DIFERENTES FONTES DE ÓLEO VEGETAL EM DIETAS PARA ALEVINOS PIRAPITINGA (Piaractus brachypomus)

João Albano Laurentino de Almeida1, Phelipe Florentino e Silva Ferreira2, Bruno Ceolin da Silva3, Rodrigo Diana Navarro4
1 - Instituto Federal de Brasília
2 - Instituto Federal de Brasília
3 - Instituto Federal de Brasília
4 - Universidade de Brasília

RESUMO -

O presente trabalho teve como objetivo avaliar diferentes tipos de óleos vegetais na dieta de alevinos de pirapitinga (Piaractus brachypomus). Foram elaboradas quatro rações isoproteicas e isoenergéticas com a mesma composição de alimentos, variando apenas a fonte de óleo (buriti, soja, pequi e macaúba) e fornecidas à alevinos de pirapitinga, com peso vivo inicial médio de 4,5 ± 0,5 g, constituindo 16 unidades experimentais (4 tratamentos e 4 repetições). O experimento teve duração de 60 dias aonde foi avaliado o desempenho e o efeito nas características da carcaça. Após o período experimental não foram observadas diferenças significativas entre as dietas no desempenho dos peixes (ganho de peso, comprimento total, taxa de crescimento diário) e na composição das carcaças, indicando assim que as quatro fontes de lipídeos podem ser utilizadas na formulação de rações para pirapitinga podendo-se optar pelo uso do óleo de acordo com o preço e disponibilidade.

Palavras-chave: Desempenho Nutricional; Alimentos Alternativos; Piscicultura

DIFFERENT SOURCES OF VEGETABLE OIL IN DIETS FOR PIRAPITINGA FINGERLINGS (Piaractus brachypomus)

ABSTRACT - The present work aimed to evaluate different types of vegetable oils in the diet of pirapitinga (Piaractus brachypomus) fingerlings. Four isoproteic and isoenergetic diets with the same composition of food were prepared, varying only the oil source (buriti, soybean, pequi and macaúba) and supplied to pirapitinga fingerlings, with initial mean live weight of 4.5 ± 0.5 g , Constituting 16 experimental units (4 treatments and 4 replicates). The experiment lasted 60 days, where the performance and the effect on the carcass characteristics were evaluated. After the experimental period no significant differences were observed between the diets in fish performance (weight gain, total length, daily growth rate) and carcass composition, thus indicating that the four sources of lipids can be used in the formulation of diets For pirapitinga being able to opt for the use of the oil according to the price and availability.
Keywords: Nutritional Performance; Alternative foods; Pisciculture


Introdução

O pirapitinga (Piaractus brachypomus) é uma espécie de peixe tropical de água doce originária das Bacias Amazônica e Araguaia-Tocantins. Tem hábito alimentar onívoro, com tendência à frugívoro e possui alta capacidade de ganho de peso quando criado em cativeiro. No entanto, há poucas informações sobre a sua nutrição e alimentação, principalmente relacionadas à sua exigência nutricional e sobre o aproveitamento dos nutrientes das diversas fontes de alimentos.

Dentre os nutrientes necessários ao desenvolvimento dos peixes os lipídios possuem grande importância, pois além de serem fonte de energia, desempenham papel fundamental em processos fisiológicos e exercem influência sobre a presença de ácidos graxos corporais quando presentes na ração.

Existem diversas fontes de lipídios, destacando-se os óleos de origem vegetal, pois são encontrados com facilidade no mercado. Esses óleos devem ser utilizados de acordo com o custo e a sua disponibilidade em cada região, sendo o de soja (Glycine max L.) o óleo vegetal mais utilizado na formulação de rações para peixes, por ser de baixo custo e alta disponibilidade. No entanto existe uma infinidade de fontes de óleos presentes em grãos e frutos que possuem potencial para inclusão em dietas para peixes, devendo, portanto, serem realizadas mais pesquisas para avaliar novas fontes de óleos vegetais (VARGAS et al., 2007).



Revisão Bibliográfica

Lipídeos podem ser definidos como um grupo de compostos insolúveis em água e solúveis em solventes apolares Neste grupo estão incluídos os triglicerídeos, fosfolipídeos, ceras, ácidos graxos, esteróis, alcoóis graxos, hidrocarbonetos e carotenóides . A função principal dos lipídeos é o armazenamento e a produção de energia, mas diferentes funções podem ser atribuídas a este nutriente, como por exemplo, fornecimento de ácidos graxos, solubilizar compostos apolares e regular o metabolismo dos animais, já que são constituintes de hormônios esteroides e prostaglandinas (BERNADINO et al., 2009). Haliloglu et al. (2004), afirmaram que as funções dos lipídeos no crescimento dos peixes são bem estabelecidas, como função hormonal, energética, estrutural, além de precursores de eicosanoides. Os lipídeos são imprescindíveis para o desenvolvimento das larvas e alevinos de peixes, tendo apenas variação quanto à concentração devido à espécie (marinha ou de água doce), temperatura do ambiente e a fase de vida. Da mesma forma como ocorre em animais monogástricos, a composição dos lipídeos nos tecidos dos peixes reflete a alimentação recebida, de modo que alterações na dieta também causam alterações no perfil de lipídeos dos tecidos (RIBEIRO et al., 2008). Nos últimos anos a utilização de óleos de origem vegetal na alimentação de peixes tem aumentado devido aos benefícios que a inclusão desses alimentos pode trazer tanto para o desempenho animal quanto para saúde humana. Além disso, a farinha e o óleo de peixe, fontes tradicionalmente utilizadas, tendem a uma elevação no custo, o que torna necessária a realização de estudos de fontes alternativas para esses ingredientes, sem, no entanto, comprometer a qualidade da água e o desempenho dos peixes (BELL et al., 2001; LOPES et al., 2010). A utilização de óleos de origem vegetal pode melhorar a utilização da proteína ingerida, diminuir o custo de rações e ainda fornecer ácidos graxos essenciais necessários ao desenvolvimento dos peixes (MARTINO et al., 2002). Alguns óleos vegetais como o de pequi, macaúba e buriti possuem composição de ácidos graxos interessante do ponto de vista nutricional podendo ser incluídas em rações para peixes em substituição ao óleo de soja e de peixe.

Materiais e Métodos

O estudo foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa Aplicada à Pesca e Aquicultura do Instituto Federal de Brasília, localizado no Campus Planaltina do IFB, no Distrito Federal. Foram utilizados 266 peixes da espécie Pirapitinga (Piaractus brachypomus) com peso inicial médio de 4,5 ± 0,5 g que foram distribuídos aleatoriamente em 16 unidades experimentais (quatro tratamentos com quatro repetições). Cada unidade experimental foi representada por uma caixa plástica circular, com capacidade para 500 litros, abastecida com água de poço artesiano, com renovação através de bomba acoplada a sistema de filtragem mecânica e biológica e aeração constante contendo 16 peixes inicialmente. Os animais passaram por um período de adaptação de sete dias às condições experimentais quando então foi realizada uma biometria nos peixes para mensurar o peso vivo inicial médio e o comprimento padrão médio inicial dos animais e posteriormente passaram a ser alimentados duas vezes ao dia (às 10:00 h e 16:00 h) com as rações experimentais, até a saciedade aparente. As rações experimentais, contendo aproximadamente 36% de proteína bruta e 4.100 kcal/kg de EM, possuíam composição idêntica, variando apenas a fonte de óleo vegetal: buriti, soja, pequi e macaúba que foram os tratamentos. Durante o período experimental, com duração de 60 dias, foram aferidos os parâmetros de qualidade da água e os peixes alimentados, e no seu final os peixes foram submetidos à nova biometria para aferição do desempenho. Foi avaliado o Ganho de peso, o Comprimento Total Final, a Taxa de Crescimento Específica e a Taxa de Sobrevivência.Também foram separados e abatidos 5 peixes de cada unidade experimental para determinação da composição centesimal final das carcaças.  Os dados obtidos foram submetidos às análises de variância e teste de média à nivel de 5% de probabilidade utilizando-se o programa Assistat 7,7 pt.

Resultados e Discussão

Os parâmetros de qualidade da água se mostraram satisfatórios para a criação de peixes da espécie pirapitinga durante todo o período experimental com valores médios de temperatura de 25,2ºC ± 2 ºC; pH 6,8 ± 0,14, oxigênio dissolvido acima de 5 mg/l e amônia 0,2 ± 0,14 mg/l. No entanto a temperatura ficou abaixo da ótima para crescimento dos peixes redondos que situa-se entre 27 e 30ºC o que pode ter limitado o consumo. A taxa de mortalidade média foi de 76,95% ±0,04 e não diferiu entre os experimentos. A mortalidade foi acima da esperada e pode ser explicada pela inexistência de aquecimento da água nas unidades experimentais e a ocorrência de picos de baixas temperaturas durante o período noturno em alguns dias durante o período de avaliação. O pirapitinga por ser uma espécie tropical não suporta temperaturas muito baixas e picos baixos de temperatura podem ser fatais. As rações experimentais foram analisadas e apresentaram composição semelhante e próximo à calculada. Ao final do período experimental, 60 dias, não foi observada diferença significativa entre os tratamentos para Ganho de Peso (GP), Comprimento Total (CT) e Taxa de Crescimento Diário (TCD). Também não houve diferença significativa na composição das carcaças ao final do período experimental. Resultados semelhantes onde não foram observadas diferenças no desempenho de peixes utilizando diferentes óleos, foram observados para diversas espécies como a truta (Oncorhynchus mykiss)(Caballero et al.,2002), surubim (Pseudiplatystoma coruscans)(Martino et al., 2002), e salmão do Atlântico (Salmo salar L.)(Bendiksen, Arnesen e Jobling, 2003). Nwanna e Bolarinwa (2000) avaliando diferentes óleos (soja, peixe marinho, palmeira e uma mistura de óleos vegetais) para alevinos de tilápia do Nilo, também não observaram diferenças no desempenho dos peixes. Turchini et al. (2003) também relataram não terem observado diferença no desepenho da truta marrom (Salmo truta) utilizando diferentes fontes de lipídios (óleo de peixe, canola, oliva, gordura de suínos e óleo de vísceras de aves). Vargas et al. (2007) também não constataram influência da fonte de diferentes tipos de óleo (milho e linhaça) sobre as variáveis ganho de peso, taxa de crescimento específico e sobrevivência de alevinos de tilápias com peso médio inicial de 8,3±1,5 g. Azevedo et al.(2013) não verificou diferenças significativas sobre o rendimento e a gordura da carcaça em dietas suplementadas com óleo de soja ou dendê  para juvenis de tilápia.

Conclusões

Diante das condições experimentais do presente estudo, foi possível concluir que não houve diferença significativa no desempenho e na composição da carcaça de alevinos da espécie pirapitinga quando alimentados com rações contendo óleo de buriti, soja, pequi ou macaúba em sua composição, possibilitando ao produtor e aos fabricantes de ração optar pelo uso de quaisquer desses óleos na fabricação das rações de acordo com a disponibilidade e o preço. Sugere-se ainda a realização de estudos que avaliem também a composição dos ácidos graxos nas carcaças e nos filés a fim de que se verifique também se há diferenças nas proporções de ácidos graxos saturados e insaturados que, em tese, estão relacionados com a qualidade nutricional da carne do peixe.

Gráficos e Tabelas




Referências

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