belterra apresentou o maior umidade 29,34% e o menor observado foi pra amostra Anã 2 23,47, as amostras Anã 1 e Carão não diferiram entre si 26,50% e 25,27% respectivamente. Os valores obtidos excederam o valor máximo (20%) permitido pela legislação vigente para A. melífera. Os resultados do estudo ressaltam a necessidade de implementação de uma legislação específica que trate da qualidade dos méis de abelhas nativas, principalmente referente à umidade desses méis.

Palavras-chave: abelha sem ferrão, qualidade do mel, Scaptotrigona

DETERMINATION OF HUMIDITY IN HONEY OF Scaptotrigona sp. OF THE REGION OF SANTARÉM, PA

ABSTRACT - The objective of this work was to determine the honey humidity of Scaptotrigona sp from the Region of Santarém, PA. Samples of honeys were obtained from four swarms of the species Scaptotrigona sp. from the Anã and Carão communities, located in the Tapajós-Arapiuns Extractive Reserve, and in the city of Belterra. The humidity content differed from one another, and the sample from the Belterra region had the highest humidity content 29,34 and the lowest observed for the sample Anã 2 23,47, the Anã 1 and Carão samples did not differ from each other 26.50% and 25.27% respectively. The values obtained exceeded the maximum 20% allowed by the legislation in force for Apis melífera. The results of the study emphasize the need to implement specific legislation dealing with the quality of native bee honeys, mainly referring to the humidity of these honeys.
Keywords: Stingless bee, Honey quality, Scaptotrigona


Introdução

As abelhas sem ferrão perfazem aproximadamente 300 espécies, sendo que a maioria é produtora de méis de grande reputação. Entre as mais conhecidas, estão as abelhas mandaçaia (Melipona quadrifasciata Lep.), jataí (Tetragonisca angustula Latreielle), mirim (Plebeia sp) e canudo (Scaptotrigona sp) (Oliveira et al., 2013). Normalmente, amostras de mel apresentam teores de umidade no intervalo de 13 a 25% que estão relacionados às suas origens botânica e geográfica e as condições climáticas as quais esse produto foi submetido durante sua elaboração. Por outro lado, o mel de meliponíneos tem como principal característica a diferenciação no teor de umidade, que pode variar entre 19,9 e 41,9 %, e isso o tornam menos denso que o mel das Apis mellifera (Souza et al. 2009). O teor de umidade no mel tem um papel decisivo sob o ponto de vista da qualidade e estabilidade. A quantidade de água presente no mel afeta propriedades físicas e sensoriais como cor, viscosidade, sabor, peso específico, solubilidade, determinando, dessa forma, seu valor comercial (Aparna e Rajalakshmi, 1999). Este trabalho teve por objetivo determinar o teor de umidade de méis de Scaptotrigona sp da Região de Santarém, PA.

Revisão Bibliográfica

O mel elaborado pelos meliponíneos tem sido utilizado tradicionalmente como um alimento com finalidades medicinais, principalmente em zonas rurais e entre os povos indígenas, que atribuem a ele propriedades terapêuticas específicas, como no tratamento de processos inflamatórios e infecciosos (CORTOPASSI-LAURINO;GELLI, 1991). De maneira geral, o mel das espécies de meliponíneos tem como principal característica a diferenciação nos teores da sua composição, destacando-se o teor de água (umidade), que o torna menos denso que o mel das abelhas africanizadas (Apis mellifera) (CAMPO et al. 2000). A umidade é uma das características mais importantes do mel e exerce grande influencia sobre a sua preservação, granulação e viscosidade. O teor de umidade é o critério de qualidade que determina a capacidade do mel de se manter estável e livre de fermentação. Um alto teor de umidade pode acelerar a cristalização em determinados tipos de mel e pode favorecer o crescimento de certas leveduras, devido ao aumento da atividade de água (GOMES et al., 2010). Apesar da sua importância a Legislação Brasileira que regulamenta a padronização do mel para fins de comercialização só atende às características do mel de Apis, não contemplando o mel das abelhas nativas do país (AZEREDO et al., 1999), o que leva à necessidade de estudos de diferentes méis para a sua padronização e uma futura Legislação Brasileira. O mel produzido pelas abelhas sem ferrão possui características muito  distintas quando comparado ao mel tradicional produzido pela abelha do gênero Apis. Além disso, o mel de meliponíneos é um produto que tem alcançado um alto valor de mercado em relação ao mel tradicional, apresentando uma demanda crescente de mercado. Entretanto, ainda existem poucas informações, na literatura nacional e internacional sobre a sua composição, considerando, particularmente, a diversidade de espécies existentes (ALMEIDA-MURADIAN;MATSUDA;BASTOS, 2007).

Materiais e Métodos

Para realização deste estudo foram obtidas amostras de méis em quatro enxames da espécie Scaptotrigona sp (abelha canudo), dois provenientes da comunidade Anã, uma da comunidade Carão, localizadas Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, e uma da cidade de Belterra. Os méis foram extraídos com seringas descartáveis, uma para cada repetição, evitando assim a contaminação das diferentes amostras. Imediatamente após a extração as amostras foram estocadas em frascos estéreis de 100 mL sob refrigeração. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Tecnologia de Produtos de Origem Animal da Universidade Federal do Oeste do Pará, Santarém, PA. Para a quantificação do teor de umidade, utilizou-se o método da A.O.A.C. (1995) com 3 repetições cada amostras. As análises estatísticas foram realizadas por meio do procedimento do Software  SISVAR. Para comparação entre médias utilizou-se o teste Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

As amostras apresentaram teores médios de umidade variando entre 23,47% a 29,34% (Tabela 1) Os resultados das análises das amostras revelam que os teores de umidade do mel diferem entre si, sendo que a amostra da região de Belterra apresentou o maior teor de umidade (29,34%) e o menor teor observado foi pra amostra Anã 2 (23,47%), as amostras Anã 1 e Carão não diferiram entre si (26,50% e 25,27% respectivamente). Os valores obtidos excederam o valor máximo (20%) permitido pela legislação vigente para A. mellifera (Brasil, 2000), porém todas as amostras encontram-se dentro do limite máximo (35%) sugerido para os méis de meliponíneos do Brasil em estudo realizado e proposto por Villas-Bôas & Malaspina (2005). Oliveira et al. 2013 observaram teores de umidade de 25% para amostras de méis Tetragonisca  angustula e valores superiores a 25% para amostras de méis Scaptotrigona depilis. A quantidade de água no mel de meliponíneos é considerada o grande diferencial deste produto em relação ao mel de Apis mellifera, como tem sido evidenciado na maioria dos trabalhos relatados. Segundo dados da literatura os valores limites propostos para controle de qualidade de mel de meliponíneos variaram de 27 a 35% (Villas-Bôas & Malaspina, 2005; Vit et al., 2004; Souza et al., 2006). Esta característica merece cuidados na manipulação do mel durante a coleta e no processo de armazenamento, evitando a contaminação por microrganismos que podem causar desvalorização do produto.

Conclusões

Os resultados ressaltam a necessidade de implementação de uma legislação específica que trate da qualidade dos méis de abelhas nativas, principalmente referente a umidade desses méis. O mel da Scaptotrigona sp está susceptível à contaminação por microorganismos devido a seu teor de umidade e portanto necessita que se utilize tratamentos prévios como desidratação, pasteurização e refrigeração pata garantir sua qualidade para sua estocagem.

Gráficos e Tabelas




Referências

APARNA, A. R.; RAJALAKSHMI, D. Honey: its characteristics, sensory aspects, and applications. Food Reviews International, v.15, n.4, p.455-471, 1999. AZEREDO, M. A. A.; AZEREDO, L. da C.; DAMASCE-NO, J. G. Características físico-químicas dos méis do município de São Fidélis - RJ. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 19, n. 1 , p. 3-7, 1999. ALMEIDA-ANACLETO, D. de.Recursos alimentares, desenvolvimento das colônias e características físico-químicas, microbiológicas e polínicas de mel e cargas de pólen de meliponíneos, do município de Piracicaba, estado de São Paulo. 2007,133f. Tese Doutorado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. ANACLETO, D.A.; SOUZA, B.A.; MARCHINI, L.C.; Moreti, A.C.C.C. Composição de amostras de mel de abelha Jataí (Tetragonisca angustula latreille, 1811). Ciência e Tecnologia de Alimentos. v.29, n.3. 2009. BRASIL. Instrução Normativa nº 11, de 20/10/2000. Padrão de Identidade e Qualidade do Mel. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 23 jan. 2001. Seção 1, p. 18-23. CORTOPASSI-LAURINO M. GELLI D.S. Analyse pollinique, propriétés physico-chimiques et action antibactérienne desmiels d’abeilles africanisées Apis melífera et de Méliponinés du Brésil. Apidologie, 22:61-73, 1991. CAMPOS, G.; MODESTA, R. C. D. Diferenças sensoriais entre mel floral e mel de melato. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 59, n. 1-2, p. 7-14, 2000. GOMES, S.; DIAS, L. G.; MOREIRA, L. L.; RODRIGUES, P.; ESTEVINHO, L. Physicochemical, microbiological and antimicrobial properties of commercial honeys from Portugal. Food and Chemical Toxicology, v. 48, p. 544–548, 2010. OLIVEIRA, K.A.M.; RIBEIRO, L.S.; OLIVEIRA, G.V. Caracterização Microbiológica, Físico-Química e Microscópica de Mel de Abelhas Canudo (Scaptotrigona Depilis) e Jataí (Tetragonisca Angustula) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, v.15, n.3, p.239-248, 2013. SOUZA A.B., MARCHINI C.L., ODA-SOUZA M., CARVALHO L.A.C. & ALVES O.M.R. Caracterização do mel produzido por espécies de Melipona illiger, 1806 (Apidae: Meliponini) da região nordeste do Brasil: 1. Características físico-químicas. Quim. Nova, 32:303-308, 2009. VILLAS-BÔAS, J.K.; MALASPINA, O. Parâmetros Físico-Químicos Propostos para o Controle de Qualidade do Mel de Abelhas Indígenas Sem Ferrão no Brasil. Mensagem Doce, São Paulo, n.82, p.6-16, 2005. VIT, P; MEDINA, M; ENRIQUEZ, M.E. Quality Standards for Medicinal Uses of Meliponinae Honey in Guatemala, Mexico Na Venezuela. Bee world, v. 2, n.85, p. 2-5, 2004. SOUZA B. et al. Composition of stingless bee honey: setting quality standards. Interciência, 31:867-875, 2006.