Dietas energéticas para abelhas Trigona spinipes FABRICIUS, 1793 (Hymenoptera: Apidae ) em condições de laboratório

Juliana Rodrigues Alves1, Deodoro Magno Brighenti2, Carla Regina Guimarães Brighenti3, Alan Henrique Ribeiro4, Caio Rodrigues Monteiro5, Florência Palharine da Silva6, Suelaine Daniele da Silva7
1 - Universidade Federal de São João del-Rei
2 - Universidade Federal de São João del-Rei
3 - Universidade Federal de São João del-Rei
4 - Universidade Federal de São João del-Rei
5 - Universidade Federal de São João del-Rei
6 - Universidade Federal de São João del-Rei
7 - Universidade Federal de São João del-Rei

RESUMO -

Avaliou-se a sobrevivência de indivíduos adultos de Trigona spinipes alimentados com dietas energéticas. Os tratamentos (dietas) contendo carboidratos foram: T1 mel uruçu, T2 mel Apis, T3 pasta Candi, T4 mel mandaçaia, T5 50% sacarose, T6 30% sacarose. Foram utilizadas cinco repetições para cada tratamento, composta por dez abelhas, cada. Contou-se o número de abelhas sobreviventes a cada 12h até completar 240 horas ajustando-se a curva de sobrevivência pelo modelo Weibull e calculando se o TL10, TL20, TL50 e TL99. Constatou-se que, entre as dietas energéticas testadas, aquela composta de sacarose 50% permitiu a maior longevidade, com aproximadamente 240 horas, ou seja, 10 dias.

Palavras-chave: suplementação, comportamento, mortalidade, sobrevivência

Energetic diets for bees Trigona spinipes FABRICIUS, 1793 (Hymenoptera: Apidae) under laboratory conditions

ABSTRACT - The survival of adult individuals of Trigona spinipes fed with energy diets was evaluated. The treatments (diets) containing carbohydrates were: T1 honey uruçu, T2 honey Apis, T3 Candi paste, T4 honey mandaçaia, T5 50% sucrose, T6 30% sucrose. Five replicates were used for each treatment, composed of ten bees each. The number of surviving bees was counted every 12 hours until 240 hours were completed, adjusting the survival curve by the Weibull model and calculating the TL10, TL20, TL50 and TL99. It was found that, among the energetic diets tested, that composed of sucrose 50% allowed the greatest longevity, with approximately 240 hours, that is, 10 days.
Keywords: supplementation, behavior, mortality, survival


Introdução

A abelha irapuá Trigona spinipes (Hymenoptera:Apidae) é uma espécie de abelha indígena que, com as mandíbulas, provoca injúrias em flores, folhas e frutos para construir seus ninhos ou para penetrar nos nectários de algumas flores, prejudicando a frutificação, por isso, considerada praga (COELHO et al., 2008). Com mudanças nas exigências do consumidor por produtos certificados e com níveis reduzidos ou isentos de defensivos químicos, existe a necessidade do uso de estratégias mais sustentáveis. Na literatura, poucas são as recomendadas para o controle, sendo basicamente relatada a destruição dos ninhos, porém, tal ação é proibida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente, por serem abelhas silvestres nativas. Também não é recomendável combatê-la com o uso de defensivos químicos por se tratar de uma espécie que auxilia na polinização de plantas nativas (NASCIMENTO et al., 2012). Deste modo, há diversidades de opiniões e certa escassez de material bibliográfico referente a espécie, principalmente no que se refere a alimentação, manutenção e criação em condições de laboratório. Assim, existe a necessidade de se preparar uma dieta energética adequada para serem mantidas em confinamento. Considerando a importância que representa a alimentação de adultos de T. spinipes  mantidas em confinamento, este trabalho foi realizado com o objetivo de se avaliar e comparar a sobrevivência desses insetos quando alimentados com dietas compostas por carboidratos, em condições laboratoriais.

Revisão Bibliográfica

As abelhas T. spinipes são insetos sociais de colônias perenes com milhares de operárias, apresentando coloração negra, mandíbulas bem desenvolvidas, glossa truncada, asas transparentes, com ferrão atrofiado (BONETTI et al., 2012). Medem cerca de 5 a 7,5 mm de comprimento com um mecanismo de defesa de enrolar nos cabelos das pessoas e animais quando molestadas (ZUCCHI et al.,1993). Constroem seus ninhos nas árvores, entre os ramos, ou em cupinzeiros arbóreos abandonados, empregando filamentos fibrosos de vegetais com elementos aglutinantes, compostos principalmente de resinas (GALLO et al., 2002, BRIGHENTI & BRIGHENTI, 2010). A colônia constituída de operárias, machos, uma rainha fisiogástrica e rainhas virgens, larvas (em alvéolos fechados contendo mel, pólen e secreção glandular das operárias) e pupas. Muitos são os trabalhos encontrados relatando os prejuízos causados por abelhas T.  spinipes  em diversas culturas, porém poucas são as estratégias de controle. CHIARADIA et al (2003), por exemplo, relata como estratégia de controle da abelha irapuá, em eucalipto, e adotada por alguns produtores, a prática de borrifar perfumes e/ou desodorantes sobre as abelhas que estão causando os danos nas plantas. A pulverização das plantas atacadas com substâncias que possuem cheiros fortes e desagradáveis, tal como a creolina, também é uma prática adotada. Porém, não há eficácia comprovada cientificamente relatada acerca dessas práticas, bem como não é possível qualificar ou quantificar os danos causados às colmeias.        Não existem tecnologias para o controle da abelha irapuá no cultivo de copo-de-leite. Além disso, não existem inseticidas, repelentes, registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)  desta praga nessa cultura. Apesar da importância econômica da abelha irapuá, poucos trabalhos são encontrados na literatura para estabelecer um protocolo de criação dessa abelha em condições laboratoriais que possibilite realização de ensaios para encontrar alternativas de controle ou redução de danos causados pela espécie. Com os resultados do presente trabalho, espera-se possibilitar a realização de futuros trabalhos que, através da manutenção das abelhas irapuás, em condições experimentais, permita a avaliação minuciosa das estratégias de controle da espécie em culturas de interesses agronômicos.

Materiais e Métodos

Os adultos de abelhas irapuá foram obtidos de colônia em condições naturais no Campus - CTAN/UFSJ. Desta colônia foram adquiridos os adultos e transportados para o Laboratório de Praticas Apícolas do Departamento de Zootecnia da UFSJ (DEZOO). Para montagem das unidades experimentais foram utilizadas gaiolas de PVC cilíndricas com 10 cm de diâmetro por 5 cm de altura. A parte superior e inferior da gaiola foram revestidas com tecido organza que possibilitou a visualização das abelhas e sua contagem. Para transferir os indivíduos para as unidades experimentais, colocou-se os indivíduos em freezer durante 3 minutos, tempo suficiente para reduzir sua atividade de vôo. Foram colocadas 10 abelhas adultas em cada unidade experimental e mantidas em câmara climatizada a 30 ± 2º C, UR 70 ± 10% e fotoperíodo de 12 horas. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos: T1 Mel Uruçu, T2 Mel Apis, T3 Pasta Candi, T4 Mel Mandaçaia, T5 Sacarose 50% e T6 Sacarose 30% com cinco repetições cada. A medida do índice de refração foi determinado diretamente por refratometria, utilizando-se refratômetro digital para aferição do Brix (Tabela 2). Para avaliação do número de abelhas mortas, foram coletados os dados a cada 12 horas. A contagem foi realizada às 08:00 horas e às 20:00 horas (Colosimo & Giolo, 2006).

Resultados e Discussão

Os méis de abelhas sem ferrão possuem o teor em açúcares em torno de 70% e com proporções bem próximas dos açúcares glicose e frutose sendo méis mais adocicados. Em geral a frutose é predominante, sendo um dos fatores responsáveis pela doçura e sua alta higroscopicidade podendo permanecer líquidos por longo períodos. Para a montagem do experimento a colônia disponível não continha mel o que justificou a utilização de méis de outras espécies. Deste modo, mediu-se o teor de açúcares nos tratamentos sendo o mel de Uruçu (Melipona scutellaris),69%, de Apis 78%,pasta Candi 82%,mandaçaia (Melipona quadrifasciata),63%, sacarose 50% (45%) e sacarose 30% (24%) respectivamente. Observou-se que em função da dieta utilizada, a uma variação considerável no tempo médio de vida de T. spinipes, o maior tempo de vida foi observado quando as abelhas foram alimentadas com solução aquosa de sacarose 50%, em que constatou-se ao final de 240 horas, uma sobrevivência média de 108,89 horas, seguido os resultados quando os adultos alimentaram-se de mel de uruçu, sendo obtidos a sobrevivência de 100,27 horas, evidenciando tratar-se de dois alimentos que podem ser considerados adequados entre os testados para manutenção dos insetos em condições de laboratório. Pela dificuldade de aquisição de resultados na literatura por ser um inseto que causa injúrias em plantas de interesse agronômico pouco se sabe da criação deste em condições de laboratório, assim os resultados obtidos foram comparado com criação de abelhas africanizadas com condições laboratoriais os quais WEBERT JUNIOR & SHIMANUKI (1978) constataram que adultos de A. mellifera sobreviveram por um período maior quando alimentados com dietas contendo sacarose. Constatou-se que a menor sobrevivência dos adultos de T. spinipes foi observada quando os insetos foram mantidos nos tratamentos contendo apenas pasta Candi e Sacarose 30% durante toda a condução do experimento. Ao se utilizar mel Uruçu e Sacarose 50%, foi observado aumento significativo na sobrevivência dos adultos. Quanto ao parâmetro b, que indica a forma da curva e as características das mortes, nota-se que foram maiores que 1 (Tabela 1), indicando que todas as curvas de sobrevivência tem formato sigmoide. Para o parâmetro de escala a observou-se uma estimativa maior para os tratamentos de mel Uruçu e Sacarose 50% com valores de 113,16 e 122,95 horas. A sobrevivência dos adultos relacionados ao Tempo Letal (TL) de T. spinipes e alimentadas com dietas compostas essencialmente de carboidratos, evidenciou-se respostas altamente significativas. No TL10 e quando mantidos nos tratamentos solução aquosa de sacarose 50% e mel de Uruçu permitiu a maior sobrevivência sendo em média de 4,35 dias. Em relação as avaliações de sobrevivência para os demais TL, constatou-se comportamento semelhante as abelhas mantidas nas dieta mel de Apis e mel de mandaçaia com TL de 3,92 dias. No TL99,  por exemplo, os adultos de irapuá sobreviveram por um tempo  maior do que no tratamento mel de mandaçaia e com média de 16,5.

Conclusões

A sobrevivência dos adultos de Trigona spinipes quando alimentados com uma solução aquosa de sacarose 50% foi significativamente superior aos demais tratamentos testados, permitindo maior tempo de vida aos insetos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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