Diferentes blends de enzimas sobre desempenho produtivo e qualidade óssea de frangos de corte

Fernanda Kaiser de Lima1, Djiovane Augusto Pazdiora2, Jonas Rodrigo Layter3, Sabrina Castro Palma4, Lucas Kind Alvares5, Thaís Lina Taniguti6, Erika de Jonge Ronconi7, Jovanir Inês Muller Fernandes8
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RESUMO -

O objetivo foi avaliar o efeito de diferentes blends de enzimas sobre desempenho produtivo e qualidade óssea de frangos. Foram utilizados 1512 pintos. Os tratamentos consistiram na utilização de três diferentes pacotes de enzimas, que foram adicionadas on top na dose recomendada pelo fabricante.O desempenho zootécnico foi avaliado semanalmente. Aos 42 dias, 3 aves/repetição foram sacrificadas para avaliação da qualidade óssea. Aves que receberam as dietas contendo os blends de enzimas apresentaram maior peso médio e ganho de peso de 1 a 21 dias, neste período a conversão alimentar foi melhor para as aves que consumiram a dieta contendo o blend de enzimas 1, em relação à dieta controle. Na fase final de criação independente das dietas não houve melhora no desempenho zootécnico.Não houve diferenças para qualidade óssea. A suplementação enzimática pode ser uma alternativa na fase inicial de criação, pois melhora os resultados de desempenho zootécnico.

Palavras-chave: complexos enzimáticos, digestibilidade, resistência óssea, ganho de peso.

Different enzyme blends on productive performance and bone quality of broilers

ABSTRACT - The objective was to evaluate the effect of different enzyme blends on productive performance and bone quality of broilers. There were 1512 chicks. The treatments were three different enzyme blend, which were added on top of the dose recommended by the manufacturer. The productive performance was weekly evaluated. At 42 days, 3 birds/replicate were sacrificed for evaluation of bone quality. Birds receiving the diets containing the enzyme blends presented higher average weight and weight gain from 1 to 21 days, in this period the feed conversion was better for the birds that consumed diet with enzyme blend 1 than the control diet. In the final stage, regardless the diets, there was no improvement in the productive performance. There were no differences for bone quality. Enzymatic supplementation may be an alternative in the initial rearing phase, as it improves the results of productive performance.
Keywords: enzymatic complexes, digestibility, bone strength, weight gain.


Introdução

Um dos principais avanços da nutrição animal é o uso de enzimas exógenas, que tem grande aplicabilidade nas dietas para monogástricos, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos de substâncias presentes nos alimentos, permitindo melhor aproveitamento dos nutrientes e melhor desempenho dos animais. As principais enzimas disponíveis no mercado são as proteases, amilases, celulases, xilanases, galactosidases, glucanases, pectinases, lipases e fitases. Essa especificidade faz com que as enzimas possam ser adicionadas individualmente na ração ou combinadas, na forma de complexos e "blends". Os aditivos nutricionais são alternativas para maximização da produção, entre os aditivos utilizados atualmente destacam-se as enzimas exógenas nas formulações das dietas. As enzimas exógenas em dietas para frangos de corte são alternativas para melhorar a eficiência na utilização dos alimentos, a partir da redução do efeito de encapsulamento, provocado pelas paredes celulares vegetais e da viscosidade da digesta com consequente melhora na eficiência produtiva das aves (HOOGE et al., 2010). As enzimas podem ter um efeito sinérgico, assim, complexos enzimáticos podem ser mais eficazes na degradação completa de fatores antinutricionais e no melhor aproveitamento dos nutrientes (MALEKIAN et al., 2013). Portanto, o objetivo do trabalho foi avaliar a utilização de diferentes blends de enzimas sobre desempenho e qualidade óssea de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade.

Revisão Bibliográfica

A adição de proteases exógenas pode representar um potencial desejável para inativação de fatores antinutritivos, tais como lectinas, proteínas antigênicas e inibidores de tripsina, presentes em determinados alimentos, particularmente em leguminosas (PETTERSSON e PONTOPPODAN, 2013). Para que a suplementação enzimática obtenha efeito, dependerá do substrato e das características dos ingredientes utilizados nas dietas, ou seja, o sítio de ação desse composto (OLUKOSI et al., 2007). O farelo de soja é o principal ingrediente proteico utilizado nas dietas de frangos de corte, devido à sua adequada composição de aminoácidos. Das sementes de leguminosas, o farelo de soja tem o maior nível de proteína bruta e o melhor perfil de aminoácidos, com apenas 6% de fibra bruta (DEI, 2011). Algumas proteínas que constituem os fatores antinutricionais da soja, não são passíveis de digestão, embora sua grande maioria seja. Entre elas estão a glicina (cerca de 40% das proteínas totais de soja), β-conglicinina (cerca de 30%), inibidores de tripsina (cerca de 6%) e lectinas (cerca de 0,5%) ( ZHAO et al. 2008). Segundo Ferket (1993) aproximadamente 70% do fósforo (P) contido nos cereais está na forma de fitato (inositol hexafosfato), uma forma química de baixa disponibilidade biológica para aves, a qual além de deixar indisponível o fósforo, quelata cátions bivalentes, reduzindo a digestibilidade da proteína e energia, aumentando assim a excreção de minerais e nitrogênio no ambiente. O fitato é considerado um fator antinutricional para aves, pois ao se ligar ao fósforo e/ou a outros nutrientes importantes como proteínas e aminoácidos, diminui a disponibilidade destes para o organismo (SELLE et al., 2007). A fitase já foi isolada em baixas concentrações na borda em escova no intestino delgado de aves. Este tipo de fitase apesar de contribuir com a hidrólise do fitato e conseqüente disponibilização do fósforo quelatado, possui atividade muito pequena quando comparada à fitase exógena (Maenz & CLASSEN, 1998). A utilização de blend de enzimas exógenas pode ser uma alternativa para diminuir as diversidades dos ingredientes utilizados em dietas de frangos de corte reduzindo a variabilidade do valor dos ingredientes. A suplementação de enzima eleva o valor nutritivo dos ingredientes nutricionalmente deficientes e reduz a variação de ingredientes de boa e de má qualidade. Este efeito, por sua vez, melhora o grau de precisão da formulação de dietas (RAVINDRAN., 2013).

Materiais e Métodos

Foram utilizados 1512 pintos de corte, machos, da linhagem Ross. As aves foram distribuídas em um delineamento inteiramente casualizado, com 4 tratamentos, 9 repetições e 42 aves por box (12 aves/m2). Os tratamentos foram compostos por: Controle negativo (sem adição de enzimas), Blend de enzimas 1: xilanase, amilase, protease e fitase; blend de enzimas 2: fitase, amilase, xilanase e protease; blend de enzimas 3: fitase, xilanase, alfagalactosidase, betaglucanase, amilase e mananase. As enzimas foram adicionadas on top, na dose recomendada pelo fabricante. O controle negativo foi elaborado com a mesma composição nutricional das demais dietas, com exceção da suplementação enzimática. O Programa nutricional foi dividido em três fases (inicial, crescimento e abate). As rações experimentais, a base de milho e farelo de soja, foram formuladas para atender as exigências nutricionais das diferentes fases de acordo com as recomendações de Rostagno et al. (2011). Aos 42 dias de idade, 3 aves por repetição (27 aves/tratamento) foram abatidas e retiradas as pernas esquerdas. Após remoção de todo tecido aderente, as tíbias foram submetidas ao ensaio de flexão à taxa de deformação constante para material visco-elástico, com equipamento de ensaio universal da Marca EMIC, modelo DL 10000, com célula de carga de 500 kgf, velocidade do cabeçote de 2 mm/min e distância de apoio de eixo a eixo de 3,2 cm. Na porção medial da diáfise óssea foi medida a espessura do osso cortical, com auxílio de paquímetro digital (mm) na fase lateral adjacente à fíbula óssea e na região oposta, fase medial, obtendo-se duas medidas das quais foi calculado o valor médio de espessura do osso cortical. Os resultados foram analisados utilizando-se análise de variância (ANOVA) do procedimento General Lineal Model GLM do programa SAS (2002, SAS Institute Inc., Cary, NC) e quando significativas, as médias entre os tratamentos foram comparadas pelos testes de Tukey.

Resultados e Discussão

Aves que receberam dietas contendo os blends de enzimas apresentaram maior peso médio e ganho de peso de 1 a 21 dias de idade (P<0,05). A conversão alimentar foi melhor para as aves que consumiram a dieta contendo o blend de enzimas 1 em relação à dieta controle. De acordo com WU et al. (2006) a fitase catalisa o fitato disponibilizando fósforo e aumenta a disponibilidade de outros nutrientes, tais como energia e aminoácidos.Asxilanases são capazes de degradar a camada dos polissacarídeos não amilaceos presente na membrana da célula vegetal, promovendo a despolimerização de arabinoxilanas, facilitando o acesso da fitase ao fitato armazenado na parede celular (OLUKOSI et al., 2007) além do acesso das enzimas endógenas e outras enzimas exógenas como prateasse e amilase.A associação de complexos enzimáticos mostrou efeitos positivos no desempenho das aves na fase inicial. Aves que receberam as dietas controle ou dietas contendo os blends de enzimas não apresentaram melhora no peso médio, ganho de peso, consumo de ração e na conversão alimentar durante o período de 21 a 42 dias de idade. Nesta fase de criação o desenvolvimento dos sistemas fisiológicos e a produção de enzimas endógenas nas aves já se encontra bem desenvolvido, o que explica a menor exigência de enzimas exógenas, entretanto, estudos mostram existir uma lacuna na digestão do amido na fase de crescimento e fase final de criação, assim como em aves poedeiras no pico de produção onde a exigência por energia é maior (BRITO, 2006), indicando que a utilização da amilase pode ter um efeito positivo nessas fases, o que não foi observado no presente estudo. Não houve efeito (P>0,05) das dietas suplementadas com diferentes blends enzimáticos sobre espessura e resistência da tíbia de frangos de corte aos 42 dias de idade (Tabela 2). Na determinação das exigências nutricionais de fósforo disponível para aves, o desenvolvimento dos ossos é um dos aspectos mais importantes (GOMES et al., 1993). Dessa forma, o nível de fósforo disponível nas dietas deve ser suficiente para garantir, além do ótimo desempenho, boa formação e resistência óssea. O efeito da fitase sobre a deposição de minerais na tíbia é a atribuído à disponibilização do P e Zn complexado ao ácido fítico. Neste ensaio experimental, o nível de inclusão do fosforo na dieta atendeu as exigências para o desenvolvimento ósseo, desta forma o efeito da fitase na liberação adicional de minerais não foi observado uma vez que as dietas atenderam as exigências de minerais para o máximo desenvolvimento ósseo. Estudos mostram que a suplementação de fitase em dietas com baixo nível de fósforo disponível melhora a resistência óssea das aves (SILVA, et al, 2008). Portanto, a inclusão on top da fitase pode mostrar resultados satisfatórios no desenvolvimento ósseo.

Conclusões

A suplementação das dietas de frangos de corte com blends de enzimas proporcionou melhor ganho de peso e peso médio até 21 dias de idade, no entanto, esse efeito não se manteve até o período final de criação das aves. A suplementação enzimática das dietas não mostrou efeitos sobre a qualidade óssea. A suplementação enzimática na fase inicial de criação pode ser uma alternativa para complementar os efeitos das enzimas endógenas sobre a digestibilidade dos nutrientes.

Gráficos e Tabelas




Referências

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