Diagnóstico do potencial de criação e comercialização de animais silvestres no município de Parintins-AM.

Alef Soares Nunes1, Paulo Henrique Guimarães de Oliveira2, Larissa Salgado da Cunha3, João Paulo Fonseca Tavares4, Jaíne Alves Azevedo5, Hilacy de Souza Araújo6, Wendell Gloria dos Santos7
1 - Universidade Federal do Amazonas
2 - Universidade Federal do Amazonas
3 - Universidade Federal do Amazonas
4 - Universidade Federal do Amazonas
5 - Universidade Federal do Amazonas
6 - Universidade Federal do Amazonas
7 - Universidade Federal do Amazonas

RESUMO -

Os animais silvestres sempre proporcionaram uma rica fonte proteica as populações ribeirinhas, no entanto modificações diversas do habitat amazônico e a caça indiscriminada, causam impactos negativos na mesma. Os veículos legais em conjunto com essa biodiversidade, desencadeiam oportunidades de negócios, no que diz respeito a criação comercial da fauna silvestre. Contudo, para a implantação dessas criações faz-se necessário conhecer o perfil sócio- econômico da região, assim como os aspectos culturais relacionados ao uso da fauna silvestre. Objetivou-se obter o diagnóstico do potencial da exploração da criação comercial da fauna silvestre no município de Parintins-AM, como subsídio para possíveis investimentos na produção comercial. Observou-se que a preferência de criação não corresponde à de consumo, demonstrando que a população tem interesse de criação sem fim lucrativo ou de consumo, proporcionando vantagens aos investimentos na criação comercia da fauna silvestre no município.

Palavras-chave: fauna silvestre, criação, consumo, comércio.

Diagnosis of the potential of creation and commercialization of wild animals in the municipality of Parintins-AM.

ABSTRACT - Wild animals have always provided a rich source of protein for riparian populations, but various modifications of the Amazonian habitat and indiscriminate hunting have caused negative impacts on it. The legal vehicles in conjunction with this biodiversity, trigger business opportunities, with regard to the commercial creation of wildlife. However, for the implantation of these creations it is necessary to know the socio-economic profile of the region, as well as the cultural aspects related to the use of the wild fauna. The objective of this study was to obtain a diagnosis of the potential of commercial wildlife exploitation in the municipality of Parintins-AM, as a subsidy for possible investments in commercial production. It was observed that the breeding preference does not correspond to that of consumption, demonstrating that the population is interested in non-profit or consumption creation, providing advantages to investments in the commercial creation of wildlife in the municipality.
Keywords: Wildlife, creation, consumption, commerce.


Introdução

A biodiversidade é a característica mais marcante da Amazônia (MENDES, 2010), e essa riqueza natural está estritamente relacionada a sobrevivência e crescimento das populações tradicionais no Amazonas. Os animais da fauna silvestre sempre proporcionaram uma rica fonte de proteína as populações ribeirinhas, sem caracterizar uma ameaça a persistência desses animais na natureza.  No entanto modificações diversas do habitat amazônico e a caça indiscriminada, tem causado impactos negativos sobre a fauna silvestre (MENDES, 2010). Por outro lado, os veículos legais em conjunto com a biodiversidade amazônica, tem desencadeado grandes oportunidades de negócios, no que diz respeito a criação comercial da fauna silvestre. No entanto, tem-se observado que os produtos e subprodutos da fauna silvestre comercializados no Amazonas, é em sua maioria, oriundo da exploração ilegal. Entre as espécies com maior índice de apreensão pelo IBAMA, estão os quelônios, jacarés e aves (NASCIMENTO, 2009).
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo obter o diagnóstico do potencial da exploração da criação comercial da fauna silvestre no município de Parintins-AM, como subsídio para possíveis investimentos referente a produção comercial de animais silvestre no Amazonas.



Revisão Bibliográfica

A criação em cativeiro pode ser destinada para a conservação de espécies ameaçadas ou extintas em seu ambiente natural, bem como a produção comercial destinada à comercialização de produtos, subprodutos e animais vivos (OJASTI, 2000). Contudo, para a implantação destas criações faz-se necessário conhecer o perfil sócio- econômico da região, assim como os aspectos culturais relacionados ao uso da fauna silvestre (JÚNIOR, 2006).    
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, criou em 1967 a lei nº5.197 de proteção a fauna, em 1998 a lei nº9.605 de crimes ambientais, e em 2008, através da Instrução Normativa nº169, instituiu e normatizou as categorias de uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro em território brasileiro, e dentre as categorias presentes na IN, estão o criadouro comercial de fauna silvestre, estabelecimento comercial de fauna silvestre e abatedouro e frigorífico de fauna silvestre, que são regulamentados pelos Institutos de Proteção Ambiental dos estados, no Amazonas, o IPAAM.



Materiais e Métodos

Para obtenção das informações acerca do potencial de criação e comercialização da fauna silvestre, realizou-se entrevistas em domicílios da cidade de Parintins-AM, latitude de 02º 37’ 42” S e longitude de 56º 44’ 09” W, localizado na margem direita do Rio Amazonas, 368,80 Km em linha reta, e 420 Km por via fluvial, da capital do Estado – Manaus, aplicando formulários semiestruturados para responder as perguntas referente ao uso e consumo da fauna silvestre local. Os questionários foram aplicados em doze bairros da cidade, e coletadas informações referentes a criação e consumo da fauna silvestre, em duas instituições que normatizam a fauna no município (IBAMA e SEMAS). No total, aplicou-se 350 questionários em 350 domicílios, selecionados aleatoriamente na cidade.



Resultados e Discussão

Entre as carnes de animais silvestres com maior preferência pela população parintinense (Figura 01), destacam-se a carne de tracajá (Podocnemis unifilis) com 22% de aprovação, seguido da capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) com 14%, Paca (Cuniculus paca) com 9%, Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) com 9%, Pato do mato (Cairina moschata) com 6% e Cutia (Dasyprocta sp.) com 5% de preferência. Dentre essas espécies, apenas o Pato do mato (Cairina moschata) não é autorizado ser criado, comercializado e abatido (Anexo I da IN 169, 2008), demonstrando que a criação desses animais seria uma ótima oportunidade de negócio no município de Parintins e no Amazonas.
    Dentre os animais com maior preferência dos moradores da cidade de Parintins-AM para criação (Figura 02), destacam-se os Psitacídeos, Papagaios (Amazona sp.) com 16% de preferência, Periquitos (Brotogeres sp.) com 11% e Araras (Ara sp.) com 10%, e os Jabutis (Chelonoidis sp.) com 14% de preferência, além do Tracajá (P. unifilis) 8%, Macaco barrigudo (Calithrix sp.) 8%, Cutia (Dasyprocta sp) 7%, Paca (Cuniculos paca) 7%, Jacaretinga (Caiman crocodilus) 7%, Queixada (Tayassu pecari) 6% e Capivara (Hidrochoerus hidrochaeris) 6%. A criação de psitacídeos é regulamentada através da Portaria nº 118 de 15 outubro de 1997 e os demais, exceto o Macaco barrigudo (Calithrix sp.), são autorizados através da IN 169 de 2008. No entanto, isso demonstra que a preferência de criação não corresponde a preferência de consumo, caracterizando dessa forma que a população tem interesse de criação sem fim lucrativo ou de consumo. Subentende-se então que a pressão sobre a fauna silvestre se direciona apenas à caça e o comércio ilegal nessa região. Dessa forma, investimentos na produção com interesse de explorar economicamente a fauna silvestre em cativeiro, seria uma alternativa viável de aliviar a pressão sobre os recursos naturais.



Conclusões

Os animais (Tracajá, Capivara, Paca, Tartaruga-da-Amazônia, Pato do mato e Cutia) da fauna silvestre que possuem maior preferência de consumo dos moradores da cidade de Parintins-AM, não são os mais cotados (Psitacídeos e Jabutis) à criação pelos mesmo. Essas características demonstram grande perigo à fauna silvestre, uma vez que a exploração para o consumo no Amazonas é caracterizada como extrativista e ilegal. Portanto, investimentos na criação e comercialização da fauna silvestre no Amazonas pode ser uma estratégia de minimizar a pressão sobre os recursos naturais da fauna silvestre.



Gráficos e Tabelas




Referências

IBAMA: INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 169, DE 20 DE FEVEREIRO DE 2008
IBAMA: PORTARIA Nº 118 DE 15 OUTUBRO DE 1997.
JUNIOR, A. C. C.: Fauna Silvestre Brasileira em Cativeiro: Criação legalizada, Distribuição Geográfica e Políticas Públicas. Viçosa-MG:UFV, 2007.
JÚNIOR, P. C. B.: Caracterização do Uso Comercial e de subsistência da Fauna Silvestre no município de Abaetetuba, PA. Belém-PA:UFPA, 2006.
MENDES, F. L. S.: Ilegalidades no Comércio de Animais Silvestres nos Estados do Pará e Amazonas. Belém-PA:UFPA, 2010.
NASCIMENTO, C. A. R.: Histórico do Comércio Ilegal de Fauna Silvestre no Estado do Amazonas. Manaus-AM: UFAM, 2009.
OJAST, J.: Manejo da Fauna Silvestre Neotropical. Caracas-Venezuela:UCV, 2000.