Diagnostico da criação e consumo de animais silvestres na zona urbana de Parintins-AM

Alef Sores Nunes1, Paulo Henrique Guimarães de Olveira2, Larissa Salgado da Cunha3, Wendell Glória dos Santos4, Hilacy de Souza Araújo5, Avelino Paiva da Cruz Neto6, Rodrigo Rener dos Santos Martins7
1 - Universidade Federal do Amazonas
2 - Universidade Federal do Amazonas
3 - Universidade Federal do Amazonas
4 - Universidade Federal do Amazonas
5 - Universidade Federal do Amazonas
6 - Universidade Federal do Amazonas
7 - Universidade Federal do Amazonas

RESUMO -

A biodiversidade Amazônica é utilizada pelos povos tradicionais, no entanto essa utilização pode provocar redução e extinção da fauna. Faz-se necessário plano de manejo para o uso sustentável desta fauna. Objetivou-se levantar informações referentes à criação e consumo da fauna silvestre em Parintins-AM, como subsídios à auxiliar possíveis planos de manejo da fauna silvestre. Observou-se entre os animais silvestres mais cativos, os Jabutis (Chelonoidis sp.), papagaios (Amazona sp.), Marrecas (Dendrocygna autunalis) e Piriquitos (Brotogeris sp.), todos de forma ilegal. Dentre os animais mais consumidos estão o Tracajá (Podocnemis unifilis), Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), Paca (Cuniculus paca) e Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa), devido á abundancia dessas espécies no município.

Palavras-chave: Fauna silvestre, Conservação, Uso

Diagnosis of the creation and consumption of wild animals in the urban area of Parintins-AM

ABSTRACT - The Amazonian biodiversity is used by the traditional peoples, however this use can cause reduction and extinction of the fauna. A management plan for the sustainable use of this fauna is necessary. The objective was to collect information on the creation and consumption of wild fauna in Parintins-AM, as subsidies to assist possible wildlife management plans. Among the most captive wild animals, Jabutis (Chelonoidis sp.), Parrots (Amazona sp.), Marrecas (Dendrocygna autunalis) and Piriquitos (Brotogeris sp.) Were all found to be illegal. The most consumed animals are Tracajá (Podocnemis unifilis), Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), Paca (Cuniculus paca) and Amazonian Tortoise (Podocnemis expansa), due to the abundance of these species in the municipality.
Keywords: Wildlife, Conservation, Use


Introdução

O Brasil é o país de maior biodiversidade do mundo. Essa diversidade implica na intensa busca por animais para os mais diversos fins (LIMA, 2007). É comum no Brasil as pessoas terem em suas casas animais da fauna silvestre mantidos como animais de estimação (ZAGO, 2008), o que segundo MENDES (2010), caracteriza-se como atividade cultural antiga. No entanto, o Art. 29 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, Lei dos Crimes Ambientais, considera crime, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. (BRASIL, 1998). O enfoque sociocultural e econômico delineado neste contexto remonta para a necessidade de implementação de políticas públicas mais eficazes no que tange ao plano da conservação e do desenvolvimento (LIMA, 2007). Para tanto faz-se necessário estudos etnozoológicos (LIMA et. al., 2014).

Revisão Bibliográfica

A Amazônia apresenta uma ampla biodiversidade, abrangendo 60 mil espécies de planta superiores, 2,5 milhões de espécies de artrópodes, 2.000 espécies de peixes e 300 espécies de mamíferos, dos quais são extraídos pelos povos tradicionais e utilizados para subsistência, cultura, domesticação e comercialização (SALATI,1985). No entanto modificações desse habitat, que é o principal fator responsável pela redução e extinção da população de animais silvestres (WILSON, 1994), o elevado consumo pelas populações locais (PERES,2000), e a comercialização, geram perdas à fauna (Redford, 1992 e Rocha, 1995). Além disto, existe no Brasil um problema cultural antigo que se caracteriza pela aquisição de animais silvestres para atender desejos de se ter esses animais como objetos de estimação (MENDES,2005). O Ministério do Meio Ambiente, sancionou a lei federal N°. 5.197/67 de Proteção a Fauna, a Lei N°.9.605/98 de Crimes Ambientais, a IN N°.169/08, das categorias de Uso e Manejo, e a IN Nº 07, de 30 de abril de 2015, onde institui e normatiza as categorias de uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro, e define, no âmbito do Ibama, os procedimentos autorizativos para as categorias estabelecidas (IBAMA,2010). A criação em cativeiro tem como objetivo a conservação de espécies que se encontram ameaçadas em seu ambiente natural, sendo possível a produção comercial (DAVIES, 2002). Os poderes constituídos do país necessitam de um Programa do Governo voltado ao uso sustentável da fauna silvestre (NEO,2003). Para tanto, faz-se necessário estudos Etnozoológicos, que fornecem dados valiosos para nortear estratégias de manejo e conservação da fauna silvestre (LIMA et. al., 2014).

Materiais e Métodos

Para obtenção das informações acerca do diagnóstico de criação e consumo de animais silvestres, realizou-se entrevistas em domicílios da cidade de Parintins-AM, latitude de 02º 37’ 42” S e longitude de 56º 44’ 09” W, localizado na margem direita do Rio Amazonas, 368,80 Km em linha reta, e 420 Km por via fluvial, da capital do Estado – Manaus, aplicando formulários semi-estruturados para responder as perguntas referente a criação e consumo de animais silvestres em Parintins. Os questionários foram aplicados em doze bairros da cidade e foram feitas coletas de informações em duas instituições que normatizam a fauna no município (IBAMA e SEMAS). No total, aplicou-se 350 questionários em 350 domicílios, selecionados aleatoriamente na cidade.

Resultados e Discussão

Os Jabutis (Chelonoidis sp.) foram os animais mais encontrados cativos nos 350 domicílios visitados, cerca de 30,6%, seguido de papagaios (Amazona sp.) 21,8%, Marrecas (Dendrocygna autunalis) 20,16% e Piriquitos (Brotogeris sp.) 14,52%. Encontrou-se também exemplares de Capivara (Hidrochoerus hidrochoeris) 1,61%, Pato-do-mato (Cairina moschata) 2,40%, Arara (Ara sp.) 2,42%, Anta (Tapirus terrestres) e Juruti (Leptotila verreaux) 0,80%. (Figura 01). Entre os animais cativos, apenas o Pato-do-mato e Juruti não são permitidos sua criação em cativeiro (ANEXO II da IN 169/08). No entanto, nenhum dos animais encontrados cativos possuíam registro de autorização para uso e manejo pelo IBAMA. Segundo a IN 169 de 2008, as espécies presentes no Anexo II, só podem ser utilizadas, se o responsável estiver cadastrado em uma das categorias permitidas pela IN, nos quais se encontram o criadouro comercial, estabelecimento comercial, abatedouro e frigorífico de fauna silvestre. Dentre os animais mais consumidos pela população de Parintins-AM, encontram-se o Tracajá (Podocnemis unifilis) 26%, Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) 10,57%, Paca (Cuniculus paca) 8,87% e Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) 8,57% (Figura 02). No que diz respeito à preferência, os vertebrados apresentam grande interesse para a caça de subsistência pelas populações humanas da Amazônia, entre os quais, veado (Mazama sp.), Queixada (Tayassu pecari), e Caititu (Tayassu tajacu) são os mais caçados, justificado pelo rendimento maior de carne para o consumo (PERES, 2000). O Tracajá e a Capivara são animais encontrados com abundância nas várzeas de Parintins-AM, o que segundo Redford (1992) caracteriza maior procura através da caça.

Conclusões

Na lista dos animais que se encontram cativos no município de Parintins-AM, os Jabutis, Papagaios, Marrecas e Piriquitos são os mais encontrados como animais de estimação.  Apesar de sua maioria ser permitido seu uso e manejo pela legislação Brasileira, nenhuma dos domicílios possuía registro de autorização de uso e manejo da fauna silvestre. Entre os animais mais consumidos pelos moradores do município de Parintins-AM, destacou-se o Tracajá, a Capivara, a Paca e a Tartaruga-da-Amazônia, por serem espécies mais procuradas por caçadores, devido a abundância dos mesmo nas várzeas do município.

Gráficos e Tabelas




Referências

DAVIES, G. Busheat and international development. Conservation biology. v. 16, n 3, p. 587-589, 2002. IBAMA. Disponível em: < http://www.ibama.gov.br>. Acesso em 03 mar. 2017. LIMA, G. G. B.: A conservação da fauna e da flora silvestres no Brasil: a questão do tráfico ilegal de plantas e animais silvestres e o desenvolvimento sustentável Rev. Jur., Brasília, v. 9, n. 86, p.134-150, ago./set., 2007. LIMA, J. R. B.; FLORÊNCIO, R. R.; SANTOS, C. A. B.: Contribuições da etnozoologia para a conservação da fauna silvestre. Revista Ouricuri, Paulo Afonso, Bahia, v.4, n.3, p.048-067. nov./dez., 2014. MENDES, F. L. S. Notas de campo envolvendo práticas relacionadas a animais domésticos. Belém, 2005. MENDES, F. L. S.: Ilegalidades no comércio de animais silvestres nos estados do Pará e do Amazonas / Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2010. NEO, F. A. Diagnóstico do manejo de fauna silvestre em criadouros comerciais no Brasil: perspectiva quanto à sustentabilidade. In: ANIMAIS SILVESTRES: vida à venda. 2. ed. Brasília, DF: Dupligráfica; RENCTAS, 2003. p. 193-214. PERES, C.; DOLOMAN, P. M. Density Compensation in Neotropical Primmate Communities: Evidenci from 56 Hunted and Nonhunted Amazonian Forest of Varying Productivity. Oecologia, n. 122, p. 157-185, 2000. REDFORD, K.H. The empty forest. BioScience, v.42, n. 6, p. 412-422, 1992. ROCHA, F.M. Tráfico de animais silvestres. Brasilia, DF: WWF, 1995. SALATI, E. Modificações da Amazônia nos últimos 300 anos: suas consequências sociais e ecológicas. IV ENCONTRO REGIONAL DE TROPICOLOGIA EM BRASÍLIA- Fundação Joaquim Nabuco, 1985. p. 14-26. WILSON, E.O. Diversidade da vida. São Paulo: Companhia das Letra, 1994. 359p. ZAGO, D. C.: Animais da fauna silvestre mantidos como animais de estimação. Monografia de especialização: curso de pós-graduação em educação ambiental-UFSM, 2008.